terça-feira, 28 de maio de 2013

VIII CONGRESSO DO CPERS-SINDICATO - TESE 2

TESE 2

CPERS DE LUTA, CLASSISTA E INDEPENDENTE

O VIII CONGRESSO DO CPERS/SINDICATO ocorre no marco conjuntural do avanço da
crise econômica mundial. Diante desta realidade, será fundamental que os educadores possam
debater as consequências para a vida dos trabalhadores e também discutir as alternativas do
ponto de vista da nossa classe.

1. CONJUNTURA

A crise capitalista internacional e a reação dos trabalhadores

O capitalismo vive uma de suas maiores crises. Iniciada em 2008, nos Estados Unidos,
centro do capitalismo mundial, esta crise determinou um significativo aumento nos níveis de
exploração do trabalho e grandes ataques aos direitos dos trabalhadores em todo o mundo. As

causas que deram origem a esta verdadeira avalanche nos mercados mundiais iniciaram a
partir do crescimento na especulação imobiliária, da redução na oferta de créditos e do

descontrole do sistema financeiro. Em um mundo globalizado, diante da complexidade das
relações estabelecidas entre os mercados financeiros, é inevitável a repercussão dos efeitos da
crise nas diversas economias ao redor do mundo.
Esta situação levou à falência bancos e outras instituições financeiras, como, por
exemplo, o Lemans Brothers, um dos maiores bancos americanos. A “farra financeira” que
levou estas instituições a emitir papéis – chamados “podres” (subprimes) – e, por
consequência, a aumentarem demasiadamente os riscos destas operações. Isto se alastrou
rapidamente para a Europa e Japão, levando o imperialismo a adequar suas políticas e impor
aos demais países planos de austeridade para tentar resolver a crise capitalista.
Desta forma, os custos e as principais medidas de controle foram bancados pelos
governos, demonstrando claramente seu papel de subordinação aos interesses do capital.
Pacotes bilionários de auxílio e de empréstimos para suprir os déficits das empresas e deixar a
salvo o capital especulativo. Assim, permanece intacta a regra número um do neoliberalismo:
os capitalistas, quando estão lucrando, acumulam capitais e ficam cada vez mais ricos, porém,
quando entram em crise, recebem o dinheiro público para se salvar e os governos transferem a
conta para os ombros da classe trabalhadora!

O agravamento da crise levou as empresas a aplicarem medidas de redução de salários,
transferências de fábricas para países onde a exploração é ainda maior e aumentou o
desemprego em vários países centrais. A crise atingiu em cheio muitos países europeus, que, a
exemplo dos Estados Unidos, impuseram medidas de austeridade que provocaram bruscas
quedas nos níveis de salário e emprego, especialmente no serviço público e na juventude. No
entanto, como em todas as crises capitalistas, esta também seguiu a hierarquia dos
acontecimentos: primeiro a crise econômica, depois, a crise social e, por fim, a política. Com
as manifestações de massas crescendo e os governos sem condições para resolver os
problemas, inicia-se a repressão aberta contra as manifestações dos trabalhadores.
A Europa é, hoje, o epicentro da crise mundial, que atingiu proporções colossais no
continente. Com o aprofundamento dos planos de austeridade, os trabalhadores passaram a
reagir. Inicialmente, houve uma tentativa do imperialismo de difundir a crise como um
problema de países menores como Islândia, Irlanda ou Grécia, o que, rapidamente, foi
desmentido pelos fatos. A Grécia, pressionada pela Troika (Banco Central Europeu, FMI e
Comissão Europeia), realizou uma série de cortes nos gastos sociais e demitiu milhares de
servidores públicos.
Foi exatamente pela Grécia que iniciou a reação dos trabalhadores na Europa. A partir
daí, várias greves e até mesmo uma inédita greve geral no continente aconteceu. Na Espanha,
os mineiros do carvão realizaram uma grande greve entre maio e junho de 2012. A repressão
do governo foi violenta, chegando a assassinar vários manifestantes. Dois meses depois, em
protesto contra a violência, uma marcha percorreu centenas de quilômetros, terminando numa
manifestação de mais de 200 mil pessoas. Também entraram em greve os trabalhadores em
educação e os da saúde. Nas greves gerais, organizadas por fora das “burocracias sindicais”,
pararam setores fundamentais, como transporte público e ferrovias.
Grandes manifestações também aconteceram em Portugal, na França, na Itália e
também na Alemanha, chamada de “locomotiva da economia europeia”. No dia 14 de
novembro de 2012, uma greve geral unificada atingiu praticamente todos os países da Europa.
Este movimento foi chamado devido ao anúncio de mais cortes sociais em todos os países da
comunidade europeia, atingindo a previdência, a educação, a saúde, a assistência social e até
mesmo os salários dos servidores públicos.
Simultaneamente às greves na Europa, ocorreram processos revolucionários no mundo
árabe, na Tunísia, no Egito, no Iêmen, na Líbia, na Palestina e na própria Síria. A luta por
liberdades democráticas e melhores condições de vida, no norte da África e nos países árabes,
derrubaram vários governos e seguem buscando caminhos para construir sociedades mais
justas.
A luta dos trabalhadores, em todo mundo, continua. Nos EUA, país cuja dívida pública
é hoje de U$ 16 trilhões, maior que seu próprio PIB (U$ 15 trilhões), não ocorriam greves
desde a década de 1980. Em 2012, os professores de Chicago promoveram uma grande
paralisação, assim como os trabalhadores da WallMart, maior empregador privado daquela
nação.

O CPERS participou de recente encontro de sindicalistas, em Paris, em março deste
ano, que reuniu lutadores de mais de 30 países. O encontro debateu a necessidade da unidade
da classe para: lutar contra os ataques do capital, avançar na organização internacional,
defender um sindicalismo combativo, democrático e independente de patrões e de governos,
defender os direitos dos trabalhadores e também o combate às opressões, especialmente às
mulheres. Por fim, defender o respeito à autodeterminação dos povos, tendo como símbolo a
luta da Palestina.

No Brasil, também são os trabalhadores que pagam a conta

Diante da crise mundial, o Brasil viu diminuir bruscamente a exportação de
commodities e a aceleração do processo de desindustrialização do país. Apesar disto,
sustentada pelo minério de ferro e pelos produtos agrícolas, especialmente a soja, a economia
conseguiu uma sobrevida em relação ao avanço da recessão mundial.
Mas o governo brasileiro seguiu a cartilha neoliberal e aprofundou medidas para conter
o avanço da crise. Em primeiro lugar, arrochando salários e aumentando as concessões para os
empresários. A renúncia fiscal, somente com desonerações, ultrapassa a casa dos R$ 70
bilhões. Mais de 40 setores da economia já estão isentos do recolhimento da cota patronal para
a previdência, além de outras isenções. Medidas de redução de impostos para a cesta básica ou
para os medicamentos não significaram queda nos preços para o consumidor.
A inflação avança. O prejuízo, evidentemente, será para os trabalhadores, pois a alta
dos preços garante o lucro dos empresários. Os juros também voltaram a subir. Além disto, o
governo tem aplicado uma política de privatizações que nada deve ao auge do governo FHC:
hospitais universitários, hidroelétricas, estradas, jazidas petrolíferas, metrôs, portos e
aeroportos estão sendo entregues à iniciativa privada.
Dilma, assim como fez Lula, se tornou gerente do capitalismo e, para isso, não vacila
em fazer todas as alianças possíveis. Sarney, Collor de Melo, Renan Calheiros, Jader Barbalho
e até mesmo o pastor Marcos Feliciano ocupam importantes postos na organização política do
país, para garantir a estabilidade social e política necessárias para a governabilidade. Assim,
Dilma bate recordes de popularidade.
Como isto se explica? Em primeiro lugar pelas chamadas “políticas compensatórias e
transitórias”, como o “Bolsa-Família”. Auxiliar os miseráveis mantém um “feudo eleitoral” e
dialoga com os setores de esquerda. Depois, com o amplo apoio da burguesia, satisfeita com
os ajustes da economia e com a manutenção da “ordem social”, fruto da cooptação das
organizações sociais pelo governo. Portanto, com a classe dominante – e sua mídia – apoiando
e com a “gratidão” das camadas populares, o governo se sustenta com altos índices de
avaliação.
O fenômeno que possibilitou ao governo federal distribuir recursos para as camadas
mais necessitadas é chamado de “expansão da base salarial”, sem, no entanto, significar
distribuição de renda! Assim, o mesmo montante, 42% do PIB, em 2002, se mantém em 2012.
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Isto é, a parte da riqueza do país que cabe aos trabalhadores passou a ser distribuída para uma
base bem maior, com a inclusão social, mas manteve intacto o lucro dos empresários, a
riqueza acumulada por menos de 5% da população brasileira.
Na mesma direção, seguem os problemas estruturais do Brasil. Saúde, educação,
habitação, saneamento e outros serviços essenciais para a vida da população continuam sendo
de péssima qualidade e recebendo cada vez menos investimentos. Por outro lado, somente em
2012, mais de R$ 1 trilhão foram entregues diretamente para o sistema financeiro, por
conta da ilegítima dívida pública, que só cresce!
Neste cenário, os trabalhadores começaram a reagir. Em 2012, centenas de greves
ocorreram. Porém a mais importante, sem dúvida, foi a do setor público federal, que, por sua
força, impôs uma derrota política ao governo Dilma e levou muitos setores a concluírem suas
experiências com o governo e seus partidos aliados. Além disto, houve a Marcha de 24 de
Abril deste ano, com mais de 20 mil trabalhadores indo a Brasília protestar contra as políticas
do governo.
A Marcha marcou uma nova etapa na reorganização do movimento sindical no Brasil.
Chamada pelo CPERS Sindicato, CSP-CONLUTAS, CUT PODE MAIS, independentes da
CONDSEFE, FERAESP, CNTA, INTERSINDICAL e outras entidades que integram o
Espaço de Unidade de Ação, obteve a adesão de amplos setores do campo e da cidade, com
massiva presença de educadores de todos os estados, funcionários públicos e demais
trabalhadores.

