Fui a Cuba, pela primeira vez, em 1997, juntamente com
outros companheiros e companheiras do movimento sindical brasileiro.
Naquele momento, os cubanos passavam pelo que denominavam de “período
especial”. Além da continuidade do violento bloqueio econômico imposto
pelas elites estadunidenses, havia acontecido a queda da experiência
socialista na União Soviética. E, claro, como decorrência, o afastamento
das relações econômicas da Rússia com Cuba, o que afetava
significativamente a qualidade de vida do povo cubano.
Em novembro de 2010, voltei, juntamente com o Secretário-Adjunto de
Relações Internacionais da CTB João Batista Lemos, para participar de
uma reunião de Centrais Sindicais componentes do Encontro Sindical Nossa
América – ESNA e de Centros de Formação Sindical e de Investigação, com
o objetivo de definir um programa de formação e investigação na
América. Em outro artigo que irei escrever, pretendo transmitir aos
leitores, as decisões tomadas na reunião e que se constituem no programa
de atividades a serem desenvolvidas.
Nessa viagem, tive contato com um livro denominado “Del pensamiento
pedagógico de Ernesto Che Guevara”, escrito pela professora cubana
Lidia Turner Martí, doutora em Ciências Pedagógicas, Filosofia e Letras.
Acostumado com a observação de que Che foi um grande revolucionário,
despojado, capaz de dar sua própria vida para contribuir na luta pela
libertação dos povos, não me ocorria que pudesse ter qualidades tais,
que permitissem contribuir, de forma significativa, para a pedagogia
cubana. Lídia Marti afirma que “o estudo e análise da obra de Che nos
leva a afirmar que fez aportes notáveis à pedagogia cubana..... Suas
idéias, colocadas em discursos, ensaios, cartas, e até nos diários de
campanha, encerram profundas análises da essência do homem, dos métodos
para sua formação e da relação estreita entre educação e desenvolvimento
econômico e social”. O próprio autor do prólogo do livro, Justo A.C.
Rodriguez, confessa que mesmo sendo um leitor entusiasta da obra de Che,
não havia reparado na direção pedagógica do seu pensamento.
Para Che é importante que haja uma correspondência entre personalidade
individual e pessoa pública, estabelecendo-se uma relação dialética
entre o individual e o social. É nessa unidade dialética que se situam
as bases para as idéias de Che sobre educação e sobre a formação do
homem novo.
Lídia Martí destaca dois elementos que considera fundamentais na obra de
Che: a formação de qualidades e valores no homem que constrói uma nova
sociedade e a consideração da Pedagogia como uma ciência necessária no
processo cubano.
Guevara disse que precisamos formar a juventude, principalmente com as
seguintes qualidades: sensibilidade diante dos problemas humanos, amor
ao estudo, modéstia, simplicidade, solidariedade, inconformidade diante
do mal-feito, intransigência diante da injustiça e do formalismo. Afirma
que “neste processo de construção do socialismo podemos ver o homem
novo que vai nascendo. Sua imagem não está, todavia, acabada; não
poderia estar nunca, já que o processo marcha paralelo ao
desenvolvimento das forças econômicas novas...”. Para Che, o coletivismo
– que se desenvolve no trabalho grupal - deve ser uma qualidade
importantíssima na construção da personalidade do homem socialista.
Nesse sentido, ele se opõe ao individualismo que chega a ser exacerbado
nas sociedades capitalistas. Nelas, principalmente nas classes
dominantes, prevalecem valores opostos aos que Che defende para o novo
homem socialista.
Com a prevalência dos valores socialistas, Che sintetiza sua preocupação
pedagógica: “A sociedade em seu conjunto deve converter-se numa grande
escola”.
Nessa segunda viagem a Cuba, 13 anos depois da primeira, pude verificar que os valores para um novo tipo de ser humano - solidário e inconformado diante das injustiças - continuam sendo construídos pelo povo cubano.
Nessa segunda viagem a Cuba, 13 anos depois da primeira, pude verificar que os valores para um novo tipo de ser humano - solidário e inconformado diante das injustiças - continuam sendo construídos pelo povo cubano.
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Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos
Sindicais (CES), membro da Comissão Sindical Nacional do PCdoB, ex-
Presidente do SINPRO-Campinas e região, ex-Presidente da CONTEE.
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