Rodrigo Mendes - www.correiocidadania.com.br | |
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A criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em
2005, coincidiu com o início de um período em que foram aprovados todos
os pedidos de liberação de variedades transgênicas feitos pelas
transnacionais de biotecnologia.
Agora, nos próximos dias ou semanas, o Brasil pode vir a contar com dois marcos, segundo reportagem
de Verena Glass para o Repórter Brasil, publicada também na Revista Sem
Terra: o de ser o primeiro país do mundo a aprovar o plantio comercial
do arroz LL/62, da Bayer, que tem como "vantagem" transgênica a
resistência ao herbicida glufosinato de amônio; além disso, teve a
capacidade de juntar até mesmo defensores dos transgênicos em uma
"oposição generalizada", pois, segundo a Embrapa, com a liberação
haverá uma contaminação bastante disseminada nas variedades de arroz
silvestre no Brasil, gerando riscos à segurança alimentar.
Já o segundo marco foi posto em pauta pelo presidente Walter Colli na
última reunião do colegiado da CTNBio e, segundo a AS-PTA (organização
de defesa da agricultura familiar e agroecologia, que mantém um portal
de acompanhamento do órgão), pegou boa parte dos presentes de surpresa.
A nova proposta alivia as obrigações das empresas para terem seus
produtos transgênicos aprovados, além de retirar a exigência do
monitoramento dos efeitos dos produtos sobre o meio ambiente e a saúde
da população após a introdução no mercado.
Pois todo esse conjunto de fatores atesta o perfil favorável à
transgenia da CTNBio e seus conselheiros. De fato, a maioria deles
mantém ou já teve alguma relação direta com as empresas transnacionais
de modificação genética.
Promiscuidade escancarada
O poder e a capacidade de influência das empresas produtoras de
transgênicos vão ficando mais evidentes à medida que se juntam dados. A
introdução dos organismos geneticamente alterados na alimentação e em
outras áreas (como o uso de algodão transgênico) tem profundo impacto.
Mesmo assim, ela acontece de forma quase natural, tal como um "avanço
científico" qualquer, cujos benefícios seriam incontestáveis.
Artigo recente da revista Nature Biotechnology, dos Estados Unidos,
denuncia o fato de as empresas terem controle absoluto sobre a
divulgação e até mesmo a produção de pesquisa sobre os organismos
geneticamente modificados. Porque quem compra as sementes é obrigado a
assinar um contrato que impede a realização ou a cessão das sementes
para fins de pesquisa. O fornecimento do material para pesquisas só
pode ser feito pelas próprias empresas produtoras, mediante um acordo
entre as duas partes. Claro que isso dá o poder, para as empresas, de
impedir o processo de pesquisa ou a divulgação de dados a qualquer
momento.
O fato de que desde 2004 qualquer alimento comercializado que tenha
mais que 1% de ingredientes transgênicos tenha de ser rotulado é
considerado uma vitória do direito do consumidor. Mas essa regra nunca
foi aplicada, e é impossível se fazer um controle do produto final,
pois a rotulagem deve ser determinada pela matéria-prima.
Em um cenário em que até entidades e setores que eram mais brandos para
com os alimentos geneticamente modificados começam a demonstrar
preocupação e explicitar posicionamentos mais reticentes à transgenia
da forma como vem sendo feita, as empresas e seus braços dentro de
órgãos oficiais apertam o cerco e tentam cada vez mais obscurecer a
visão do povo diante do que representam os transgênicos.
Confira abaixo quadro traçado pela jornalista Verena Glass, do
Repórter Brasil, na matéria acima citada, que trata da relação entre
membros da CTNBio e os interesses das empresas que produzem alimentos
geneticamente modificados.
Quanto às instituições, tomamos como exemplo Embrapa e USP, que juntas têm ao menos 14 conselheiros na Comissão:
Embrapa
• A empresa mantém uma parceria com a Monsanto desde 1997 (com vigência
até 2012) para o desenvolvimento de tecnologias para soja transgênica.
