Waldemar Rossi no Correio da Cidadania | |
Getúlio Vargas nos deixou um legado negativo e nefasto ao constituir os
sindicatos oficiais. Operários despolitizados não conseguiam ver que o
atrelamento dos sindicatos ao Ministério do Trabalho e sua concepção
como "Órgão de colaboração com o Estado" eram contrários aos verdadeiros
interesses da Classe Operária emergente. Vargas procurou um meio de
segurar as lutas coletivas dos operários, lutas que vinham num crescente
permanente, porque iriam contra seus planos de alavancar o
desenvolvimento industrial nacional. Seu projeto capitalista – embora de
caráter nacional – não poderia admitir contestações, sobretudo das
forças de esquerda (comunistas e anarquistas) que tinham expressão no
sindicalismo sem controle do Estado.
Além do seu atrelamento ao Estado, Getúlio implantou o sistema da
"unicidade", em que só poderia haver um sindicato da mesma categoria num
município. Aí vão duas idéias em uma só orientação: sindicato único por
cidade e sindicato por categoria profissional, o que permite a presença
de vários sindicatos numa mesma empresa. Por exemplo: na indústria "X",
metalúrgica, atuam, além do sindicato da categoria prevalecente, os
sindicatos dos desenhistas, dos engenheiros, dos contabilistas, da
construção civil, dos funcionários da limpeza, dos economistas e assim
por diante. O resultado dessa multiplicidade se contrapõe à concepção da
unicidade, porque, se de um lado garante um único sindicato no
município, também promove a pulverização na mesma empresa. Conseqüência:
ampla divisão dos trabalhadores e enfraquecimento de suas lutas.
DIVIDIR PARA REINAR!
Essa pulverização tem se mostrado danosa para a classe trabalhadora
porque impede que todos os trabalhadores de uma mesma empresa se unam
para exigir direitos comuns. Até mesmo nas campanhas salariais essa
pulverização se revela prejudicial, uma vez que as condições de trabalho
são comuns a todos que na mesma empresa trabalham. Dificulta a
organização de todos, dividindo os trabalhadores e muitas vezes
jogando-os uns contra os demais. E isso interessa ao capital e ao
"peleguismo" (dirigentes sindicais que fazem o jogo do patronato) de
milhares de "dirigentes" sindicais que vivem da exploração dos próprios
companheiros, pois seus salários saem do imposto/contribuição sindical
compulsoriamente descontado em folha de pagamento. Ora, como querer
acabar com essa iniqüidade que é a multiplicidade incontrolada de
sindicatos inexpressivos, se isto é uma forma de bancar dirigentes
sindicais burocratas e de bem com a vida? Para se ter uma idéia de
quanto esse sistema sindical é nefasto, basta saber que existem 23.000
sindicatos oficiais no Brasil, cujos dirigentes agem como sanguessugas
dos seus "dirigidos".
Se Getúlio Vargas prestou um enorme desserviço à Classe Operária e ao
conjunto dos trabalhadores, a "reforma" posta em prática por Lula foi
ainda pior. Ao garantir que as Centrais Sindicais abocanhem 10% da
"contribuição" sindical arrecadada em nível nacional, nada mais fez que
criar uma nova classe de pelegos que terão muito dinheiro sob seu
controle, tornarão seus já gordos salários ainda mais elevados, permitir
muita manobra entre aqueles que se postam como seus cupinchas, em troca
de bons salários, carros à disposição e que farão o papel
desmobilizador de suas categorias.
As reformas sindicais que todos esperávamos que Lula fosse pôr em
prática eram a da total independência em relação ao Estado, com ampla
liberdade de organização, e que fossem constituídos sindicatos por Ramo
de Produção, segundo as decisões da CUT em seus congressos. Isto é: que
em uma mesma empresa vigorasse o sindicato da categoria principal,
unificando os trabalhadores, em vez de dividi-los e subdividi-los. Nada
disso aconteceu. Muito ao contrário: manteve-se o registro no Ministério
do Trabalho e reforçou-se a estrutura vertical que funciona como uma
pirâmide, onde os pouquíssimos de cima exploram os milhões da base.
Felizmente ainda existem os trabalhadores que têm senso crítico, foram
formados para a libertação e não engolem as iscas patronais, dos
políticos corruptos e dos sindicalistas vendidos aos interesses do
capital e/ou que agem em vista apenas de seus interesses egoístas. Aos
que ainda resistem - hoje situados na Conlutas e na Intersindical, ao
lado de tantos outros que não se alinham a nenhuma dessas correntes, mas
que comungam com as mesmas perspectivas -, cabe unir esforços para
lutar por uma estrutura sindical que rompa com o autoritarismo das
cúpulas, contra qualquer forma de atrelamento ao Estado ou a partidos
políticos, que viva das contribuições espontâneas dos seus
sindicalizados, e partir para um comum e solidário entendimento sobre o
tipo de organização sindical que melhor venha a responder aos interesses
de toda a classe trabalhadora.
Assim se torna necessário empregar bom tempo para promover o necessário
entendimento que se dará através de intercâmbio de experiências e busca
de soluções comuns. É indispensável que haja disposição para se pensarem
tais mudanças a partir das experiências em torno do sindicato por Ramo
de Produção, ao mesmo tempo em que se garanta sua organização
horizontal. E esta organização horizontal será fundamental para impedir
que a burocratização torne os Sindicatos por Ramo em sindicatos
corporativos, contrários à verdadeira solidariedade classista. E não se
pode esquecer que a organização dos trabalhadores no local de trabalho
deve voltar a ser fonte das energias tão necessárias ao nosso hoje
combalido sindicalismo. Sem essa organização de base, o sindicalismo se
torna ineficaz contra a exploração.
Nos próximos anos, sob o governo de Dilma Rousseff, a Reforma Sindical
deverá vir à tona novamente. Será fundamental a presença da forças
classistas organizadas e afinadas entre si para se oporem ao interesses
mesquinhos das centrais sindicais atreladas ao governo e a serviço da
exploração capitalista.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
As reformas da estrutura sindical
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