terça-feira, 31 de julho de 2007

Professores protestam contra fim da estabilidade


Lei sancionada por Alan García obriga docentes a passarem por três avaliações; caso sejam reprovados, o vínculo empregatício com o Estado é rompido


Danielle Almeida Pereira,
de Cusco (Peru)

Naquela segunda-feira (9), não tinha idéia do que acontecia quando desci do ônibus e me deparei com um êxodo de peruanos de um lado da estrada e um engarrafamento de carros, caminhões e ônibus de outro. Perguntei o que se passava a uma das transeuntes. Apesar da pressa, ela foi gentil em me explicar que a rodovia estava bloqueada: “Não se passa. Os professores protestam contra a lei”.

A ley de Carrera Pública Magisterial sancionada pelo presidente do Peru, Alan García, determina, dentre outras coisas, que os professores passem por três avaliações anuais. Se não forem aprovados nestas três etapas, será rompido o vínculo empregatício com o funcionário.

As pedras espalhadas pela estrada que liga Cusco à Puno, na beira do famoso lago Titicaca, já eram um indício do movimento que se formava mais à frente. O bloqueio não era grande, menos de cem professores estavam reunidos perto das fileiras de pedras que fechavam os dois sentidos da rodovia. Genaro alimentava a fogueira improvisada com palha e pneu. A fumaça escura se misturava à neblina das bonitas montanhas a mais de 3 mil metros de altitude.

“Para que és?”, pergunta-me com uma simpática desconfiança. Genaro, segundo ele mesmo afirma, é um dos 18 mil professores de Cusco. Passadas as suspeitas, ele conta o que pensa da lei: “Vai tirar nossa estabilidade no trabalho”.

O arquivamento da Lei de Carrera Pública Magisterial é a principal reivindicação do Sindicato Único dos Trabalhadores na Educação (SUTE). “A lei tira a estabilidade no trabalho e, em parte, busca a privatização da educação”, defende Oscar Urviola Ramos, dirigente do Sute em Puno. De acordo com ele, a lei segue um modelo imposto pelo Banco Mundial que exige do estado a privatização dos serviços de saúde e educação.

Mesmo sendo essa a principal luta da categoria, o professor Genaro reclama dos baixos salários. “Deveríamos receber 3 mil soles, mas ganhamos cerca de 900 soles”, desabafa. O dirigente do Sute em Puno reconhece a importância desta questão, mas garante: “Neste momento, não pedimos aumento de salário, mas sim estabilidade e que a educação siga à cargo do estado”.

Precariedade

Entre os 300 mil professores de todo o Peru, 22 mil estão em Puno, cidade peruana que é ponto de partida para quem quer conhecer o mais alto lago navegável do mundo. De acordo com o dirigente do Sute em Puno, a maior parte dos professores deste município trabalha em escolas rurais onde não há infra-estrutura necessária: “Sem teto, sem cadeiras, sem quadros. O Estado se esqueceu da zona rural”. Oscar Ramos se lamenta ao dizer que “apenas 3% de todo o Produto Interno Bruto do Peru vai para a educação”.

Os protestos contra a lei de Carrera Pública Magisterial se espalham há dias por todo o país, através especialmente de bloqueios nas estradas. As mobilizações parecem ter transformado o Sindicato Único dos Trabalhadores na Educaçáo em personas non gratas para o estado peruano. Tanto que o Poder Executivo reforçou o poderio da Policia Nacional com a adição das Forças Armadas que irão, por trinta dias, “proteger” portos, aeroportos, centrais elétricas, e outros “pontos estratégicos para o desenvolvimento dos serviços básicos do país”, segundo publicou um jornal de grande circulação do Peru.Mas a intenção dos professores, que também aderiram à greve nacional decretada nesta quarta-feira, é persistir nos protestos contra a lei do governo de Alan García, como bem lembra Oscar Ramos: “Queremos que nos capacitem, que nos avaliem para servimos bem na educação, mas que não seja uma forma de nos demitir”.





Belchior - na hora do almoço (primeiro compacto) [1971]




Na hora do almoço 3:50
(Belchior)
gravação: Belchior, Jorginho Telles e Jorge Nery
Copacabana CS M-1018
(P) 1971

Anos mais tarde, o acervo da Copacabana foi adquirido pela ABW. Mais um tempo se passou, a obscura ABW também fechou as portas. Hoje seu acervo está sob a guarda da EMI, em um depósito terceirizado em São Paulo. Fiz várias sugestões para o departamento de Marketing da EMI, que não deu a mínima. Nem para comemorar os 60 anos de Belchior, completados no ano passado.

Esclarecimentos: esta gravação de "Na hora do almoço" não é a mesma que foi incluída no primeiro LP de Belchior, que seria lançado três anos depois, pela Continental. Outra: nenhum desses dois Jorges é Jorge Melo, futuro parceiro e sócio de Belchior na gravadora Paraíso. Quem me passou a informação foi o próprio Jorge Melo, que hoje tem escritório de advocacia em São Paulo e continua fazendo shows pelo Brasil.

extraia o sumo : download Belchior - na hora do almoço (primeiro compacto) [1971]

Opção 2: Resmaterizado por Escriba77: http://www.mediafire.com/?ztdamkdgmi3

*bela contribuição de Sílvio.
Copiado de:SomBarato

Oswaldo Montenegro - A Dança dos Signos [1983]





Ficha Técnica:
Direção: Oswaldo Montenegro
Arranjos: Oswaldo Montenegro
Capa: Renato Ferrari
Gravado nos estúdios da Polygram

Extraia o sumo: Oswaldo Montenegro - A Dança dos Signos [1983]

Faixas:
1. Aos filhos de Áries (Oswaldo Montenegro)
2. Aos filhos de Touro (Oswaldo Montenegro/Chico Xaves)
3. Aos filhos de Gêmeos (Oswaldo Montenegro)
4. Aos filhos de Câncer (Oswaldo Montenegro)
5. Aos filhos de Leão (Oswaldo Montenegro)
6. Aos filhos de Virgem (Oswaldo Montenegro)
7. Aos filhos de Libra (Oswaldo Montenegro)
8. Aos filhos de Escorpião (Oswaldo Montenegro)
9. Aos filhos de Sagitário (Oswaldo Montenegro)
10. Aos filhos de Capricórnio (Oswaldo Montenegro)
11. Aos filhos de Aquário (Oswaldo Montenegro)
12. Aos filhos de Peixes (Oswaldo Montenegro)

Vinil enviado por Paulo Afonso [Goiania/GO]

Copiado de: SomBarato

segunda-feira, 30 de julho de 2007

domingo, 29 de julho de 2007

Confúcio



Confúcio (Kung futsé), nasceu no Estado de Lu, na atual província de Xantung, provavelmente no ano 551 a.C., era de descendência nobre, dos duques de Song e da casa real dos Yin.
Nasceu com poucos recursos, quase na pobreza, o que não foi impedimento para que ele se dedicasse desde a adolescência ao estudo. Intrigas na casa ducal do Estado de Lu fizeram com que ele, abandonando a terra natal, se tornasse num sábio itinerante.
Vagou por alguns anos, acompanhado por um punhado de discípulos, de corte em corte atrás de um governante que se dedicasse à construção de um Estado Ideal. Foi talvez o sábio mais influente de todos os tempos.
Sempre exerceu enorme presença junto ao seu povo. Pregador moralista, tratadista e legislador, deixou ao povo dos Han um conjunto de normas e elevados valores morais expressos em frases curtas, de fácil entendimento, educando assim, ao longo dos últimos 2.500 anos, milhões de chineses nos princípios da retidão, parcimônia e busca da harmonia. Faleceu em 479 a.C.
Copiado de:AmigosDoFreud

La Guitara Badi Assad

Os mortos Pan-Americanos

Infelizmente, parece que o Rio 2007 será lembrado mais pelos seus mortos do que pelos jogos. As mesmas forças policiais que pretendem dar segurança ao Pan são responsáveis por invasões de comunidades. No Brasil, o chamado espírito olímpico é fatal.

Em vez de contagem de medalhas, estamos contando corpos. Infelizmente, parece que o Rio 2007 será lembrado mais pelos seus mortos do que pelos jogos. As mesmas forças policiais que pretendem dar segurança ao Pan são responsáveis por invasões de comunidades, e já levaram à morte, no mínimo, 44 pessoas no Complexo do Alemão: são os mortos pan-americanos. No Brasil, o chamado espírito olímpico é fatal.

