A
palavra “competitividade” figura em todas as bocas e já não se
restringe as empresas. Agora cidades, regiões e até mesmo as nações
devem concentrar suas energias nesse objetivo. Com esse fim, nossos
governantes são convidados a se inspirar nas teorias de administração
desenvolvidas pelas escolas de comércio dos EUA
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por Gilles Ardinat no LE MONDE -BRASIL |
Singular unanimidade. Diante do anúncio da demissão de 8 mil
funcionários da Peugeot em 12 de julho de 2012, Jean-François Copé,
secretário-geral da União por um Movimento Popular (UMP), identificou
uma “prioridade absoluta”: “a competitividade de nossa indústria”.
Momentos antes, o ex-ministro do Trabalho Xavier Bertrand observava:
“Não é apenas uma questão de quantidade, mas também de custo de trabalho
e competitividade”.1 Outro argumento retomado no mesmo dia
pelo senador e ex-primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin apelava para um
“choque de competitividade”, a única forma de aquecer a economia
francesa, segundo ele.
Assim ecoava o perfeito coro de tenores formado pelos dirigentes da UMP
e políticos dos salões dos palácios do Eliseu e de Matignon. O
presidente François Hollande identificou a competitividade como o
principal eixo de trabalho. E, 48 horas antes, o primeiro-ministro
Jean-Marc Ayrault havia definido um objetivo fundamental para a nação:
“Melhorar a competitividade de nossas empresas”.
Da estratégia de Lisboa, que em 2000 definiu um “novo objetivo” para a
União Europeia (“transformar a economia do conhecimento na economia mais
competitiva e dinâmica do mundo”), aos “acordos de competitividade e
emprego” lançados pelo presidente Nicolas Sarkozy no fim de seu mandato;
das injunções para a “competitividade fiscal” do patronato britânico
aos planos de “competitividade industrial” de seu homólogo espanhol, a
palavra “competitividade” figura em todas as bocas e já não se restringe
ao meio empresarial. A partir de agora, cidades, regiões e até mesmo as
nações devem concentrar suas energias nesse objetivo prioritário. Com
esse fim, nossos magistrados e governantes são convidados a se inspirar
nas teorias de administração desenvolvidas pelas escolas de comércio
norte-americanas e colocar em prática seus conceitos:2 controle de custos de produção (“competitividade-custo”), benchmarking(os
países são comparados e classificados como empresas em um meio
concorrencial), marketing territorial (os territórios devem “vender-se”)3
e pesquisa de financiamento (atração de capitais). Ao passo que o uso
dessa caixa de ferramentas aumenta, a competitividade se impõe como o
novo padrão de performance dos territórios na globalização. Mas como ela
é medida?
Em sentido amplo, a competitividade designa a capacidade de enfrentar
com êxito a concorrência. Aplicada aos territórios, essa noção mede o
nível de inserção na geografia econômica mundial. Contudo, basta
consultar obras e artigos – abundantes – consagrados ao tema para
identificar um primeiro paradoxo: apesar do entusiasmo que suscita, esse
conceito se revela particularmente frágil no âmbito científico. Isso
acontece porque transpõe uma noção microeconômica (a competitividade de
produtos e empresas) à esfera política (a competitividade de
territórios). Essa analogia é denunciada pelo economista Paul Krugman,
agraciado em 2008 pelo Banco Central da Suécia com o Prêmio de Ciências
Econômicas em Memória de Alfred Nobel: “A competitividade é uma palavra
vazia de sentido até o momento em que é aplicada às economias nacionais.
A obsessão pela competitividade é, ao mesmo tempo, falsa e perigosa”.4
Numerosos especialistas tentaram remediar essa carência construindo uma
definição mais consensual para o termo, como a do economista austríaco
Karl Aiginger, para quem esse conceito descreve cada vez mais uma
“aptidão para gerar bem-estar” no meio concorrencial. Ele indica que “o
salário e o emprego são gerados em processos nos quais a rivalidade e a
performance relativa desempenham um papel”.5 Essa concepção,
aplicada ao cenário atual, supõe que a concorrência generalizada entre
territórios seja compatível com o melhoramento do nível de vida.
Ainda assim, permanece a questão: é possível considerar territórios e
empresas como instituições de mesma natureza? Um território, espaço
apropriado e delimitado por uma fronteira, oferece a um povo suporte
físico, assim como boa parte de suas referências culturais e políticas.
Ele não se reduz a dados macroeconômicos: as notas (papel das agências
de risco), as taxas (inflação, juros, desemprego) ou os salários
(comerciais, orçamentários) refletem apenas um aspecto – superficial e
material – da nação. Contrariamente a uma empresa, o objetivo maior de
um território não é lucrar. Sua ação se inscreve no tempo longo da
história, não no imediatismo dos mercados. Enfim, uma nação não faz
balanços nem pode ser liquidada.
É sobre essa assimilação, contudo, que se constrói a teoria da
competitividade, um dos pilares da globalização. Aplicada aos
territórios, essa noção marca uma nova etapa da “mercantilização do
mundo”, porque subentende que existe um “mercado de territórios” em que
as empresas podem escolher suas bases a partir do jogo da concorrência.
Em um mundo onde tudo, ou quase tudo, pode ser cotizado na Bolsa
(direitos de poluir, títulos de dívidas, matérias-primas), a
competitividade faz as vezes de bússola para os investidores ao avaliar a
suposta performance de um território.
Detenhamo-nos às declarações oficiais: alimentar a competitividade
estimularia o emprego, a produtividade e o nível de vida. Segundo os
especialistas delegados pela Comissão Europeia, “a concorrência é
aliada, e não inimiga, do diálogo social”.6 A globalização
ofereceria ao Ocidente a possibilidade de se livrar das atividades
manufatureiras e da fabricação de produtos de pouco valor agregado em
favor de empregos altamente qualificados e mais bem remunerados. Em
resumo, uma operação vantajosa para todas as partes: de um lado, os
países industrializados se beneficiariam com a especialização de
serviços e da alta tecnologia (“competitividade estrutural”, que depende
da capacidade de inovação e exploração da propriedade intelectual); do
outro, o Terceiro Mundo sairia da pobreza graças aos deslocamentos de
empresas para seus territórios (guiados pela “competitividade-preço”, ou
seja, pela diminuição dos preços dos produtos em função dos baixos
salários, da desvalorização da moeda e do crédito com juros baixos).
Esse cenário – que certos “países cobaias”, considerados simplesmente territórios low cost,
não considerariam muito vantajoso – corresponde à realidade? Nenhuma
economia, por mais sofisticada que seja, pode se emancipar dos problemas
de custos. A Alemanha, muito usada como exemplo, é um país de forte
tradição industrial. No entanto, aumentou sua competitividade por meio
da estagnação salarial e de um imposto sobre o consumo considerado
“social” (uma redução das contribuições patronais compensadas pelo
aumento das taxas sobre o consumo de bens duráveis). Essas medidas
unilaterais coincidem com a decolagem de seus excedentes comerciais.
Além disso, apesar dos mitos sobre o atraso insuperável, os países
emergentes se mostram cada vez mais competitivos pelas inovações em
filões importantes do mercado (informática na Índia, energias renováveis
na China).
Não seria ilusório, então, dividir o mundo em países de competitividade
“estrutural” e países de “competitividade-preço”, condenados a ser
apenas o lado mais fraco da globalização? O relatório Blanc de 2004,7
que inspirou a política francesa dos polos de competitividade, afirmava
que, “para retomar uma vantagem significativa, a economia deve escolher
entre alinhar-se ao modelo social asiático ou tomar a dianteira na
inovação”. Com base nessa visão binária, os dirigentes da zona atlântica
do euro retificaram os deslocamentos das últimas décadas. E, em seus
discursos, raramente figurava a ideia de repatriar os milhões de
empregos perdidos no setor têxtil, siderúrgico ou na indústria de
brinquedos. Os países cuja produção se respaldou no Estado seriam
condenados por “falência econômica”, teriam de reimportar esses produtos
e se especializar em serviços e pesquisa.
Mas a estratégia da competitividade estrutural não seria outra forma de
designar a renúncia política? Para além da frivolidade do “todos
ganham” e da promessa de melhorar quantitativa e qualitativamente o
emprego, em geral se trata da imposição de medidas impopulares: aumento
de imposto, arrocho salarial, austeridade fiscal. Assim, foi em nome da
competitividade que a União Europeia e o FMI exigiram a redução dos
salários na Grécia.8 Menos performático que seus vizinhos, o
país deveria baixar significativamente a remuneração do trabalho,
enquanto os planos de salvamento garantiriam provisoriamente a
remuneração do capital, ou seja, o pagamento dos juros ao sistema
financeiro. Nesse sentido, a competitividade mascara o que, em
realidade, parece um dumping generalizado.
Na década de 1980, a expressão “dumping monetário” foi
abandonada (em teoria, denunciada pelo FMI) para dar lugar ao termo
“desvalorização competitiva” – operação que consiste em manter o câmbio
de uma moeda artificialmente baixo para favorecer as exportações. O
termo dumping conservava uma característica pejorativa, razão
pela qual foi substituído por “competitividade”, suficientemente
respeitável para autorizar um governo a tomar medidas antissociais sem
ser estigmatizado. Em resumo, essa palavra permite formular de maneira
politicamente aceitável a imposição de se adaptar à concorrência,
estratégia que a população não necessariamente escolheu, mas que é um
dos pilares da globalização neoliberal.
