Se havia algum véu sobre a índole golpista e fascista da mídia brasileira, ele acaba de ser rasgado com o golpe dos gorilas em Honduras.
O caso é grave.
Parece haver nas ações da direita brasileira de hoje cada vez mais coisas entre o céu, onde está a imaginação, e a terra, onde se vive a realidade, do que sonha a nossa vã filosofia.
Pelas melhores regras do que se considera ser a ciência política, pela sabedoria acumulada nas academias e até pelas experiências do passado, tais e tais causas deveriam gerar tais e tais efeitos; desta ou daquela situação teria de resultar esta ou aquela conseqüência.
Mas não tem sido assim.
Isso se deve à mais interessante inovação que a direita trouxe para o debate político: o Departamento de Gerência de Falsidades e Mentiras.
Ou seja: a mídia.
O caso, examinado de perto, mostra que, como na parábola do camelo da Bíblia, não leva nenhum dos defensores da “democracia” direitista a entrar no reino dos céus — ou, até, em lugares onde o ingresso exige méritos muito mais modestos.
O bicho teria menos trabalho para passar pelo buraco de uma agulha do que um desses “democratas” para ser abrigado na morada dos justos.
A calamitosa seqüência de truques para justificar o golpe é uma prática que faz primeiro o sujeito perder a pose, depois o respeito e por fim qualquer condição de continuar falando em democracia.
Mas nada disso parece incomodar esses trastes.
É aí que reside a natureza didática do caso: eles se repetem tanto que acabam se tornando uns chatos, uns tolos, uns idiotas.
Nos países onde se vive sob a proteção das leis, o Poder Judiciário funciona como uma garantia para os cidadãos.
Sua ação gera um ambiente de tranqüilidade, a expectativa de ordem e o conforto de saber que as decisões serão tomadas sempre de acordo com as mesmas praxes e critérios.
No Brasil, a “grande imprensa” quer transformar essa vertente democrática em um fator de tumulto.
Seus mandantes a todo momento interferem nos atos do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e do Poder Executivo.
Eles invalidam leis que o Congresso aprovou, inventam regras novas no meio do jogo e decidem o que a Constituição quis ou não quis dizer a cada artigo.
O “comentarista” da Rede Globo, Arnaldo Jabor, por exemplo, já avisou que a solução para o impasse na embaixada brasileira em Honduras tem de ser ”razoável”.
O que será que ele e seus iguais consideram ”razoável”?
Vai ser preciso adivinhar, ou perguntar a eles, ou, quem sabe, pedir que escrevam eles próprios novas leis para o país.
Se perguntados o que pretendem fazer, suas respostas certamente serão parecidas com aquela célebre explicação dada por um oficial norte-americano, durante a Guerra do Vietnã, após pulverizar uma aldeia acusada de abrigar guerrilheiros comunistas: ”Para salvar a aldeia, tivemos de destruí-la.”