1/5 dos que recebem apoio social não tem o que comer
Existem quase cinco mil pessoas na fila de espera
e a maioria esmagadora das 200 mil que recorrem ao Banco Alimentar são
mulheres. Metade dos que procuram comida ganha menos de 250 euros.
Foto Paulete Matos.
Mais de um quinto das pessoas que procuram instituições de
solidariedade sente falta de alimentos pelo menos uma vez por semana,
segundo um inquérito realizado pela Universidade Católica, em parceria
com o Banco Alimentar e a Associação Entreajuda.
Do universo de 4691 usuários de mais de 500 instituições que responderam
aos questionários, 27 por cento mencionaram estar um dia inteiro sem
comer algumas vezes por semana ou pelo menos uma vez.
“Vinte por cento diz não ter comida até ao final do mês, 32 por cento
diz que tal acontece às vezes e 49 por cento diz ter sempre comida até
ao fim do mês”, refere ainda o estudo divulgado este domingo.
Sessenta e seis mil famílias recorrem à rede do Banco Alimentar Contra a
Fome (BACF) o que corresponde a mais de 200 mil pessoas, segundo a
análise da Universidade Católica. Na amostra recolhida para o estudo há
75 por cento de mulheres, o que “pode dever-se ao fato de serem elas
que, dentro do agregado familiar, mais se dirigirem às instituições a
pedir ajuda”.
No que respeita ao apoio em medicamentos, pode concluir-se que
atualmente são 6600 as famílias ajudadas, num total de quase 16 mil
pessoas. Estima-se ainda que as instituições que pertencem à rede do
BACF dão igualmente apoio monetário a 5700 famílias e 11 968 pessoas.
Numa análise mais detalhada por faixa etária, o questionário mostra que
são pelo menos 74 mil as crianças que recebem apoio alimentar da rede
do BACF, número que o próprio estudo admite estar aquém da realidade.
Nos últimos três anos, mais de 70 por cento das instituições de
solidariedade social registaram mais pedidos de apoio para alimentação,
situação atribuída sobretudo pelo aumento do desemprego. É a
vulnerabilidade econômica decorrente quer do aumento do desemprego, quer
das baixas reformas, que, a par de rupturas familiares, estão na base
do aumento da procura alimentar”, conclui a análise.
O inquérito do Centro de Estudos e Sondagens da Católica foi respondido
por 1500 organizações de solidariedade que integram a rede do Banco
Alimentar, num universo de mais de 3200 instituições.
A pobreza que vem com a sobrevivência e não com o luxo
Segundo o estudo, cerca de um terço dos inquiridos contraiu
empréstimos, a esmagadora maioria para a compra de casa, mas so menos de
metade dizem pagar sempre as mensalidades.
Além da compra de casa (53 por cento), o carro (19 por cento) e os
electrodomésticos (16 por cento) são os bens que mais frequentemente são
comprados a crédito. Apenas seis por cento diz ter recorrido a crédito
para adquirir um televisor, verificando-se a mesma percentagem para
consolas de jogos.
Da análise resulta ainda que quatro em cada dez pessoas só compram os
medicamentos quando têm dinheiro ou optam pelos mais baratos, não
conseguindo adquirir sempre os remédios que são receitados pelo médico.
Numa auto-avaliação à sua situação económica, 72 por cento dos
inquiridos sentem-se pobres, com uma larga maioria a atribuir a culpa da
sua situação à própria sociedade (situações de desemprego ou
rendimentos baixos).
Fonte: EsquerdaNet
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