Promessa de prosperidade que desemboca em políticas de dumping:
esse discurso paradoxal de duplo sentido repousa sobre o dogma da
concorrência entre sistemas produtivos. Se a ideia de uma “concorrência
livre e perfeita” guiou diversas leis antitruste e antidumping,9
sua transposição aos territórios apresenta alguns problemas. Em
primeiro lugar, não existe nenhuma autoridade de regulação confiável
para a concorrência entre nações. Nem a Organização Mundial do Comércio
(OMC) nem a Organização Internacional do Trabalho (OIT) parecem estar em
condições de regulamentar os diferentes dumpings. Assim, a China pode acumular livremente dumping
social (baixos salários), ambiental (livre poluição pelas indústrias),
monetário (desvalorização deliberada do yuan), regulamentário
(flexibilidade das leis) e fiscal (restrições nos serviços sociais
estatais e multiplicação de zonas isentas de impostos). A lei do
mercado, ao ser aplicada aos territórios, se revela fundamentalmente
distorcida.
O discurso sobre a competitividade tenta mascarar esse panorama com a
correção das disparidades entre os diferentes locais de produção. Esses
esforços parecem irrisórios quando as abismais diferenças de custos são
levadas em conta: o bloqueio dos salários no Ocidente, por exemplo,
permite realmente que o salário dos trabalhadores franceses seja
comparado ao de seus homólogos vietnamitas? Para cumprirem esse objetivo
oficial (“ganhar a batalha da competitividade”), essas políticas
respondem às tentativas do setor empresarial de reduzir os custos do
trabalho. Surpreendente coincidência, a busca pela competitividade,
pouco contundente em sua luta contra os deslocamentos de indústrias,
constituiria, assim, um álibi cômodo para garantir ou aumentar a
remuneração do capital. Nesse sentido, evocar os termos “território” ou
“nação” constitui um artifício retórico, porque os benefícios não são
coletivos (noção de interesse geral ou nacional), e sim categorizados
(aumento do lucro de alguns).
Por outro lado, a concorrência frontal dos sistemas produtivos gera um
efeito depressivo inerente sobre os salários, a arrecadação de impostos e
a proteção social – todos eles com tendência ao reajuste para baixo.
Esse fenômeno não prejudica apenas os assalariados (perda do poder de
compra) e os Estados (redução da receita fiscal): também reduz a demanda
dos mercados. Sem mencionar que, se os países decidissem
simultaneamente impor suas demandas, precipitariam uma grave depressão.
Analogicamente, no “mercado dos territórios” os excedentes comerciais
não poderiam ser retirados todos de uma vez: é preciso necessariamente
países no vermelho para que outros estejam no verde.10 A obsessão de uma “convergência de competitividades” segundo o modelo alemão, portanto, não passa de uma fábula.
A partir do momento em que se constata a fragilidade teórica do
discurso sobre a competitividade – porque conduz a diagnósticos
enganosos e ao dumping dissimulado –, como explicar seu
enaltecimento por parte de dirigentes políticos? Talvez porque essa
noção responda às exigências das empresas e dos mercados internacionais.
Sem meios de controlar uns aos outros, os eleitos se adaptam às suas
exigências. O objetivo da competitividade mascara a perda de autoridade e
de soberania dos Estados-nação, e permite eliminar da ação política
qualquer possibilidade de proteção social. Enquanto isso, o território –
tradicionalmente considerado uma barreira contra as ameaças exteriores
(sejam elas militares ou comerciais) com suas fronteiras e instituições
políticas – perde gradualmente essa função protetora com o
enfraquecimento das barreiras aduaneiras e prerrogativas do Estado.
Gilles Ardinat
Geógrafo
Ilustração: Alves
1 Agência France Presse (AFP), 12 jul. 2012.
2 Michael Porter, L’avantage concurrentiel des nations[A vantagem concorrencial das nações], Inter-Editions, Paris, 1993.
3 Ler François Cusset, “La foire aux fiefs” [A feira nos feudos], Le Monde Diplomatique, maio 2007.
4 Paul Krugman, “Competitiveness: a dangerous obsession” [Competitividade: uma perigosa obsessão], Foreign Affairs, Tampa, v.73, n.2, mar.-abr. 1994; “The competition myth” [O mito da competitividade], The New York Times, 23 jan. 2011.
5 Aiginger Karl, “From a dangerous obsession to a welfare creative
ability with positive externalities” [De uma perigosa obsessão à
habilidade criativa para gerar bem-estar com externalidades positivas], Journal of Industry, Competition and Trade, v.6, n.2, jun. 2006.
6 Alexis Jacquemin e Lucio Pench, Pour une compétitivité européenne. Rapport du groupe consultatif sur la compétitivité [Por uma competitividade europeia. Relatório do grupo de consultoria sobre a competitividade], De Boeck, Bruxelas, 1997.
7 Christian Blanc, “Pour un écosystème de la croissance. Rapport au
premier ministre” [Por um ecossistema do crescimento. Relatório ao
primeiro-ministro], La Documentation Française, Paris, 2004.
8 Ler Anne Dufresne, “Le consensus de Berlin” [O consenso de Berlim], Le Monde Diplomatique, fev. 2012.
9 Os Estados Unidos votaram, por exemplo, no Ato Antitruste de Sherman
(1890) e o no Ato Antitruste de Clayton (1914), para melhorar o
funcionamento do mercado.
10 Ler Till van Treeck, “Victoire à la Pyrrhus pour l’économie allemande” [Vitória de Pirro para a economia alemã], Le Monde Diplomatique, set. 2010.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Competitividade, símbolo dos paradoxos da globalização
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Fidel Castro elogia plantas como alternativas para alimentação
Havana,
24 out (Prensa Latina) O líder da Revolução cubana, Fidel Castro,
destacou novamente hoje as propriedades das plantas Moringa oleifera
(acácia-branca) e Amora (morus alba) como alternativas para a
alimentação.
A Acácia-branca ou Moringa, "originária da Índia, é o único vegetal que
possui todos os tipos de aminoácidos. Sua produção de folhas verdes por
hectar, com o planejamento do plantio e o manejo adequado, pode
ultrapassar 300 toneladas por hectar em um ano. São conhecidas dezenas
de propriedades medicinais", afirma Fidel Castro em uma carta publicada
na página digital CubaDebate, em resposta a um leitor.
"Seus efeitos no sistema digestivo são muito bons como todos os vegetais, aparte de suas elevadas qualidades proteicas; mas não devem se consumidas em excesso, mais de 30 gramas diárias, o que depende da motilidade intestinal de cada um. Algumas pessoas admitem quantidades maiores. Conheço pessoas que a consomem em quantidades maiores como chá, em forma de pó, com resultados excelentes por suas qualidades sedativas e favoráveis ao descanso", indica o líder cubano. Revela que "em nosso país fornecemos amostras de sementes de diferentes variedades aos institutos de pesquisa agrícola. Logo saberemos mais sobre suas potencialidades. Do meu ponto de vista, seu maior benefício para a população está em suas qualidades como ração animal para a produção de carne, leite, ovos, e inclusive o cultivo de peixes". De acordo com Fidel Castro, "a Amora complementa esta importante qualidade da Moringa" e "tem sido a base para a produção de seda mediante um processo biológico que os chineses desenvolveram durante milhares de anos através dos bichos da seda. As variedades principais que temos aqui provem desse país, ainda que na atualidade em outras partes do mundo se desenvolveram diferentes variedades, algumas das quais recebemos recentemente". O líder revolucionário explica que a limitação da planta "nas regiões frias é a temperatura e a baixa luminosidade que detêm seu crescimento em vários meses do ano. Em nosso clima, cresce o ano inteiro. Vários países a utilizam na produção de leite de cabra, cujos preços às vezes chegam ao dobro do leite de vaca para as pessoas alérgicas". Em Cuba, confirma Fidel Castro, "haviam algumas plantas de Moringa, que os colonisadores ingleses levaram da Índia ao leste da África e daí ao Caribe inglês e América Central, possivelmente através de Belize, onde o estímulo dos altos preços que pagaram os yankis aos primeiros agricultores fomentou seu desenvolvimento por um brevíssimo tempo, e depois não encontraram mercado nem dentro nem fora do país. A forma de distribuição da terra e a falta de escolas e instrução impediu seu desenvolvimento. Nisso, desgraçadamente, os povos do chamado Terceiro Mundo ficaram para trás", admite. No Brasil, os centros de pesquisa têm promovido o cultivo desta planta, e seu clima é excelente para o desenvolvimento agrícola, aponta o líder da Revolução cubana. Em outra parte de sua carta, Fidel Castro considera que "a América Latina e o Caribe, em seu conjunto, dispõem de terra, água e recursos energéticos sem necessidade de promover a produção de gás de xisto mediante fratura hidráulica como fazem os Estados Unidos, com riscos provados para a própria saúde dos cidadãos desse país, como começaram a divulgar alguns meios de imprensa sérios". "Gostaríamos que os mesmos (meios) discutissem sobre o tema", acrescenta o líder cubano e faz referência como um deles reconheceu que as pessoas que vivem nos Estados Unidos perto dos lugares onde se extrai gás não convencional, mostram um significativo deterioração de sua saúde. O órgão de imprensa em questão alertou que "a metade das pessoas que participou no estudo informou que antes da exploração não tinha problemas com a saúde, mas agora sofre de alergia, asma, artrite, câncer, assim como pressão alta e doenças de coração, rins, pulmões e tiroides". Isto é, 81% das pessoas reclama do mau cheiro dos compostos químicos, que às vezes contêm amoníaco, cloro, enxofre e propano, entre outros. Nos Estados Unidos, esse gás é extraído através da fratura hidráulica: "Normalmente o material injetado é água misturada com areia e produtos químicos." É a terceira vez nos últimos meses que vi advertirem sobre esse perigo, afirma Fidel Castro e expressa que "ao parecer, muito poucos sabem que as Nações Unidas já está consciente que sobre ela cai a responsabilidade de pagar cem mil dólares para cada uma das vítimas da epidemia de cólera que provocou a morte a mais de 7 mil pessoas no Haiti, contagiadas pelo contingente militar nepalês que as Nações Unidas introduziu nesse país, que não padecia dessa doença durante um século". "Após exaustivas investigações foi confirmado que a linhagem é exatamente a mesma que existe em Nepal, e o valor a pagar aos familiares é de cem mil dólares por vítima, o que parece justo, mas ninguém menciona no entanto o que deve ser pago à nação haitiana pelo enorme prejuízo ocasionado a esse país pobre e subdesenvolvido", indica o líder revolucionário. |
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terça-feira, 23 de outubro de 2012
Reforma do Ensino Médio Brasileiro: A educação brasileira em perigo
Os
jornais de todo o Brasil, desde a publicação dos índices do IDEB -
Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico -, divulgam que a educação
pública, em nível médio, precisa passar por uma reforma e o Governo
Federal já anunciou que a “reforma” sairá do papel. Não há dúvidas que
existe um projeto a ser implementado e praticamente todas as esferas do
poder estão caminhando juntas. São mudanças na estrutura do ensino e
cabe aos sindicatos, às entidades estudantis e à sociedade organizada
alertar a população da armadilha que está sendo preparada.
