segunda-feira, 18 de abril de 2011

As reformas em Cuba

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180411_raul_castroDiário Liberdade - [Laerte Braga] É difícil à primeira vista imaginar onde Raúl Castro pretende chegar com suas propostas de reformas políticas e econômicas feitas no VI Congresso do Partido Comunista Cubano.

Um modelo chinês, guardadas as devidas proporções (Cuba é uma ilha e a China um dos maiores países do mundo em extensão territorial)? Não existem condições para isso. A China é só um Japão em tamanho maior com o agravante de ser uma ditadura – não tem nada de comunista – e milhões de chineses (dos quase dois bilhões de habitantes do país) vivem na linha da miséria.
Desde que assumiu o governo de Cuba o irmão de Fidel tem dado mostras que vai se distanciar do modelo até então posto em prática. Registre-se a guisa de informação que Raúl Castro foi o único dos irmãos de Fidel a ficar a seu lado. Juanita saiu pela América Latina afora – a soldo dos EUA – dizendo que o irmão era um “assassino”.
Certas feridas parecem ser intocáveis. Stalin dizia que Trotsky era um “social democrata de direita com idéias esquerdistas”, acho que isso. Se não for literalmente é na essência.
Hoje começam a surgir tênues indicativos de recuperação do governante soviético. O discurso de Nikita Kruschev no célebre congresso do PC da URSS que demoliu Stalin. Já se percebem tímidos laivos de farsa, de dados falsos (afinal Kruschev era homem da copa e cozinha de Stalin), sinaliza disputa de poder e tentativa de reformas que acabaram fracassando.
Pode ser que sim, pode ser que não, começa ali o fim da revolução soviética. A ascensão da burocracia no controle do partido mantém a União Soviética estática, presa à incapacidade e a corrupção de seus governantes (Brezhnev).
O jornalista Paulo Francis, trotskista na juventude, por sua guinada política à direita parece confirmar o que Stalin dissera de Trotsky. Ele e outros. Francis dizia que o “mérito de Stalin era o de fuzilar a burocracia a cada dez anos”. Essa figura de linguagem, a expressão, a frase, digamos assim, sugeria a capacidade do governante soviético de renovar o processo revolucionário e alcançar através de saltos expressivos a posição de grande potência mundial.
De sã consciência ninguém tem dúvida que a União Soviética evitou a vitória nazista na Europa. Como há a certeza que norte-americanos contavam com os nazistas para derrotar Stalin e por fim ao comunismo. No final, nos momentos que antecederam o célebre DIA D, Eisenhower, comandante aliado – ocidental – mandou um apelo desesperado a Stalin para reforçar a defesa e o ataque no front soviético, do contrário não haveria DIA D, mas um grande massacre de tropas aliadas pelos alemães.
A jornalista Eliane Catanhede (um prodígio na capacidade ou de falar o óbvio, ou quando quer ser diferente produzir asneiras tucanas) afirmou num programa da GLOBONEWS (no máximo uns duzentos telespectadores, uma espécie de prévia de outra baboseira, MANHATAN CONNECTION), que os cem primeiros dias de Dilma “vão bem” – o que torna o governo suspeito – e que é preciso ter cuidado com a amizade dos chineses. “São amigos, mas a gente sempre desconfia”.
Vale para os norte-americanos bem mais que para os chineses, ou se equivalem.
Como diz Chico Buarque “a História não é uma carroça abandonada à beira da estrada”.
A revolução cubana é um marco na América Latina. Se antes tentativas foram feitas para sair das garras totalitárias dos EUA, o primeiro grande triunfo foi de Fidel. Uma etapa fundamental no processo histórico.
É só olhar a reação dos EUA. Num primeiro momento tentou derrubar o governo no episódio da Baía dos Porcos. Em seguida chamou às falas militares latino-americanos que obedecem ao comando de Washington e espalhou ditaduras por essa parte do mundo, inclusive no Brasil.
As conquistas do povo cubano ao longo desses anos são outro marco. Uma pequena ilha sobrevivendo à meia hora de Miami, a um bloqueio imoral e típico de ditaduras como a norte-americana (esse caráter de ditadura nos EUA fica claro no documentário de Michael Moore, “CAPITALISMO, UMA HISTÓRIA DE AMOR”).
Como cristalina a condição de conglomerado de empresas e bancos associados Israel. EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A. No discurso de Raúl Castro há uma passagem que o líder cubano condena o terrorismo e explicita o “terrorismo de Estado”.
Os artigos de Fidel têm evitado uma análise mais profunda, ou mais detida das propostas de reformas feitas pelo irmão. Em discursos anteriores, quando ainda governava Cuba, Fidel falou de erros e da necessidade de corrigi-los. Não significou abrir às portas a doença capitalista. É possível que esteja aí o silêncio do ex-presidente sobre as discussões do VI Congresso do Partido Comunista. Fidel se ateve ao caráter solene e aos triunfos da revolução.
Alexis Kossigin, primeiro-ministro soviético durante os primeiros momentos que se seguiram à queda de Kruschev, fala sobre um salto de qualidade na União Soviética. “É hora de começarmos a pensar em produzir batons para as mulheres”.
Não significa necessariamente que sejam vermelhos, verdes, azuis, carmins, etc. O ex-primeiro-ministro parecia estar acendendo uma luz noutra direção. A retomada do processo dinâmico da revolução soviética, extinto com Stalin e na tentativa fracassada de Kruschev.
Brezhnev, ao contrário, era fascinado por carros produzidos pela Mercedes e tinha uma coleção deles.
Luís Carlos Prestes achava que Yuri Andropov tinha a visão correta do momento histórico e teria retomado o caráter revolucionário de 1917 em seu tempo e seu espaço, vale dizer, eliminar o caráter burocrático dominante desde a morte de Stalin. Morreu pouco tempo depois de assumir a Secretaria Geral do PC da URSS, deu lugar a um último e inexpressivo revolucionário de 1917, Konstantin Tchernenko e ao final o desastre, Mikhayl Gorbachev. As políticas implementadas por Gorbachev eram um desafio histórico maior que ele. Não percebeu a armadilha montada em Washington e interpretada por um ator de segunda categoria Ronald Reagan.
Caiu sem um tiro e é exibido em circos do capitalismo como estadista.
No Brasil o governo tecnocrata de Dilma Roussef está bem para as forças de direita (é só olhar o que dizem os comentaristas da GLOBO), mas ao mesmo tempo, no burocratismo que tomou do PT “disceusista” (quero o meu mandato de volta mesmo sem ter votos), parece uma nau sem rumo levando em conta as esperanças de um salto de boas proporções, até considerando que Lula (que a elegeu) havia desbravado uma boa parte da clareira burguesa, com caminhos e descaminhos aqui e ali.
Como isso pode ser percebido? O artigo em que FHC pede ao PSDB para esquecer o “povão” e ir atrás da classe média responde. Se o programa Bolsa Família no governo Lula permitia espaços para o processo de formação e avanços políticos a médio prazo, no governo Dilma tem características de curral eleitoral.
As elites entenderam isso com clareza. Mais ou menos como aconteceu em 1999, em dezembro, no Congresso do PT. A esquerda do partido pedia debate político e José Dirceu recusou com um argumento simples – “minha base não debate nada, vota onde eu mando”. E secundado por Marco Aurélio Garcia – “a minha nem sabe o que é debate político”.


