Escrito por Gabriel Brito, da Redação do CORREIO DA CIDADANIA |
Cerca de dois meses após a renúncia de Ricardo Teixeira da
presidência da CBF, absolutamente nada no futebol brasileiro oferece
sinais de mudança. Seu sucessor, José Maria Marin, entulho malufista e
da ditadura, continua candidamente no cargo que parecia prestes a ser
disputado em novas eleições, com o crescente beneplácito dos clubes,
federações e governo federal.
Dessa forma, ficou até fácil para os asseclas de Teixeira, certamente
em tom de gratidão, exaltarem o “legado” e o “brilhantismo” de sua
gestão, que teria tornado o futebol brasileiro vencedor como nunca. Não
faltaram exemplos da mídia, capitaneada pela Globo, ressaltando os
títulos conquistados pela seleção em todas as categorias, e o
esquecimento, nada inocente, das variadas formas de devastação que
Teixeira e sua turma promoveram em nosso futebol.
Cabe, portanto, uma análise a respeito do que foram, de fato, os anos
de Ricardo Teixeira à frente do futebol nacional e sua verdadeira
herança.
O Ministério do Bom Senso adverte:
Antes que alguns precipitados saiam em defesa do que Romário definiu
como “câncer extirpado”, é bom se ater a tais fatos, vide a
subserviência com que certa parte da mídia tratou o cartola, inclusive
em sua vexatória despedida através de carta lida por um “desconhecido”
vice.
Em primeiro lugar, os atuais valores astronômicos que giram em torno
da CBF e da camisa da seleção nacional não são nada mais que produto da
valorização global adquirida pelo futebol a partir dos anos 90, tornado
um grande e bilionário negócio em escala mundial. E nesse sentido, o
Brasil ainda se encontra atrás de outros países, apesar de ser hoje a
sexta economia do mundo e o propalado “país do futebol”.
Em segundo, quem trouxe e bancou a Copa do Mundo no Brasil foi o
governo federal, cuja chancela foi fundamental para receber o voto de
confiança da FIFA, que por sua vez tem escolhido somente países que
permitem uma fácil ramificação de seus negócios – e também de seus
parceiros. Além disso, a federação internacional estabeleceu, no fim dos
anos 90, um rodízio de continentes para receber a Copa. Quando chegou a
vez da América do Sul, o Brasil foi candidato único. E ainda a respeito
do mundial, cabe lembrar que Teixeira garantiu que seria financiado
pela iniciativa privada, algo que comprovadamente não acontecerá.
Em relação aos títulos da seleção, não passa de “apropriação
indébita”, provavelmente a maior especialidade da figura cuja gestão
distanciou como nunca a seleção brasileira de seus torcedores. Aceitou
passivamente uma patética imposição da FIFA (em 2003), por pressão da
UEFA (a Confederação Européia), de só realizar amistosos da seleção em
território europeu (ou a 4 horas de distância de avião), o que caiu como
uma luva em sua estratégia de terceirizar os jogos da seleção para uma
empresa de marketing esportivo, que por sua vez se ocupa de “vendê-los”
pelos mais lucrativos preços. Por isso a equipe canarinho acumulou
dezenas de “clássicos” inexpressivos mundo afora, inclusive mantendo
relações com os mais repugnantes governos.
Além do mais, jamais propiciou um ambiente de profissionalismo e
organização nas federações e nos clubes, que passaram a maior parte
desses anos acumulando dívidas estratosféricas e, mais diretamente,
sendo roubados e degradados pelos mais diversos conluios de cartolas e
empresários – assim como os estádios. Aliás, foi sob sua gestão que essa
nova categoria surgiu com toda a força no futebol nacional, sem
barreiras para atuação, o que levou ao assalto de inúmeras categorias de
base. Acabou-se a velha Lei do Passe para que todo o poder fosse
transferido aos empresários.
Dentro de tamanha desordem e insolvência financeira, não surpreende
que as últimas gerações de jovens tenham se acostumado a assistir nossos
melhores jogadores pela televisão, nas competições européias, nos mais
diversos países e em clubes de todos os níveis. Em muitos casos, não há
televisão que resolva, pois também mandamos enormes contingentes do
nosso “pé-de-obra” para os países árabes, asiáticos, do leste europeu,
dentre outros destinos que oferecem enorme comodidade estrutural e
salários com os quais os clubes brasileiros não podem concorrer.