No
início deste ano, o Conselho Nacional de Educação em sua Resolução de
número 2, de 30 de janeiro, publicou no Diário Oficial da União as
"Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio". Já em maio de
2012 a Câmara dos Deputados constituiu uma "Comissão Especial Destinada a
Promover Estudos e Proposições para a Reformulação do Ensino Médio". Em
17 de agosto no programa de rádio Hora da Educação, após a
divulgação dos índices do IDEB, o ministro da Educação Aloizio
Mercadante, afirma que “Precisamos de um novo currículo, mais flexível,
menos fragmentado, tirando um pouco dessa sobrecarga de disciplinas”.
Ainda em agosto o grupo RBS lança a campanha institucional com o slogan
"A Educação Precisa de Respostas" e no painel promovido, ao vivo para
todo o sul do país, "especialistas", governadores e o ministro,
reafirmaram que a reformulação do Ensino Médio e a flexibilização da
grade curricular são a prioridade. O projeto deve ser implantado a
partir de 2013.
O que significa reformular o ensino médio? Qual a
relação da flexibilização da grade curricular com a vida dos jovens e
professores brasileiros?
Para o Ministro da Educação Aloizio Mercadante é preciso colocar em prática a Resolução 2 do CNE/CEB[1], que é por si só, observemos, por demais esclarecedora.
A
Resolução 2 está organizada em 23 artigos, vários subtítulos e dezenas
de incisos, numa linguagem que, quando olhada superficialmente, agrada
muitos desavisados de boas intenções. Como explica o estudioso francês
Michel Éliard em seu livro “O Fim da Escola’, vivemos momentos de
extrema confusão social que têm efeitos devastadores sobre a linguagem.
Certos termos que desde a Revolução Francesa expressaram os elementos
essenciais da democracia, hoje são considerados obsoletos. Falar de
igualdade republicana dos direitos não está na moda. A moda é a
diferença, o pluralismo, o multiculturalismo, a equidade. O universal
“não está na moda”. A falada Resolução nº 2 cumpre exatamente o papel de
estar na moda e, portanto, é o desmonte daquela ideia de igualdade para
todos. Vale ressaltar que a Resolução n. 2 elimina da sua linguagem
qualquer resquício da igualdade republicana que ainda era mantida na
Resolução 3 de 26 de junho de 1998, que esteve vigente até a data da
publicação desta de n. 2.
Pode-se dizer que as Diretrizes que compõem a Resolução n. 2 estão fundamentadas em três grandes eixos:
· A divisão do Ensino Médio em áreas de conhecimento, através da flexibilização do currículo escolar;
· A integração entre mundo do trabalho e escola;
· O Financiamento da educação privada, ao invés da educação pública.
1. Áreas de conhecimento
A
nova proposta educacional prevê que o currículo tenha uma parte comum e
a outra flexível. Esta ideia já constava na LDB e na Resolução de 1998.
Todavia, a Resolução n. 3 de 1998 era muito clara quando afirmava em
seu inciso II do art. 11 que “a base nacional comum deverá
compreender, pelo menos, 75% (setenta e cinco por cento) do tempo mínimo
de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, estabelecido pela lei como
carga horária para o ensino médio”. Já a Resolução 2 não trata de
números, apenas autoriza a flexibilização. Na Resolução 2, a única
“garantia” é que será levada em conta a diversidade, as características
locais e especificidades regionais.
Diante disto, a proposta é que
o currículo seja organizado em áreas de conhecimento: Linguagem;
Matemática; Ciências da Natureza e Ciências Humanas.
Vários
estados e municípios já passaram por experiências aproximadas, pois a
LDB já autorizava que uma pequena parte do currículo fosse flexível.
Muitos estados fizeram o experimento. Para exemplificar o assunto,
retoma-se a primeira década do século XXI, quando o Estado de Santa
Catarina colocou no currículo do Ensino Médio a disciplina NRHE (Noções
de Relações Humanas e Ética). Para a seleção dos profissionais que
atuaram na área, não foi necessário concurso público, pois a disciplina
se enquadrava na parte flexível, ou seja, era uma experiência. Os
professores que ministraram esta disciplina tinham formações variadas:
sociologia, direito, cursos técnicos, magistério. Alguns anos depois, o
estado eliminou a matéria e passou uma borracha no assunto. Quando
eliminada não deixou rastros. Os trabalhadores que ministraram aquela
disciplina foram eliminados dos quadros do serviço do estado e
finalizou-se o assunto.
Este modelo, conforme a Resolução 2 deve
ser aplicado em todo o país. Cada governo, escola, ou até mesmo a
comunidade deve decidir o que fazer com seus currículos, a maior parte
da grade será flexível e, portanto, a escola passa a ser um grande
experimento.
Outra consideração a ser feita diz respeito ao que
será contemplado em cada área de conhecimento. Pela Resolução, na área
de conhecimento intitulada linguagem, por exemplo, entender-se-á:
“Parágrafo
único. Em termos operacionais, os componentes curriculares obrigatórios
decorrentes da LDB que integram as áreas de conhecimento são os
referentes a:
I - Linguagens:
a) Língua Portuguesa;
b) Língua Materna, para populações indígenas;
c) Língua Estrangeira moderna;
d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e, obrigatoriamente, a musical;
e) Educação Física.”
O
parágrafo único significa que havendo uma aula semanal de Língua
Portuguesa, uma de Língua Materna, uma de Língua Estrangeira moderna,
uma de Arte e uma de educação física, o estudante cumpriu o que se chama
de currículo comum, o educando teve quatro aulas de “linguagem” por
semana. Ou seja, existe aqui uma diminuição espantosa de conteúdo e uma
redução gigante da carga horária dos professores efetivos concursados
para as disciplina específicas. Um retrocesso de décadas para a educação
pública do país.
Uma farsa educacional que colocará em risco a
formação de milhões de jovens em todo o país e o emprego de milhares de
professores.
2. Escola e trabalho
Neste
item é necessário primeiro esclarecer que nenhuma proposta educacional,
atual, tem como fundamento a formação profissional para o trabalho.
Pelo contrário, as novas legislações educacionais têm por objetivo
adequar a escola ao novo mundo do trabalho, ou melhor, ao antigo mundo
do trabalho, aquele do século XIX, onde a jornada era de 14h diárias e
as crianças trabalhavam. Por isso, os estudantes do ensino médio não
precisam mais ter conhecimento, precisam apenas permanecer na escola e
transformarem-se em mão de obra barata por mais tempo. Tal afirmação
está fundamentada, em especial, em dois itens da Resolução 2.
“Art. 14 (...)
IV
- no Ensino Médio regular noturno, adequado às condições de
trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga horária, o
projeto político-pedagógico deve atender, com qualidade, a sua
singularidade, especificando uma organização curricular e metodológica
diferenciada, e pode, para garantir a permanência e o sucesso destes
estudantes:
a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, com menor carga horária diária e anual, garantido o mínimo total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas;”
...
IX - os componentes curriculares devem propiciar a apropriação de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informações e conhecimentos, estabelecendo um conjunto necessário de saberes integrados e significativos;” (grifos meus)
Ou
seja, nossos jovens trabalhadores poderão concluir o Ensino Médio, não
mais em 3 anos, mas em quantos anos forem necessários para agradar o
mundo do trabalho, tendo como única condição a carga horária. Até
porque, como afirma a nova diretriz, a escola não deve ser um ambiente
de acúmulo de conhecimento. Ao que parece, a escola deve se transformar
em um depósito de jovens.