No endereço acima, no portal TERRA, em meio ao noticiário sobre o VI Congresso do PCC – Partido Comunista Cubano – e a comemoração da derrota dos invasores na Baía dos Porcos, há uma foto de Fidel conversando com os presos. Os invasores. Imagens dizem muito. Há toda uma carga de solidariedade ali, é só prestar atenção aos olhos atentos dos prisioneiros e a forma descontraída com que Fidel aparece, em contraste com o que vemos hoje. Guantánamo, as prisões norte-americanas no Iraque, o genocídio contra palestinos.
Essa diferença é fundamental.
O discurso de Raúl Castro, longo, detalhado, soa mais como relatório e preparação para mudanças perigosas (o projeto de rejuvenescimento do PCC é correto, mas ainda assim precisa ser melhor explicitado) e riscos maiores ainda de concessões em prejuízo do povo cubano. E de todos os povos da América Latina.
As decisões sobre os rumos de Cuba cabem aos cubanos. Mas o debate a discussão sobre o assunto é dever dos marxistas latino-americanos, num momento de crise aguda do capitalismo, por isso mesmo, acentuado o seu caráter tirânico, boçal e predador. Numa hora em que o governo brasileiro, supostamente progressista, começa a enfiar a cabeça no buraco do avestruz, ou do chão, iluminando o país com letreiros FIESP/DASLU em chinês.
Gorbachev foi saudado como um homem do seu tempo e um admirável estadista. Era só um blefe. Ou um “social democrata de direita com idéias de esquerda”, como dizia Stalin a propósito de Trotsky.
Mais ou menos o que diz um ucraniano hoje (Kruschev era ucraniano, como Stalin nasceu na Geórgia) – “éramos uma nação, hoje somos exportadores de drogas e prostitutas”.
Ao invés de polacas pisando as “pedras pisadas dos cais”, ucranianas.

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