Mega eventos iguais ao Pan têm históricos violentos. O governo mexicano matou 25 estudantes que protestavam pacificamente contra o autoritarismo do governo no início das Olimpíadas de 1968, no que ficou conhecido como Massacre de Tlatelolco. No dia da abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2003, a polícia da República Dominicana atirou em um grupo de sindicalistas que organizavam uma "Tocha contra a Fome". Em 2006, o Vietnam fez uma campanha de "limpeza social" com detenções em massa, recolhimento forçado de crianças e outros abusos contra sua população de rua, tudo por causa do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.

Existem outros exemplos. No Rio de Janeiro, além das violações de direitos durante a ECO 92, a cada Carnaval a "Operação Verão" traz seus excessos policiais. No dia-a-dia, autoridades municipais e estaduais vêm realizando uma "limpeza social" silenciosa, através, por exemplo, do recolhimento arbitrário de crianças na "Operação Turismo Seguro" e na destruição de pertences dos moradores de rua na "Operação Cata-Tralha”.

No histórico comparativo de violência institucional durante mega eventos no mundo, o Brasil se destaca pelo alto número de pessoas mortas: 44 mortos do Complexo do Alemão. As autoridades policiais conseguiram, inclusive, agregar maior crueldade aos seus já conhecidos abusos: revistar crianças sob a mira de fuzil em comunidades pobres. Se essas mortes e abusos policiais ficarem impunes, resta a evidente e direta responsabilidade do secretário de Segurança Pública e do governador do Estado.

Às execuções cometidas por esquadrões da morte (no passado), pelo tráfico, pelas milícias e grupos de extermínio, soma-se esse elevado padrão de letalidade policial, onde a execução sumária adquire um caráter supostamente “legal” ao ser registrada como auto de resistência. Entramos na era do Caveirão, afinal. O Estado não esconde mais sua violência. Ele se orgulha. A polícia invade as comunidades a bordo de blindados com símbolo de caveira anunciando "Eu vou pegar sua alma". Trata-se do projeto de criminalização da pobreza, que associa o morador de favelas à criminalidade e assume o número de mortos como um resultado positivo, como critério de eficiência policial.

Que vergonha! Pela criminalização da população negra e pobre; por utilizar violência policial como suposta solução de enfrentamento da criminalidade; por gastar bilhões com o Pan, enquanto milhões de pessoas moram em barracos; por executar seus cidadãos: que vergonha! É esse o chamado legado social do Pan, ou “pandemônio”, como o evento ficou conhecido em grande parte das comunidades pobres.


Sandra Carvalho é diretora e Fernando Delgado é pesquisador do Centro de Justiça Global, organização brasileira de defesa dos direitos humanos: www.global.org.br.

Favorita, Cristina Kirchner promete inclusão e crescimento

A advogada e senadora Cristina Kirchner aparece como favorita para vencer as eleições de 28 de outubro. Com a oposição dividida, pode vencer já no primeiro turno. Reivindicando o legado do peronismo defende “salário digno, uma casa, férias e direitos para os trabalhadores”.

BUENOS AIRES - Favorita para vencer as eleições presidenciais argentinas, em 28 de outubro, a advogada e senadora Cristina Fernández Kirchner, esposa da presidente Nestor Kirchner, tem como conceito central de sua campanha a idéia de que “a mudança só está começando”. A Argentina está no caminho certo, diz ela por onde passa, e precisa dar continuidade à atual política para seguir crescendo e recuperando-se da grave crise política e econômica que atingiu o país em 2002. “A novidade da mudança é que a Argentina tomou um caminho definitivo e temos que perseverar nesta via de esforço, trabalho e produção”, afirmou a senadora, durante uma conferência realizada pelo jornal The Wall Street Journal, em Madri. Alguns números da economia argentina dão credibilidade a estas palavras.

Nos últimos cinco anos, a Argentina teve um crescimento médio de 8%, o desemprego e a indigência estão abaixo dos 10% e a pobreza caiu de 60% para 26%. O país atingiu hoje um superávit fiscal primário de US$ 10 bilhões e as exportações estão na casa dos US$ 50 bilhões. Nas ruas de Buenos Aires ainda se vê muita pobreza, mas muito menos do que se viu na hecatombe social verificada na crise de 2002. As últimas pesquisas indicam uma vitória de Cristina no primeiro turno, com algo entre 40% e 50% dos votos.

Além de garantir “segurança jurídica” para quem quiser investir na Argentina, Cristina Kirchner promete reforçar no país “um modelo de acumulação econômica e de inclusão social” e diversificar a economia para que o país seja menos vulnerável no futuro. E reivindica o legado do peronismo ao defender “um salário digno, uma casa, férias e direitos para os trabalhadores”. A senadora vem cultivando esse legado na campanha presidencial. Nesta quinta-feira, ao participar da cerimônia oficial de homenagem aos 55 anos da morte de Eva Perón, Cristina criticou aqueles que “tentam sem sucesso convencer aos argentinos de que tudo está mal”. A frase funciona na medida em que, se nem tudo está bem no país, parece muito melhor do que esteve há bem pouco tempo.

Em defesa de Hugo Chávez
Uma amostra do estilo e do pensamento da senadora foi dada durante sua visita a Espanha, na primeira viagem como candidata. Ela se reuniu com empresários daquele país e foi indagada sobre qual seria sua relação com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, caso eleita. Cristina saiu em sua defesa, dizendo que ele desempenha um papel fundamental no equilíbrio energético da região. Mesmo os empresários argentinos críticos de Chávez, observou, comentam privadamente sobre os ótimos negócios que estão fechando com a Venezuela. Além disso, acrescentou, ele foi reeleito pela imensa maioria da população venezuelana em uma eleição supervisionada por organismos internacionais. A resposta indica que, caso eleita, ela dará continuidade à política de Nestor Kirchner que construiu uma relação política e econômica muito próxima com Chávez.

Para ser mais exato, ela não deixa dúvidas sobre isso. Ao agradecer o papel que Chávez teve em momentos difíceis da Argentina (especialmente no que diz respeito à crise energética que ainda afeta o país), ela assinalou: “A equação energética da América Latina não se completa sem a presença da Venezuela e da Bolívia. A América Latina precisa de Chávez como a Europa precisa de Putin. Quando a Venezuela não era dirigida por Chávez, a energia venezuelana não atendia à América Latina, mas aos Estados Unidos, e isso em condições leoninas”.

Oposição dividida
Além da recuperação da economia argentina, a divisão da oposição também favorece a candidatura da senadora Kirchner. Ela não tem hoje nenhum grande adversário. Segundo as últimas pesquisas, somados, os candidatos oposicionistas chegam a aproximadamente 30% das intenções de voto.

De acordo com o último levantamento do instituto Analogias, Cristina possui 50,1%, sendo seguida por Roberto Lavagna, da coalizão Concertación para Una Nación Avanzada (UNA), com 11%. Em terceiro lugar, aparece Elisa Carrió, líder da Coalizão Cívica, com 10,1%, e Ricardo López Murphy (4,5%), do movimento Recrear. Seguem-se o ex-presidente Carlos Menem, com melancólicos 3,5% e o governador da província de Neuquén, Jorge Sobisch, com, 1,6%.

Os peronistas ligados ao ex-presidente Carlos Menem, os chamados anti-K, devem lançar um nome para enfrentá-la. Mais à direita, o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, e o também ex-ministro da Economia, Ricardo López Murphy, lançaram-se na corrida presidencial apostando num desgaste de Kirchner. Nenhum dos dois têm empolgado o eleitorado argentino até aqui, o que já fez surgir a possibilidade do recém-eleito prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, entrar na disputa. Ele nega, mas a simples menção ao seu nome já indica a debilidade atual das outras candidaturas.

Outra candidatura que está na rua é a de Elisa Carrió, que já foi candidata à presidência da República. Carrió vem batendo duro em Cristina Kirchner criticando, entre outras coisas, o fato dela tentar aproveitar-se de sua condição de esposa do presidente. “Em outubro, haverá uma mulher presidente e ela será do norte, porque as pesquisas estão me colocando em segundo para uma disputa no segundo turno”, disse Carrió em um comício realizado esta semana em Mar del Plata.

Até aqui, porém, segundo indicam as pesquisas, o eleitorado argentino não vem demonstrando nenhuma rejeição especial ao nome de Cristina pelo fato dela ser casada com Kirchner. Essa relação, aliás, nunca é demais lembrar, não é exatamente algo estranho à história da Argentina.

Mais à esquerda, o Partido Comunista e o Partido Humanista anunciaram uma aliança eleitoral em torno do nome de Luis Ammann (do PH). Lideranças dos dois partidos tentam agora ampliar essa frente com a adesão de outros partidos de esquerda, como o Partido Socialista Autêntico. Em caso de um segundo turno, porém, é provável que apóiem a candidatura de Cristina Kirchner, como já antecipou o dirigente comunista Patrício Echegaray.