3. Financiamento da Educação
Segundo
o Censo da Educação Superior 2010, o Ensino Superior Privado subiu sua
representação de 68,9% em 2008 para 74,2% em 2010, ou seja, o Ensino
Superior público (federal, estadual e municipal) caiu de 31,1% para
25,8%, dado assustador que revela qual o caminho da educação pública no
Brasil. Com a reforma do Ensino Médio o governo federal, apoiado por
todos os governos estaduais e municipais pretende diminuir o custo da
educação pública e ampliar o incentivo ao Ensino Superior Privado.
A fórmula é simples, reduz-se o custo do Ensino Médio público, aplica-se o Enem[2]
e se distribui bolsas de estudos para que os alunos estudem em qualquer
faculdade privada de fundo de quintal do país. Uma ação que atende aos
interesses do mercado e que destrói o ensino público a cada dia.
É
preciso enfatizar que a Resolução 2, no que diz respeito ao
financiamento do Ensino Médio, reafirma e enfatiza a ideia de autonomia
da gestão escolar, ou seja, aquela ideia vigente de que não são os
governos que devem sustentar as escolas, mas sim as comunidades. Para
isso se dá o nome de democratização da Educação.
Por fim, o que
está em jogo no que se intitulou Reforma do Ensino Médio, através da
Resolução 2 do CNE/CEB, é o papel que a história destinou à escola.
Isto é, a conquista da igualdade de direitos para que todos, sejam
pobres ou ricos, tenham acesso à educação pública, gratuita e laica. O
direito histórico de acesso ao conhecimento que a humanidade acumulou
durante milênios e que, durante muito tempo, era guardado para uma
casta. Como afirma Éliard, em livre tradução, “defender o que existe é
preparar o futuro. Ao contrário dos vastos programas ditos de refundação
da escola, do primário ao superior, que escondem a destruição do
edifício”.
Como já dito, é preciso que educadores, sindicatos de
trabalhadores, estudantes e outras instituições ligadas ao tema tomem
conta do assunto e levantem o debate em nível nacional, para lutar não
em nome de uma modernidade vazia, mas de uma educação que continue a
desenvolver o conhecimento e prepare os jovens para novos desafios.
Economia mundial navega em um mar de dívidas
Um estudo da consultoria Mc Kinsey Global Institute mostrou que, em 2011, a dívida total do Japão –a maior do mundo desenvolvido – era de cerca de 512% de seu PIB (ou seja, de tudo o que sua economia produz em um ano. Em segundo lugar, estava o Reino Unido com 507%. Os Estados Unidos tinham “apenas” 279%. Para muitos economistas, esta gigantesca desproporção entre a riqueza anual de um país e sua dívida se explica por um mecanismo que nas últimas três décadas mudou a face do capitalismo: a financeirização. O artigo é de Marcelo Justo.
Marcelo Justo - CARTA MAIOR
Londres - A economia mundial navega
em um mar de dívidas. Um colossal estudo comparativo da consultoria Mc
Kinsey Global Institute mostrou que, em 2011, a dívida total do Japão –a
maior do mundo desenvolvido – era de cerca de 512% de seu PIB (ou seja,
de tudo o que sua economia produz em um ano. Em segundo lugar, estava o
Reino Unido com 507%. Os Estados Unidos tinham “apenas” 279%.
Esta dívida total é uma soma das dívidas estatal, estadual ou municipal, individual, hipotecária, corporativa, financeira e bancária. Com esses percentuais a impressão era de que a nave poderia naufragar a qualquer momento ou se despedaçar contra o muro do impagável. Muitos economistas opinam que esta gigantesca desproporção entre a riqueza anual de um país e sua dívida se explica por um mecanismo que nas últimas três décadas mudou a face do capitalismo atual: a financeirização.
“A financeirização explica o crescimento do crédito na década de 2000 e as causas da crise atual. No centro da mesma está a crescente importância de atores e instituições financeiras na economia e das finanças como fonte de lucros”, disse à Carta Maior Adam Leaver, pesquisador e membro do Centro de Investigação da Mudança Sócio-Cultural, de Manchester.
No capitalismo das últimas três décadas se produz uma explosão daquilo que, em inglês, é denominado pela sigla FIRE (Financiamento, seguro e setor imobiliário) que cresceu tanto em relação ao PIB como em detrimento da economia produtiva. Na América Latrina este FIRE se encontra potencializado pela falta de regulação e competição. Se tomamos como exemplo o recente balanço anual do banco espanhol Santander podemos que ver que Brasil e Chile garantem lucros infinitamente superiores aos de países desenvolvidos.
“O Brasil, por exemplo, representa 15% dos ativos do Santander, ou seja, seus empréstimos para consumo, empresas, etc., representam cerca de 30% de seus rendimentos mundiais. Em países como o Reino Unido a relação é inversa. A falta de regulação e competição permite aos bancos obter lucros absurdamente altos”, disse à Carta Maior Gabriel Palma, catedrático de Economia comparada na Universidade de Cambridge.
Dito de outro modo, os lucros não se devem a uma meritória competitividade da América Latina em termos de qualidade, serviço e eficiência, mas sim a falhas do sistema regulatório em que operam.
A roleta
A financeirização se dissemina por toda a economia reforçando o lucro de curto prazo e especulativo sobre o setor produtivo. As grandes corporações têm ramos financeiros que, com frequência, geram mais lucros do que aquilo que as empresas produzem e vendem. Nos Estados Unidos, a General Motors passou a ganhar mais com o fornecimento de créditos para a aquisição de automóveis do que com a venda mesma de veículos.
“As empresas do setor real, produtivo, começam a se comportar como empresas financeiras. Isso é claro no caso da própria General Motors que tinha uma empresa de venda de hipotecas de casas. Alguém pode argumentar que emprestar dinheiro para que se compre automóveis esta de acordo com a lógica produtiva: ao ajudar o financiamento do cliente, ajudo a venda do automóvel que produzo. Mas, investir no mercado hipotecário, é outra coisa. Funciona como substituto de um investimento produtivo para obter um lucro de curto prazo. É um claro sinal de como a financeirização afeta o investimento e a mudança tecnológica”, indicou Gabriel Palma.
Em nível individual, o símbolo mais cotidiano desta financeirização é o cartão de crédito que antes dos anos 80 era tratado com reverência de clube exclusivo e hoje se converteu em um meio de pagamento da vida diária. Mas a explosão do crédito vai muito além do cartão. No estouro financeiro de 2008, a gota que fez transbordar o copo de uma economia endividada até o último fio de cabelo foi o empréstimo hipotecário para famílias sem recursos: as chamadas hipotecas sub-prime de alto risco.
Os estudos sobre o período do boom mostram que nos Estados Unidos as famílias passaram a gastar no pagamento de juros de cartões de crédito e empréstimos quase o dobro do que gastavam em comida e roupas. No Reino Unido, a dívida individual ou familiar chegou a ser 165% da receita disponível (renda que fica depois do pagamento de impostos). Segundo Paolo dos Santos, especialista bancário de SOAS, da Universidade de Londres, essa mudança veio junto com a retirada do Estado benfeitor como garantidor da saúde, educação, moradia e aposentadoria, que foi funcional para a expansão do sistema financeiro.
“Nos últimos 30 anos, a política social em muitos países desenvolvidos se baseou na transferência do risco e do custo desses serviços sociais do Estado para o indivíduo. Este tem que recorrer ao sistema bancário para poder financiar a educação de seu filho ou seu seguro de saúde ou sua aposentadoria”, assinalou Dos Santos à BBC.
Brasil na mira
Um informe recente da Federação de Comércio de São Paulo mostra que a taxa de juro média paga pelos brasileiros é de 230% ano. O cálculo é que o serviço da dívida individual brasileira será de 30% da receita disponível este ano. Nos Estados Unidos, se considera que quando a dívida alcança 14% a situação é de alto risco.
O Brasil não é um caso isolado, O Chile o segue de perto. No Peru, o crédito quadruplicou nos últimos cinco anos. No México, o nível de inadimplência no pagamento de microfinanciamento do consumo se situa entre 20 e 30%. A Argentina é um caso peculiar. A crise de 2001 e o brutal descrédito do sistema bancário teve um paradoxal efeito neutralizador desta financeirização que havia arrasado com a economia nos anos 90. Enquanto que, na América Latina, a média hoje de crédito fornecido pelo setor bancário em relação ao PIB é de 67%, na Argentina é de 29%. Em comparação, no Brasil esse índice é de 98%. No Chile é de 90% e no México de 45%.
“O crédito azeita a economia, mas um excesso de dívida nas famílias se traduz em estancamento do consumo. Na América Latina o problema não é o montante da dívida, mas sim seu serviço pelas condições leoninas que muitas linhas de crédito apresentam. Esta financeirização tem um impacto no investimento. É mais negócio ganhar com um produto financeiro do que investir na economia real. Uma parte importante da elite industrial de São Paulo abandonou a produção pelas finanças”, disse Palma à BBC Mundo.
Tradução: Katarina Peixoto
Esta dívida total é uma soma das dívidas estatal, estadual ou municipal, individual, hipotecária, corporativa, financeira e bancária. Com esses percentuais a impressão era de que a nave poderia naufragar a qualquer momento ou se despedaçar contra o muro do impagável. Muitos economistas opinam que esta gigantesca desproporção entre a riqueza anual de um país e sua dívida se explica por um mecanismo que nas últimas três décadas mudou a face do capitalismo atual: a financeirização.