No início de novembro de 2009, a Monsanto repassou mais R$ 8,3 milhões
para a Embrapa a título de pagamento de royalties, para desenvolvimento
de oito projetos de biotecnologia.
• A Syngenta, que em 2008 "apresentou interesse em desenvolver com a
Embrapa cultivos melhorados de milho para mercados específicos e
tecnologias inovadoras relativas ao cultivo de cana de açúcar",
co-patrocinou o desenvolvimento da variedade de arroz BRS Talento, da
Embrapa Arroz e Feijão, e co-desenvolveu, com a Embrapa Milho e Sorgo,
a avaliação da eficiência de fungicidas no controle da cercosporiose
(cercospora zeae-maydis) na cultura do milho.
• Em 2007, a Embrapa fechou um acordo de cooperação com a Basf para
desenvolvimento de uma nova variedade de soja transgênica a partir do
gene AHAS (ácido hidroxiacético sintase, que confere tolerância aos
herbicidas do grupo químico das imidazolinonas).
USP
• Em 2008, a Monsanto fechou um acordo com a Fundação de Apoio à USP
para oferecer bolsas de pesquisa científica a alunos do 1º e do 2º anos
do Ensino Médio da rede estadual, no valor de R$ 150 e com duração de
um ano. O acordo foi duramente criticado pela Associação de Docentes da
USP.
• Em 2008, a Syngenta lançou um bioativador que pode contribuir para o
crescimento da produtividade da cana, o Actara, desenvolvido em
parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq/USP), entre outros.
• A Bayer patrocinou a modernização do prédio da Faculdade de Medicina da USP, tombado pelo Condephaat.
• A Agência USP de Inovação é parceira do Programa Bayer Jovens
Embaixadores Ambientais, do Grupo Bayer e do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA).
• A USP, por meio da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, é parceira do Prêmio Bayer Jovem Farmacêutico.
• A Basf e a USP, por intermédio do seu Instituto de Química, são parceiras do Projeto Reação - educando para vida.
• A Basf patrocinou a restauração de fachada de prédios Esalq/USP em março de 2002.
• A USP participou das pesquisas de desenvolvimento do Standak® Top, fungicida da Basf.
Quanto aos conselheiros, resultou que:
Maria Lucia Zaidan Dagli, especialista na área animal (USP)
Recebeu o prêmio PIC - Prêmio Impacto Científico da FMVZ - USP,
2005-2006, patrocinado por Bayer Saúde Animal e Novartis Saúde Animal
Ltda, entre outros.
Giancarlo Pasquali, especialista na área de meio ambiente (UFRGS)
Representa a URGS na Rede Genolyptus, constituída por universidades e
empresas como Aracruz Celulose S.A., Klabin, Veracel Celulose S.A.,
Votorantim Celulose e Papel S.A., entre outros (a CTNBio já liberou 12
experimentos de campo com variedades transgênicas de eucalipto). Foi
consultor técnico do Guia do Eucalipto, do CIB (que tem entre seus
sócios a Monsanto, Du Pont, Cargill, Pionner Sementes Ltda, e Bayer
Seeds Ltda), sobre eucalipto geneticamente modificado.
Luiz Antônio Barreto de Castro, representante do Ministério de Ciência e Tecnologia
Foi um dos coordenadores da equipe que celebrou o Contrato de
Cooperação Técnica para desenvolvimento de cultivares de soja tolerante
ao herbicida Roundup, em 1997, cujas instituições
promotoras/financiadoras foram Embrapa e Monsanto. Em 2002, foi
reeleito membro do conselho científico da Anbio, que tem entre seus
sócios a Monsanto, Du Pont, Cargill, Pionner Sementes Ltda, e Bayer
Seeds Ltda.