Neste final de julho, o cenário político argentino é amplamente favorável à senadora. Mas como faltam cerca de três meses para as eleições presidenciais, advertem seus conselheiros mais próximos e prudentes, ainda é muito para contar vitória. Mas, ao mesmo tempo em que procura administrar o favoritismo, a senadora cumpre uma agenda que já prepara sua chegada à presidência. Após visitar a Espanha, sua próxima escala será o Brasil, onde, em agosto, estará se reunindo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na agenda da reunião, destacam-se, entre outros temas, os problemas do Mercosul e da integração sul-americana.

Maratonista nega ordem de saída e faz "campanha pró-Cuba"


Apesar da debandada às vésperas do encerramento dos Jogos Pan-Americanos, o cubano Norbert Gutierrez permaneceu na Vila para participar da maratona na manhã deste domingo, no Parque do Flamengo.

Fernanda Brambilla/UOL
O maratonista Norbert Gutierrez exibe foto em que ele aparece ao lado de Fidel Castro

A chuva e o mau tempo tiraram de Gutierrez a chance de pódio, e ele abandonou a disputa nos cinco quilômetros finais da corrida. Mesmo assim, Gutierrez não perdeu a pose.

Gutierrez negou que a volta antecipada a Cuba teria sido motivada por uma ordem expressa do líder Raul Castro para conter uma possível deserção em massa na delegação. "Não, não, não teve nada disso", negou o cubano veementemente. "Não fiquei sabendo de nenhuma ordem. Minha saída já estava prevista para hoje, assim como a de muitos cubanos foi ontem."

Questionado se estava sozinha na Vila Pan-Americana, já que cerca de 240 atletas embarcaram de volta ao país já na madrugada de domingo, o cubano ficou visivelmente ofendido. "Vá à Vila conferir, tem ao menos 100 cubanos lá", protestou Gutierrez, que assegurou a presença cubana na festa de encerramento dos Jogos.

Após pedir a atenção dos jornalistas, o maratonista retirou dezenas de bandeirinhas de Cuba da mochila, e pasosu a distribui-las ao público, que esperava pelos brasileiros Franck Caldeira, medalhista de ouro, e Vanderlei Cordeiro de Lima, que também abandonou a prova ao sentir cãibras.

"Tenho muito orgulho de meu país, de ser cubano", disse Gutierrez. Com a imprensa no local, o cubano aproveitou para fazer também seu marketing pessoal. Desta vez, tirou fotocópias de uma foto sua em que é cumprimentado pelo líder Fidel Castro. "É o meu líder, vejam", exibiu Gutierrez, orgulhoso.
Fonte:UOL

sexta-feira, 27 de julho de 2007

1988 - Nada Será Como Antes [Elis Interpreta Milton Nascimento]






Download




Faixas:

1. Nada Será Como Antes (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
2. Morro Velho (Milton Nascimento)
3. Cais (Milton Nascimento - Ronaldo Bastos)
4. Credo (Fernando Brant - Milton Nascimento)
5. Conversando No Bar (Fernando Brant - Milton Nascimento)
6. Travessia (Fernando Brant - Milton Nascimento - Cesar Camargo Mariano)
7. Caxangá (Fernando Brant - Milton Nascimento)
8. Vera Cruz (Márcio Borges - Milton Nascimento)
9. Canção Do Sal (Milton Nascimento)
10. Ponta De Areia (Fernando Brant - Milton Nascimento)

Copiado de:ElisDiscografia

Baixe filmes do YouTube sem precisar instalar nada...


Até pouco tempo o jeito mais popular de se baixar os vídeos do youtube era instalar o firefox e o complemento videodownloader. Agora surgiu um site que resolve a questão sem ter que instalar nada no seu micro: Basta adicionar um beijo...
Isto mesmo... Beijo em inglês é KISS, então faça o seguinte:
Entre no site do youtube e busque o vídeo que você quer baixar.
Na barra de endereços, você tem algo como:
http://www.youtube.com/watch?v=fsdM2oMSUbM

Basta adicionar kiss antes de youtube.com... No exemplo acima fica assim:
http://www.
kissyoutube.com/watch?v=fsdM2oMSUbM

Pronto...Na página que se abre basta clicar no link em DOWNLOAD NOW e salvar o arquivo.

Obs: Os vídeos do youtube são no formato FLV. Para assistir depois de baixados, você precisa de um player de flv. Acesse o superdownloads ou baixaki e busque um gratuito que nestes sites tem várias opções.

Depois de baixado somente renomear, colocando .flv no final do nome do video.

Nathalie Cardone - Che Guevara

Eutanásia: um desafio para a Bioética, como reivindicação de direito no Estado

Adital

Com o intuito de refletir a "Eutanásia" e o "Suicídio Assistido", o filme "Mar Adentro", de Alejandro Amenábar e Javier Bardem, pode nos auxiliar ao trazer para a Bioética a reflexão sobre a propriedade da vida, a condição de sujeito e a autonomia do indivíduo como características primordiais da compreensão moderna. Passemos a um breve esclarecimento etimológico do termo eutanásia.

Conceito: eutanásia

A palavra eutanásia foi criada no século XVII, pelo filósofo inglês Francis Bacon. Na sua etimologia estão duas palavras gregas - ευ "bom" e θάνατος equivalente a "morte". Em sentido literal, ευθανασία - eutanásia significa "boa morte", "morte apropriada", "morte tranqüila".

Contemporaneamente, o termo eutanásia passou a designar a morte deliberadamente causada a uma pessoa que sofre de enfermidade incurável ou muito penosa, para suprimir a agonia demasiado longa e dolorosa, do chamado paciente terminal. O seu sentido ampliou-se passando a abranger o suicídio, o suicídio assistido, etc.

A eutanásia leva à discussão sobre o direito de uma pessoa por fim à própria vida, valendo-se de outra pessoa. Podemos indagar se haveria apenas uma faculdade, ou um direito juridicamente tutelado, isto é, que possa ser coercitivamente exigido. No mundo jurídico, se alguém tem um direito, pode socorrer-se do processo, para fazê-lo valer. Para que uma pessoa que não consegue por seus próprios meios extinguir a própria vida possa ter concretizado o seu intento, outra precisa ter o dever de realizá-lo.

Surge, então, a questão: a quem caberia realizar essa ação destinada a eliminar o sofrimento de um doente, causando sua morte? Na concepção de Bacon, que cunhou o termo eutanásia, seria dever do médico acalmar os sofrimentos e as dores, mesmo quando esse alívio sirva para trazer uma morte doce e tranqüila.

A posição do filósofo inglês representa uma quebra na ética médica baseada na tradição hipocrática, que impõe ao médico o dever de proteger e preservar a vida humana. Ao se aceitar a eutanásia como ato médico, os médicos e outros profissionais terão também a tarefa de causar a morte. Até hoje, os médicos juram abster-se de toda ação ou omissão, com intenção direta e deliberada de por fim a uma vida humana.


Uma abordagem do filme "Mar Adentro" à luz de algumas tendências da Bioética

A vida humana é tida no seu todo como um bem fundamental e o filme trabalha bem duas características fundamentais da existência humana: a racional e a emocional. Lançado em contexto europeu, na Espanha, no ano 2004, trata-se de um drama com duração de 125 minutos. Foi vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Ramón Sampedro é um personagem que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com as Leis do Estado, com a igreja, com a sociedade e até mesmo com os seus familiares.

Em sua situação fica evidente o que Maria do Céu Patrão Neves menciona como alguns paradigmas ou tendências da Bioética (1): o mais nítido é o Principialismo, sobressaindo o princípio da autonomia, expresso pelo ator principal Ramón Sampedro. O vínculo desse paradigma se dá, em parte, com o do Liberalismo, que coloca o indivíduo como ponto de partida numa atitude de não comprometimento com o outro.

Não menos nítida é a tendência Personalista da Bioética na inserção e cuidados de toda a família se envolvendo, ao ajudar, doando a própria vida, no intuito de gerar bem-estar ao ente-querido tetraplégico. Ou pode-se considerar o princípio da beneficência, do Principialismo? Não importa, a família vivia e estava disposta a viver, em função do "enfermo" como revelava o irmão mais velho. O pai sente-se transtornado e resignado com a decisão do filho; no entanto, respeita. A cunhada de Ramón, Manuela, e o sobrinho, Javi, não medem esforços para que tudo ocorra no tempo certo.