“A financeirização explica o crescimento do crédito na década de 2000 e as causas da crise atual. No centro da mesma está a crescente importância de atores e instituições financeiras na economia e das finanças como fonte de lucros”, disse à Carta Maior Adam Leaver, pesquisador e membro do Centro de Investigação da Mudança Sócio-Cultural, de Manchester.
No capitalismo das últimas três décadas se produz uma explosão daquilo que, em inglês, é denominado pela sigla FIRE (Financiamento, seguro e setor imobiliário) que cresceu tanto em relação ao PIB como em detrimento da economia produtiva. Na América Latrina este FIRE se encontra potencializado pela falta de regulação e competição. Se tomamos como exemplo o recente balanço anual do banco espanhol Santander podemos que ver que Brasil e Chile garantem lucros infinitamente superiores aos de países desenvolvidos.
“O Brasil, por exemplo, representa 15% dos ativos do Santander, ou seja, seus empréstimos para consumo, empresas, etc., representam cerca de 30% de seus rendimentos mundiais. Em países como o Reino Unido a relação é inversa. A falta de regulação e competição permite aos bancos obter lucros absurdamente altos”, disse à Carta Maior Gabriel Palma, catedrático de Economia comparada na Universidade de Cambridge.
Dito de outro modo, os lucros não se devem a uma meritória competitividade da América Latina em termos de qualidade, serviço e eficiência, mas sim a falhas do sistema regulatório em que operam.
A roleta
A financeirização se dissemina por toda a economia reforçando o lucro de curto prazo e especulativo sobre o setor produtivo. As grandes corporações têm ramos financeiros que, com frequência, geram mais lucros do que aquilo que as empresas produzem e vendem. Nos Estados Unidos, a General Motors passou a ganhar mais com o fornecimento de créditos para a aquisição de automóveis do que com a venda mesma de veículos.
“As empresas do setor real, produtivo, começam a se comportar como empresas financeiras. Isso é claro no caso da própria General Motors que tinha uma empresa de venda de hipotecas de casas. Alguém pode argumentar que emprestar dinheiro para que se compre automóveis esta de acordo com a lógica produtiva: ao ajudar o financiamento do cliente, ajudo a venda do automóvel que produzo. Mas, investir no mercado hipotecário, é outra coisa. Funciona como substituto de um investimento produtivo para obter um lucro de curto prazo. É um claro sinal de como a financeirização afeta o investimento e a mudança tecnológica”, indicou Gabriel Palma.
Em nível individual, o símbolo mais cotidiano desta financeirização é o cartão de crédito que antes dos anos 80 era tratado com reverência de clube exclusivo e hoje se converteu em um meio de pagamento da vida diária. Mas a explosão do crédito vai muito além do cartão. No estouro financeiro de 2008, a gota que fez transbordar o copo de uma economia endividada até o último fio de cabelo foi o empréstimo hipotecário para famílias sem recursos: as chamadas hipotecas sub-prime de alto risco.
Os estudos sobre o período do boom mostram que nos Estados Unidos as famílias passaram a gastar no pagamento de juros de cartões de crédito e empréstimos quase o dobro do que gastavam em comida e roupas. No Reino Unido, a dívida individual ou familiar chegou a ser 165% da receita disponível (renda que fica depois do pagamento de impostos). Segundo Paolo dos Santos, especialista bancário de SOAS, da Universidade de Londres, essa mudança veio junto com a retirada do Estado benfeitor como garantidor da saúde, educação, moradia e aposentadoria, que foi funcional para a expansão do sistema financeiro.
“Nos últimos 30 anos, a política social em muitos países desenvolvidos se baseou na transferência do risco e do custo desses serviços sociais do Estado para o indivíduo. Este tem que recorrer ao sistema bancário para poder financiar a educação de seu filho ou seu seguro de saúde ou sua aposentadoria”, assinalou Dos Santos à BBC.
Brasil na mira
Um informe recente da Federação de Comércio de São Paulo mostra que a taxa de juro média paga pelos brasileiros é de 230% ano. O cálculo é que o serviço da dívida individual brasileira será de 30% da receita disponível este ano. Nos Estados Unidos, se considera que quando a dívida alcança 14% a situação é de alto risco.
O Brasil não é um caso isolado, O Chile o segue de perto. No Peru, o crédito quadruplicou nos últimos cinco anos. No México, o nível de inadimplência no pagamento de microfinanciamento do consumo se situa entre 20 e 30%. A Argentina é um caso peculiar. A crise de 2001 e o brutal descrédito do sistema bancário teve um paradoxal efeito neutralizador desta financeirização que havia arrasado com a economia nos anos 90. Enquanto que, na América Latina, a média hoje de crédito fornecido pelo setor bancário em relação ao PIB é de 67%, na Argentina é de 29%. Em comparação, no Brasil esse índice é de 98%. No Chile é de 90% e no México de 45%.
“O crédito azeita a economia, mas um excesso de dívida nas famílias se traduz em estancamento do consumo. Na América Latina o problema não é o montante da dívida, mas sim seu serviço pelas condições leoninas que muitas linhas de crédito apresentam. Esta financeirização tem um impacto no investimento. É mais negócio ganhar com um produto financeiro do que investir na economia real. Uma parte importante da elite industrial de São Paulo abandonou a produção pelas finanças”, disse Palma à BBC Mundo.
Tradução: Katarina Peixoto
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segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Imperialismo quer uma nova guerra no mundo
Luis Falcão no A VERDADE
Para
satisfazer a sede de lucros da poderosa indústria de guerra dos EUA e
de outros países, as potências imperialistas querem mais uma guerra no
mundo, não importa se contra a Síria ou contra o Irã, ou mesmo contra s
dois países. Para tanto, a gigantesca máquina de propaganda do
capitalismo espalha mentiras e esconde que a CIA fez acordo com a
Al-Qaeda para organizar atentados na Síria.
A Síria não é um país socialista e, por
isso mesmo, não é democrático. A principal lei da economia do país é o
lucro e quem manda e governa é a classe dos ricos. As eleições são
manipuladas, há perseguição aos que lutam por uma revolução e pelo
verdadeiro socialismo e são numerosos os casos de corrupção no país. Os
que têm dinheiro, as famílias ricas, conseguem resolver seus problemas,
os que não têm, a imensa maioria da população, sofrem para conseguir
até mesmo um emprego. Apesar de ter socialismo em seu nome e em seu
programa, o Partido Baath (Partido do Renascimento Árabe Socialista) não
defende nem pratica o socialismo cientifico de Marx e Lênin, embora
quando de sua Constituição em 1963 foi um partido progressista,
nacionalizou o petróleo, as terras e adotou medidas contra a espoliação
estrangeira do país. Porém, desde a década de 80, se transformou num
instrumento a serviço dos privilégios de algumas centenas de famílias e
de grupos privados. Em decorrência, várias multinacionais têm cada vez
mais negócios na Síria. A multinacional italiana do setor de armamentos –
Finmeccanica – há dois anos está entre os principais fornecedores do
governo sírio. Finmeccanica é o oitavo fornecedor do Pentágono e também
produz em parceria com a norte-americana Lockheed Martin
Por ser um país dependente, a Síria
sofre duramente as consequências da atual crise econômica capitalista.
Este fato foi agravado porque desde os anos 90, o governo adota um
conjunto de reformas neoliberais para permitir o avanço do capital
estrangeiro, elimina programas de assistência social e reduz os
investimentos públicos em 50%. As terras nas grandes cidades foram
privatizadas e entregues a grandes empresas, que elevaram os preços dos
imóveis, obrigando milhares de famílias a irem morar na periferia das
cidades e formar favelas. Hoje, o país tem um elevado número de
desempregados jovens, as desigualdades sociais aumentaram absurdamente e
a pobreza é crescente. Tal situação levou em março de 2011, em meio aos
levantes populares da Tunísia e do Egito, a juventude a ocupar as ruas
exigindo mudanças sociais e políticas no país.
Foi nesse terreno que os países
imperialistas começaram a operar, enviando à Síria mercenários que
estavam no Iraque, para organizarem atentados e recrutarem insatisfeitos
com o regime em vista de se formar um exército. Até a organização
terrorista Al-Qaeda foi articulada pela CIA e é membro ativo do chamado
Exercito Livre da Síria. Também, a serviço dessa estratégia
imperialista, o reacionário governo turco de Tayyip Erdogan ao
bombardear a Síria cumpre o papel de provocador visando acelerar a nova
guerra imperialista.
Entretanto, não é nem para acabar com o
capitalismo na Síria nem com a corrupção e muito menos defender os
direitos humanos que os EUA, a França, a Inglaterra e a Alemanha querem
bombardear a Síria e derrubar o governo de Bachar Al Assad. Aliás, basta
observar o que se tornaram a Líbia, o Afeganistão e o Iraque após as
intervenções militares dos países imperialistas para concluirmos como
ficará a Síria se ocorrer um ataque da OTAN (Organização do Tratado
Atlântico Norte).
Com efeito, nenhum desses países
tornou-se mais democrático ou menos violento após as guerras de que
foram vítimas. Pelo contrário, hoje na Líbia, em vários edifícios
públicos tremula a bandeira da organização terrorista Al-Qaeda, a mesma
que é acusada de realizar o atentado às torres gêmeas nos EUA, o qual
matou mais de 3 mil cidadãos norte-americanos, e no dia 11 de setembro
último realizou um atentado que matou o embaixador dos EUA na Líbia,
Christopher Stevens. No Afeganistão, entre 1º de janeiro e 30 de junho
de 2012, 1.145 pessoas morreram e 1.945 ficaram feridas devido a
atentados. Mulheres e crianças representam 30% das vítimas.