Francisco José Lima Aragão, especialista na área vegetal (Embrapa)
Lidera os projetos "Expressão de genes envolvidos com a resposta ao
estresse hídrico em plantas transgênicas de feijoeiro" e
"Desenvolvimento de estratégia baseada em RNAi para geração de mamoeiro
resistente a múltiplas viroses", que estão no âmbito da parceria
Embrapa-Monsanto. Entre 1998 e 2000, integrou a pesquisa "Obtenção de
feijoeiro resistente a glufosinato de amônio", co-financiada pela Bayer
do Brasil. Entre 1996 e 2002, coordenou a pesquisa "Obtenção de soja
resistente a herbicidas da classe das imidazolinonas", co-financiada
pela Basf.
Aluízio Borém, especialista na área vegetal (UFV)
É membro (diretor de comunicação) da ONG Associação Brasileira de
Tecnologia, Meio Ambiente e Agronegócios (Pró-Terra), que recebeu US$
161,790 mil da Fundação Monsanto em 2005.
Recebeu apoio pra escrever o livro "Biotecnologia e Meio Ambiente" da
International Life Sciences Institute (ILSI), que tem em seu quadro de
associados ADM - Archer Daniel Midland Co., BASF S/A, Bayer CropScience
Ltda., Bunge Alimentos S/A, Cargill Agrícola S/A, Dow AgroSciences
Industrial Ltda., Monsanto, Novartis e Syngenta, entre outros.
É co-autor do livro "Savanas, desafios e estratégias para o equilíbrio
entre sociedade, agronegócio e recursos naturais", co-patrocinado pela
Syngenta.
Maria Lucia Carneiro Vieira, especialista na área vegetal (USP)
Membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB, que tem
entre seus sócios a Monsanto, Du Pont, Cargill, Pionner Sementes Ltda,
e Bayer Seeds Ltda) de 2003 a 2005.
Paulo Augusto Vianna Barroso, especialista na área vegetal (Embrapa)
Pesquisador do projeto da Embrapa Recursos Genéticos de desenvolvimento
de duas variedades de algodão transgênico, que negociou as sementes com
a Syngenta. Também integra pesquisa que propõe "a transferência dos
transgenes da empresa Monsanto para os genótipos de algodoeiro elite da
Embrapa e a adequação do sistema de produção aos novos cultivares RR".
João Lucio de Azevedo, especialista na área vegetal (USP)
O pesquisador é responsável-docente pelo projeto de pesquisa sobre
Microrganismos Endofíticos: Genética e Biologia Molecular, financiado
pela empresa Monsanto. Prestou consultoria técnica à Monsanto em 1999.
Alexandre Lima Nepomuceno, especialista em biotecnologia (UEL)
É co-autor do livro "Savanas, desafios e estratégias para o equilíbrio
entre sociedade, agronegócio e recursos naturais", co-patrocinado pela
Syngenta. É membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB,
que tem entre seus sócios a Monsanto, Du Pont, Cargill, Pionner
Sementes Ltda, e Bayer Seeds Ltda).
Flavio Finardi Filho, especialista em biotecnologia (USP)
Em 2005, recebeu homenagem à qualidade, excelência científica e
originalidade da Associação Nacional de Biossegurança/ANBio, entidade
que tem entre seus sócios a Monsanto, Bayer e Syngenta. Fez o parecer
técnico sobre segurança alimentar do Evento de Transformação LLRice62
em 2002, com financiamento da Aventis Seeds Brasil.
Rodrigo Mendes é jornalista.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Promiscuidade entre empresas e fiscalizadores abre a porteira aos transgênicos
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Um comentário:
As parcerias e incentivos da iniciativa privada a instituições de pesquisa e universidades são formas de alavancar a tecnologia nos países desenvolvidos. Fico feliz em saber que, cientistas da Embrapa, USP, UFViçosa, UFRGS e outras instituições de renome, citadas pelo jornalista Rodrigo Mendes, estão sendo apoiados por empresas de ponta. O desenvolvimento de (OGMs), como material genético superior irá aumentar o potencial de produtividade e produção de alimentos e fibras demandados pela sociedade.
Luciano Lisbao Junior
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