Em decorrência do avançadíssimo processo tecnológico que
vivenciamos, cujas expressões mais significativas talvez ocorram nos
campos da medicina, cibernética, robótica e, principalmente, na
informática, uma nova situação se irrompe com clareza para a ciência
econômica e, em especial, para o conhecimento em geral. Em termos de
conhecimento/aprendizagem a pergunta mais pertinente talvez seja a de
como se adaptar rapidamente ao avanço das ferramentas que cercam a
informática, em especial a mais usada delas: a rede internet e toda sua
gama de opções.
Nesse pormenor, é ilustrativo resgatarmos a opinião de Don
Tapscott, autor de “Wikinomics” que pontua com firmeza que “a internet
não é uma nova forma de conhecimento e sim uma ferramenta que deverá
mudar a nossa forma de adquirir conhecimento”. A economia, assim como
todas as outras ciências, precisa estar adaptada a essa nova mudança. Um
grande desafio que se vislumbra é fazer com que nossa economia esteja
toda ela baseada no conhecimento, sendo mais dinâmica e competitiva,
garantindo crescimento sustentado, gerando empregos de qualidade,
distribuindo a renda, assegurando coesão social.
Nesse sentido, o MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta
dirigida pelo professor Aloizio Mercadante, envereda esforços para
adotar a “Estratégia de Lisboa” - documento divulgado em 2000 que contém
as principais diretrizes da União Européia voltadas para a Ciência,
Tecnologia e Inovação.
Nessa mesma linha de defesa, fazendo da economia uma nova base
pautada no conhecimento e na colaboração, somos partidários com
Tapscott, pois, assim como ele, entendemos que o conhecimento hoje tem
sido facilmente gerado e está à disposição de muito mais gente na
atualidade do que há 30 anos.
A facilidade de acesso às informações somente foram (e tem sido)
facilitadas tendo em vista que a rede internet pode se infiltrar em
todos os segmentos populacionais. Embora ainda haja certas restrições de
acesso à rede, mesmo restrição de ordem orçamentária, é fato inconteste
que uma infinidade maior de pessoas fazem uso diariamente do “conteúdo”
disponibilizado pela rede. Mesmo as relações humanas, saindo um pouco
do espectro informal, já contam com uma participação invejável. O
Facebook, página de relacionamento social, por exemplo, já conta com
mais de meio bilhão de usuários espalhados pelo mundo.
O grande problema que notamos, no entanto, em se tratando da rede
internet, é o excesso de informação (curiosamente, antes era a falta
disso). Nesse contexto, aprender requer então maior e melhor poder de
concentração e capacidade de filtrar, sistematicamente, a abundante
informação que se encontra disponível.
O fato é que a linguagem deixou de ser plana, agora é
hiper-textual. Nesse sentido, é ilógico pensar que os livros digitais
não serão o sucesso que, por exemplo, a música digital alcançou. Disso
decorre a necessidade de se repensar, pormenorizadamente, a “construção”
de uma economia colaborativa.
O
queremos dizer com economia colaborativa? Seria simplesmente a
capacidade de várias pessoas construirem conhecimento mesmo que essas
pessoas não se encontrem fisicamente num mesmo e único lugar; mesmo que
estejam longes umas das outras. É a internet que propicia, sobremaneira,
essa “aproximação”.
O Wikipédia, guardadas suas limitações e confiabilidade em certos
textos e fontes, é um ilustrativo e excelente exemplo disso. Não
estranhemos se, em breve, essa ferramenta se converter numa respeitada
enciclopédia, superando as antigas e ainda famosas Barsa, Britânica e
outras.
Outros bons exemplos de informações divulgadas em rede não param de
acontecer. Em dezembro de 2006, um site sediado na Suíça publicava o
seu primeiro documento sobre supostos acontecimentos que incriminavam
governos de vários países. Esse site, o WikiLeaks, nasceu com a
perspectiva de divulgar acontecimentos sigilosos realizados pelos
governos poderosos do mundo todo. O tom denuncista do WikiLeaks
incriminava diretamente procedimentos que ora comprometem os direitos
humanos ou ferem as práticas da diplomacia internacional. Porém, qual
seria a fonte de informações desse site? Eminentemente os dados provem
dos mesmos organismos que executam essas ações, só que são divulgadas de
forma sigilosa e tem a intenção colaborativa de disseminar informações a
todos. Nenhuma noticia foi, até agora, desmentida. Cada vez que o site
publica alguma nota, a imprensa mundial repercute esses acontecimentos. A
credibilidade do WikiLeaks é elevada e incomoda muita gente. Não por
acaso, seu principal fundador, o australiano Julian Assange está sendo
processado sob a acusação de crime sexual, numa tentativa pífia de
silenciá-lo. Só que o efeito é o contrário: quanto mais os incomodados
batem, mais populariza o site. A viabilidade econômica do WikiLeaks
também é realizada de forma colaborativa. Qualquer pessoa pode doar
recursos para a causa.
Com os serviços prestados pelo site de Assange, todos vão aos
poucos tomando conhecimento de informações outrora mantidas em sigilo
absoluto. Inequivocamente, a rede Internet permite de bom grado esse
“espírito colaborativo”, preservando a autoria e permitindo que o
conhecimento seja tecido como se fosse uma teia de aranha. Porém, no
lugar de uma aranha só, muitas seriam essas “aranhas” que cumpririam a
função do conhecimento colaborativo dentro dessa idéia aqui denominada
de “economia colaborativa”.
Contudo, é necessário ter ciência que, infelizmente, nem sempre as
boas ações irão sempre aflorar. Para desespero de todos que sonhamos com
um mundo melhor e mais fraterno, é mister pontuar que temos visto uma
incrível capacidade do homem em fazer mal a seu semelhante. E também
para isso o mau uso da rede internet tem sua parcela de colaboração. O
triste caso de Realengo é uma amostra perversa desse conhecimento
colaborativo tecido no sentido da “destruição”. O ex-aluno Wellington
Oliveira tinha informações diversas sobre Bullying e sobre como fazer
bombas. Além disso, pelas informações já fartamente divulgadas, sabemos
que idolatrava histórias de atentados, principalmente as do “11 de
setembro”. Wellington chamava de irmãos outros assassinos de estudantes.
Enfim, tinha pleno conhecimento para realizar suas motivações
psicopatas. Esse mesmo perfil é também o de outros matadores que nessas
últimas duas décadas tem surgido de forma pontual. A principal fonte de
informações desses matadores, em geral, tem sido a rede internet.
Sabe-se que o matador de Realengo passava horas na internet tecendo o
final da teia de aranha do conhecimento do mal que teve como resultado o
lamentável assassinato de doze crianças.
Diante disso, cabe profunda reflexão: como os agentes envolvidos
com educação, por exemplo, estão se comportando diante dessas iminentes
possibilidades perversas? Será que as novas práticas pedagógicas estão
sendo adaptadas a encarar esse contexto? Como pode também a economia, a
seu turno, se adaptar frente a essa realidade? Essas são perguntas que
ainda levarão certo tempo a serem prontamente respondidas.
De nossa parte, fazemos votos que a economia colaborativa venha com
força total para aquilo que de fato urge em termos de resgate social,
qual seja, aplainar os caminhos para a construção de uma sociedade mais
igual e menos perversa.
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