Outros paradigmas são perceptíveis na presença infeliz do religioso, jesuíta, ao abordar friamente a questão. Sua participação se dá de maneira, maldosamente exposta pelo diretor do filme, para expressar o posicionamento da Igreja: a declaração do padre, feita na TV, é um caso típico da tendência Casuística, e o que seria para tornar um encontro reservado aos dois tetraplégicos, Ramón e o padre, trouxe um distanciamento ainda maior dado aos debates entre teorias frias (religiosa/tomista e laica com tendência ateísta), quando na verdade exigia outro comportamento.

Percebe-se a presença do paradigma Científico, como no caso do Direito, vivido pela personagem Júlia, ao acompanhar o caso. Pode-se perguntar: teria Júlia, com mescla de profissionalismo e sentimentos amorosos, dado a Ramón alguma esperança? O que se sabe é que a doença degenerativa dela não retardou a agravar-se.

Também a presença do paradigma Libertador é notável, no qual a partir do diálogo franco com a personagem Rosa, Ramón vai fazendo-a encarar a vida de modo diferente. Isto nos leva a pensar numa perspectiva Feminista, ou seja, na sinceridade mútua do diálogo, Rosa descobre valores profundos que é capaz de fazer até mesmo o que antes não estava disposta. Faz pelo amor desinteressado que descobriu.

Bioética, Legislação e Autonomia dos Indivíduos

Diante de várias tendências, retrato da diversidade ou pluralidade de pensamentos do nosso tempo, a Bioética sente-se desafiada a ser uma ciência interdisciplinar que abarca a todas, com responsabilidade e neutralidade, sem pretensas verdades ou falácias e imposições, mas por consenso, um parecer razoável e eficaz para o momento e o contexto. Ela é chamada a auxiliar nas decisões que envolvem os diversos interesses. No filme estão os interesses de Ramón (como indivíduo em estado lúcido), da família, dos amigos, da Igreja e do Estado.

Convém deixar claro o paradoxo do Estado laico moderno que prega a emancipação do indivíduo, mas que determina por sua Lei a situação desses mesmos indivíduos. Pertencer ao Estado laico não significa poder exercer a autonomia e a liberdade em extremos. Então poderia perguntar: até onde vai a autonomia do sujeito? Seria ela limitada pelo direito? De qual país? Ou a reflexão Ética e Bioética estão atreladas à concepção de direito? Seria neste caso as leis estatais uma imposição à reflexão ética? A ética seria refletida, mas limitada às jurisprudências nacionais? À essa diversidade cultural Engelhardt propõe a reflexão dos "estranhos morais" (2), e sobre as situações a Bioética tende a lançar luz, sem eximir os aspectos normativos e legais.

Também as normas religiosas e de outras instituições presentes na sociedade são condicionantes. Neste caso, onde fica, de fato, a liberdade da pessoa? Talvez na clandestinidade, onde Ramón encontrou o seu subterfúgio, resolvendo o seu problema e deixando a estrutura persistir. Contudo sua atitude serve para questioná-la. A dignidade, termo cristão, estava para Ramón em exercer sua liberdade humana, enquanto no "discurso cristão" (3) está em "viver bem" não obstante às circunstâncias.


Notas:

(1) Filme MAR ADENTRO; AMENÁBAR, Alejandro e BARDEM, Javier; Espanha; 2004; 125 min. NEVES; Maria do Céu Patrão; A Fundamentação Antropológica da Bioética; http://www.portalmedico.org.br/revista/bio1v4/fundament.html
(2) NGELHARDT Jr. H. Tristram; Fundamentos da Bioética; são Paulo: Loyola; 2004.
(3) LEPARGNEUR, Hubert; "Dignidade... Alma secreta da Bioética?"; In. GARRAFA, Volnei; PESSINI, Leo; Bioética: Poder e Injustiça; São Paulo: Loyola; 2003; p. 481-486.


* Presbítero da Diocese de Colatina. Mestrando pelo Centro Universitário São Camilo
Uma de cada quatro adolescentes já foi vítima de abuso sexual
Adital


No trabalho, na escola, na universidade, nas ruas, as mulheres são vítimas de agressões, abusos sexuais, perseguições e intimidações. E também no espaço da publicidade, da televisão e no cinema, elas são vítimas de violência ao serem estereotipadas. Para a Rede Chilena contra a Violência Doméstica e Sexual, que promove hoje (26) a instalação de um Memorial às Mulheres vítimas de Feminicídio no Chile (2001-2007), celebrando o início à campanha "Cuidado! O Machismo Mata", essa realidade "é parte do contínuo de violência que afeta transversalmente às mulheres e que, em sua forma mais extrema termina no assassinato de muitas".

Dados analisados em 2000 mostraram que mais de 7% das mulheres maiores de 18 anos sofreram uma violação no Chile e em quase metade dos casos, a violação foi a iniciação sexual dessas mulheres. O abuso sexual infantil em menores de 13 anos é cometido em 80% contra meninas. Levantamento feito em 2001, mostrou que uma de cada quatro adolescentes já havia sido vítima de uma experiência de abuso sexual. O ciclo de violência se torna vicioso: também em 2001, um levantamento detectou que 42,7% das mulheres, que sofrem violência de seus parceiros, foram abusadas sexualmente antes dos 15 anos. Um terço delas sofreu violência sexual após serem agredidas fisicamente.

A legislação do Chile trata esses crimes contra as mulheres e meninas como "delitos contra a ordem da família e a moralidade pública" e não como delitos contra as pessoas. Quando o incesto, o abuso sexual de meninas dentro e fora da família, a violação, o maltrato físico e emocional, o assédio sexual, são, na verdade parte da violência presente na vida das mulheres e formas de violência que muitas vezes terminam em crimes de feminicídio.

Em 1994, o Estado chileno promulgou a Lei 19.325, que determinava as normas sobre o procedimento e as sanções relativos à violência intra-famililar". Mas a Lei tinha limitações ao considerar que a violência no espaço doméstico era uma falta simples, de menor relevância. Esse menosprezo favorecia a impunidade e a falta de proteção adequada para as mulheres afetadas. Em 2005, a Lei 20.066 foi adotada, ela tem por objeto prevenir, sancionar, erradicar a violência intra-familiar e proteger às vítimas.

Entre os avanços da nova Lei, a Rede Chilena destaca a tipificação do delito de maltrato e a obrigatoriedade dos órgãos responsáveis de adotar medidas de segurança que garantam a vida e integridade das mulheres. A Lei 20.066 determina que: é obrigação do ofensor abandonar a lar que compartilha com a vítima; o agressor também fica proibido de aproximar-se da vítima ou de seu domicílio, lugar de trabalho ou de estudo. Caso eles trabalhem ou estudem no mesmo lugar, o empregador e o diretor ficaram responsáveis por tomar as medidas necessárias.

A Rede contra Violência disse que "só uma aplicação adequada da Lei pode sancionar os agressores e dar efetiva proteção às mulheres vítimas de violência"; e criticou o fato de a Lei impedir que as denúncias de agressão sejam feitas diretamente ao Ministério Público, exigindo que um Tribunal de Família qualifique previamente o fato. Nos outros delitos essa medida não é necessária e tornou um obstáculo no acesso à justiça para as mulheres. Além disso, faltam fiscais especializados para tratar dos casos de violência intra-familiar.

A quem serve o controle da internet


Fabricio Solagna*

Em tempos que qualquer regulamentação da mídia produz ondas de discursos inflamados e vocíferos em nome da liberdade individual de expressão, a proposta de tipificação e punição de crimes digitais, apresentado pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB/MG), revela que a legislação sobre comunicação e telecomunicação tende a privilegiar interesses econômicos em detrimento do bem público. O Substitutivo ao Projeto de Lei 89/2003 que tem passado por críticas desde meados do ano passado, suscita interpretações lacônicas e até inquisitórias e, de fato, pouco ajuda na segurança da Internet.


A internet no Brasil começou a ser experimetada no final dos anos 90, talvez uma década depois de outros países do norte, e hoje apresenta um patamar de exclusão de 2/3 da população no país. Em se tratando de banda larga, a parcela privilegiada fica em torno de 10%. Contraditoriamente, uso de celulares ultrapassa 80 milhões, telefone fixo, perto de 50 milhões e, como índice já famigerado, a televisão chega a 91% dos lares brasileiros. Qual relação entre todos estes meios? Cada vez mais tornam-se digitalizados, ondas são substituídos por bits, frequência é substituída por pacote de dados. Cada vez mais os meios estão permeados por protocolos de comunicação convergentes, utilizando a mesma forma de se comunicar que a internet.