Governo Tarso: os CCs e os empresários estão muito contentes!

No Rio Grande do Sul, depois de um governo de conflitos e intensos ataques aos
direitos dos funcionários públicos, promovido por Yeda Crusius, cuja principal marca foi a
corrupção, a população elegeu, em primeiro turno, o candidato do PT, Tarso Genro.
Os conflitos na área da educação causaram grande desgaste ao seu governo, desgaste
esse que se agravou com os recentes escândalos de corrupção na área do meio ambiente. Em
sua política de “faz de conta”, Tarso visita a Palestina, mas faz negócios com Israel, inclusive
com empresas de segurança. Defende Cuba e, ao mesmo tempo, agrada ao empresariado,
concedendo cada vez mais isenções fiscais e empréstimos.
Na relação com os servidores, a política é a mesma. Aumento das contribuições
previdenciárias de 11% para 13,25%, arrocho salarial e muita enganação. Recente
“reestruturação” do Quadro Geral resultou em insignificantes R$ 80,00 de reajuste para estes
trabalhadores. Yeda pagou, em 2010, R$ 500 milhões de RPVs. Tarso, por sua vez, pagou
somente R$ 340 milhões em 2012! Isto representa uma diminuição de R$ 160 milhões.
Os investimentos sociais seguem nos mesmos patamares de antes, embora tenha havido
um incremento de praticamente 10% na arrecadação. Tarso permanece não cumprindo os
mínimos constitucionais em saúde e educação. Além disto, de forma escandalosa, retirou R$
4,2 bilhões das contas judiciais!
Escândalos de corrupção na concessão de licenças ambientais, que atingiram
diretamente seus aliados do PC do B, mostram outra face deste governo: as relações espúrias
para manter maioria parlamentar. O governo, numa atitude de profundo desrespeito com a
sociedade, simplesmente manteve a situação como se nada tivesse acontecido.

Agora, Tarso prepara a sua candidatura à reeleição. Embora com sua popularidade
desgastada e sua imagem arranhada em função da marca da mentira, deve ser a opção,
inclusive respaldada por organizações que tentam confundir os trabalhadores. Com seus
subordinados, muitos saídos das fileiras do CPERS, tanto na SEC quanto no Palácio Piratini, o
governador articula o combate ao sindicato, tentando atrair setores da base para fortalecer sua
política de ataque aos direitos dos educadores. Com isso, deseja enfraquecer esta importante
ferramenta de luta para poder governar com tranquilidade.
Portanto, neste próximo período, é fundamental que o CPERS/SINDICATO mantenha
sua independência diante dos governos e autonomia frente aos partidos políticos. Que continue
chamando a categoria para a mobilização, mas que construa uma plataforma programática de
acordo com os interesses da nossa classe para continuar disputando a consciência dos
trabalhadores.
Também será muito importante que este Congresso reafirme que a decepção dos
educadores com governos e partidos traidores da nossa classe não significará um retrocesso,
portanto, os conhecidos partidos da direita, que sempre sustentaram os interesses da burguesia,
continuarão não tendo a confiança da nossa categoria.

2. BALANÇO DO CPERS

CPERS reafirma sua independência

A atuação do CPERS, com independência e autonomia na defesa dos direitos da
categoria e da classe trabalhadora, tem se constituído num exemplo político importante para o
conjunto dos trabalhadores.
No último Congresso do CPERS/Sindicato, a Articulação Sindical levou o então
candidato, Tarso Genro, para reforçar nos educadores a ilusão de que, votando nele, os
professores e funcionários de escola receberiam o piso salarial. Como se não bastasse, Juçara
Dutra, ex-presidente do CPERS, transmitiu a mentira de Tarso, de que, se eleito fosse, retiraria
a ADIN da Yeda do STF. Além disso, acusaram a direção do sindicato de sonegar uma
informação como esta, tão importante para a categoria.
No entanto, não demorou muito para a máscara cair. A confusão que, naturalmente, se
estabelece em relação ao papel que cumprem estes governos, que saem do seio da classe
trabalhadora e que contam com o apoio de organizações de massas, às vezes, demora muito
para ser dissipada.
A Direção do CPERS tratou, logo cedo, de acabar com a confusão. Primeiro, não
aceitando participar do Conselhão (órgão governamental com a participação majoritária do
empresariado), verdadeiro instrumento da política de conciliação de classes, sempre para
controlar os trabalhadores e, depois, desconstituindo o CODIPE (outra farsa deste governo).
Assim, o CPERS demonstrou, inequivocamente, que não seria um braço do Palácio Piratini
para ajudar a enganar a categoria.
Infelizmente, o mesmo não aconteceu com a Articulação Sindical, que é a direção
majoritária da CUT e de outras entidades, pois, ao legitimar esta política, alimenta a ilusão dos
trabalhadores de que Tarso é um governo diferente.
A campanha salarial, logo no início do governo, mobilizou a categoria e respondeu, de
forma categórica, que nada nos faria recuar da luta pelo piso e da cobrança da pauta aprovada
no último congresso e prometida pelo candidato Tarso Genro.
Foi realizando uma batalha sem trégua contra o “PACOTARSO” que esta direção se
reelegeu. Várias reuniões e atividades de mobilização unitárias com o conjunto dos servidores
foram realizadas, num período muito curto, já que este pacote foi colocado na Assembleia

Legislativa em regime de urgência. Este projeto, que criou o Fundo de Previdência e deu um
calote nas RPVs, entre outras “maldades”, foi votado no dia da eleição do CPERS/Sindicato.
A categoria saiu da votação do “pacote” com uma amarga derrota. Mas também soube
dar o troco. Outdoors foram espalhados por todo o estado, milhares de cartazes foram colados,
mostrando “A nova face dos inimigos da educação”. Sem dúvida, a política do governo Tarso
e a sustentação dos deputados do PT, PC do B, PSB, PDT, PTB e PRB serviram muito para
que a experiência com o parlamento se aprofundasse, pois a base de sustentação do atual
governo se comportou exatamente como a “base de direita”, que sempre votou contra os
trabalhadores na Assembleia Legislativa.
Também é importante salientar que, depois de ter garantido, através de “troca de
favores”, uma base sólida na Assembleia Legislativa para retirar os direitos dos servidores
públicos, Tarso deixou de fingir que negociava com os educadores.
Apesar disso, o CPERS/Sindicato não deixou de buscar a negociação. Claro que
negociação sempre respaldada pela mobilização da categoria, pois esta entidade não seguirá o
exemplo das organizações dirigidas pelos “amigos do Tarso”, que, estando de joelhos para o
governo, nada mais fazem que entregar os direitos dos trabalhadores.
Foram inúmeras as formas de luta para buscar a implementação do piso salarial para os
professores e funcionários de escola: atos públicos, caravanas, marchas – tanto regionais como
estaduais – pressão em Câmaras de Vereadores, no Legislativo Estadual, paralisações, redução
de períodos, ocupações na Secretaria de Educação, no Palácio Piratini e na bancada do PT,
atividades com alunos e pais, além de várias campanhas de mídia, outdoors e colagens.
Devemos também destacar que, junto com a luta do Piso, sempre esteve presente a
defesa da educação. A greve, no final de 2011, contra a Reforma do Ensino Médio foi um
exemplo contundente disso.
Quanto à participação na Greve Nacional de 2012 e, agora, de 2013, não temos dúvida
de que o índice de adesão no Rio Grande do Sul foi o maior do país. Realizamos o Encontro
dos Funcionários de Escola, o Encontro de Educação, com o tema da Reforma do Ensino
Médio e, no ano passado, uma Conferência de Educação.
Construímos um Projeto que trata da Saúde dos Trabalhadores em Educação,
realizamos uma pesquisa que comprovou o quanto a nossa categoria sofre pelas péssimas
condições de trabalho, realizamos seminários para formar as representações dos núcleos e
estamos na fase da organização das comissões por núcleos, para documentarmos os problemas
causadores do adoecimento da nossa categoria.
Além disso, aprofundamos a estratégia de construir a unidade da nossa categoria com
os demais trabalhadores. Na primeira gestão, foi aqui no estado, unificando os Servidores
Estaduais no Fórum dos Servidores Públicos, mas, nestes últimos dois anos, os nossos passos
foram maiores, tivemos a coragem de colocar o nosso sindicato a serviço de construir a
unidade nacional com aqueles que querem lutar.
Isto tem um significado enorme para ajudar a avançar a consciência da nossa categoria,
para fortalecer a luta “em defesa da educação pública”, mas, principalmente, para construir
uma nova direção para a classe trabalhadora brasileira.
Por fim, salientamos que nos orgulha muito o fato de que este bloco que dirige o
CPERS tem e teve uma política que, de forma categórica, fortaleceu o CPERS como um
símbolo de resistência na luta contra o governismo e o burocratismo. Esta conclusão não
significa pouco, numa conjuntura marcada por traições da maioria das direções construídas
pela nossa classe.