E a respeito da retórica estelionatária de que sua gestão trouxe
incríveis 112 taças, de todas as categorias, incluindo as Copas de 94 e
2002, só nos resta o desprezo e aquele riso de canto de boca, de quem
sabe que no futebol, especialmente o brasileiro, jamais se coloca na
conta de dirigentes os títulos conquistados pelos jogadores. Um discurso
francamente abusivo, pois jamais se viu Teixeira vivenciar e debater o
futebol, de modo a demonstrar algum conhecimento que pudesse ser
colocado na conta dos resultados da seleção, para bem ou para mal.
O futebol doméstico continuou parado no tempo, com um calendário
extenuante e a eterna troca de favores com dirigentes de federações
estaduais dando as cartas e mantendo tais competições com fórmulas
caça-níqueis, desgastantes e cada vez piores tecnicamente. Já as
divisões nacionais de acesso seguem ao relento, sendo absolutamente
insuficientes para acomodar os cerca de 600 clubes profissionais que
militam no país. Fora que as séries C e D são ainda muito precárias e
desprestigiadas.
Com isso, privilegiam-se enormemente os grandes clubes, com um ano
inteiro repleto de competições e jogos atraentes, o que obviamente os
faz mais rentáveis, criando um grupo seleto de poucas dezenas, que
basicamente são os times das séries A, e mais modestamente, B. A imensa
maioria fica relegada a competições fracas e pouco úteis, ou
simplesmente no ócio por meses, o que as impede de se sustentar com
consistência e revelar novos jogadores.
Um tiro no peito do Norte/Nordeste
Na esteira de tamanho descaso com os clubes, por conta da excessiva
atenção destinada aos negócios, não é de surpreender que as equipes das
regiões Norte e Nordeste, e dos estados mais fracos em geral,
sucumbissem aos tempos modernos. Descuidada a organização do futebol
doméstico, por sua vez guiado pelos interesses particularistas da Rede
Globo, é esperado que as equipes de segundo ou terceiro escalão também
se vejam diante de dificuldades imensas.
Preocupada somente com audiência e retorno publicitário, a Vênus
Platinada, grosso modo, só quer saber de Corinthians e Flamengo, o que
relega equipes tradicionais e importantes, menos populares e de força
mais regional, a papéis cada vez mais decorativos no cenário
futebolístico, por vezes sequer servindo como formadoras de novos
atletas, algo que em última instância prejudica todo o conjunto.
Contra a vontade da associação que congregava os clubes nordestinos,
Teixeira e Globo extinguiram o Campeonato do Nordeste, competição que
reunia os principais clubes da região e era um grande sucesso de renda e
público, encerrado em 2002. O mesmo se deu com a Copa Norte, que mesmo
de forma mais modesta também fortalecia alguns clubes da região.
Com esse fator, somado a uma distribuição cada vez mais elitizada do
dinheiro e a eterna covardia dos dirigentes dos clubes, gente
absolutamente do mesmo nível de Teixeira, talvez apenas com menos
habilidades, o século 21 marcou o início da marginalização dos times
dessas regiões, cuja distância para os grandes do Sudeste/Sul não parou
de crescer.
Mesmo algumas potências campeãs nacionais como o Bahia e o Sport
sofrem para se manter na primeira divisão, que dirá a respeito de ter
grandes equipes por longo período, como se via antigamente. Hoje em dia,
a principal divisão nacional abriga poucos clubes nordestinos, que via
de regra lutam apenas pela permanência, jamais pelas primeiras posições.
Ao Norte, potências regionais como Remo e Paysandu não conseguem
lugar sequer na segunda divisão, mesmo possuindo admiráveis massas
torcedoras. Já os amazonenses, a despeito de sediarem a Copa, têm um
futebol que mal pode ser chamado de profissional, sendo que seu
campeonato amador supera o ‘oficial’ em popularidade.
