sábado, 5 de fevereiro de 2011

Documentos Palestinos divulgados por Wikileaks: uma nova verdade nasce no mundo árabe


Robert Fisk*no Odiario.info

Repressão sionista na Palestina 

Ao mesmo tempo que são revelados pela Wikileaks que provam como a chamada Autoridade Palestina estava disposta a ceder no “direito de regresso” dos palestinos e dos territórios ilegal e ilegitamente ocupados por Israel, “…o povo egípcio pede a queda do presidente Mubarak e os libaneses vão nomear um primeiro-ministro designado pelo Hezbollah. Raramente se viu no mundo árabe uma coisa assim.”

Os documentos palestinos são um testemunho tão acusatório como a Declaração de Balfourd [1]. A «Autoridade» - temos que utilizar este termo entre aspas – Palestina estava e está preparada para ceder o «direito de regresso» de cerca de sete milhões de refugiados ao que é agora Israel por um «Estado» que poderia chegar, quando muito, a 10% do que foi o Mandato Britânico na Palestina.
Enquanto estes terríveis documentos são revelados, o povo egípcio pede a queda do presidente Mubarak e os libaneses vão nomear um primeiro-ministro designado pelo Hezbollah. Raramente se viu no mundo árabe uma coisa assim.
Os documentos palestinos mostram claramente, para começar, que os representantes do povo palestino estavam dispostos a destruir qualquer esperança dos refugiados de regressar às suas casas.
É uma afronta para os palestinos verificarem de que modo os seus representantes lhes viram as costas. À luz dos Documentos Palestinos não há maneira de que este povo poder acreditar nos seus próprios direitos.
Viram em filme e no papel que não regressarão. Mas por todo o mundo árabe – e isto não significa o mundo muçulmano – há agora uma compreensão da verdade que não havia antes.
Para as pessoas do mundo árabe não é possível o engano interno. As mentiras terminaram. As palavras dos líderes – que são, infelizmente as nossas palavras – perderam a validade. Fomos nós que os levámos a este desenlace. Fomos nós quem lhes contou estas mentiras. Não podemos mais continuar a repeti-las.
No Egipto, nós os britânicos amávamos a democracia. Estimulámos a democracia no Egipto, até que os egípcios decidiram que queriam acabar com a monarquia. Então prendemo-los. Depois quisemos mais democracia. Foi na mesma a velha história. Da mesma maneira que queríamos que os palestinos gozassem de democracia, sem pré e quando votassem em pessoas correctas, queríamos que os egípcios amassem a nossa vida democrática. Agora, no Líbano, parece que a democracia libanesa tomará o seu lugar. Não nos agrada.
Naturalmente, queremos que os libaneses apoiem as pessoas que nós queremos, os muçulmanos sunitas por trás de Rafic Hariri, cujo assassínio - acreditamos como donos da verdade – foi orquestrada pelos sírios. Por isso agora temos nas ruas de Beirute o incêndio de automóveis e a violência contra o governo.
Então, para onde vamos? Talvez aconteça que o mundo árabe eleja os seus próprios líderes? Poderemos vir a ver um novo mundo árabe que não esteja controlado pelo Ocidente? Quando a Tunísia anunciou a sua independência, Hillary Clinton calou-se. Foi o excêntrico presidente do Irão que o fazia feliz ver um país livre. Por que razão aconteceu isto?
No Egipto, o futuro de Hosni Mubarak surge cada vez mais perturbador. O seu filho poderá ser o sucessor por ele escolhido. Mas só há um califado no mundo árabe, e esse é na Síria. O filho de Hosni não é o homem que os egípcios querem. É um homem de negócios com pouco peso que pode – ou não – ser capaz de resgatar o Egipto da corrupção.
O comandante de segurança de Hosni Mubarak, um certo Suleiman, que está muito doente pode ser que seja o homem. Entretanto, através de todo o Médio Oriente, esperamos ver a queda dos amigos dos EUA. No Egipto, Mubarak deve estar a perguntar-se para onde poderá fugir. No Líbano, os amigos dos EUA estão a entrar em colapso. É o fim do mundo dos «democratas» do Médio Oriente Árabe. Não sabemos o que virá a seguir. Só talvez a história pode responder a esta pergunta.

Nota do tradutor:
[1] Carta enviada em 1917 por Lord Balfourd, secretário das Relações Exteriores britânico a Lord L. W. Rothschild, onde se compromete «usar os melhores meios para facilitar o estabelecimento na Palestina» de um Lar Nacional Judeu.
* Correspondente do The Independent no Médio Oriente.
Tradução de José Paulo Gascão

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