3. MOVIMENTO SINDICAL

O PAPEL QUE O CPERS TEM CUMPRIDO PARA UNIFICAR OS
TRABALHADORES

Desde 2008, a unidade entre as organizações que dirigem atualmente o CPERS,
permitiu que os educadores apostassem em uma alternativa oposta à política da direção
majoritária da CUT e da CNTE. Esta alternativa surgiu pela necessidade de recolocar o nosso
sindicato no caminho das lutas, mas, principalmente para impedir que este poderoso
instrumento perdesse sua independência frente aos governos, patrões e também ao aparelho do
estado.
A tese apresentada pelo bloco que dirige o CPERS estabelece com clareza as tarefas e
desafios para o próximo período. No entanto, as políticas de desmonte da educação, que
impõem aos educadores muito sofrimento, são aplicadas aqui no estado e também pelos
demais governos estaduais e federal.
Isto já é suficiente para que os professores e funcionários de escola compreendam que
não podem ultrapassar sozinhos estes obstáculos. Também é preciso entender que os
problemas não estão colocados tão somente para uma categoria, mas para o conjunto da classe
trabalhadora. Portanto, para enfrentá-los e superá-los, é preciso se organizar e lutar
conjuntamente.
A partir desta constatação, é muito importante que a nossa categoria faça um balanço
de qual papel tem cumprido a CNTE e a CUT neste último período. Queremos aqui citar
alguns exemplos:
1. Desde que Lula assumiu, em 2003, a CNTE optou pala submissão às políticas educacionais
do governo federal, assumiu o “Pró-funcionário”, que nada mais é do que uma enganação em
termos de qualificação profissional, defende abertamente a alteração do plano de carreira dos
professores do RS, sem esquecer o episódio lamentável de apresentar propostas de alteração
do cálculo de reajuste do piso, ajudando os governos no discurso de que não pagam o Piso
porque os estados não têm como suportar o reajuste do custo aluno. Como se não bastasse, não
articulam as lutas nacionais, pelo contrário, quando chamam dias de greve, não conseguem
nem que os sindicatos que dirigem assumam e façam pra valer;
2. A CUT não é diferente, embora existam setores que militam na central e que defendem uma
política oposta a da direção majoritária, o que temos visto é uma completa adaptação ao
governismo e à política de conciliação de classes. Basta ver a confusão que fazem, levando
representantes de governos para falar nos atos dos trabalhadores, participando de fóruns
governamentais junto com os empresários e semeando ilusões de que governos que atacam os
direitos dos trabalhadores podem ter a confiança da nossa classe.

Contrário a isso, o CPERS tem sido um exemplo da importância em manter o perfil
classista e independente de uma organização. Neste sentido, este congresso tem que deliberar
que o CPERS não meça esforços para se colocar sempre ao lado daquelas organizações que
querem lutar para defender nossos direitos, tendo como princípio a independência de classe.

4. EDUCAÇÃO

Contra os ataques dos governos é preciso defender a educação!

Os projetos governamentais, em sua globalidade, estão direcionados a um objetivo:
enfraquecer a escola pública, reduzindo a qualidade do ensino e deteriorando,
sistematicamente, as condições físicas das escolas. Simultaneamente, desencadeiam ataques
duríssimos às condições de trabalho dos educadores para economizar e desviar recursos, além
de tornar ainda mais bárbaro o cotidiano escolar. O resultado dessas políticas é a existência de
uma crise permanente nas escolas públicas. O adoecimento generalizado é resultado de uma
desmoralização da carreira docente, provocada intencionalmente pelos sucessivos governos.
Esta odiosa ofensiva tem origem no interesse que o “mercado educacional” provoca no
grande capital. No Brasil, este mercado corresponde a mais de US$ 100 bilhões. Diante da
crise econômica mundial, aumentam as pressões para que os governos apliquem “reformas
educacionais” que signifiquem ainda menos recursos para a escola pública. É a
mercantilização avançada de um dos direitos humanos mais fundamentais!
Nos mandatos de Lula e Dilma, houve um aprofundamento desse violento processo de
privatização. Segundo o Censo Escolar do MEC, entre 2002 e 2010 houve uma queda de
12,3% nas matrículas de todo o ensino básico público, enquanto na rede privada houve um
crescimento de 5,2%. Na educação profissional, 56% das matrículas estão na esfera privada.
No ensino superior, 75% das vagas são de instituições privadas, expressando um crescimento
de 227% em apenas 15 anos.
Este avanço do capital sobre a educação está expresso nos objetivos do novo PNE
(Plano Nacional de Educação), que está para ser votado no Congresso Nacional. Com o apoio
da CNTE e das entidades que dão sustentação aos governos, o PNE proposto busca ser o eixo
ordenador dessa política de privatização da educação em nosso país. É o plano que organiza,
de norte a sul do país, a deterioração da escola pública e as atuais reformas, de conteúdo
privatista.
A serviço de uma lógica neoliberal, o PNE expande as parcerias público-privadas e os
projetos (PROUNI, PRONATEC, FIES, Ensino à distância, ENADE, ENEM) que favorecem
o viés mercadológico da educação. E, para piorar a vida dos educadores, o PNE ataca ainda
mais a autonomia docente, por meio do aprofundamento da meritocracia e das avaliações
externas. Impõe uma maior centralização curricular e ameaça a gestão democrática das
escolas. Em resumo, este plano impõe condições mais coercitivas aos educadores, tornando-os
responsáveis pelos fracassos educacionais que o próprio governo gestou.

O desastre educacional do Governo Tarso

A política educacional do governo Tarso é um desastre em todos os aspectos. O atual
governo abandonou, uma a uma, todas as promessas feitas ao povo gaúcho e decidiu voltar-se
contra os educadores. Para agravar mais a situação, assumiu os mesmos métodos truculentos e
antidemocráticos do governo anterior para impor reformas impopulares na educação. O
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exemplo mais categórico é o da reforma do ensino médio (“ensino politécnico”), no qual o
governo assume as exigências do empresariado e impõe um projeto contra a vontade dos
estudantes, dos educadores e da comunidade escolar.
A proposta de reforma do ensino médio do governo Tarso segue o projeto educacional
do governo federal e reforça a situação de discriminação e segregação da juventude proletária.
Disfarçada sob o rótulo de “integração ao mundo do trabalho” e deturpadora do conceito
marxista de politecnia, o objetivo de tal reforma é direcionar, adaptar e formatar a juventude
para inserção como força de trabalho no mercado capitalista.Vale acrescentar que os
estudantes, no estado, procuram reagir a esta reforma.
Tarso e o secretário José Clóvis de Azevedo fazem ressurgir o “regimento padrão”,
ferindo a gestão democrática das escolas e impondo um retrocesso ainda maior no sentido do
cerceamento à liberdade de cátedra dos educadores. Aumenta o controle burocrático e o
método de imposição pedagógica, tornando ainda mais difícil o cotidiano das escolas. A
política de “aprovação automática” vem empobrecer e desqualificar a educação, impedindo
que o conhecimento seja um objetivo para os filhos dos trabalhadores.
Contra tudo o que prometeu antes de se eleger, Tarso se adequa às pautas da Agenda
2020 e de movimentos empresariais como o “Todos pela Educação” e faz proliferar convênios
com fundações e ONGs. Por todos esses desmandos, o governo Tarso vem semeando uma
enorme revolta nas escolas do Rio Grande do Sul. Permanecem os problemas estruturais,
como a falta de professores e funcionários, a ausência de condições físicas adequadas ao
funcionamento de bibliotecas, laboratórios, etc. Faltam, até mesmo, condições básicas, como
luz, água e saneamento. Sequer o PPCI existe nas escolas.
Diante da gravidade dos ataques dos governos Dilma e Tarso, a luta e a resistência dos
educadores adquirem uma importância decisiva para o futuro da nossa classe.
Precisamos seguir lutando por um projeto educacional coerente com as necessidades da
classe trabalhadora e enfrentando as ações dos governos e do grande capital.
Como parte dessa luta em defesa da educação devemos reafirmar as nossas bandeiras:
· Escola pública, gratuita, universal, laica e de boa qualidade.
· 10% do PIB para a educação pública já!
· Não à reforma do ensino médio e à farsa do “ensino politécnico” do governo Tarso.
· Não ao PNE. Por um PNE dos (as) trabalhadores (as): construído pelos estudantes, pais
e organizações da classe trabalhadora.
· Em defesa da autonomia docente. Gestão democrática que compreenda autonomia
pedagógica e administrativa. Conselhos Escolares realmente representativos e com
poder de deliberação, pois a comunidade escolar deve exercer o controle da gestão da
escola.
· Contra a privatização e os fundos que levam à municipalização do ensino. Pelo
cumprimento dos repasses previstos em lei para a educação.
· Combate permanente às ONGs, fundações e institutos, que acabam recebendo dinheiro
público dos governos, que são verdadeiras fontes de corrupção e interferem na
educação dos filhos dos (as) trabalhadores (as).
· Não às avaliações externas (SAEB, ENEM, PROVA BRASIL, SEAP).
· Concurso público para professores e funcionários de escola, com garantia de
nomeação.
· Em defesa dos planos de carreira e pelo pleno cumprimento dos mesmos, pois esta luta
significa impedir a aplicação das diretrizes nacionais, que desestruturam as carreiras e
abrem caminho para a implantação da meritocracia.
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· Pagamento imediato do piso salarial como básico das carreiras para professores (as) e
funcionários (as).
· Defesa dos planos de carreira dos educadores com a garantia do sua efetiva aplicação.
· Cumprimento de 1/3 da hora atividade. Sem a hora-relógio e garantia da hora-aula.
· Combate às falsas propostas de formação para os (as) funcionários (as), como o Prófuncionário,
que têm como objetivo, não a qualificação, mas sim, a negação da
identidade profissional estabelecida no plano de carreira daqueles que, durante anos,
exercem sua profissão dentro das escolas públicas.