O mesmo vale para o Centro-Oeste, com exceção de Goiás. Mas as sedes
da região na Copa serão os novos estádios a serem erguidos em Cuiabá e
Brasília. O belo e prontíssimo Serra Dourada não tem vez nessa grande
onda de negócios em torno dos estádios/shoppings.
Como se não bastasse, um dos últimos atos de Teixeira foi ajudar a
implodir a negociação coletiva dos clubes com a televisão pela
transmissão do Campeonato Brasileiro, evitando a concorrência exigida
pelo Cade e favorecendo descaradamente a Rede Globo, que mais uma vez
levou a melhor rasgando as regras do jogo e usando seu cacife de
emissora oficial da República.
Com isso, as agremiações partiram para negociações individuais, o que
tende a mostrar efeitos nefastos para o futebol nacional até no curto
prazo, uma vez que as equipes mais populares e com mais “força de
mercado” assinaram contratos por valores incomparáveis. Isso certamente
aumentará o abismo entre os times grandes e pequenos no país. Portanto,
outra punhalada nos clubes do Norte/Nordeste, que, a depender das
medições de mercado, sempre estarão (muito) atrás.
Um legado... para os amigos
Diante do apanhado, fica notório que Ricardo Teixeira não passou de
mero balconista do mundo do futebol, isso na chamada era da
globalização, isto é, no momento em que o esporte, como tudo na vida, se
mercantilizou como nunca, trazendo diversos negócios associados e entes
outrora estranhos interessados em investir. Sequer, portanto, pode ser
chamado de visionário ou qualquer coisa que o valha.
Sua postura pessoal diante da imprensa e do público torcedor sempre
foi marcada pela arrogância e triunfalismo nos momentos de vitórias,
dentro ou fora de campo. Por outro lado, sempre agiu como rato nos
momentos negativos ou de questionamentos, desaparecendo completamente do
radar.
Tampouco utilizou as fortunas angariadas pela seleção brasileira no
sentido de fomentar o futebol país afora, especialmente nos locais com
menos recursos. Preferiu comprar jatinhos e financiar campanhas
políticas de aliados, entre outros investimentos obscuros.
Jamais dialogou ou respeitou torcedores, sendo presença inexistente
nos estádios e grandes jogos dos torneios nacionais, e nunca se importou
com as condições de conforto e respeito aos jogadores e freqüentadores
desses locais que agora passam por um claríssimo processo de
higienização e elitização.
Pois, no que depender de gente como Teixeira, o futebol tem mais é
que se tornar um espetáculo para quem pode pagar, de preferência cada
vez mais, sem que haja problemas na substituição do torcedor pelo
consumidor nas arquibancadas. Aliás, arquibancadas e gerais podem sumir e
dar lugar somente às chamadas numeradas e seu seleto público abastado e
passivo.
O governo, por sua parte, apesar de financiar Copas do Mundo e
dívidas gigantescas desses clubes, nada faz, contentando-se em limá-lo
do cargo, em nome dos fortes apelos públicos, e escrever mais uma página
farsesca de sua “faxina contra a corrupção”, sem qualquer conteúdo
político de fundo e propostas realmente renovadoras. Como dito em
análise anterior, não passa de uma rápida aparada de arestas a fim de
tornar todas as maracutaias vindouras mais discretas e palatáveis, pois,
diante dos mega-negócios que se avizinham, um personagem como Teixeira
só tinha a atrapalhar.
Teixeira foi pra bem longe, mas se o país se recusa a adentrar a
maioridade política, administrativa e moral, não será o futebol, mero
reflexo geral, a tomar a iniciativa. Por aqui isso está claro. E que
venha a Copa e seus ilusionismos, sob a batuta da mesma CBF de sempre.
Gabriel Brito é jornalista do Correio da Cidadania.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Euforia com mega-eventos pode manter intactos retrocessos da era Teixeira
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Marcio Pochmann: ‘Ascensão da classe trabalhadora dá sinais de esgotamento’
Piero Locatelli no CARTA CAPITAL
Prestes a disputar a eleição municipal em Campinas, o economista
Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), nega a existência de uma nova classe média no Brasil em seu
novo livro A Nova Classe Média?, da Editora Boitempo.
