Se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos
Baby Siqueira Abrão no BRASIL DE FATO
Representantes
do movimento sionista no Brasil tentam por vários meios impedir o
brilho do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), que será
realizado entre 28 de novembro e 1º. de dezembro de 2012 em Porto
Alegre, RS. O embaixador de Israel no Brasil e uma comitiva da Federação
Israelita do Rio Grande do Sul chegaram a dizer, numa reunião com Tarso
Genro, temer o ataque de “extremistas” palestinos a propriedades de
judeus no Brasil.
O argumento é falso e os sionistas sabem disso.
Sabem também que, se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus
vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos, suas
casas, plantações, rebanhos, com o apoio de soldados do Exército
israelense. Sabem, igualmente, que o povo palestino há muito optou pela
resistência não-violenta à ocupação – esta sim, violenta – militar a que
Israel o submete. O objetivo tácito das declarações dos sionistas é
criminalizar mais uma vez os palestinos, para justificar os crimes que
os governos de Israel cometem contra o povo nativo, semita, da
Palestina.
Seja como for, os sionistas venceram em alguns pontos.
Persuadiram o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, a retirar o
apoio que prometera dar ao Fórum. Até mesmo o local, a Usina do
Gasômetro, foi negado. O Fórum só poderá usar um andar, o térreo. Esta
semana foi a vez do presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande
do Sul, Alexandre Postal, impedir que o FSMPL utilizasse espaços do
prédio da Assembleia para a realização de algumas das mais de 100
atividades inscritas no Fórum por organizações de 36 países. O
governador Tarso Genro, porém, manteve seu apoio à realização do Fórum.
Por
isso mesmo, tornou-se alvo das críticas de um raivoso colunista,
conhecido por suas ligações com o movimento sionista, em seu blogue numa
revista que chegou a ser pautada pelo crime organizado. O colunista
chegou a citar a Constituição brasileira, afirmando que Genro teria
violado seu artigo 4o,
sem se dar conta de que os princípios citados defendem tudo aquilo que
os governos sionistas de Israel nunca observaram em relação aos
palestinos: independência nacional, prevalência dos direitos humanos,
autodeterminação, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da
paz, solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao
racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade,
concessão de asilo político. Vejam-se as resoluções das Nações Unidas sobre
Israel – resoluções que o Estado sionista jamais cumpriu – e os vídeos e
fotos feitos na Palestina que estão na internet para conferir as
violações de Israel ao direito internacional.
A veiculação de comentários falaciosos sobre o Fórum tem o objetivo de, ao desinformar
a população, tecendo críticas insensatas ao evento e ao povo palestino,
colocar parte da opinião pública brasileira contra a causa palestina e
suas iniciativas, bem como impedir que a narrativa palestina sobre a
destruição de seu país, sobre o genocídio e a expulsão sofridos por sua
população para que os sionistas pudessem criar ali um Estado, seja
divulgada e conhecida pelos brasileiros.
Por ter o controle dos
meios de comunicação dominantes, o movimento sionista vem divulgando há
mais de 60 anos apenas a sua versão sobre a criação de Israel. A
verdade, porém, é que essa versão é falsa, constituída sobre uma base
histórica fantasiosa e distorcida, como provam os documentos dos
próprios sionistas que foram desclassificados (liberados para
conhecimento público) em meados dos anos 1970 e que corroboraram tudo
aquilo que os palestinos já vinham contando sobre a catástrofe, a Nakba,
que se abateu sobre eles com a chegada dos sionistas à Palestina. Um
dos objetivos do FSMPL é, precisamente, dar voz à narrativa palestina,
para reafirmar a justeza de sua causa: pôr fim à ocupação militar
israelense e à violência que a caracteriza; ter de volta um país
independente e soberano; reaver os direitos humanos básicos que lhes
foram retirados por sucessivos governos de Israel; controlar seus
recursos naturais e impedir a continuidade da devastação e do
envenenamento de seu ambiente, hoje submetido à exploração comercial
israelense e às substâncias tóxicas que o Exército de Israel atira em
território palestino com mísseis e bombas que vitimizam civis inocentes;
evitar a destruição de sua base econômica e de seu meio de vida – as
plantações e as oliveiras –, alvos frequentes das violentas ações de
colonos que vivem ilegalmente em território palestino; incrementar sua
agricultura sem agredir a Natureza e buscar, de modo independente,
outras formas de desenvolver sua economia, sufocada pelo controle
exercido pelos governos sionistas; evitar que seu território e suas
fontes de água sejam confiscados pelo governo israelense para a
construção de colônias – ilegais, conforme entendimento do Tribunal
Internacional de Justiça – exclusivamente habitadas por judeus, grande
parte deles extremistas vindos de outros países.
Os palestinos,
enfim, não exigem nada além daquilo que é garantido a todos os seres
humanos – que, pelo simples fato de existirem, são portadores de
direitos, assegurados pela legislação internacional. A diferença entre
os palestinos e outros povos do mundo é que, no caso palestino, esses
direitos são negados pelos governos sionistas de Israel. É por esse
motivo que eles se mobilizam e lutam, com firmeza e dignidade, por
autonomia, justiça e liberdade.
A causa palestina é hoje
defendida por milhões de pessoas em todo o mundo, num movimento
crescente de proteção da vida humana e da própria espécie, contra
interesses financeiros que têm levado o planeta ao caos social,
econômico, climático e ambiental. A sociedade civil internacional não
aceita que, em pleno século XXI, um povo – o palestino – seja submetido a
um regime de apartheid e de destruição de suas raízes sociais,
históricas e culturais. Indivíduos e movimentos organizados em torno dos
temas da paz, da justiça social, da igualdade de direitos e da
autodeterminação dos povos decidiram organizar o Fórum Social Mundial
Palestina Livre para pensar conjuntamente estratégias não-violentasque
levem mais rapidamente ao fim da ocupação militar sionista da Palestina.
Entre esses indivíduos e movimentos há judeus e israelenses
inconformados com a violência e a repressão a que os governos sionistas
de Israel submetem o povo palestino. O objetivo dessas estratégias é
levar a uma convivência, entre os habitantes daquela parte do mundo,
baseada no respeito, na tolerância, na diversidade e na paz.
Quaisquer
outras coisas que digam os detratores do FSMPL não passa de propaganda
sionista – a hásbara –, que procura por todos os meios deslegitimizar a
causa palestina e seus milhões de apoiadores ao redor do mundo para
justificar os crimes cometidos pelos governos israelenses contra a
população palestina. É preciso mostrar aos sionistas que o povo
brasileiro não permitirá que o Brasil seja transformado em palanque para
sua pregação – uma pregação que procura criminalizar aqueles que, por
estarem ao lado da justiça, dos direitos humanos, do respeito à
multiculturalidade, à multietnicidade, à diversidade de crenças
religiosas (e da não crença), apoiam sem restrições a causa palestina.
Baby Siqueira Abrão é correspondente do Brasil de Fato no Oriente Médio