5. POLÍTICAS ESPECÍFICAS

Abaixo toda forma de opressão!

O sistema em que vivemos aproveita-se das diferenças de gênero, raça e sexualidade para
colocar parte importante da população em “desvantagem” social e submeter este grupo a
piores condições de vida. Em relação às mulheres, o machismo é uma ideologia que ataca
econômica, política e socialmente. O machismo pode expressar-se de diversas formas: em
piadas que ridicularizam as mulheres, e em muitas formas de violência como verbal, física e
psicológica.
A profissão de professora/professor, historicamente, foi concebida como uma profissão
feminina, uma extensão do lar, algo de cunho estritamente “vocacional”, lugar onde os
trabalhadores podem deixar seus filhos, pois as “cuidadoras” tomarão conta deles. No
governo Dilma, diferente da propaganda eleitoral, não existe nenhuma política efetiva para a
construção de creches públicas e, hoje, apenas 13% das crianças até três anos são atendidas.
Os índices de violência contra a mulher crescem a cada dia. Atualmente, em nosso país, a cada
2 minutos, cinco mulheres são espancadas, e a falta de verba para aplicação da Lei Maria da
Penha é um empecilho na proteção às mulheres que sofrem violência e/ou ameaças. .
O quadro geral de trabalhadores em educação no estado do RS é composto por 85% de
mulheres, divididas entre funcionárias e professoras. A precarização constante a que está
subordinada nossa categoria é uma das expressões da sociedade machista em que vivemos, por
isso acreditamos que é fundamental que compreendamos isto para organizar as trabalhadoras
da educação em torno do tema.
As demandas relacionadas aos problemas das mulheres na categoria são parte das lutas
que todos devemos assumir, assim, o direito de 6 meses de licença maternidade, que foi uma
conquista histórica das mulheres trabalhadoras deve ser expandido até um ano, bem como
devemos exigir licença paternidade de 40 dias para homens, pois os pais também devem ser
responsáveis pelo cuidado de seus filhos.
A creche é um direito para que os pais da classe trabalhadora possam deixar seus filhos
em segurança em um espaço educacional. Logo, enquanto não existem creches públicas no
conjunto das escolas estaduais, devemos lutar por um auxílio creche de acordo com os valores
necessários para que se pague uma escola de educação infantil e a categoria possa trabalhar
tranquila. .
A unidade entre homens e mulheres, tendo as mulheres na vanguarda desta batalha, é
fundamental para que possamos superar esta situação de opressão. Sabemos que o capitalismo
utiliza-se da opressão sobre mulheres, negros e homossexuais para que possa aumentar seus
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lucros e, como consequência, a exploração sobre a classe trabalhadora de conjunto, trata-se de
uma luta dos trabalhadores contra a opressão!
Também será necessário mobilizarmos a nossa categoria para que pressionemos o
governo para o atendimento da nossa pauta específica aprovada, dia 08 de março, na nossa
Assembleia Geral e entregue neste mesmo dia.

LGBT

A homofobia é uma opressão que divide a classe trabalhadora e a incorporação das
lutas contra a opressão é muito importante para o fortalecimento e unificação da classe. A
realidade em nosso país, que é refletida no setor educacional com força, é de que a homofobia
acaba por ser um grande obstáculo para que muitos LGBTTT concluam seus estudos e possam
até mesmo realizar seu trabalho com qualidade. Devemos denunciar e repudiar a violência
homofóbica sofrida por LGBTTT da classe trabalhadora, que se expressa em grandes índices
de assassinatos dos mesmos.

A eterna luta dos Funcionários de Escola

Não é de hoje que a necessidade dos agentes educacionais lutarem pelos seus direitos é
uma premissa. No governo Yeda, os ataques aos educadores e à escola pública foram um
projeto cotidiano. Entrou o governo Tarso e nada mudou, aliás, a situação e as condições de
trabalho dos agentes educacionais pioraram e houve um aprofundamento da precarização do
trabalho no ambiente escolar.
Além de todas as demandas históricas, há hoje uma nova ameaça, a extinção da categoria,
pois não há mais concurso público e é grande o número de aposentadorias.
Na questão da saúde, possuímos uma categoria adoecida pelo aumento da carga de
trabalho, agravado pela falta de estrutura e pelo material de trabalho inadequado.
Devemos ressaltar que o CPERS/SINDICATO sempre lutou junto à categoria pela
inclusão de todos os funcionários de escola no Plano de Carreira dos Agentes Educacionais.
Porém, o Governo Tarso aplica um duro golpe, apresentando um projeto de lei para o
funcionalismo público estadual, dividindo mais uma vez a categoria. O mesmo não incorpora
os trabalhadores que atuam nas escolas no novo plano de carreira, jogando-os para o quadro
geral. Com tudo isso, vimos que o governo atual não está preocupado em valorizar os
trabalhadores em educação.
Devido aos ataques do governo, temos que aumentar nossa organização. Continuaremos
sendo educadores com bandeiras de luta por uma educação de qualidade, lutaremos por uma
formação gratuita e pela lei do Piso, também para os Funcionários, aliás, luta que a CNTE
abandonou. Seremos resistentes e estaremos lutando junto à classe trabalhadora e à
comunidade escolar!


Saúde dos educadores, “o quadro da dor”

A situação da escola pública em nada se diferencia da dramática e dolorosa situação
dos professores e funcionários das escolas do RS. O CPERS/Sindicato, através do Projeto de
Saúde dos Trabalhadores em Educação, realizou seminários e pesquisas junto à categoria,
constatando o quadro de desvalorização, desrespeito, assédio moral, sobrecarga de trabalho,
baixos salários e falta de condições estruturais nas Escolas Públicas do RS. Quadro este que
provoca o adoecimento dos educadores.
Esse verdadeiro caos, que vem se agravando a cada governo, continua e se aprofunda
no Governo Tarso.
Infelizmente, os índices alarmantes de adoecimento dos educadores, em virtude da
atividade laboral, apontados em pesquisas, tendem a aumentar. É preciso manter e ampliar a
atenção sindical para saúde, aprofundando estudos, dando continuidade aos seminários e
debates, organizando em cada local de trabalho e em cada núcleo, as Comissões de Saúde do
Trabalhador em Educação para que possamos colocar esses problemas também como centro
das nossas próximas mobilizações.

Direitos para os Contratados

A luta dos educadores por concurso público é histórica no nosso estado. Durante
décadas, esta tem sido uma das principais reivindicações dos educadores e, apesar disso,
quando ocorrem concursos, não são suficientes para preencher as vagas existentes e, por isso,
não conseguem regularizar a situação dos contratados.
Enquanto isso, os contratos emergenciais, tanto para professores como para
funcionários, aumentam a cada ano. Hoje, sem dúvida, já são mais de 20 mil contratados,
numa relação de trabalho quase em “regime de escravidão”.
Neste sentido, este congresso tem que encarar este debate e deliberar que:
· O nosso sindicato tenha uma política unitária de proteção ao emprego dos
educadores contratados;
· Abra-se um debate sobre os direitos trabalhistas destes profissionais;
· Construa-se uma forte mobilização para pressionar o executivo e o legislativo
para que todo educador contratado tenha, no mínimo, os direitos garantidos
pela CLT.

6. PLANO DE LUTAS

A defesa da educação, dos direitos e reivindicações dos educadores e da luta unificada
da classe trabalhadora tem sido o norte da atuação do CPERS/Sindicato ao longo dos últimos
anos. A convicção em estar lado a lado com os trabalhadores na luta de classes fez com que
nosso Sindicato enfrentasse governos como o da Yeda e do Tarso Genro, mantendo-se com a
independência necessária para organizar a luta.
Este firme posicionamento político deve continuar sendo à base do plano de lutas para
o próximo período.
A denúncia sistemática de suas mentiras, de suas promessas não cumpridas, de seus
projetos de ataques aos nossos salários e planos de carreira, de suas reformas neoliberais,
configura a única possibilidade de defesa verdadeira dos educadores e da escola pública. A
20
luta contra o atual governo e suas tentativas de enganar o povo gaúcho é condição essencial
para que possamos derrotar os planos de desqualificação e privatização da escola pública.
Nesse contexto, o Congresso deve debater o fortalecimento de nossa luta pelo
pagamento imediato do piso salarial profissional nacional para os professores e criação do piso
salarial para os funcionários, com os mesmos parâmetros.
Será necessário debater a construção de uma forte greve no RS, como único meio de
derrotar o objetivo do atual governo de se recusar a cumprir uma lei favorável aos
trabalhadores. E, assim, derrotar os acordos espúrios que o governo Tarso fez com o
Ministério Público para desrespeitar nosso direito.
Também recordar com força quem são os inimigos da educação, mais ainda em 2014,
que é ano eleitoral. Os ataques da burguesia, dos partidos de direita, que já governaram o
estado e o país, do atual governador e de sua bancada na Assembleia Legislativa deverão
seguir encontrando no CPERS/Sindicato a mais firme resistência, uma forte trincheira de luta
da classe trabalhadora.