Utilizar protocolos descentralizados, mantendo uma hierarquia de rede e roteamento, talvez tenha representando um paradigma para a telemática a partir dos anos 70. A segurança, sem dúvida, é tema de extrema importância para uma sociedade cada vez mais mediada pelas redes, ou no jargão castelliano, uma Sociedade em Rede. Porém, criar crimes sem antes estabelecer os limites e as regras da rede pode favorecer os que dela podem tirar mais proveito.

Cadastrar para culpar

Nesse sentido o projeto tucano que pretende “contribuir” para o debate sobre crimes na internet parece mais tirar o foco dos grandes problemas para tentar solucionar encalços de outros. Inicialmente, apresentou uma proposta de “cadastramento” dos usuários, como forma de coibir atividades ilícitas na rede. Segundo o Senador Eduardo Azeredo, seria uma medida que de alguma forma já está sendo executada, já “que o provedor de acesso precisa ter os dados do cliente para cobrança” (1). Porém, é uma medida que algumas Lan Houses e Cyber Cafés também estão tomando em virtude de legislações municipais. O que não se conseguiu explicar é como essa medida iria realmente dificultar atos ilícitos na internet.


A identificação de cada sistema computacional na internet se dá através do endereço de IP (Internet Protocol), como se fosse uma carteira de identidade. Porém, técnicas de mascaramento desta identidade são acessíveis a qualquer usuário mais curioso que tenha acesso a um buscador como o Google. Ou seja, o cadastramento pode dificultar muito mais políticas de inclusão digital, do que oferecer mais transparência a rede, na medida que todo telecentro, mesmo em regiões mais afastadas, teriam que efetuar o cadastramento dos usuários para que não fosse enquadrados nos rigores da lei da vigilância segura. Cabe perguntar aqui, de uma perspectiva técnica, como obter o registro de usuários em redes de sub-camadas, como acontece em provedores pequenos, ou em redes domésticas, onde um mesmo IP válido é subdividido em diversos outros? Ou ainda, como a lei poderia ser útil no caso de nuvens de cobertura wireless ad-hoc, onde cada sistema computacional é receptor e transmissor ao mesmo tempo? Ou seja, há muito mais vida na internet além das conexões domésticas que o Senador possa imaginar.


Ares policialescos

Ainda que tenha recuado desse ponto, deixando-o de maneira secundária, outros aspectos são mais preocupantes. No artigo 21, inciso V, versa que o provedor deve "Informar, de maneira sigilosa, à autoridade policial competente, denúncia da qual tenha tomado conhecimento e que contenha indícios de conduta delituosa na rede de computadores sob sua responsabilidade." Confere assim, um teor policialesco ao prestador de serviço de internet, que fica com o poder de vigiar seus clientes

Mais que a arbitrariedade do julgo da “conduta delituosa” o teor do artigo releva um desconhecimento técnico ou, então, complacência com um tipo de conduta que já vem sendo detectado no tratamento dos pacotes da rede. O protocolo de comunicação da internet é dividido em partes interdependentes, sendo que a camada de transporte (camada 4) não precisa necessariamente saber o que passa pela camada de rede (camada 3) e muito menos pela camada de aplicação (camada 6). Por esse motivo é possível que vários dispositivos possam se intercomunicar, vários sistemas operacionais possam estabelecer conexões, etc... por esse motivo que o provedor não precisa saber que tipo de sistema operacional eu utilizo, nem que tipo de navegador, nem que tipo de dados estou trafegando, isso que garante a privacidade da rede, dos dados trafegados nela. A não necessidade de saber o conteúdo dos pacotes não significa que não possam ser identificados, e isso pode estar criando bolsões de privilégios dentro da rede que deveria ser homogênea.

Aproveitando-se da falta de regulamentação no setor, muitas operadoras tem aproveitado para “priorizar” alguns pacotes em relação a outros, ou ainda, simplesmente barrar outros que não seja desejáveis. A internet é muito mais que a web, o protocolo HTTP que permite que possamos navegar em páginas gráficas. Nela é possível trafegar voz e assim ter telefonia digitalizada (voip – voz sobre IP), é possível estabelecer redes não hierárquica de compartilhamento de dados (redes torrentes), efetuar podcasts e streaming de vídeo, enfim, uma diversidade de serviços que vão muito além do usual serviço de navegação.

Porém, poderia haver algum interesse de uma operadora de telefonia que oferece serviço de banda larga bloquear pacotes de voip? Com certeza, pois é receita a menos no seu faturamento. E isso já é prática. Operadoras como a NET e Brasil Telecom são alvo de críticas de traffic shaping (priorização ou bloqueio de pacotes) conforme o Abusar (Associação Brasileira dos Usuários de Acesso Rápido). Casos como da Brasil Telecom ainda são mais caricatos pois seu nome consta na lista de clientes da Naurus, que vende um tipo de software de identificação de pacotes (2).

Nesse sentido que Demi Getschko prega “neutralidade da rede” como elemento fundamental para a democracia na internet. Demi, que é o pai da internet no Brasil, também gosta de citar Carlos Afonso que profetiza: “todos os pacotes são iguais perante a rede” (3).

Os EUA também tem passado por esse debate, sendo que as operadoras como AT&T já ventilam a possibilidade de priorizar velocidade para “clientes” preferenciais. Ou seja, além de pagar a banda da conexão, será necessário ser um cliente “cativo”. Além disso, protocolos menos interessantes vão ficar para o fim da fila, quando não forem desconsiderados. A pergunta é, Eduardo Azeredo chegou a pensar nisso quando fez o artigo 21? Ou a lei vai servir de pretexto para que as operadores, provedores, também controlem o conteúdo dos pacotes?


Prender primeiro, perguntar depois


Mas nada mais preocupante que o artigo 163-A e 339-A. O primeiro torna passível de pena a entidade civil responsável pela conexão que propiciar a distribuição de “código malicioso ou vírus” e, se considerado culpado, sujeito a pena de até 5 anos de prisão.O segundo, criminaliza atividades de "acessar rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida" e "obter dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado sem autorização do legítimo titular", com pena de reclusão e detenção de 2 a 4 anos.


No primeiro caso, parece ser de desconhecimento do Senador que spywares, vírus, malwares, na maioria das vezes, agem por irradiação, infectando, em poucas horas, milhares de computadores a partir de um disparo de código. Assim, diversos nós da rede servem como zumbis para a propagação do código sem o consentimento ativo operador. Culpá-lo por não possuir ferramentas de segurança e anti-vírus não é a atestabilidade de confiança no sistema.


O artigo 339, traz preocupações no que tange a gerenciamento de direitos autorais, como DRMs, ou ainda, casos mais simples, mas não em menos desacordo com a lei como a instalação de cookies de páginas da internet, e ferramentas de controle de autenticidade de cópia de softwares, que funcionam sem o consentimento do usuário.


Talvez seja de tamanho desconhecimento como essas tecnologias trabalham, que recentemente um site de notícias observou que o próprio site do Senador está em desacordo com usa lei, pois ao acessá-lo, alguns cookies são descarregados no computador do visitante, sem seu consentimento. (4)

Os interesses acima de tudo


Mas talvez algumas indagações possam ser compreendidas quando se percebe que lado tomam os atores em retaliação ou defesa do projeto. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e a Abecs (Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) desde o início militam em favor de uma lei para “ajudar” no combate a fraudes contra o sistema financeiro.


Segundo a própria Febraban, só no ano passado, foram mais de 300 milhões de reais em golpes, mas, pelo que informa o Dieese, os lucros das casas financeiras ultrapassaram os R$ 18 bilhões. Ou seja, em função de pouco mais de 1,5% do faturamento dos bancos, uma lei pode alterar toda a maneira legal como a informação digital é tratada. Não em nome da segurança, mas em função da dificuldade de alguns setores oferecer serviços seguros.


Azeredo, que já afirmou verbalmente que os advogados da associação dos bancos o ajudaram “cordialmente” na elaboração do projeto, parece não deixar dúvidas a quem o seu projeto serve, ainda que ninguém consiga mensurar sua relevância na transparência e segurança do uso da internet. Por pouco não foi votado no início do mês, e, depois de oito pareceres da Comissão de Constituição e Justiça, muito provavelmente volte a pauta em agosto.

Agosto, que já protagonizou capítulos tristes da história brasileira, ganharia por findar sem os arbítrios obscuros em nome da segurança de alguns, mesmo que em detrimento do todo.