Depois, se existisse por parte das
potências imperialistas algum respeito aos direitos humanos, os EUA não
teriam financiado e ajudado o golpe militar em Honduras, tentado
derrubar o governo de Hugo Chávez e não continuariam apoiando e mantendo
as sanguinárias ditaduras do Iêmen, do Bahrein e da Arábia Saudita.
Também, a defesa que a Rússia e a China
fazem do governo sírio nada tem a ver com o respeito à autodeterminação
dos povos. Lembremos que ambos os países foram favoráveis às criminosas
guerras contra o Iraque e o Afeganistão e já aprovaram diversas sanções
econômicas contra a Síria e o Irã, privando milhões de árabes de
alimentos e de remédios.
A velha mentira repetida
Sem ter o que dizer para justificar uma
nova guerra imperialista, os Estados Unidos e demais potências
imperialistas repetem o mesmo argumento (ou melhor dizendo, a mesma
mentira) usada contra o Iraque: (“Saddam tem armas químicas de
destruição massiva”) ou contra a Líbia (Kadafi massacra população
civil).
Portanto, o principal motivo levantado
pelos EUA e seus aliados para pressionarem a ONU a aprovar a agressão à
Síria e usar sua máquina de guerra mortífera composta de satélites
militares, bombas nucleares, submarinos, aviões não tripulados, mísseis
intercontinentais e milhões de homens armados espalhados em mais de
1.000 bases militares estacionadas em cerca de 50 países, é que a Síria
possui “poderosas armas químicas e pode usá-las contra a população”.
Vejamos o que declarou o secretário de
Defesa dos EUA, Leon Panetta, no dia 28 de setembro ao ser perguntado
pela imprensa de seu país sobre os depósitos de armas químicas na Síria:
“Informações da inteligência americana
dão conta de que o arsenal está em locais seguros, mas parte tinha se
movido. Não está claro quando as armas foram transferidas, nem se a
movimentação aconteceu recentemente.” A notícia prossegue dizendo que os
EUA acreditam que a Síria tem dezenas de depósitos de armas químicas e
biológicas espalhados pelo país.
No final de agosto, o presidente Barack
Obama declarou: “Vamos ser muito claros com o regime Assad, mas também
com todos os outros combatentes, que a linha vermelha será quando
começarmos a ver um monte de armas químicas sendo movidas e usadas. Isso
mudará nosso cálculo”.
Ora, nunca uma missão internacional
esteve na Síria para investigar se o país possui ou não armas químicas. E
agora, não só o país tem, como está transferindo essas armas de um
lugar para outro.
Mas como acreditar num governo que já
mentiu tantas vezes? Lembremos algumas: disse que não jogaria bombas
atômicas no Japão e jogou; disse que não usaria armas biológicas contra o
Vietnã e usou, disse que Saddam possuía armas de destruição em massa e
era mentira. Diz que o Irã está produzindo arma nuclear e, até hoje,
apesar de várias inspeções, a AIEA não foi capaz de encontrar nem uma só
arma nuclear no país, embora os EUA possuam, de acordo com o Pentágono,
5.113 armas nucleares e Israel algumas centenas.
Aliás, mentira e desinformação é o que
mais tem surgido em relação à Síria. No último dia 28, as agências de
noticias norte-americanas e francesas deram a seguinte notícia:
“Ontem, foi o segundo dia consecutivo de
ataques com bombas na capital (Damasco). Duas organizações de ativistas
anti-Assad anunciaram que vários corpos foram encontrados num subúrbio
situado ao sul da capital. Aparentemente, as mortes foram provocadas por
forças leais à ditadura.”
O Observatório Sírio para os Direitos
Humanos disse que 40 corpos, inclusive de mulheres e crianças, foram
achados no subúrbio de Thiyabiyeh. O líder da organização, Rami
Abdul-Rahman, afirmou não ter detalhes sobre as mortes.
Outro grupo de oposição a Assad, os
Comitês de Coordenação Local, estimou em 107 o total de corpos
encontrados e disse que muitos dos cadáveres mostravam sinais de
execução -algumas das vítimas teriam sido degoladas. Os números indicam
um dos piores massacres de civis desde o início do levante.” (O Globo,
28/09/2012)
Atenção: o Observatório Sírio de
Direitos Humanos declarou que não tinha detalhes sobre as 40 mortes. O
outro disse que eram 107 mortes. Será que eles não aprenderam a contar
ou não tiveram tempo de combinar os números? E quem são realmente os
assassinos?
Crimes contra o povo sírio, assassinatos
e execuções não é algo raro praticado pelas chamadas forças rebeldes da
Síria. Vejamos o que declarou o insuspeito embaixador brasileiro Paulo
Sérgio Pinheiro:
“Existem motivos razoáveis para
acreditar que as forças antigovernamentais daquele país perpetram
assassinatos, execuções extrajudiciais e tortura” – disse Paulo
Pinheiro, chefe de um painel internacional independente que investiga a
situação na Síria.
Paulo Pinheiro também denunciou o uso de
crianças com menos de 18 anos de idade por grupos armados de oposição.
“Estas forças não identificam seus membros com uniformes reais ou
insígnias para diferenciá-los da população civil “, acrescentou. Crimes
realizados por esses elementos, como sequestros, tortura e maus-tratos
de soldados do governo capturados, também foram repudiados pela Alta
Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.
Concluindo, Pinheiro criticou o governo
por levar a cabo ataques indiscriminados, como ataques aéreos e
bombardeios de artilharia a áreas residenciais. Ele também se posicionou
contra a aplicação de sanções contra a Síria, por constituírem uma
negação dos direitos fundamentais ao povo desse país, onde, segundo a
ONU, existem 2,5 milhões de pessoas que necessitam de ajuda humanitária.
O especialista reiterou a necessidade de uma solução política na Síria e
ressaltou que “não há possibilidade de uma solução militar.” (Correio
do Brasil, 22/09/2012).
Esta é a verdade.
Por que o império quer a guerra
Porém, os grandes meios de comunicação
da burguesia com o objetivo de convencer os povos da necessidade de mais
uma guerra imperialista divulgam mentiras e mais mentiras certos do que
afirmou o ministro da Propaganda de Hitler, o nazista Joseph Goebbles:
“Uma Mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”.
Na realidade, o que está por trás da
atual guerra que se desenvolve na Síria e que já matou mais de 25.000
sírios é o interesse das potências imperialistas em controlar uma nação
que produz petróleo e gás natural – por dia, a Síria produz 380 mil
barris de petróleo e tem reservas de 2,5 bilhões de barris e 240 bilhões
de m3 de gás natural –; está situada na região estratégica
do Oriente Médio e faz fronteira com Iraque, Irã, Turquia, Líbano e
Israel. Ademais, a Síria, até por força das circunstâncias, pois tem
parte de seu território nas colinas de Golã ocupado por Israel desde
1967, é um país que tem apoiado a luta pelo Estado da Palestina e tem
em seu território quase 500 mil refugiados palestinos.
Dessa forma, a substituição do atual
governo sírio por um governo submisso à dominação dos EUA, da França e
da Inglaterra na região, além de garantir aos monopólios desses países o
controle sobre petróleo e gás, também enfraquece o Irã, a luta do povo
palestino e facilita o controle político do Oriente Médio. Em resumo, se
trata de mais uma guerra para assegurar os interesses de multinacionais
como a Exxon, BP, Chevron, Barrick Gold, Shell, Total, Monsanto, HSBC,
Deutsche Bank, Goldman Sachs, entre outros e de criar demanda para a
indústria militar dos países imperialistas: a Boeing (EUA), a Northrop
(EUA), a General Dynamics (EUA), a Raytheon (EUA), a BAE Systems, a EADS
(europeia), a Finmeccanica (italiana), a L-3 Communications (EUA) e a
United Technologies (EUA).
De fato, há várias comprovações da
existência de paramilitares a serviço da CIA na Síria e o governo
denunciou na ONU a existência de 60.000 mercenários pagos pelas
potências imperialistas atuando no país.
O chamado Exército Livre da Síria recebe
há muito dinheiro e armas da Inglaterra, da França e dos EUA. Segundo a
BBC, agência de notícias inglesa, o governo britânico entregou mais de 7
milhões de dólares em “abastecimento médico e equipamentos de
comunicação’ aos grupos armados sírios. A França, que teve a Síria como
colônia até 1949, defendeu, por intermédio do ministro das Relações
Exteriores Laurent Fabius que “as zonas liberadas sírias que estão sob
controle dos rebeldes recebam ajuda financeira, administrativa e
sanitária.” O chanceler francês prometeu ajuda de 5 milhões de euros (R$
12,8 milhões) aos opositores.
A Secretária de Estado dos EUA, Hillary
Clinton, anunciou no último dia 29 mais US$ 30 milhões de assistência em
alimentos, água e serviços médicos e mais 15 milhões em “equipamentos
de comunicação” à oposição política não-armada”.
Ora, apesar da ONU adotar sanções contra
a Síria – o governo sírio é reconhecido pela organização e por centenas
de países – uma intervenção como essa que ocorre no país fere todas as
leis internacionais e mostra que há muito o imperialismo jogou na lata
do lixo o princípio da convivência pacífica entre os países e o respeito
à autodeterminação das nações.