Na obra, o economista defende a tese de que a mudança social dos
últimos oito anos não resultou na criação de uma nova classe média no
País. Segundo ele, os empregos gerados nos últimos anos criaram uma
classe trabalhadora consumista, individualista e despolitizada.
Esse movimento de ascensão da classe trabalhadora, segundo Pochmann, apresenta sinais de esgotamento, e agora o governo deve buscar outras maneiras de gerar emprego.
O economista deve sair em breve do Ipea, onde está desde 2007, para
concorrer à prefeitura de Campinas pelo PT. O livro será lançado no
próximo dia 29, durante debate na sede da PUC, em São Paulo.
CartaCapital: O senhor fala que há um despreparo das
instituições democráticas para canalizar os interesses da nova classe
trabalhadora. Por quê?
Marcio Pochmann: Estamos observando uma
despolitização nesta ascensão social no País. Ela vem envolvida nos
valores do mercado, e não poderia ser diferente. Foi assim nos anos 70.
Naquela época, havia uma ação mais direta das instituições, o que nós não estamos vendo hoje.
Há um despreparo das instituições para lidar com esse segmento que,
possivelmente, liderará o processo político brasileiro. De alguma forma,
esse segmento conduzirá a política brasileira. Seja pela direita, seja
pela esquerda.
Os sindicatos, associações de bairro e partidos políticos estão
observando esse avanço social que não se traduz em aumento das filiações
nos sindicatos, nas associações de bairros, nos partidos políticos.
Veja que cerca de 1 milhão de jovens ingressaram na universidade
através do Prouni. Isso é uma ascensão na universidade, mas se traduziu
na ampliação e reforço do movimento estudantil? A gente não observa
isso.
Acontece a mesma coisa em relação aos leitores. Houve um avanço de
mais de 40 milhões de leitores no Brasil, mas a ampliação da mídia
escrita não se traduziu nesse mesmo sentido.
CC: Há uma explicação para isso?
MP: As instituições democráticas não entenderam ainda o que tem sido
essa mobilidade social. Como nós temos pouco conhecimento, não temos
uma ação mais identificada. Os sindicatos acabam sendo mais defensores
do passado que protagonistas do futuro porque não conseguem criar um
diálogo com esse segmento. É um desafio evidente para todos nós.
CC: O senhor fala que a classe trabalhadora é consumista. Isso é necessariamente ruim?
MP: Não, é um movimento natural que ocorre quando
você não tem a politização, consegue um emprego e tem a elevação da sua
renda. Você entende como sendo resultado do seu esforço individual
quando, na verdade, nós sabemos que a geração e a elevação da renda
dependeram de um acordo político, de uma decisão política, de um
resultado eleitoral.
Portanto, o que eu quero chamar a atenção é que essa manifestação que se observa de forma mais clara é natural do ponto
de vista da individualidade de cada um. Mas se não vem acompanhada de
um processo de conscientização, essa ascensão pode ao mesmo tempo
retroagir ou ser encaminhada para uma visão de sociedade muito diferente
da que levou a uma ascensão social recente.
CC: Porque as pessoas identificam a ascensão como resultado do próprio esforço individual…
MP: Esse é o papel da politização, até porque você
percebe que as coisas foram feitas com esses segmentos. Eles são
favoráveis ao crescimento, ao emprego e assim por diante. Mas na questão
dos valores mais amplos da política, como pena de morte, eles
majoritariamente estão atrelados a visões muito ultrapassadas.
CC: A maior parte dos empregos gerados foi com rendimento
próximo a um salário mínimo. Como o governo pode gerar empregos com
melhor remuneração?
MP: Primeiro quero dizer que foi muito bom ter
gerado esses empregos acompanhados da formalização e do aumento do
salário mínimo, tendo em vista o estoque de desempregados que nós
tínhamos. Nos anos 2000 eram praticamente 12 milhões de pessoas
desempregadas. Se o Brasil não gerasse esse tipo de oportunidade, se
gerasse empregos de classe média, que exigem maior escolaridade, esse
segmento que ascendeu não teria ascendido. Mas esse movimento está
apresentando sinais de esgotamento. Porque a questão fundamental neste
momento é a ampliação dos investimentos para aumentar a capacidade
produtiva. E o aumento de investimento, novas fábricas, novos avanços da
produção vêm acompanhados de inovação tecnológica, maior exigência de
qualificação, maior demanda de trabalhadores com escolaridade, portanto
maiores salários e ocupações melhores.