EIXOS DE LUTA E REIVINDICAÇÕES DA CATEGORIA

· Cumprimento imediato da Lei do Piso Salarial para Professores, como básico do Plano
de Carreira. Criação do Piso Salarial para os Funcionários. Não às tentativas de
alteração dos critérios de reajuste da Lei do Piso.
· Cumprimento imediato do 1/3 de hora-atividade.
· Defesa dos Planos de Carreira de professores e funcionários.
· Não à reforma do ensino médio e à farsa do “ensino politécnico”.
· Concurso público para professores e funcionários, com taxas menores e regras
razoáveis.
· Não à meritocracia! Anulação do decreto que alterou os critérios da carreira do
magistério. Revisão da lei do vale-refeição para revogar o estorno.
· Inclusão de todos os funcionários no Plano de Carreira.
· Garantia da paridade entre ativos e inativos.
· Promoções dos professores e funcionários de escola.
· Manutenção do IPE-SAÚDE público, obrigatório e de qualidade somente para
servidores. Não ao desmonte do IPE.
· Valorização profissional e condições dignas de trabalho.
· Combate ao descaso dos governos Dilma e Tarso com a educação.
· Não à privatização da escola pública.
· Contra o PNE privatista que está no Congresso Nacional.
· Anulação da Reforma da Previdência comprada com o dinheiro do “mensalão”.
· Não ao Acordo Coletivo Especial – ACE ou qualquer outra proposta que retire direitos
dos trabalhadores.

AÇÕES

· Debater com a categoria a necessidade de uma greve no início de 2014 para obrigar o
governo a negociar o Piso e as demais reivindicações;
· Debate permanente nas escolas, para fortalecer o trabalho de base e preparar a
categoria para os próximos enfrentamentos;
· Continuar mobilizando os aposentados e chamando para fortalecer as instâncias do
Sindicato;
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· Organizar calendário de mobilizações no segundo semestre: redução de períodos e
paralisações;
· Fortalecer os representantes de escola e eleger onde não há;
· Articular lutas unitárias com os trabalhadores em educação de outros estados;
· Continuar, de forma conjunta com os demais trabalhadores, denunciando a tentativa de
criminalização dos movimentos sociais, por parte dos governos e das instituições
burguesas, como o Judiciário e o Ministério Público;
· Participar das lutas gerais em defesa dos direitos dos trabalhadores;
· Apoiar campanhas internacionais de solidariedade;
· Apoiar todas as formas de luta como: greves, ocupações de terra, mobilizações pela
reforma agrária, pelo direito à moradia, etc.
· Continuar fortalecendo a unidade, no RS, mas também em nível nacional, com os
setores que chamaram a marcha do dia 24 de abril, em Brasília.
· Organizar, no CPERS/SINDICATO, para além do que já existe, o debate e a
mobilização contra toda forma de opressão das mulheres, negros (as), LGBTs.
· Realizar um encontro internacional de educação para fortalecer a articulação e a
resistência em defesa da educação pública para a classe trabalhadora.
Integrantes da Direção Central do CPERS Sindicato que subscrevem esta tese:

REJANE SILVA DE OLIVEIRA – PRESIDENTE – A CUT PODE MAIS – MLS
(Movimento de Luta Socialista)
NEIDA PORFÍRIO DE OLIVEIRA – 1ª VICE-PRESIDENTE – CSP/CONLUTAS – CS
(Construção Socialista)
RÉGIS BATISTA ETHUR – 2º VICE-PRESIDENTE – CSP/CONLUTAS
MAIRA IARA DE FARIAS ÁVILA – SECRETÁRIA GERAL – CSP/CONLUTAS – CS
TANIA MARA M. FREITAS – TESOUREIRA GERAL – A CUT PODE MAIS – MLS
ANDREA CEZIMBRA ORTIZ – DIRETORA – CSP/CONLUTAS
DANIELA FABIANA PERETTI – DIRETORA – AE SINDICAL
NEI ALVES DE SENA – DIRETOR – A CUT PODE MAIS – MLS
LUIZ VERONEZI – DIRETOR – AE SINDICAL
ENILSON POOL DA SILVA – DIRETOR
MARIVETE MORAIS DE MELO – DIRETORA – CSP/CONLUTAS – CS
NEIVA INÊS LAZZAROTTO – DIRETORA – INTERSINDICAL
PAULO RENATO DAPPER – DIRETOR – A CUT PODE MAIS – MLS
TERESINHA BULLÉ DA SILVA – DIRETORA – CSP/CONLUTAS – C

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Direito à Saúde e governo Dilma: nada a ver. O caso dos médicos cubanos





Há cerca de um mês, a imprensa repercute notícias sobre medidas para facilitar a contratação de médicos estrangeiros para áreas de difícil fixação destes profissionais (como no interior do país). A medida mais polêmica diz respeito à iniciativa de contratar cerca de 6 mil médicos vindos de Cuba. Há dois tipos de reação mais comuns: os tradicionais donos do Brasil destilam argumentos reacionários e preconceituosos contra a proposta. No outro pólo, o governismo acrítico acredita que, finalmente, a presidenta encontrou a salvação definitiva para o problema. O Setorial de Saúde do Partido Socialismo e Liberdade quer discutir os possíveis desdobramentos deste pequeno e insuficiente avanço numa conjuntura de enormes ataques do governo Dilma ao SUS.

A existência de médicos estrangeiros não é incomum em outros países. Nos EUA, 27% do total de médicos atuantes são formados no exterior; no Reino Unido, 37%; quase metade dos residentes em Medicina de Família e Comunidade na Espanha é de fora da União Europeia. E o problema persiste: de acordo com a Association of American Medical Colleges, os EUA terão 63 mil médicos a menos do que precisam, em 2015 (http://www.nytimes.com/2012/07/29/health/policy/too-few-doctors-in-many-us-communities.html), e são acusados de “roubar” médicos dos países pobres (http://www.nytimes.com/2012/03/11/magazine/america-is-stealing-foreign-doctors.html?pagewanted=all&_r=0). Ainda assim, os EUA têm 2,4 médicos por mil habitantes, nível comparável ao de Reino Unido (2,7) e menor que o da Espanha (4). Cuba tem o melhor índice: 6,7. Em nosso país, a força de trabalho médica ainda é um luxo (1,8 médicos por mil habitantes), se comparado àqueles (dados do Banco Mundialhttp://data.worldbank.org/indicator/SH.MED.PHYS.ZS).

O Brasil é um país em que as diferenças entre classes ricas e classes pobres, estados ricos e estados pobres e entre cidades do interior e grandes cidades, são gritantes. Estas diferenças se expressam, por exemplo, na renda familiar, no consumo de alimentos saudáveis, no acesso à educação de qualidade, no tempo gasto para ir e voltar do trabalho e na existência de rede de esgoto. Os problemas de acesso a profissionais de saúde (o caso mais grave é dos médicos) e a medicamentos são uma expressão do país segregado em que vivemos. Como a situação de saúde do povo brasileiro é determinada por todos estes fatores, sabemos que apenas transformações profundas poderiam mudar radicalmente o cenário. Não é o que acontece no Brasil de hoje

Mesmo assim, uma medida que conseguisse paliar este problema seria digna de elogio. No entanto, o governo até o momento não fez nenhum anúncio oficial (http://www.cebes.org.br/internaEditoria.asp?idConteudo=4405&idSubCategoria=56), como, de resto, tem sido sua prática: negociar as grandes questões nacionais por debaixo dos panos, sem debate público. Exemplo é a proposta de mais isenções aos empresários da saúde.

Supondo que os rumores sejam verdade e que o governo Dilma resolva se contrapor ao conservadorismo das corporações médicas, seria de se apoiar a contratação de médicos formados em Cuba pelas seguintes razões: em primeiro lugar, pela qualidade da formação dos médicos, que desde o começo do curso estagiam em unidades de Saúde da Família e sabem que a saúde não é apenas prescrição de medicamentos ou realização de exames, mas embasam sua prática clínica na noção de que a vida social é que determina as condições de saúde de uma população. Por isso, são profissionais que, mais que curarem diarreia ou prescreverem remédios para hipertensão, trabalham na perspectiva do cuidado integral à saúde: tratamento, prevenção, reabilitação, promoção.