Fontes:

(1) http://video.google.com/videoplay?docid=3531278281490980460&q=eduardo+azeredo
(2) http://www.lainsignia.org/2006/octubre/cyt_001.htm
(3) http://www.cgi.br/publicacoes/artigos/artigo43.htm
(4) http://tecnologia.uol.com.br/ultnot/2007/05/22/ult4213u97.jhtm

Acompanhe as notícias e os pareceres sobre o projeto:
http://safernet.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/PLSEduardoAzeredo




*Fabricio Solagna, é graduando de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é da direção nacional da União da Juventude Socialista (UJS) e participa da Associação Software Livre - RS.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Carta aos Mortos



Amigos, nada mudou em essência.
Os salários mal dão para os gastos, as guerras não terminaram e há vírus novos e terríveis, embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade, e como sempre, mulheres portentosas nos seduzem com suas bocas e pernas, mas em matéria de amor não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço seis meses ou mais, testando a engrenagem e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto com a modernidade.
Reencenamos as mesmas tragédias gregas, relemos o Quixote, e a primavera chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos, rios e florestas se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada ou toma a fresca da tarde, mas temos máquinas velocíssimas que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento dos dinossauros e a formação das galáxias não avançamos nada. Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam, países se dividem e as formigas e abelhas continuam fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou em essência.
Cantamos parabéns nas festas, discutimos futebol na esquina morremos em estúpidos desastres e volta e meia um de nós olha o céu quando estrelado com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente, continua a achar que vive no ápice da história.

Affonso Romano de Sant'anna - AmigosDoFreud
Balzac e o amor

Leandro Konder


Papai Balzac já dizia, / Paris inteira repetia, / Balzac tirou na pinta: / Mulher só depois dos trinta. (Nássara e Wilson Batista)

Honoré de Balzac nasceu em Tours, em 1799. Seu pai, Bernard-François, ao casar com sua mãe, tinha 51 anos. Ela se chamava Laure e tinha 18. Sua tarefa consistia em educar os filhos, impondo-lhes punições. Honoré era o filho mais velho, indisciplinado, mau aluno, ficou marcado pela frieza da mãe. O sentimento de rejeição por parte da mãe e a necessidade de se sentir amado e protegido levaram-no a se apaixonar por madame de Berny, que era 25 anos mais velha do que ele.

Ela foi a primeira de uma lista cujos nomes principais são Zulma Carraud, a marquesa de Castries, a condessa Visconti, a duquesa de Abrantes. Nos últimos anos de vida, Balzac se apaixonou por uma mulher polonesa, a condessa Eveline Hanska, que, durante anos, nem conhecia pessoalmente (só através de cartas). E permaneceu fiel a ela, até se casarem.

Honoré de Balzac não era bonito nem elegante. Nos ambientes mais sofisticados, seus modos eram considerados vulgares. Sua conversa, segundo George Sand, era “agradável, mas um pouco cansativa”. Não era considerado um modelo de virtudes. Seus escritos contêm indícios de frivolidades. Curiosamente, algumas dessas frivolidades agradavam aos leitores. No artigo “Teoria do andar”, por exemplo, o escritor explicava que as moças sérias, ao caminhar, movimentam as pernas e os pés formando linhas retas, ao passo que aquelas que já conhecem os prazeres interditos fazem, ao andar, deliciosos movimentos arredondados.

Sabia-se, além disso, que o jovem autor plantava nos jornais artigos nos quais, com pseudônimo, elogiava os escritos publicados em seu nome. E também se sabia que ele fazia trapalhadas com o dinheiro que conseguia obter. Os leitores, contudo, não se escandalizavam; aceitavam-no tal como era, porque tinha um talento que reconheciam como o de um narrador genial.

A curiosidade de Balzac era inesgotável. Ele se interessava ecleticamente por pseudociências, como a “ fisiognomonia” (revelação do caráter pela fisionomia), a “frenologia” (revelação da personalidade pelo formato dos ossos do crânio) e o “mesmerismo” (efeitos curativos da energia transmitida pela ponta dos dedos). Também se interessava pela utopia socialista de Fourier, relembrada em outro capítulo deste livro.

Num dado momento, em 1938, Balzac escreveu: “só tenho certeza da minha coragem de leão e do meu trabalho invencível”. De fato, o projeto de trabalho que ele se propunha a realizar exigia uma coragem de leão. O conjunto dos seus escritos de ficção — que só em 1842 veio a ser intitulado A Comédia Humana — previa 137 romances, contos e novelas. Ao longo dos volumes da Comédia Humana, Balzac concluiu a redação de 86. Para chegar às 86, foi necessária uma enorme paixão. E, como dizia o próprio Balzac, “as grandes paixões são raras como as obras-primas”.

Balzac disse uma vez que fazia concorrência ao Registro Civil. Povoou a Comédia Humana com cerca de 2.500 a 3.000 personagens. E mais de 500 deles reapareciam. O público leitor adorou. A identificação do autor com os personagens era tão grande que nunca precisou recorrer a algum catálogo para evitar confusões. Não era necessário: o romancista, por assim dizer, conhecia pessoalmente todo mundo.

Balzac era, notoriamente um conservador. É famosa a sua frase: “Escrevo à luz de duas verdades sagradas e eternas, a Religião e a Monarquia”. Marx e Engels não se deixaram impressionar pela declaração e disseram que aprendiam mais com ele do que com os cientistas sociais, com os filósofos e os economistas do seu tempo. O conservador Balzac mostrava com imensa clareza a invasão dos sentimentos íntimos das pessoas pelo dinheiro. E apontava as consequências da dissolução das famílias pelo individualismo.

Em Ursula Mirouet, há um momento em que o jovem visconde Savinien de Portenduere, noivo de Ursula, é preso em Paris por dívidas, e, para desespero de sua mãe, não é ajudado por ninguém da família. Explica o significado da omissão: “Não há mais família hoje em dia, minha mãe. Há somente indivíduos”.

No Pai Goriot, o personagem que dá título ao volume vive numa pensão ordinária, depois de ter gasto toda a sua fortuna no dote de suas duas filhas, assegurando a ascensão social de ambas. E morre na solidão, porque as duas moças não podiam perder uma festa que lhes dava oportunidade de aparecer em sociedade.

A família vai sendo minada pelo descrédito, tanto vertical como horizontalmente: pais e filhos se estranham, irmãos ignoram irmãos. Em Ilusões Perdidas, o velho Sechard é um avarento inesquecível, que explora todo mundo, alegando sempre que precisava arrancar o dinheiro dos outros para ajudar seu filho, o poeta David. Quando David lhe comunica que vai se casar, o velho avarento, que nunca ajudou ninguém, que não sabe renunciar ao lucro, explora o próprio filho, fazendo-o assinar promissórias que o comprometem pelo resto da vida.

Com o descrédito da família, o casamento também passa a sofrer de um crescente desprestígio. O personagem Henri de Marsay, sabendo que seu amigo Paul de Manerville ia se casar, tentou argumentar contra a decisão: “Quem se casa, atualmente? Comerciantes, no interesse do seu capital. Camponeses, para serem dois a empurrar o arado. Agentes de câmbio ou tabeliões, que são obrigados a pagar pelo cargo. E reis infelizes, para continuar dinastias desgraçadas”. E, quando Paul de Manerville fala em amor, o outro o adverte: “O amor é apenas uma crença, como a da imaculada Concepção da Santa Virgem”.

Julie d’Aiglemont, protagonista de A Mulher de 30 Anos, desabafa para um padre: “Nós, as mulheres, somos mais maltratadas pela civilização do que pela natureza”. “Tal como hoje existe, na prática, o casamento me parece ser uma prostituição legal”. E Rastignac, em A Casa Nucingen, explica a Malvina, filha do Barão Aldrigge, que “o casamento é uma associação comercial para salvar a vida”.

É interessante notar que a defesa das mulheres e a crítica ao casamento revelam alguns pontos importantes de afinidades entre o socialista Fourier, já relembrado neste livro, e o conservador Balzac. De fato, Balzac achava graça nos “fourieristas”, divertia-se às custas deles (como se pode ver em Os comediantes sem o saber), porém aproveitava idéias de Fourier contra a burguesia, classe que ele considerava destituída de grandeza.

A burguesia provocou uma comercialização generalizada da vida. Os pequenos-burgueses podem ser artesãos da malandragem, como o moleque Gaudissart, vendedor mentiroso, que impingiu um véu a uma compradora inglesa, informando que ele tinha pertencido à imperatriz Josefina, mulher de Napoleão (O Ilustre Gaudissart e Gaudissart II). Mas a transformação, mesmo, se consuma por obra dos “pesos pesados” da burguesia: os proprietários dos grandes meios de produção, os grandes industriais e os banqueiros.