CC: No livro, o senhor diz que as pessoas que acenderam
socialmente nos últimos anos não podem ser consideradas de uma nova
classe média. Por quê?
MP: Uma classe média tem ocupações diferentes dessas
que foram geradas. Se fossem vinculadas a bancários, professores ou
dirigentes de empresas, possivelmente nós poderíamos associar isso a
classe média, mas não foram essas ocupações que deram razão a essa
mobilidade social.
No caso brasileiro, parcelas significativas das ocupações não são
geradas pela indústria, mas sim por serviços. Por isso, entendemos que
são novos segmentos no interior da classe trabalhadora. A classe média
tradicionalmente tem uma estrutura muito diferente desses segmentos
novos que surgiram no Brasil. Ela tem mais gastos com educação e com
saúde. O peso da alimentação é muito menor do que o que se identifica
nesse segmento de renda de até 1,5 ou 2 salários mínimos mensais.
Ao mesmo tempo, a classe média poupa, não gasta tudo que ganha. Nela,
a elevação da renda não se traduz necessariamente na elevação do
consumo. Especialmente porque os bens que mais têm sido dinamizados no
país, como eletrodomésticos, são bens que a classe média já possui.
Então a classe média poupa. E isso é uma diferença que nós não
identificamos nos segmentos agora em ascensão.
A classe média tem ativos e patrimônio. São várias características
que infelizmente nós não conseguimos observar nesses segmentos que estão
ascendendo. E são segmentos que, ao nosso modo de ver, dizem respeito à
classe trabalhadora, tal como foi o padrão de expansão do Brasil nesses
últimos dez anos.
CC: Essas particularidades mudam, alguma forma o foco das políticas voltadas a essa parcela da população?
MP: Esse debate, de como se identifica essa ascensão
social no Brasil, tem implicações evidentes no posicionamento do Estado
brasileiro, das políticas públicas. Se nós identificarmos essa ascensão
como um movimento vinculado à classe média, certamente o papel do
Estado estaria ligado à difusão dos serviços privados, por intermédio de
subsídios, como através do Imposto de Renda, que subsidia gastos do
setor privado da classe média. Hoje é possível descontar despesas de
educação, saúde e previdência privada. São interesses diferentes da
classe trabalhadora, que são por bens públicos de interesse coletivo:
saúde pública, educação pública, transporte público.
CC: Quando o senhor deve sair do Ipea para se dedicar à campanha?
MP: Essa é uma resposta que eu não tenho condições
de dar. Até o 6 de julho, eu sei que tenho que sair inexoravelmente. O
dia que eu vou sair depende da presidenta, estou aguardando o
posicionamento dela.
CC: O senhor até hoje só tinha ocupado cargos técnicos e
agora está tentando a sua primeira eleição. Por que tomou a decisão de
ser candidato?
MP: Eu me considero um intelectual de perfil
engajado. Foi a partir de uma conversa com o próprio presidente Lula, em
que ele chamava atenção às mudanças que o Brasil estava passando no
começo desse século. As mudanças são muito diferentes daquela que o
Brasil estava passando nos anos 70, começo dos 80, quando o PT foi
criado. Hoje temos um ciclo de lideranças que foram forjadas num Brasil
que quase não existe mais. Existe uma necessidade de renovação do PT,
especialmente quando o partido está no auge ainda.
E tem também, outro lado. Em geral, a prefeitura existe como um cargo
com menor visibilidade quando se compara com o Executivo estadual e
nacional. No caso do Brasil, uma federação, o exercício de um mandato na
prefeitura é absolutamente fundamental. Quando se lança uma política
pública, se fala da experiência em determinada localidade, para saber se
dá certo, dá errado, de poder tornar um programa de abrangência
nacional. Temos uma oportunidade de testar experiências inovadoras no
ponto de vista da administração pública a partir da experiência local.