Em segundo lugar, o Brasil precisa beber desta vasta experiência. Cuba, mesmo sendo um país pobre, tem expectativa de vida, mortalidade infantil, mortalidade materna, e muitos outros indicadores melhores que os nossos e que o resto da América Latina, segundo a Organização Panamericana de Saúde  (http://new.paho.org/hq/index.php?option=com_content&task=view&id=2470&Itemid=2003). Em artigo recente publicado no “New England Journal of Medicine”, um dos mais importantes periódicos médicos no mundo, o sistema cubano foi bastante elogiado (conforme lembrou o médico Pedro Saraivahttp://www.sul21.com.br/jornal/2013/05/a-questao-da-vinda-dos-medicos-cubanos-para-o-brasil/). Apenas a idiotia incurável da revista “Veja” é capaz de condenar os sensacionais avanços da saúde cubana desde o triunfo da revolução. Se considerarmos então o histórico de solidariedade internacional por parte de Cuba, e a atuação desses médicos em mais de 70 países, por mais de quatro décadas (frequentemente nas condições mais adversas), a virulência dos ataques fica ainda mais despropositada. Sendo assim, é de enorme irresponsabilidade condenar o alívio que seria para milhares de municípios, vilas, lugarejos, aldeias ou ribeiras, poder contar, muitos pela primeira vez, com profissionais médicos bem formados.

No entanto, os aspectos positivos desta suposta medida não devem aparentar ser mais importantes do que de fato são. A extrema concentração de médicos no setor privado cresce sem controle. De acordo com estudo do CFM publicado em 2011, há quatro vezes mais médicos no setor privado que no público, e entre 2002 e 2009 a diferença cresceu. Para piorar, o governo Dilma empreende ataques organizados aos marcos constitucionais do SUS e está colocando em risco a noção de direito à saúde construída pela Reforma Sanitária.

Assim, a escassez absoluta e relativa (referente às desigualdades regionais e entre o SUS e a saúde privada) da força de trabalho médica tende a crescer com o avanço da privatização feita pelo governo federal. Assim, a chegada dos médicos estrangeiros não apenas não irá resolver o problema, como ocorrerá em vigência de outro retrocesso político de Dilma: o sucateamento da Atenção Primária à Saúde (APS).

Todos os países com sistemas universais de saúde (como Cuba, Reino Unido, Espanha, Canadá, Portugal) centram sua organização na APS, que utiliza médicos generalistas. O governo Dilma rema no sentido contrário: investe em Unidades de Pronto-Atendimento, centra esforços em parte de cuidados especializados, medidas importantes, mas quando tomadas de forma isolada prejudicam o atendimento à saúde. Para piorar, suas “soluções de emergência” para o problema da APS, como o PROVAB, redundaram em estrondoso fracasso: muitos médicos desistem de trabalhar nas equipes de áreas mais carentes e distantes, pela absoluta falta de estrutura e apoio prometidos pelo Ministério da Saúde. A falta de médicos generalistas,  mais grave nas periferias, estados pobres e cidades pequenas, continua gritante.

Neste cenário, a precariedade é regra: cerca de 70% da força de trabalho do SUS trabalha sob contratos precários, sem garantia de recebimento de salários e direitos. E aqui reside outro problema que não tem solução pela vinda dos médicos estrangeiros: as deficiências da política brasileira de saúde ocorrem pela carência de todos os tipos de profissionais de saúde (não apenas médicos) no sistema público de saúde – caso curioso de perversidade à brasileira, já que há milhares de psicólogos, enfermeiras, fisioterapeutas, entre outros, desempregados.

Além disso, a contrarreforma universitária iniciada por FHC e continuada por Lula e Dilma deixou a formação da força de trabalho médica nas mãos dos empresários da saúde. Isto desvirtua o processo de formação de profissionais, que deveria ser na lógica do direito à saúde, passando a se dar nos marcos da ultramercantilização dos direitos sociais dos últimos anos. Esta tendência os médicos cubanos não têm capacidade de reverter.

Por fim, a suposta proposta do governo não muda a enorme desigualdade na distribuição de médicos em áreas chave como urgência/emergência ou cuidados especializados e de alta complexidade no SUS. Do contrário, as políticas de Dilma têm acentuado o caráter privatizado destes setores, que continuarão como gargalos no acesso aos serviços de saúde por parte da maioria do povo brasileiro.

Em suma, a vinda de médicos cubanos para trabalhar em áreas de difícil fixação tem valor. No entanto, como na maior parte das políticas sociais dos governos petistas, uma fachada “progressista” procura encobrir os retrocessos tremendos. Ao acenar com a possibilidade de amainar as carências históricas do povo brasileiro no acesso a serviços de saúde em uma conjuntura de ataques frontais ao SUS, o governo Dilma combina demagogia com privatização e quer convencer de que isto ajudaria na construção do direito à saúde.

A falta completa de perspectiva de uma política universalista de saúde no curto, médio e longo prazo atesta o profundo distanciamento deste governo com os movimentos que, no passado e no presente, sonharam e sonham com uma totalidade de mudanças em direção à emancipação do povo brasileiro.

A história de Cuba mostra que nas sociedades periféricas e de origem colonial, o protagonismo do povo foi decisivo para derrotar os interesses do imperialismo e dos negócios e privilégios nativos, inclusive no caso da saúde. No Brasil do lulismo, o paradigma da “inclusão via mercado” faz parte de uma conta que não fecha. O profundo mal-estar que experimenta o nosso povo no que tange a saúde é apenas uma faceta da bomba-relógio que os neoprivatistas ajudaram a armar. Que não será desmontada com a vinda de valorosos e valorosas colegas cubanos e cubanas.

Os médicos Felipe Monte Cardoso, Bruna Ballarotti e Felipe Corneau, e Bernado Pilloto, técnico administrativo em educação, são membros do Setorial de Saúde do Partido Socialismo e Liberdade.
Há cerca de um mês, a imprensa repercute notícias sobre medidas para facilitar a contratação de médicos estrangeiros para áreas de difícil fixação destes profissionais (como no interior do país). A medida mais polêmica diz respeito à iniciativa de contratar cerca de 6 mil médicos vindos de Cuba. Há dois tipos de reação mais comuns: os tradicionais donos do Brasil destilam argumentos reacionários e preconceituosos contra a proposta. No outro pólo, o governismo acrítico acredita que, finalmente, a presidenta encontrou a salvação definitiva para o problema. O Setorial de Saúde do Partido Socialismo e Liberdade quer discutir os possíveis desdobramentos deste pequeno e insuficiente avanço numa conjuntura de enormes ataques do governo Dilma ao SUS.


O canibalismo comunista da Veja



Praticamente nenhuma pessoa séria leva a revista Veja a sério. 
Sabe-se que é uma publicação humorística. Faz um humor meio sem graça,
 apelativo, rasteiro, como é o humor dominante na mídia brasileira atual.
 Mas há um traço de original nesse humor: ele é ideológico. Nesta semana, 
porém, Veja caprichou no ridículo. O texto “Os ossos do socialismo” 
é uma obra-prima de charlatanismo, de reacionarismo delirante e de besteirol 
histórico. Segundo o repórter, que assina a matéria, há uma relação direta
 entre canibalismo e comunismo.
 Em 1609, os primeiros colonos ingleses instalados em Jamestown, na América,
 loucos de fome, comeram os seus semelhantes.

Arqueólogos descobriram os ossos de Jane, vítima do canibalismo 
dos seus parceiros de aventura no Novo Mundo. 
A revista Veja não tem a menor dúvida: “Jane foi devorada por seus 
pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva 
implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos.
 A propriedade era comunitária, e o fruto do trabalho era dividido 
igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que 
antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu”. Uau! A 
cadeia estabelecida é imperativa: o coletivismo levou à preguiça, 
que levou à improdutividade, que levou à fome, que levou ao canibalismo. 
A saída viria com a propriedade privada. É reportagem
 para prêmio Esso de estupidez. Longe de mim defender o comunismo.
 O buraco é mais embaixo. Vejamos.

O autor tem a segurança dos tolos encantados com o lugar que 
ocupam na escala social: “Se não fosse o sistema fracassado, 
a situação dificilmente teria chegado a esse ponto”. 
Todos os demais aspectos de adaptação e de conjuntura
 são desconsiderados. O reducionismo ideológico surge 
como uma iluminação. A solução chega com um novo administrador, 
que impõe à propriedade privada: “A decisão despertou os traços
 hoje bem conhecidos do capitalismo americano: o empreendedorismo
 e a aptidão para a competição”. Disso teria decorrido que, 
em 1775, os americanos “já eram mais altos que os ingleses”.
 Tem gente batendo os dentes nos consultórios de dentista, onde
 Veja é campeã de leitura, de tanto rir. É um riso nervoso.

Nem os primatas do Pânico fariam melhor.

Para a pragmática revista Veja, no coletivismo, entre trabalhar
 e comer seus semelhantes, as pessoas escolhem a segunda opção.
 Um colono comeu a esposa grávida. Veja, enfim, descobriu a
 origem da expressão “comunista comedor de criancinha”. 
Na verdade, encontrou algo mais grave, o comunista comedor de feto. 
Sem contar que Duda Teixeira chegou ao elo perdido,
 a origem sempre procurada do capitalismo, o estalo: 
“Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno 
em que colonos caíram na selvageria que permitiu aos
 Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta 
e o berço do capitalismo moderno”. 
O capitalismo nada mais é que uma reação ao canibalismo comunista. Agora é científico.

Não fosse grosseiro, eu diria: é a coisa mais idiota que li.