Em Melmoth Apaziguado, há uma referência aos “corsários que enfeitamos com o nome de banqueiros”. E Balzac deixa clara sua convicção de que, “desde 1815, o princípio da honra foi substituído pelo princípio do dinheiro”. O ano é sintomático: em 1815, viu-se o fim da era napoleônica e o início da restauração monárquica. Mas Balzac viu mais: viu a burguesia desencadeando a ofensiva que viria a produzir efeitos profundos na sociedade.

Balzac criou, então, seus personagens banqueiros, como Nucingen, o barão Aldrigge e Gobseck. Segundo Paulo Ronai, Gobseck vai além da avareza instintiva e tem toda uma filosofia da usura, baseada na onipotência do dinheiro. “Gobseck é o avarento desenvolvido pela sociedade capitalista”.

Gobseck ensina ao jovem advogado Derville: “Em toda parte está estabelecido o combate entre o pobre e o rico; em toda parte ele é inevitável. Então, vale mais a pena ser explorador do que explorado”.

Entre os exploradores, a competição é brutal, porém há pontos de consenso: não se deve remexer muito no passado. Em A Estalagem Vermelha, o noivo de Victorine Taillefer consulta amigos durante um almoço: seu possível futuro sogro teria roubado cem mil francos em ouro e diamantes, teria assassinado a vítima e escapado, deixando que um amigo fosse preso, condendo e executado pelo crime. Pergunta se deve apurar o que efetivamente aconteceu. E um amigo advogado protesta: “Onde estaríamos todos se fosse preciso pesquisar a origem das fortunas?”.

Balzac queria enriquecer, ganhou muito dinheiro, mas gastava demais e fazia maus negócios. Em determinada ocasião, escreveu numa carta para a condessa Hanska (com quem, afinal, se casou, em 1850) : “estou chegando ao extremo da minha resignação. Acho que vou deixar a França e levar minha carcaça para o Brasil, em algum empreendimento maluco” (3-7-1840). Sua resignação, contudo, era maior do que ele pensava. Continuou vivendo na França, viajando, trabalhando, escrevendo. Compondo personagens.

Muitos críticos já observaram que ele era um mestre na composição de personagens femininos. As mulheres que povoam os livros de Balzac são, muitas vezes, criaturas fascinantes. O romancista enxerga nelas a valente reação contra a subordinação da vida amorosa a motivações utilitárias, a critérios mercenários. O amor — o sentimento nobre por excelência — só consegue espaço, na sociedade burguesa, assumindo formas mais ou menos degradadas. As figuras de mulheres frágeis mas corajosas criadas por Balzac não se conformam com isso.

Honorine prefere morrer a continuar casada com Octave de Bauvan, que, no entanto, é considerado um marido razoável. Veronique se casa com o velho banqueiro Graslin, que só estava de fato interessado no seu dote; ela, então, se apaixona pelo operário Tascheron. Os dois querem ir para a América, porém não têm dinheiro. Tascheron tenta fazer um assalto, mas, por acidente, mata uma pessoa. É preso, condenado e executado. Veronique, arrependida, resolve se peniternciar, ajudando quem precisava. Sua generosidade a embeleza e ela se torna linda, “digna do pincel de Rafael”, nas palavras de Balzac (Honorine).

A mais fascinante de todas é, provavelmente, a personagem Valerie Marneffe, de A Prima Bette. Valerie é casada com um funcionário doente e devasso, que a usa para conseguir promoções no seu emprego. Mas ela, decididamente não é uma marionete nas mãos do marido. Com seu notável talento como sedutora, ela tem quatro amantes secretos e lhes comunica que está grávida, Assegura a cada um dos quatro que é ele o pai da criança. Todos acreditam.

Valerie tem numerosos e poderosos inimigos. A polpuda mesada que recebe do banqueiro Crevel, seu amante, não lhe garante uma proteção perfeita (nem ela queria ser controlada). Os contatos que o Barão Hulot (outro amante) tem com pessoas influentes nesse caso não servem para nada. Mas Valerie tem um terceiro amante, suficientemente tolo para que os inimigos dela pensem em se aproveitar dele: o fazendeiro brasileiro Montes de Montejanos (sic), moreno, muito bonito, proprietário de uma fazenda com mais de cem escravos, no interior de São Paulo.

Sabendo que Valerie estava com seu quarto amante (o escultor polonês Wencslas Steinbock) num hotel, os inimigos da moça convenceram o brasileiro a acompanhá-los, subornaram os serventes do hotel, abriram a porta, invadiram o ninho de amor e puseram na mão do “selvagem” uma pistola, para que ele cometesse um crime passional. Era uma armadilha perfeita, não podia falhar. Mas falhou.

Valerie interpelou o brasileiro antes que ele falasse e lhe fez várias acusações. Acusou-o de não amá-la, de não confiar nela, de lhe pregar mentiras, etc. Depois, fez um gesto para o polonês e ele lhe trouxe o manteau, que ela vestiu e saiu, com seu porte de rainha, deixando todos perplexos.

A maior visibilidade da influência de Balzac, entretanto, não lhe veio de Valerie (de A Prima Bette), mas de Julie d’Aiglemont, a protagonista de A Mulher de 30 Anos. Julie é casada com o coronel Victor e é amante de Charles Vandenesse, com quem tem vários filhos. Quando uma filha resolve se casar com um integrante da família Vandenesse, Julie se opõe tão veementemente que engasga e morre. Essa morte grotesca reabre a questão da liberdade feminina: o que uma mulher tem o direito de fazer, em qualquer idade?

Devemos lembrar que, na época, as mulheres casavam cedo, uma moça com mais de 25 anos era considerada “encalhada”. Foi Balzac que, na literatura, consagrou a mulher de trinta anos, a “balzaquiana”. Numa cena de sedução, ele chega a chamar a atenção dos leitores para os encantos de Diana de Uxelles, duquesa de Montfrigneuse, princesa de Cadignan, uma quarentona que lia muito durante o dia para à noite puxar assunto com o escritor D'Arthez, um intelectual tímido por quem ela estava apaixonada. E a quem ela indaga, com toda a candura: “Encaminho-me para os quarenta anos. É possível amar uma mulher tão velha?”.


Leandro Konder é filósofo e autor de numerosa obra. Este texto é um capítulo do seu mais recente livro, Sobre o amor (Boitempo, 2007). Também publicado em La Insignia.

Bush corrige a pontaria (4): o Irã



Luiz Eça

“Damos aos governantes do Irã dois meses para cessarem todo tipo de apoio ao governo xiita do Iraque… Do contrário, uma severa guerra os espera”.

- Abu Omar al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico no Iraque, grupo ligado à Al-Qaeda.

A nova política externa dos Estados Unidos no Oriente Médio pouco alterou o relacionamento com o Irã, que já era há anos considerado o inimigo número um. O que há de diferente é que a Casa Branca passou a financiar grupos terroristas sunitas em solo iraniano. Mais exatamente,o Jundulá, cujo líder, Abdel Malik Regi, é descrito por Aléxis Debat, expert em contraterrorismo do Nixon Center: “ele é parte traficante, parte talibã, parte ativista sunita”.

Estabelecido além da fronteira com o Paquistão, o Jundulá promove atentados na região norte do Irã, o Baluquistão, matando soldados iranianos e também civis como ocorrido em Zabedã em 14 de fevereiro, quando morreram 18 passageiros de um ônibus. Formado por membros da etnia baluchi, o Jundulá recebe fundos da CIA, conforme contou anonimamente ao jornal londrino Sunday Telegraph um ex- agente sênior da “companhia”. Financiando o terrorismo baluchi, o governo Bush visa desestabilizar o governo de uma região suscetível a apelos separatistas para criar condições favoráveis à invasão do Irã.

Que a opção militar é inevitável, poucos duvidam. Desde 2005 sabe-se, através de reportagens não desmentidas oficialmente, que a Casa Branca já tem prontos planos detalhados para o ataque. E, segundo Vincent Cannistraro, ex-diretor da CIA e do Conselho Nacional de Segurança, tropas especiais americanas disfarçadas já estão em território iraniano identificando possíveis alvos.

Por seu turno, Israel, diz o Times de Londres, já completou seus planos para destruir por ataques aéreos e terrestres as instalações nucleares do Irã.

As justificações da Casa Branca também já estão prontas. Altas autoridades vêm repetindo exaustivamente que o Irã fornece armas para os rebeldes sunitas matarem “our boys”. O Senado endossou essas acusações, até agora não provadas, em resolução - o que vale por uma verdadeira declaração de guerra. Absurdo, pois sendo o Irã ardentemente xiita, jamais auxiliaria os sunitas iraquianos, que promovem diariamente atentados contra a população xiita do país.

