O corso uribista convoca. A ala do crime organizado vai desfilar em 4 de fevereiro apoiando o Plano Colômbia e todas suas reedições. As curiosas mascarinhas vão berrar e denunciar com histeria o que mais anseiam: a dependência, o sonho dourado de ser uma Miami de segunda pelos séculos dos séculos, amém. Sem terras cultiváveis, sem aparelho produtivo, com um aumento fatal da pobreza e dos desalojados. Triste máquina narcotizada a serviço da noite nova-iorquina. Perversa ladainha de acomodados aos que lhe importa uma nada a miséria, a acumulação das doenças e a dor; tudo o que se passe fora de Bogotá, Medellín, Cáli e Barranquilla. O lixo espiritual da Colômbia vai desfilar em favor da morte, do massacre, o narco-paramilitarismo terrorista, o governo colonizado, as transnacionais e os gringos do norte. As mitras adornarão a avenida. Que procuram com esse divertido espectro carnavalesco? Vejamos para o que estão convocando.
O evento se chama: Grande Marcha Nacional e Internacional contra as FARC. Pelo que se observa, as palavras “em favor”, a idéia de acordos humanitários, a tolerância, não estão na liturgia deste grêmio carnavalesco. Dizem, em uma das convocatórias que aparecem na Internet que querem mostrar sua raiva; muito cristão de sua parte. Ah, mas depois dizem que não querem mais o uso das armas para obter o poder, que querem ser ouvidos, querem ser levados em conta. Será que Álvaro Uribe Vélez não dá bola a esta boa gente que está com raiva? Mas, se são seus próprios eleitores, são os que respondem às ligações das pesquisas que só se realizam naquelas cidades onde a classe média pode dançar conforme a cúmbia comandada pela família Santos. Que ingrato!, Se nessas cidades ele tem segundo as pesquisas feitas à medida do excelentíssimo, o 80% do apoio popular. Olhem, se na convocatória escreveram “somos os melhores que não aparecemos como notícia”, mas, por quê os jornais da oligarquia colombo-ianque-espanhola não tiram uma fotinho, pelo menos, dos seus amiguinhos?
Os bonzinhos burgueses convidam a desfilar com camisetas brancas, bandeiras brancas, com flores, bom, nada que seja negro, índio, tudo branquinho e perfumado. Convidam à família, filhos e filhas, aos amigos, aos seus amigos, para que se faça “um alto no caminho para que as FARC entendam que NÃO OS QUEREMOS”. Imagino que as FARC também não os devem querer muito. Porque não dá pra querer a todos por igual num país onde, goste ou não a estes chiques, há uma guerra, e o país está dividido territorial, geopolítica e economicamente, onde há um combate entre o narcotráfico, os paramilitares, os meios de comunicação, o governo central, as multinacionais e o imperialismo de um lado, e do outro as FARC e o ELN. Finalmente, os que convocam dizem que são muitos mais os colombianos que não utilizam a violência como uma ferramenta de poder. É verdade, segundo informes independentes realizados por diversas organizações, a associação terrorista que governa o país quase ostenta a exclusividade das chacinas, as mentiras e as corrupções da Colômbia. O mais rápido possível, haveria que tirar de Uribe e seus amigos, as armas com as que estão liquidando ao povo neo-granadino e dando de presente o país ao seu amo de Washignton.
Segundo registra um artigo do jornal El Espectador de Bogotá, assinado pelo advogado Ivan Cepeda, “em menos de duas semanas os grupos paramilitares – agora mimetizados na imprecisa definição de bandas emergentes – assassinaram 12 pessoas, desapareceram a 9 e desalojaram a outras 120, no território de El Palmar, Nariño, assassinaram 4 adultos e um menor. O ex-governador desse departamento, Eduardo Zúñiga, atribui o massacre a paramilitares. Esse mesmo dia em Medellín, foi desaparecido o advogado Victor Hugo Gallego, da Corporação para a Paz e o Desenvolvimento Social, Corpades.” “Em 11 de janeiro de 2008, enquanto se realizava uma festa familiar no bairro ‘Once de Noviembre’, vários homens armados chegaram disparando, assassinaram 5 pessoas e feriram mais 3. As vítimas eram líderes comunitários. Em 14 de janeiro, a Promotoria do Povo informou que um grupo paramilitar ingressou em Santa Mônica, departamento del Chocó, assassinou duas pessoas, levou-se outras 8 e desalojou perto de 120 habitantes da população.