São essas, portanto, as razões que
asseguram que mais uma guerra imperialista está a caminho. Tal situação
coloca perante todos os homens e mulheres livres que não querem nem
aceitam uma ditadura mundial do capital e a escravidão da humanidade por
um punhado de países imperialistas governados por meia dúzia de bancos e
de monopólios, a questão de o que fazer para deter esses genocídios e
impedir que novas guerras sejam desencadeadas por potências
capitalistas. Tais potências, mergulhadas numa profunda e grave crise
econômica, veem como sua salvação aumentar a exploração dos
trabalhadores, abocanhar as riquezas dos povos e dominar o mundo. Com a
palavra Che Guevara: “O imperialismo capitalista foi derrotado em muitas
batalhas parciais. Porém é uma força considerável no mundo e não se
pode aspirar à sua derrota definitiva sem o esforço e o sacrifício de
todos”¹.
Luiz Falcão é membro do comitê central do PCR
Notas
¹ Che Guevara. Discurso em Seminário Econômico de Solidariedade Afroasiática. 1965)
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Comunistas checos são segunda força
Governo conservador perde metade da votação
O
Partido Comunista da Boémia Morávia (KSCM) alcançou um resultado
histórico nas eleições regionais, realizadas dias 12 e 13, em simultâneo
com a primeira volta do escrutínio de um terço do Senado.
Já
com praticamente todos os votos contabilizados, os comunistas checos
obtiveram a maior votação de sempre a nível regional, desde que este
sufrágio foi instituído em 2000. Em comparação com a eleição de 2008, o
KSCM passou de 15,05 por cento, 114 eleitos, e 438 024 votos (terceira
força eleitoral) para 20,44 por cento, 182 eleitos e 538 953 votos.
Este
poderoso avanço foi obtido à custa do enfraquecimento dos dois
principais partidos, CSSD (sociais-democratas) e ODS (conservadores)
actualmente no poder, que perderam juntos 153 lugares e 23,55 por cento
dos votos.
Particularmente
acentuada foi a descida dos conservadores que passaram de 23,27 para
12,29 por cento, enquanto os sociais-democratas baixaram de 35,85 para
23,58 por cento.
O
progresso eleitoral dos comunistas traduziu-se ainda na conquista de
duas das 13 regiões do país, Karlovy Vary e Ústí nad Labem, ambas
situadas na Boémia. Por seu lado, os sociais-democratas venceram em nove
regiões, enquanto os conservadores apenas conseguiram manter a região
de Pilsen, ficando ainda Liberec nas mãos de uma formação regional
(SLK).
Nas
eleições para o Senado, câmara alta do Parlamento, que decorrem em duas
voltas, os comunistas têm 12 candidatos apurados, quatro deles em
posição de liderança, os conservadores contam com dez candidatos na
corrida, dos quais cinco venceram a primeira volta, havendo 23
candidatos sociais-democratas, 11 deles vencedores. Os nove restantes
(com cinco na liderança) distribuem-se por pequenos partidos e
coligações.
Na segunda volta para o Senado estão em disputa 27 dos 81 lugares daquele órgão.
Os
resultados mostram uma severa punição do governo conservador, liderado
por Petr Necas, responsável por cortes orçamentais antipopulares e
desacreditado por vários escândalos de corrupção.
A
fraqueza do actual executivo foi de resto reconhecida pelo presidente
conservador Vaclav Klaus, que fez saber, no domingo, que considera o
resultado da eleição «tão claro, inequívoco e compreensível que não
requer nenhuma interpretação complicada». Segundo o seu porta-voz, Klaus
está «convencido de que todos compreenderam o resultado e que todos
retiraram as suas conclusões para si próprios».
As palavras do chefe do Estado prenunciam a queda do governo de Necas, cuja demissão já foi pedida pelos sociais-democratas.
Fonte: AVANTE
domingo, 21 de outubro de 2012
Che Guevara: uma biografia - Jon Lee Anderson
O anjo e o
demônio
“Ali, onde o
amor desperta, morre o eu, déspota sombrio”
O ser humano
é multifacetado e esta é a beleza da humanidade Não somos nem anjos e nem
demônios, mas um amálgama de desejos, sonhos e ações. Ainda assim, tendemos a
cair na armadilha do maniqueísmo. A forma como analisamos a vida e a morte do
revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara é um exemplo disso.
Quarenta e
cinco anos após sua execução na Bolívia, sua imagem ainda divide opiniões,
apaixonadamente. Endeusado por setores da esquerda como exemplo da pureza
socialista, de homem de bem. Execrado por setores da direita como um assassino
sanguinário, personificação do mal. Ambas as leituras deixam de lado o ser
humano Ernesto. Menino, adolescente, homem repleto de virtudes e de defeitos,
desejos e esperanças.
A maioria das
obras sobre sua vida é formada por hagiografias oficiais cubanas ou
demonizações montadas por inimigos políticos. É fato que Che encarnou todo o
horror proveniente da cegueira ideológica que justifica os atos mais
monstruosos em nome de uma causa superior, de uma verdade absoluta. É fato,
também, que abriu mão de tudo o que estimava para lutar e morrer em um campo de
batalha estrangeiro tendo em mente a construção de um mundo melhor.
Fruto de um
trabalho hercúleo do escritor Jon Lee Anderson, o livro “Che Guevara: uma
biografia” – cuja edição revisada foi lançada recentemente e cuja leitura
finalizei esta semana – aborda com maestria esta dicotomia em uma viagem fascinante
pela vida e pensamento de Che.
O livro de
Anderson nos leva a uma jornada que aponta os caminhos que concretizaram a
formação de seu caráter e, posteriormente, a construção de sua base
político-ideológica que desagua em uma série de acontecimentos que
transformaram um jovem argentino de classe privilegiada em um revolucionário
internacional, revelando, ainda, como, no choque entre a bigorna e o martelo, surgiu um
homem apaixonado por uma ideia e disposto a matar e morrer por ela.
Confrontado
pelas marcantes diferenças sociais com que se deparou em suas andanças pelas
Américas do Sul e Central na década de 50, e pela constante e despótica
ingerência norte-americana na região durante o início da Guerra Fria, Che alimentou
pouco a pouco uma concepção de mundo na qual o enfrentamento entre as massas
exploradas do continente e o imperialismo norte-americano seria inevitável.
Posteriormente, esta concepção encontrou o respaldo teórico no marxismo e, em
última instância, na luta armada.
Para Che, a
política era um mecanismo para as mudanças sociais e eram elas, e não o poder
em si, que o impeliam. Mas é exatamente na manipulação prática do poder, em uma opção ideológica focada no
marxismo, que repousa o principal equivoco de Che (e dos demais movimentos revolucionários
de esquerda que irromperam no entre as décadas de 60 e 70): a supressão do
indivíduo e da individualidade pela força e pela coerção, a adoção da “fé
socialista” em detrimento das mais básicas noções de humanidade. Em suas
próprias palavras: “Não lhe posso dizer, nem aproximadamente, em que momento
deixei o caminho da razão e adotei algo parecido com a fé, porque o caminho foi
muito longo e com muitos passos para trás.”.
Este caminho,
cujo início é marcado por “Nota al Margen”, texto escrito por Che em Buenos
Aires retratando suas experiências na Guatemala, levou-o a uma encruzilhada
que, alguns anos depois, culminou em sua morte.
“O futuro
pertence ao povo e, pouco a pouco, ou de um só golpe, ele vai tomar o poder,
aqui e no mundo inteiro. O ruim é que eles têm de se civilizar e isso não pode
acontecer antes, mas só depois que tomarem o poder. Eles se tornarão
civilizados somente aprendendo às custas de seus próprios erros, que serão
graves, e que custarão muitas vidas inocentes. Ou talvez não, talvez não sejam
inocentes, porque terão cometido o imenso crime contra natura, que significa
sua falta de capacidade de se adaptar. Todos eles, todos os que não forem
adaptáveis, você e eu, por exemplo, morrerão amaldiçoando o poder que nós, com
enorme sacrifício, ajudamos a criar”.
O texto acima
é a primeira expressão de Che da abstração do “eu”
em prol do “nós”. Ocorre que não existe “nós” sem o “eu”.
“Quando a
sociedade chega a certo estágio de desenvolvimento e é capaz de iniciar a dura
luta de destruir o poder opressor, de destruir seu braço forte, o Exército, e
de tomar o poder, então o homem recupera uma vez mais a antiga sensação de
felicidade no trabalho, a felicidade de cumprir com um dever, de se sentir
importante dentro do mecanismo social. Torna-se feliz por se sentir um dente na
engrenagem, um dente que tem suas próprias características e é necessário,
embora não indispensável, para o processo produtivo, um dente consciente, um
dente que tem seu motor próprio, e que tenta conscientemente esforçar-se mais e
mais a fim de levar a um feliz desfecho uma das premissas da construção do
socialismo: a criação de uma quantidade suficiente de bens de consumo para toda
a população.”
O hábito de
Che de se referir ao povo, aos trabalhadores, como peças de maquinaria permite
vislumbrar seu distanciamento emocional da realidade individual. Ele tinha a mentalidade
friamente analítica do pesquisador médico e do jogador de xadrez. Os termos que
empregava para os indivíduos eram redutores, enquanto o valor do trabalho no
contexto social era idealizado, apresentado liricamente.