Outro “casus belli” elaborado pela propaganda americana é a recusa do governo Ahmadinejad em interromper seu programa atômico. Parece contraditório se lembrarmos que Bush vem revitalizando a infra-estrutura nuclear americana através do Nuclear Posture Review, com a colaboração do Congresso que, em junho de 2004, aprovou a continuação das pesquisas de mini-bombas nucleares.

Para a Casa Branca, é diferente. Os Estados Unidos - um país confiável, sério - jamais usaria armas atômicas senão em último caso. Já o Irã seria um “rogue state”, expressão que designa país que patrocina o terrorismo, desenvolve armas atômicas e bacteriológicas e ameaça, enfim, a ordem internacional.

Ora, o Irã não se enquadra em nenhuma destas acusações. Sequer está provado que seu programa atômico tenha objetivos militares.

Já os Estados Unidos, além de continuar desenvolvendo seus recursos nucleares para a guerra, apóia terroristas sunitas no Líbano – o Fatá al-Islam - e no Irã – o Jundulá. Usou armas químicas na invasão do Iraque e no cerco da cidade de Faluja e, ainda de quebra, entre 1945 e 2005 tentou derrubar mais de quarenta governos estrangeiros (de acordo com William Blum em Rogue State: A Guide to the World's Only Superpower).

Para os povos dos cinco principais países europeus – Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha –, os Estados Unidos é que são “rogue states”. Em recente pesquisa, eles foram escolhidos como o país que mais ameaça a paz mundial, recebendo 32% dos votos, o dobro do Irã, com 16,8%.

Na verdade, as motivações americanas são outras. O país depende cada vez mais das importações de petróleo. O consumo cresce desmesuradamente: de 19,7 milhões de barris por dia, em 2002, para 26,7 milhões previstos para 2020. As reservas são insuficientes – em quatro anos deverão se esgotar. Ora, o Oriente Médio responde por 68% das exportações mundiais e o Irã é o quarto no mundo. Ele é importante, não só pela sua produção, mas também pela sua influência na região, que lhe daria condições de paralisar o fluxo de petróleo para os Estados Unidos.

As pressões para a retirada das forças americanas do Iraque estão se tornando insustentáveis. Bush tenta ganhar mais tempo, visando forçar a aprovação da Lei do Petróleo, que poria o imenso potencial iraquiano nas mãos de empresas americanas, bem como a manutenção de bases militares no país para garantir os contratos petrolíferos.

De qualquer maneira, ele sabe que o governo xiita iraquiano, hoje seu aliado a contragosto, uma vez livre, vai se voltar para o governo xiita iraniano, ao qual está profundamente ligado. Com isso, o Irã e o Iraque poderiam formar um bloco xiita, poderoso e provavelmente hostil, que ameaçaria os interesses tanto dos Estados Unidos quanto das petrolíferas e de Israel.

Por sua vez, os iranianos parecem temer as novas sanções que o governo Bush pretende conseguir do Conselho de Segurança.

Eles continuam recusando-se a voltar atrás. No entanto, começam a admitir inspeções em algumas instalações nucleares secretas.

Até então justificavam sua atitude contrária com o temor de que os inspetores da ONU acabassem fornecendo informações aos Estados Unidos e Israel para os bombardeios que eles têm como certos.

Os negociadores europeus receberam com simpatia as novas demonstrações de boa vontade do Irã. São bons argumentos para seus defensores no Conselho de Segurança – a China e a Rússia. Mas Bush não desistirá facilmente. Ele conta com as novas sanções para afetar seriamente a economia do país. Sabe que isso só estimularia a linha dura iraniana a posições mais intransigentes que enfraqueceriam a imagem do país e atenuariam reações contra a invasão.

Mas atitudes extremas só deverão ser tomadas se a Casa Branca conseguir maneirar a situação no Iraque. Aí tudo aconteceria rápido, antes dos xiitas do Irã e do Iraque entrarem em acordo.

Enquanto isso, quase metade dos 277 navios da frota de guerra dos Estados Unidos está fundeada próxima ao Irã. Em aeródromos espalhados pelo mundo, milhares de aviões também esperam. Até quando? Aconteça o que acontecer, não é crível supor que Bush chegará ao fim do seu mandato, daqui a 18 meses, sem fazer nada. Ainda mais agora que começam a se espalhar boatos de que por volta do fim deste ano os iranianos poderiam enriquecer urânio suficiente para produzir uma bomba nuclear.

Luiz Eça é jornalista.

O aborto, crime e legalização



Abortar ou não abortar...será mesmo que temos o direito de colocar tal dúvida?

Há perguntas mais complexas ainda: se a mulher é o ser que gera a vida, cabe a ela a decisão de matar ou deixar viver uma nova criatura? Ou a própria natureza deixa em aberto tal opção, ao eximir-se de dimensionar o instinto maternal a partir da concepção ou em seus primeiros momentos?

Perguntas difíceis de responder. A questão do aborto é mesmo complicada e causa celeuma. Estamos falando de vida e da interrupção dessa vida, o que provoca sentimentos e reações diferentes, dependendo do ângulo de visão!

O que não muda em absoluto as estatísticas que comprovam a impossibilidade de se evitar o aborto através da criminalização. Estados Unidos, Brasil e China tem percentuais semelhantes de abortos; Holanda é um dos países onde essa prática é raríssima, enquanto que Rússia e Romênia mostram índices triplicados de ocorrências em comparação com a média mundial.
Na Romênia o aborto é legalizado! Os radicais dirão que é este o motivo do grande número de abortos! Mas acontece que na Holanda, onde é raro, o aborto também é permitido!
Qual a diferença? Educação e orientação para evitá-lo?
A mulher que engravida e rejeita o fato geralmente o faz por questões de sobrevivência imediata ou futura. Ela sabe a responsabilidade que um filho acarreta e não a aceita, ou por ainda ser imatura (em casos de gravidez na adolescência) ou por questões profissionais e, em menor percentual, por não querer simplesmente assumir o papel de mãe.
É esse direito – o da rejeição – que se discute quando o assunto é aborto!
E o direito do feto?
Por mais que haja a tentativa de se interpretar um feto como algo ainda “inacabado” ou sem vida, isso não é possível! A vida começa a partir da fecundação.
O que pode ser discutido é se essa vida poderá ou não prosseguir.
É uma questão a “pesar na balança”. Para pesquisadores do Hospital Chelsea, em Londres, fetos pouco desenvolvidos podem sentir dor sim, e o sistema nervoso pode ser formado antes do que se supõe. Por isso os médicos britânicos estão estudando a possibilidade de anestesiar o feto durante intervenções para interrupção da gravidez!
Má formação fetal, doenças genéticas graves, estupro, são algumas situações onde o aborto é tolerado. Mas será que o desejo de não prosseguir a gestação pode ter raízes na própria natureza humana?
No mundo animal existe uma regra básica de sobrevivência: o equilíbrio! Por esse motivo até nossos gatos domesticados acabam matando filhotes recém-nascidos, não necessariamente para comer, mas também para regular a população...onde tem muitos, pode haver escassez de alimento!

Na natureza em geral um bicho come o outro, promovendo o equilibrio entre as espécies e as condições naturais de sobrevivência.

Há quem resista à idéia do ser humano ser influenciado pelo ambiente ou situações anormais que levaram à concepção. Somos racionais e emotivos, não seguimos as regras primárias de sobrevivência por força de nosso ambiente social.

No entanto número de abortos parece indicar que a questão não é simplesmente de decisão individual, desvinculada da comunidade. É uma decisão influenciada pelo meio, por dificuldades de sobrevivência e futuro.

Parece evidente e bastante claro que o desejo do aborto está intrinsecamente ligado a condições criadas pelo próprio ambiente.

Por mais que mulheres reivindiquem direito de decisão ("este é o meu corpo", por exemplo) sem dúvida a questão extrapola a condição individual e envereda como fato de sobrevivência coletiva.

Sob esse ângulo, a informação é imprescindível, talvez o único meio de suavizar questões éticas. Sem isso, não há controle do aborto. Ele simplesmente continua acontecendo, de maneira muitas vezes cruel e absurda.

A informação científica a respeito do aborto, seus riscos, sua prevenção e, afinal, as formas de evitar tragédias maiores a partir dele e não são, como alguns afirmam, uma maneira de incentivar a prática. Uma prática que já existe, por mais proibida que seja!

Mirna Monteiro