Cabe acrescentar a estes graves fatos que recentemente em Bucaramanga apareceram em lugares públicos mensagens ameaçadoras do grupo ‘Águias Negras’. O prefeito da cidade desestimou as ameaças dizendo que estes grupos não têm presença ali. No entanto, num informe de 2007, a Promotoria do Povo advertia que no departamento de Santander se registra a existência de tais agrupações. Isto significa que em quatro departamentos do país e em menos de 15 dias, os paramilitares cometeram duas chacinas, várias desaparições forçadas, e provocaram o translado forçoso massivo depois de una intromissão armada.”
Cepeda se dirige a Uribe nestes termos: Que se pode esperar desses funcionários e instituições quando a atitude do Governo Nacional está marcada pelo silêncio e a negação? Em lugar de condenar essas atrocidades, o Senhor Presidente, empenha-se em tentar convencer ao país e o mundo que os grupos paramilitares já não existem na Colômbia; uma afirmação que desmentem irrefutavelmente os fatos. Quando se pronunciará o Senhor sobre os crimes contra a humanidade que seguem cometendo os grupos paramilitares? Quando haverá uma alocução solene para condenar as desaparições forçadas massivas que levaram milhares de compatriotas a fossas comuns e cemitérios clandestinos? Quando o Governo Nacional se pronunciará oficialmente contra o desalojamento forçado praticado pelos paramilitares que lhe arrebataram a terra a milhões de compatriotas?
É verdade que o seqüestro é uma prática criminal que a sociedade colombiana não deve tolerar sob nenhum conceito. Mas, na Colômbia não só existem centos de seqüestrados pelas guerrilhas. Há milhares de desaparecidos, assassinados e desalojados por agentes estatais e pelos grupos paramilitares que, como o Senhor lembrará, foram auspiciados faz mais de uma década através das empresas de segurança Convivir. Essa realidade não se esvairá com a teimosa insistência do Governo numa concepção unidimensional do terrorismo”.
Iván Cepeda é advogado especialista em direitos humanos, diretor da Fundação “Manuel Cepeda Vargas” e membro do Movimento Nacional de Vítimas de Crimes do Estado. Junto com outros defensores/defensoras dos direitos humanos, colaborou na documentação de aproximadamente 40.000 casos de sérias violações aos direitos humanos, cometidas na Colômbia desde 1996, noticia El Espectador.Não deveriam os colombianos ocupar a rua, as praças de toda Colômbia pedindo uma resposta imediata às perguntas de Cepeda, em lugar de juntar uma tropa de marionetes para desfilar pela paz dos ricos e de uma classe média que se espelha na Globovisão e dela se alimenta para opinar, pular, rir e chorar como uma banda de bobos, que relembra às senhoras e senhoritas chiquérrimas que faziam panelaços nos bairros acomodados de Santiago de Chile contra Allende. Essa barulheira igualzinha de atordoada à que em Caracas, cada tanto invade as ruas para que derrubem o “negro nojento” que lhes tirou PDVSA.
O senador Petro do partido Pólo Democrático Alternativo colombiano declarou à União Rádio da Venezuela: “A crise humanitária colombiana, tal e como se está apresentando perante o mundo pareceria que se reduz à situação das pessoas nas mãos das FARC. Mas, isto é só uma parte, a ponta do iceberg da enorme crise humanitária na qual se encontra Colômbia. A outra parte, submergida, é a dos 4 milhões de desalojados, despossuídos de todas suas propriedades por um sistema que diz oferecer ante todo a “sagrada propriedade privada”, - quase o 10% da população total do país! – que tem originado a política agrária de concentração de terras e a guerra, conscientemente planejada e aprovada pelo governo por via de leis ditadas ah hoc, terras que foram parar a mãos de paramilitares e narcotraficantes, convertidos em terratenentes da noite para a manhã, e às empresas agroindustriais, mineiras, petroleiras, turísticas, etc.”
Tem razão o senador do Pólo Democrático Alternativo. Mas, além disso, deixa em claro que há outra verdade na Colômbia, fora da verdade cristalizada na mídia multinacional, cantada em verso e prosa por Uribe e seus sócios. Essa verdade não tem espaço no sistema de descomunicação dominante. Como também ficou evidente durante os diversos governos colombianos e em cada uma das tentativas para a paz iniciadas, que o governo neo-granadino tem medo da paz. Se Colômbia tivesse acesso um dia à paz verdadeira, democrática e soberana, a sorte de Uribe não seria diferente da que tiveram personagens tenebrosos da América Latina como Alberto Fujimori e Manuel Noriega. Uribe precisa cumprir suas obrigações com os Estados Unidos para seguir livre embora forme parte da lista de 82 imputados por seus próprios patrões gringos por corrupto. Se não se comporta bem, já sabe: a Noriega lhe custou 17 anos de cana. Tornou-se velho na prisão ianque quando não lhe serviu mais ao patrão.