Em carta a
mãe, disse: “A noção do ‘eu’ desapareceu inteiramente, para dar lugar a noção
do ‘nós’. Era um ponto da moral comunista e, naturalmente, pode parecer um
exagero doutrinário, porém realmente foi (e é) maravilhoso ser capaz de sentir
a remoção do ‘eu’”.
“Che Guevara
agora estava em guerra, tentando criar uma revolução. Fizera um salto
consciente de fé e entrara em um domínio no qual se podiam tomar vidas por um
ideal e os fins de fato justificavam os meios. As pessoas não eram mais apenas
pessoas. Cada uma representava um lugar dentro de um esquema global das coisas
e poderia ser vista, na maioria das vezes, como amiga ou inimiga”, reflete
Anderson.
Che abraçara
a revolução como a encarnação definitiva das lições da história e como o
caminho correto para o futuro. Agora, convencido de que estava certo, olhava em
volta com os olhos de um inquisidor em busca daqueles que poderiam pôr em
perigo sua sobrevivência.
É exatamente este ponto da personalidade de Che, a capacidade abstrair-se do indivíduo, da micro-humanidade, em prol de uma visão macro do homem é que mais me fascina, de uma forma negativa, porém. Seu pai, geralmente tão míope em relação ao filho, escreveu: “Ernesto tinha brutalizado sua própria sensibilidade” para se tornar um revolucionário.
Alberto
Granado – que percorreu a América Latina com Che em 1952 - recordou uma
conversa em que assinalou o que, na sua opinião, era a diferença fundamental
entre os dois. Che era capaz de olhar pela luneta de um fuzil para um soldado e
puxar o gatilho, sabendo que, ao mata-lo, estava “salvando 30 mil futuras
crianças de viver na fome”, enquanto ele, Granado, veria um homem com esposa e
filhos.
Este afastamento
da realidade – mesmo que em prol de um ilusório bem maior – é o grande símbolo
dos totalitarismos de esquerda, a vala na qual todas as experiências do
socialismo real atolaram e sucumbiram.
O trecho a
seguir é um exemplo da frieza cortante do revolucionário.
-
Alguns dias
depois, os irmãos testemunharam um exemplo da justiça sumária de Che. Enrique
Acevedo relembrou essa ocasião de forma vívida: “De madrugada, trouxeram um
homem grande, com uma farda verde, cabeça raspada como os militares, bigodes
grandes: é [René] Cuervo, que anda causando encrencas na zona de San Pablo de
Yao e de Veja la Yua. Cometeu abusos sob a bandeira do 26 de Julho (...). Che o
recebe deitado na rede. O prisioneiro lhe estende a mão, mas não encontra
resposta. O que dizem não chega aos nossos ouvidos, embora se perceba que o tom
é duro. Parece ser um julgamento sumário. No final, [Che] o manda embora com um
gesto de desprezo com a mão. Levam-no para uma ravina e o executam com um rifle
de calibre 22, tendo que dar três tiros. [Finalmente] Che salta da rede e
berra: Basta!
-
A banalização
da vida também é marcada por este trecho do
diário de Che no qual ele se admoesta por uma “fraqueza” durante os combates. “Houve
um pequeno combate e recuamos com muita rapidez. A posição era ruim e eles nos
cercavam, mas oferecemos uma pequena resistência. Pessoalmente, notei algo que
nunca sentira antes: a necessidade de viver. Isso precisa ser corrigido na
próxima oportunidade.”.
Ora, nada mais
amedrontador. Um homem capaz de suprimir sua própria necessidade de viver,
fatalmente ampliará esta exigência aos demais. Não seria incorreto imaginar que
Fidel Castro usou esta faceta de Che para que o argentino fizesse o trabalho sujo enquanto Castro tratava de assegurar
sua liderança frente aos muitos grupos políticos envolvidos na vitória da
revolução sob a bandeira do Movimento 26 de Julho.
Para
Anderson, Fidel precisava de Che para a indispensável tarefa de expurgo do
antigo Exército, para consolidar a vitória aplicando a justiça revolucionária
contra os traidores, os chivatos (informantes do regime) e os criminosos de
guerra de Batista. Che se transformou no promotor supremo, aquele que tomava a
decisão final sobre o destino dos homens. E, pela revolução, não se furtou
desta incumbência.
Em Janeiro de
1960 o arquiteto Nicolás Quintana teve um encontro marcante com Che – já um
prócere da revolução. “Ele me disse: ‘Olhe, as revoluções são feias, porém
necessárias, e parte desse processo revolucionário é a injustiça a serviço da
justiça futura’”, recordou Quintana. “Jamais conseguirei esquecer essa frase.
Repliquei que isso era a Utopia de Thomas Moore. Disse que nós tínhamos ficado
na merda por causa dessa história durante muito tempo, por acreditarmos que conseguiríamos
alguma coisa, não agora, mas no futuro.
Che ficou olhando para mim por um tempo
e falou: ‘Bem. Você não acredita no futuro da revolução.’ Eu lhe disse que não
acreditava em nada que fosse baseado na injustiça."
Che então lhe
perguntou: “Mesmo que a injustiça seja salutar?”
Ao que Quintana
retrucou: “Não creio que, para os que morrem, você possa falar em injustiça
salutar.”
A resposta de
Che foi imediata: “Você tem que deixar Cuba. Tem três opções: vai embora de
Cuba e não há problema nenhum comigo, ou trinta anos [na prisão] no futuro
próximo, ou o pelotão de fuzilamento.”
É fascinante
perceber que por detrás desta frieza havia também um homem amoroso, ainda que este
amor estivesse profundamente contaminado pela ideologia.
Em sua carta
de despedida aos cubanos ao embarcar secretamente a Bolívia, Che diz: “Deixem-me
dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é
guiado por fortes sentimentos de amor. É impossível pensar em um revolucionário
autêntico sem essa característica. Este é, talvez, um dos maiores dramas de um
líder: ele precisa combinar um espírito apaixonado com uma mente fria, e tomar
decisões dolorosas sem mexer um músculo. Nossos revolucionários de vanguarda
precisam idealizar seu amor pelo povo, pelas causas mais sagradas, e torna-lo
uno e indivisível. Eles não podem se rebaixar, com pequenas doses de afeto
diário, aos lugares onde os homens comuns põem seu amor em prática”.
Em Che, a
nossa dicotomia humana está presente, à flor da pele, escancarada. Eles estão
ali, visíveis, o anjo ao lado do demônio.
“O que o levou
a resolver operar em nosso país?”, perguntou o Coronel Andrés Selich ao seu
prisioneiro, Che Guevara, em La Higuera, na Bolívia, sete anos depois do
encontro com Quintana.
“O senhor não
vê o estado em que vivem os camponeses?”, perguntou Che. “São quase como
selvagens, vivendo em um estado de pobreza que deprime o coração, tendo apenas
um aposento no qual dormem e comem, sem roupas para vestir, abandonados como
animais (...).”
É terrível
observar uma de suas últimas fotos,
na qual Che aparece como uma fera selvagem subjugada, o rosto magro voltado
sombriamente para baixo, os cabelos compridos emaranhados, os braços amarrados
na frente do corpo, ao lado do agente cubano-norte americano Félix Rodriguez,
da CIA, logo após a execução de Willy (Simeón
Cuba Sarabia).
Seus últimos momentos, narrados por Anderson, são de uma força emocional
estupenda e nos fazem conjecturar se no fim ele pensou em si mesmo como um
homem, um indivíduo real em meio à coletividade subjetiva.
-
Rodriguez
levou Che de volta para dentro da escola e retomaram a conversa, mas foram
interrompidos por mais disparos. Dessa vez o executado foi, ao que consta, Juan
Pablo Chang, que fora capturado, ferido, e trazido com vida naquela manhã. A
essa altura, os corpos de Aniceto e Pancho, que tinham sido abatidos na ravina,
também estavam ali. “Che parou de falar”, recordou Rodriguez. “Não disse nada
sobre os tiros, mas seu rosto espelhava tristeza e ele sacudiu a cabeça várias
vezes, lentamente, de um lado para o outro. Talvez tenha sido nessa instante
que se deu conta de que ele também estava condenado, embora eu não lhe tenha
dito nada até pouco antes de uma da tarde”.
Rodriguez viu
que não podia retardar mais e voltou para dentro da escola. Entrou na sala de
Che e disse que estava triste, que fizera tudo que podia, mas as ordens tinham
vindo do alto-comando boliviano. Ele não terminou a frase, mas Che entendeu.
Seguindo Rodríguez, o rosto de Che ficou momentaneamente pálido, e ele disse: “É
melhor assim (...). Eu nunca deveria ter sido capturado vivo”.
Rodriguez
perguntou se ele tinha alguma mensagem para sua família, e Che lhe pediu para “dizer
a Fidel que ele logo verá uma revolução triunfante na América (...) E diga à
minha mulher que se case de novo e tente ser feliz”.
Diante disso,
Rodríguez contou, ele deu um passo à frente para abraçar Che. “Foi um momento
tremendamente emocionante para mim. Não o odiava mais. Sua hora da verdade
tinha chegado e ele estava se portando como homem. Estava encarando sua morte
com coragem e elegância.”
Pouco depois
Che foi fuzilado pelo sargento Mario Terán, era uma e dez da tarde do dia 9 de
outubro de 1967. Ele tinha 39 anos.
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