Combatendo o preconceito
Finalmente, depois de décadas o ser humano está acordando para as
mudanças de mentalidade no mundo. Criado em berços preconceituosos sob
vários aspectos, o homem sempre procurou seus iguais, desprezando os
diferentes. Mas hoje, diferente é quem não aceita o outro lado da moeda
seja em pensamentos, idéias, cor da pele, orientação sexual e até mesmo
das doenças genéticas que estigmatizavam seus portadores, alijando-os de
qualquer oportunidade de vencer seus próprios limites.
E nesse quesito aparece o problema da Síndrome de Down que é
explicada cientificamente como um distúrbio genético causado por um
cromossoma a mais no DNA do portador.
Lembro-me bem que, ao engravidar do meu segundo filho, aos 35 anos,
fiz um exame chamado aminiocentese, no qual o especialista pode
detectar, através de uma punção na barriga da mãe chegando até o
líquido aminiótico, se o bebê possui essa síndrome. Esse preocedimento é
feito aos três meses de gestação e é aconselhável, segundo me disseram
os médicos, para mães depois dos trinta anos para lhes dar a opção de
continuar ou não com a gravidez caso seja detectada alguma anomalia
genética no bebê.
Talvez você esteja querendo me perguntar se eu teria coragem de negar
à vida a uma criança com problemas . Não, eu não teria essa coragem,
apesar de saber o que poderia me esperar dali pra frente.Felizmente tive
um filho saudável, pelo qual fiz alguns sacrifícios normais de toda
mãe, mas incomparável à dedicação dessa mulher que inspirou meu artigo.
A história se passa em Joinville, Santa Catarina. Gina Fruit, então
com 23 anos, esperava feliz sua primeira filhinha. Já sabia o nome bem
antes dela nascer, Ana Carolina, que Gina havia escolhido em meio a
várias opções. A gravidez foi normal e tudo parecia muito natural até
Ana Carolina vir ao mundo.
Com a filhinha nos braços, Gina recebeu a notícia de que a criança
era portadora da síndrome de down e que dali para a frente ela teria uma
missão difícil a cumprir. Mas Gina, não se abalou. O importante era ter
dado vida a alguém e principalmente a um bebê que precisaria muito mais
dela do que qualquer outro. E Gina foi à luta, acreditando acima de
tudo no amor e na dedicação maternal que fluía dela de maneira
incontrolável.
Depois de muitas conversas com médicos especialistas, Gina e o marido
resolveram optar pela luta ferrenha contra a síndrome que normalmente
está associada a algumas dificuldades da fala, habilidade motora e
desenvolvimento físico. Gina, professora de educação física, dedicou-se
a fazer exercícios diários com a filha. Dos 6 aos 9 anos, Ana Carolina
era obrigada por ela a uma programação bem intensa de movimentos.
Rastejava, engatinhava, corria. Tinha estímulo dos cinco sentidos.E
ainda por cima aprendia a dançar e a nadar. Sempre sob orientação
médica.
Além disso, Gina brigou para conseguir colocar a filha em escolas
comuns e em casa a ajudava com as lições, complementando o ensino
escolar. Ela conta que, muitas vezes, era cansativo e desgastante. Às
vezes, as duas sofriam, choravam juntas, mas depois com o resultado
positivo a cada dia, o sacrifício tornava-se gratificante. Gina jamais
pensou em desistir.
E ela estava certa. Hoje, aos 29 anos, a jovem tem pós-graduação, que
completou no ano passado, trabalha numa multinacional e conquistou a
independência financeira.
Apaixonada por crianças, Ana Carolina (foto) formou-se em pedagogia e
depois se especializou em educação infantil. Na empresa em que
trabalha, Ana Carolina já passou por várias áreas e agora está no setor
comercial. A dicção é perfeita, assim como as palavras e idéias. Para
os médicos, a evolução física e intelectual de Ana Carolina jamais
poderia ter acontecido sem a dedicação dos pais, com os quais mora até
hoje por amor a eles, pois segundo a orgulhosa Gina, a filha ganha mais
do que muito pai de família e está pronta para viver uma vida
independente.
Numa época em que já se viu e soube de tantos conflitos, revoltas e
desamor além dos absurdos de mães que jogam seus bebês saudáveis em
licheiras ou em rios, abandonando-os à própria sorte, Gina brilha como
uma luz no fim do túnel, como um exemplo de combate ao preconceito em
nome do amor, da esperança, da certeza de conseguir a superação de um
obstáculo que parecia impossível.
Gina, desafiou as leis da própria genética que deve estar se curvando
à coragem e determinação dessa mãe que por amor e total desprendimento
pode dizer que realmente deu a vida a Ana Carolina.
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