Under Creative Commons License: Attribution

sábado, 25 de maio de 2013

Marcha contra o veneno da Monsanto

Por Tatiana Félix, no sítio da Adital:

 Neste sábado (25) milhares de ativistas de várias partes do mundo se reunirão na Marcha contra a Monsanto para protestar contra a transnacional estadunidense de biotecnologia e seus organismos geneticamente modificados (OGMs) que afetam agricultores, natureza e a saúde dos consumidores. O objetivo da marcha transnacional é rechaçar os cultivos e alimentos transgênicos, ao mesmo tempo em que alerta as populações para os perigos destes tipos de produtos, que, segundo pesquisas científicas, podem desencadear problemas de saúde como cânceres, infertilidade e defeitos congênitos. Os/as ativistas organizados/as também rechaçam a Lei H.R.933, chamada ‘Lei de Proteção da Monsanto’ (Monsanto Protection Act), aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos e pelo presidente norte-americano Barack Obama, cuja finalidade é impedir a justiça de deter a plantação e a comercialização de colheitas transgênicas sob a alegação de que representariam um risco para a saúde dos consumidores. Além disso, reclamam da falta de informações e pesquisas governamentais que esclareçam sobre os efeitos que os produtos transgênicos causam a longo prazo na vida e na natureza. Também não passou despercebido o fato de a Agência de Alimentos e Medicamentos e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos serem administrados por ex-empregados da Monsanto. Para os/as ativistas, a "gigante da biotecnologia” se beneficia de favoritismo político, e por isso agricultores orgânicos e pequenos agricultores acabam sendo prejudicados com as patentes exclusivas sobre sementes e composições genéticas, e com o monopólio de fornecimento mundial de alimentos da Monsanto. "Os produtos da Monsanto são prejudiciais para o meio ambiente, por exemplo, os cientistas determinaram que as plantações OGMs e seus pesticidas provocaram a morte massiva de abelhas ao redor do mundo”, exemplificam. Como solução para estes problemas, os/as ativistas pedem que consumidores boicotem os produtos transgênicos e comprem apenas produtos orgânicos, e chamam a atenção sobre a necessidade de haver mais pesquisas científicas e informações sobre os efeitos dos OGMs na saúde da população. Também exigem a anulação das disposições pertinentes da Lei de Proteção da Monsanto e defendem que os executivos da Monsanto e seus apoiadores sejam responsabilizados pelos efeitos negativos que a empresa causa com suas atividades mundiais. A iniciativa partiu da ativista Tami Monroe Canal que insatisfeita com a falta de acesso a produtos agrícolas e frescos resolveu se mobilizar e organizar um protesto. De caráter pacífico, os organizadores alertam aos participantes a possibilidade de haver infiltração de pessoas "contratadas para desacreditar a atividade e os ativistas”. Para mais informações, acesse: http://www.march-against-monsanto.com/ Acompanhe a mobilização também pelo facebook: https://www.facebook.com/MarchAgainstMonstanto

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Hungria decide eliminar plantações com transgênicos da Monsanto



A Hungria decidiu eliminar todas as plantações feitas com sementes transgênicas da Monsanto. De acordo com o ministro do Desenvolvimento Rural, Lajos Bognar, foram queimados nesta semana cerca de 500 hectares das lavouras de milho – equivalente a cinco milhões de metros quadrados. A intenção é que o país não tenha nenhum fruto com origem de material geneticamente modificado.



Segundo informações do portal Real Pharmacy divulgadas na quinta-feira (23), as plantações de milho destruídas estavam espalhadas pelo território húngaro e haviam sido plantadas recentemente. Assim, o pólen venenoso do milho ainda não estava a ponto de ser dispersado no ar, não oferecendo, então, perigo à população.

Os húngaros são os primeiros a tomar uma posição contundente na União Europeia em relação ao uso de sementes transgênicas. Durante os últimos anos, o governo da Hungria vem destruindo diversas plantações oriundas dos materiais da Monsanto. O ministro Bognar afirma que os produtores do país são obrigados a certificarem que não usam sementes geneticamente modificadas.

A União Europeia tem uma política de livre trânsito de produtos dentro dos países que compõem o bloco. Assim as autoridades húngaras não podem investigar como as sementes chegam ao seu território. No entanto, afirma Lajos Bognar, “isso não impede que investiguemos a fundo a utilização dessas sementes em nosso território”.

De acordo com a imprensa húngara, o país ainda tem milhares de hectares nestas condições. Ainda de acordo com o portal Portugal Mundial, os agricultores defenderam-se da acusação da utilização de material geneticamente modificado. Eles afirmam que não sabiam tratar-se de sementes da Monsanto.

Como o período fértil para plantações já está na metade, é tarde demais para serem plantadas novas sementes. Dessa forma, a colheita deste ano foi completamente perdida. E, para piorar o cenário aos agricultores, a companhia que distribuiu as sementes geneticamente modificadas abriu falência - o que impede que recebam compensação.

