Robert Fisk*no Odiario.info
Ao
mesmo tempo que são revelados pela Wikileaks que provam como a chamada
Autoridade Palestina estava disposta a ceder no “direito de regresso”
dos palestinos e dos territórios ilegal e ilegitamente ocupados por
Israel, “…o povo egípcio pede a queda do presidente Mubarak e os
libaneses vão nomear um primeiro-ministro designado pelo Hezbollah.
Raramente se viu no mundo árabe uma coisa assim.”
Os
documentos palestinos são um testemunho tão acusatório como a
Declaração de Balfourd [1]. A «Autoridade» - temos que utilizar este
termo entre aspas – Palestina estava e está preparada para ceder o
«direito de regresso» de cerca de sete milhões de refugiados ao que é
agora Israel por um «Estado» que poderia chegar, quando muito, a 10% do
que foi o Mandato Britânico na Palestina.
Enquanto estes terríveis documentos são revelados, o povo egípcio
pede a queda do presidente Mubarak e os libaneses vão nomear um
primeiro-ministro designado pelo Hezbollah. Raramente se viu no mundo
árabe uma coisa assim.
Os documentos palestinos mostram claramente, para começar, que os
representantes do povo palestino estavam dispostos a destruir qualquer
esperança dos refugiados de regressar às suas casas.
É uma afronta para os palestinos verificarem de que modo os seus
representantes lhes viram as costas. À luz dos Documentos Palestinos não
há maneira de que este povo poder acreditar nos seus próprios direitos.
Viram em filme e no papel que não regressarão. Mas por todo o mundo
árabe – e isto não significa o mundo muçulmano – há agora uma
compreensão da verdade que não havia antes.
Para as pessoas do mundo árabe não é possível o engano interno. As
mentiras terminaram. As palavras dos líderes – que são, infelizmente as
nossas palavras – perderam a validade. Fomos nós que os levámos a este
desenlace. Fomos nós quem lhes contou estas mentiras. Não podemos mais
continuar a repeti-las.
No Egipto, nós os britânicos amávamos a democracia. Estimulámos a
democracia no Egipto, até que os egípcios decidiram que queriam acabar
com a monarquia. Então prendemo-los. Depois quisemos mais democracia.
Foi na mesma a velha história. Da mesma maneira que queríamos que os
palestinos gozassem de democracia, sem pré e quando votassem em pessoas
correctas, queríamos que os egípcios amassem a nossa vida democrática.
Agora, no Líbano, parece que a democracia libanesa tomará o seu lugar.
Não nos agrada.
Naturalmente, queremos que os libaneses apoiem as pessoas que nós
queremos, os muçulmanos sunitas por trás de Rafic Hariri, cujo
assassínio - acreditamos como donos da verdade – foi orquestrada pelos
sírios. Por isso agora temos nas ruas de Beirute o incêndio de
automóveis e a violência contra o governo.
Então, para onde vamos? Talvez aconteça que o mundo árabe eleja os
seus próprios líderes? Poderemos vir a ver um novo mundo árabe que não
esteja controlado pelo Ocidente? Quando a Tunísia anunciou a sua
independência, Hillary Clinton calou-se. Foi o excêntrico presidente do
Irão que o fazia feliz ver um país livre. Por que razão aconteceu isto?
No Egipto, o futuro de Hosni Mubarak surge cada vez mais
perturbador. O seu filho poderá ser o sucessor por ele escolhido. Mas só
há um califado no mundo árabe, e esse é na Síria. O filho de Hosni não é
o homem que os egípcios querem. É um homem de negócios com pouco peso
que pode – ou não – ser capaz de resgatar o Egipto da corrupção.
O comandante de segurança de Hosni Mubarak, um certo Suleiman, que
está muito doente pode ser que seja o homem. Entretanto, através de todo
o Médio Oriente, esperamos ver a queda dos amigos dos EUA. No Egipto,
Mubarak deve estar a perguntar-se para onde poderá fugir. No Líbano, os
amigos dos EUA estão a entrar em colapso. É o fim do mundo dos
«democratas» do Médio Oriente Árabe. Não sabemos o que virá a seguir. Só
talvez a história pode responder a esta pergunta.
Nota do tradutor:
[1] Carta enviada em 1917 por Lord Balfourd, secretário das Relações Exteriores britânico a Lord L. W. Rothschild, onde se compromete «usar os melhores meios para facilitar o estabelecimento na Palestina» de um Lar Nacional Judeu.
[1] Carta enviada em 1917 por Lord Balfourd, secretário das Relações Exteriores britânico a Lord L. W. Rothschild, onde se compromete «usar os melhores meios para facilitar o estabelecimento na Palestina» de um Lar Nacional Judeu.
* Correspondente do The Independent no Médio Oriente.
Este texto foi publicado no jornal britânico The Independent, www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisk-a-new-truth-dawns-on-the-arab-world-2194488.html
Tradução de José Paulo Gascão
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