E esse patrão não só vigia de perto, como que ocupa o território colombiano e quando alguma coisa não sai como desejam, por exemplo: a concretização da entrega unilateral de Clara Rojas, Consuelo González e o menino Emmanuel, feita pelas FARC em desagravo ao Presidente Chávez e à senadora negra colombiana Piedad Córdoba, descem até os infernos da Colômbia o subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos imperialista, Thomas Shannon, o czar “antidrogas” John Walter e a dita cuja Condoleezza Rice. E não têm a menor vergonha de falar inclusive com os que são chefes de verdade, como anunciam os meios do sistema (EFE/El Tiempo) sem o menor pudor:
“Um grupo de paramilitares supostamente desmobilizados reuniu-se nesta sexta-feira (25/1/08) com Rice num parque de ciência e tecnologia de Medellín.
Na cita, os supostos ex - paramilitares aproveitaram para contar-lhe à funcionária suas experiências na vida civil e os programas de reincorporação que empreendeu o Governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe, cuja eficácia foi colocada em xeque por diversos porta-vozes dentro e fora de Colômbia.
Incluso o ex-chefe das Autodefesas Unidas de Colômbia (AUC), Salvatore Mancuso, afirmou publicamente que grupos dessa agrupação de extrema direita estiveram se rearmando.
Em fevereiro de 2007, Mancuso assegurou que aproximadamente uns 5 mil combatentes paramilitares que supostamente tinham se desmobilizado se tinham organizado novamente.
Antes Mancuso, em dezembro de 2006 o porta-voz e ex - comandante das AUC Ernesto Báez advertiu também acerca de um rearme de paramilitares desmobilizados, trás a ruptura de um diálogo de paz que mantinha o Governo colombiano e esse grupo de ultra-direita.
Báez asseverou que o programa oficial de re-inclusão de paramilitares “fracassou” e que atualmente existem 31 mil paramilitares que, segundo o Governo colombiano, foram desmobilizados e não receberam nenhum dos benefícios oferecidos pelo Executivo ao início do acordo de paz.”
Os próprios delinqüentes demonstram que o governo não quer a paz. Há uma associação terrorista conduzindo Colômbia que não procura, nem lhe interessa, nem tenta a paz. Porque a paz significaria um desastre para seus negócios, e para os negócios do patrão. Há que seguir fabricando drogas na Colômbia para que os Estados Unidos possam seguir consumindo. Há que seguir matando para que se possa calar a verdade de décadas de desmembramento social e que os responsáveis, antes e durante o governo de Uribe, não paguem nem por um só dos seus delitos. Há que seguir esvaziando o campo para que as multinacionais norte-americanas e européias os usem como melhor lhes aproveite. Há que seguir ocultando as contas do endividamento do Estado colombiano e os benefícios imensuráveis que obtêm todos os dias os bancos espanhóis e os meios de descomunicação multinacionais que ditam a mentira que deve ser anunciada a cada hora na Colômbia. Há que seguir recebendo e vendendo armas.
Pois, todos os habitantes desta América Latina, seja qual for nossa nacionalidade, temos que estar atentos a isto, porque simplesmente Colômbia a mercê dos gringos significa o Império em nossa Pátria Grande. É a Lei Patriótica por inteiro nas terras latino-americanas. É o tráfico de drogas, a morte e o desalojamento humano arregimentado, como acontece na Palestina. É a desestabilização de todos e cada um dos governos populares da região. O governo Uribe significa isso e nada mais do que isso. Portanto, é necessário responder-lhe a esse desfile carnavalesco da burguesia e da oligarquia colombiana com todo tipo de expressões que exijam a paz imediata na Colômbia, a troca humanitária que libere os retidos da guerrilha e os presos políticos que lotam as prisões colombianas, a derrota deste governo lacaio do Império, seu julgamento por uma justiça independente e a integração do povo colombiano à Nova Época política e social que vive América Latina. Uma marcha verdadeira a caminho da paz é indispensável.
* Carlos Lozano Guillén é Diretor do Semanário La Voz e dirigente do Partido Comunista Colombiano.