Fonte: Opera Mundi

Professor vagabundo que faz greve deveria ser demitido



“Vagabundo que faz greve deveria ser demitido.” Algumas poucas vezes me dou o direito de atualizar e republicar certos textos deste blog. Hoje é o caso. Pois, ouvi no trem, uma senhora reclamando destemperadamente com uma amiga dos professores da rede municipal em São Paulo, que estão em greve desde o dia 03 – da mesma forma que doutos senhores espezinhavam a greve de professores das universidades federais, tomando cafezinho nos Jardins, tempos atrás. Pedem 17% de recomposição inflacionária dos últimos três anos. A prefeitura oferece 10,19% agora e mais 13,43% em 2014. Mas os sindicatos alertam que esses valores seriam relativos a outros acordos firmados em anos anteriores para incorporação de abonos.
Contudo, mais do que discutir se o salário dos professores será suficiente para pagar uma esfiha ou um kibe no Habib’s, o que me interessa neste texto é a forma com a qual vemos suas reivindicações e as descolamos da melhoria da educação como um todo.
Quando escrevi pela primeira vez sobre isso vivíamos a greves dos mestres das universidades federais. E, é claro, essa frase nunca vem sozinha: passeata que atrapalha o trânsito? Cacete neles! Protesto em praça pública? Cacete neles! Onde já se viu? Essas pessoas têm que saber seu lugar.
Sindicatos não são perfeitos, longe disso. Assim como ocorre em outras instituições, possuem atores que resolvem voltar-se para os próprios umbigos e tornar a busca pelo poder e sua manutenção de privilégio mais importante que os objetivos para os quais foram eleitos. Ou seja, tá cheio de sindicalista pelego ou picareta, da mesma forma que empresário corrupto e sonegador. Contudo, graças à organização e pressão dos trabalhadores, importantes conquistas foram obtidas para civilizar minimamente as regras do jogo – não trabalhar até a exaustão, descansar de forma remunerada, ter salários (menos in)justos, garantir proteção contra a exploração infantil. Direitos estes que, mesmo incompletos, são chamados por alguns empregadores de “gargalos do crescimento”.
É esquizofrênico reclamar que não há no Brasil quantidade suficiente de força de trabalho devidamente preparada para fazer frente às necessidades de inovação e produtividade e, ao mesmo tempo, chutar feito caixa de giz vazia as reivindicações de professores por melhores condições e remuneração. Como acham que o processo de formação ocorre? Por osmose? Cissipartição? Geração espontânea a partir dos argumentos fedidos desse povo?
Incrível como muitos colegas, ao tratarem sobre greve de professores, chamam sempre as mesmas fontes de informação que dizem, sempre, as mesmas coisas: é hora de apertar os cintos, os grevistas só pensam neles, a economia não aguenta, bando de vagabundos, já para a senzala sem jantar, enfim. Não existe imparcialidade jornalística. Qualquer estudante de jornalismo aprende isso nas primeiras aulas. Quando você escolhe um entrevistado e não outro está fazendo uma opção, racional ou não, por isso a importância de ouvir a maior diversidade de fontes possível sobre determinado tema. Fazer uma análise ou uma crítica tomando partido não é o problema, desde que não se engane o leitor, fazendo-o acreditar que aquilo é a única intepretação possível da realidade.
Infelizmente, muitos veículos ou jornalistas que se dizem imparciais, optam sistematicamente por determinadas fontes, sabendo como será a análise de determinado fato. Parece até que procuram o especialista para que legitime um ponto de vista. Ou têm preguiça de ir além e fugir da agenda da redação, refrescando suas matérias com análises diferentes. Ou alguém acha que é aleatório escolherem sistematicamente o professor José Pastore para analisar direitos trabalhistas?
Apoio os professores. Apoio os metalúrgicos de fábricas de automóveis. Apoio os controladores de vôo. Apoio os cobradores e motoristas de ônibus. Apoio os bancários. Apoio os garis. Apoio os residentes médicos. Apoio o santo direito de se conscientizarem, reconhecerem-se nos problemas, dizer não e entrar em greve até que a sociedade pressione e os patrões escutem. Mesmo que a manifestação deles torne minha vida um absurdo.
O Brasil está conseguindo universalizar o seu ensino fundamental, mas isso não está vindo acompanhado de um aumento significativo na qualidade da educação. Mesmo que os dados para a evolução dos primeiros anos de estudo estejam além do que o governo esperava no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), grande parte dos jovens de escolas públicas têm entrado no ensino médio sabendo apenas ordenar e reconhecer letras, mas não redigir e interpretar textos. Enquanto isso, o magistério no Brasil continua sendo tratado como profissão de segunda categoria.
Uma educação de baixa qualidade, insuficiente às características de cada lugar, que passa longe das demandas profissionalizantes e com professores mal tratados pode mudar a vida de um povo?
Por fim, estou farto daquele papinho do self-made man cansativo de que os professores e os alunos podem conseguir vencer, com esforço individual, apesar de toda adversidade, “ser alguém na vida”. Aí surgem as histórias do tipo “Joãozinho comia biscoitos de esterco com insetos e vendia ossos de zebu para sobreviver. Mas não ficou esperando o Estado, nem seus professores lhe ajudarem e, por conta, própria, lutou, lutou, lutou (às vezes, contando com a ajuda de um mecenas da iniciativa privada), andando 73,5 quilômetros todos os dias para pegar o ônibus da escola e usando folhas de bananeira como caderno. Hoje é presidente de uma multinacional”. Passando uma mensagem “se não consegue ser como Joãozinho e vencer por conta própria sem depender de uma escola de qualidade e de um bom professor, você é um verme nojento que merece nosso desprezo”. Afe. Daí para tornar as instituições públicas de ensino e a figura do próprio professor cada vez mais acessórias é um passo.
Educação é a saída, mas qual educação? Aquela defendida pelo pessoal do “Amigos do Joãozinho”? Educar por educar, passar dados e técnicas, sem conscientizar o futuro trabalhador e cidadão do papel que ele pode vir a desempenhar na sociedade, é o mesmo que mostrar a uma engrenagem o seu lugar na máquina e ponto final. Uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que podem colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar. Que tipo de educação estamos oferecendo? Que tipo de educação precisamos ter? Para essa tarefa, professores bem formados e remunerados são fundamentais.
Em algumas sociedades, pessoas assim, que protestam, discutem, debatem, discordam, mudam são úteis para fazer um país crescer. Por aqui, são vistas com desconfiança e chamadas de mal-educadas e vagabundas. Ironia? Não, Brasil.
Aproveitando o gancho, há algum tempo aves funestras passam voando por redacões de veículos de comunicação demitindo sem dó.
Mudanças acontecem e a nova geração que, hoje, pega uma revista e, com dois dedinhos, tenta ampliar uma foto como uma tela sensível ou que não entende porque a TV da sala não responde aos seus toques terá um relação diferente com o papel que temos hoje. Jornais vão morrer no meio dessa transição. Outros migrarão para a internet. Veículos novos vão surgir, pensados para plataformas digitais, multimídias, interativas. Quem não se adaptar e não se planejar para essa virada, vai comer capim pela raiz mais cedo. Contudo, temos uma forte produção jornalística em formato de empresa tradicional e, durante muito tempo, ainda teremos. Talvez essa parte nunca mude, garantindo as coisas boas e ruins dessas estruturas. O fato é que isso está sustentado em uma relação capital/trabalho, ou melhor dizendo, patrão/empregado. Sim, colegas jornalistas, apesar de muitos de nós pensarem que não, nós somos operários da notícia. É difícil ouvir isso, mas é a realidade.
De tempos em tempos, somos surpreendidos com notícias de demissões coletivas em veículos de comunicação. Motivos são vários: garantir a sobrevivência do veículo, aumentar a margem de lucro, gerar capacidade de investimento em outros produtos da empresa. Há ainda os casos em que um jornal fecha as portas e boa parte das pessoas simplesmente vai para a rua por má gestão e erros na condução da publicação. Razões podem existir para o encerramento das atividades de um veículo ou a diminuição de sua força de trabalho. Mas o que não entra pela minha cabeça é que isso seja encarado tão bovinamente por todos nós.
E que algumas empresas que defendem a democracia e o diálogo como processo de construção de uma sociedade melhor, ignorem isso quando se trata delas próprias. É um negócio e pertence a alguém? Claro! Mas cresceu graças ao suor de trabalhadores, que deveriam ser consultados e chamados a compartilhar decisões. Quando demissões coletivas ou fechamentos de fábricas acontecem em linhas de montagem de veículos, metalúrgicos mobilizam o Pai, o Filho e o Espírito Santo, informam a população, além de cruzarem os braços até que uma solução seja encontrada para reverter o corte de vagas ou, pelo menos, criar compensações à altura. Professores vão para as ruas. Nós, não. Vemos colegas irem embora e não fazemos nada. Ou melhor, ficamos com medo de sermos os próximos e choramos sozinhos no banheiro.
Isso não é texto novo. Como já disse, nós, jornalistas, muitas vezes não nos reconhecemos como classe trabalhadora. Devido às peculiaridades da profissão, desenvolvemos laços com o poder e convivemos em seus espaços sociais e culturais, seduzidos por ele ou enganados por nós mesmos. Só percebemos que essa situação não é real e que também somos operários, transformando fato em notícia, quando nossos serviços não são mais necessários em determinado lugar.
Alguns colegas vão repetir: japa, mas essas mudanças são boas. Agora, os jornalistas vão poder trabalhar por conta própria e criar seus próprios veículos na internet. Como se um grupo de pessoas que, durante toda a vida, trabalhou em uma estrutura empresarial possa, de uma hora para outra, tornar-se um empreendedor de sucesso. Tendo família para sustentar, contas a pagar e sem a disposição de tentar do zero e dar com a cara no muro. Financiamento coletivo, patrocínio cruzado, enfim, há quem lide com isso de forma mais fácil. Mas lembrem-se que a maioria não foi programada para isso. Por isso, temos o chamado “Milagre da Multiplicacão dos Frilas”, que eram assalariados e tornaram-se “chefes de si mesmos”. Alguns são felizes por não terem férias remuneradas. Outros, não.
Talvez o futuro seja um misto de tudo isso, emprego CLT, frilas, empreendedores individuais ou coletivos, pessoas produzindo conteúdo em redes, ONGs, enfim. Mas, hoje, o que me preocupa são os viventes e suas contas a pagar.
O que estou pedindo? Jornalistas do mundo, uni-vos? Que tamancos sejam jogados nas prensas dos jornais? Nem… isso seria muito brega. Ou melhor, kitsch – tenho horror a kitch. O que gostaria de lembrar é que as coisas vão mudar cada vez mais rápido. E temos duas opções: encarar isso sozinhos ou juntos.
Um bom exercício seria tentar entender e relatar as greves de professores como algo que faz parte das necessárias disputas sociais e econômicas e não tema para página policial. O próximo pode ser você, caro jornalista com salário de coxinha e emprego de palha.

Os homens por trás das mercadorias



Por Sylvia Debossan Moretzsohn 
 
A publicidade comercial sempre nos vendeu um mundo de facilidades e prazeres. A propaganda do mundo virtual, que tantas vezes o jornalismo assume alegremente, especialmente na TV, investe pesadamente na leveza e fluidez de uma vida obrigatoriamente divertida.
De repente, um documentário nos devolve à realidade.
Exibido no festival “É Tudo Verdade”de 2011 e várias vezes premiado, o documentário Carne e Osso, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, chegou à GloboNews dois anos depois, no domingo (5/5), inaugurando a abertura de um espaço para produções externas ao canal. Em pouco mais de 50 minutos, expõe a rotina de quem trabalha no abate e processamento da carne de aves, porcos e bois: a esteira dessa particular linha de montagem que exige movimentos rápidos e repetitivos num índice quase três vezes maior do que o limite internacionalmente aceito para a preservação da saúde do trabalhador – e que resultam, inevitavelmente, em doenças incapacitantes –, o enorme risco de acidentes que vez por outra provocam mutilações, as jornadas exaustivas, o ambiente asfixiante e excessivamente frio e as pressões por produção que levam a transtornos psicológicos e à depressão, as táticas das empresas para evitar flagrantes nas visitas dos fiscais e o valor irrisório das multas, inócuas para desencorajar tantos abusos.
O confronto de dados sobre o sucesso do mercado de carnes e sobre os acidentes de trabalho nessa atividade sintetiza o abismo entre o lucro de um dos mais importantes setores de nossa indústria e a situação vivida pelas pessoas que engordam aquelas cifras.
O essencial do jornalismo
Disponibilizado online pela emissora (ver aqui), embora já pudesse ser visto no site da Rede de Televisões Culturais da América Latina (aqui), o documentário foi produzido pela Repórter Brasil, uma ONG dedicada à denúncia de trabalho escravo e demais formas de desrespeito aos direitos humanos e de agressões ao meio ambiente.
O fato de ter sido acolhido por um canal integrante da maior rede de comunicação do país pode sugerir, quem sabe, a esperança de realização de reportagens que recuperem o essencial do jornalismo em nosso cotidiano infestado por matérias engraçadinhas – divertidas, et pour cause – ou “bem intencionadas”, empenhadas nessa espécie de autoajuda que produz pautas do tipo “como ser feliz no trabalho”.
Recuperar o essencial do jornalismo é ir à contracorrente da fluidez virtual tão enaltecida pela propaganda – e por certas correntes do ambiente acadêmico fechadas em seu mundo indolor e alheio à realidade – e mostrar os homens por trás das mercadorias: nos frigoríficos, nas tecelagens, nas montadoras. Mostrar o quanto de sofrimento existe naquele corte de carne que distraidamente botamos no carrinho do supermercado, naquela peça de roupa que inocentemente escolhemos, naquele modelo de automóvel que povoa nossos sonhos.
E, principalmente, mostrar que o preço a pagar por esses bens não é inevitável: que é possível aliviar o sofrimento do trabalhador mudando-se as condições de produção, e que essa mudança não é apenas uma questão de bom senso tardiamente despertado, mas implica o enfrentamento de interesses solidamente instalados no mundo dos negócios e da política.
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Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)