Campinas é uma cidade que permite essa oportunidade de iniciar um ciclo
de inovações em políticas públicas que são necessárias para o Brasil de
hoje.
CC: O senhor foi indicado pelo presidente Lula, a exemplo do
que aconteceu em São Paulo com o Fernando Haddad. Há setores do partido
que se incomodam com essas decisões tomadas com base no desejo do
ex-presidente.
MP: No meu caso, tive essa conversa com o presidente
Lula e depois comecei uma conversação longa com os militantes, com o PT
na cidade de Campinas e tanto assim que me submeti a uma prévia dentro
do PT com outro candidato. Foi a prévia com a maior participação na
cidade de Campinas e maior apoio a um candidato. Porque participei de um
processo interno democrático, aprendi muito, gostei.
CC: Tem falado com o ex-presidente?
MP: Eu estive com ele há duas semanas e conversamos
um pouco sobre esse período pós-prévia, organização da campanha. Ele
manifestou desejo de apoiar da melhor forma que puder.
CC: A presidenta Dilma já disse como será a presença dela na campanha?
MP: Eu ainda não tive essa oportunidade. Estou esperando o momento oportuno para conversar com ela.
CC: Quais partidos vão fazer parte da aliança?
MP: Também não há definição. A gente ainda começa a
ouvi-los, vai consultar vários partidos e fazer o balanço das
oportunidades para partidos. E tem tempo para a definição até julho, na
verdade.
CC: Campinas teve um prefeito cassado recentemente, Dr. Hélio (PDT). Haveria algum constrangimento em se aliar ao PDT?
MP: Não. Na verdade, eu imagino que a discussão
nesse âmbito da prefeitura se deu no passado, embora isso seja um
elemento a ser discutido. Se nós ficarmos discutindo o passado, não
teremos respostas para o futuro. Quero ser um candidato do futuro, ter
respostas para a sociedade. O passado serve só para a gente não
repeti-lo nem cometer os mesmo erros.
Baixa aprovação em concurso é alerta sobre formação de professores, diz governo do RS
O debate sobre a qualidade do ensino está aberto novamente no Rio
Grande do Sul. Os novos elementos são o resultado do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) sobre o estado gaúcho ter o
maior índice de reprovação (20,7%) no Ensino Médio e a baixíssima
aprovação dos professores no recente concurso
público do magistério. As duas notícias saíram esta semana e provocaram
uma coletiva de imprensa do secretário estadual de Educação, José
Clóvis, nesta quinta-feira (17). Na avaliação do executivo, os dados
sobre o ensino médio são os mesmos desde 1975 e a gestão Tarso Genro já
começou a Reforma do Ensino Médio no estado. Quanto aos pouco mais de 5
mil aprovados no concurso, ele anunciou novo concurso público para este
ano e sugeriu uma reflexão sobre a formação dos professores.
“Não quer dizer que eles (professores) tenham baixa formação
cultural, mas aquilo que eles estão aprendendo nas escolas de formação
não está adequado ao necessário aos padrões do profissional para sala de
aula”, afirmou o secretário José Clóvis. De acordo com o titular da
Educação, diferente das críticas sobre o grau de dificuldade da prova
aplicada no processo seletivo do magistério gaúcho, a prova foi
“normal”. Clóvis explicou que a Secretaria Estadual de Educação efetuou
nova verificação dos conteúdos e da bibliografia exigidos para o teste.
“Não houve excesso. Tudo que apareceu nas questões é o que se discute
sobre a prática de educação”, garante.
Foram quase 70 mil candidatos
que realizaram as provas no dia 15 de abril. Destes, 92,45% foram
reprovados. A composição da prova incluía Português, Legislação e
Conhecimentos Pedagógicos, como tradicionalmente ocorria, e inovou com a
exigência de conhecimentos específicos da habilitação do professor por
área. Com a aprovação de apenas 5,2 mil aprovados, entre os 10 mil
inscritos para o quadro em 131 habilitações diferentes, ainda será
contabilizado quais as áreas onde mais pessoas foram aprovadas. “O
importante é que nenhuma escola ficará sem professor. Onde não pudermos
colocar os convocados pela lista do concurso, vamos colocar os
professores contratados”, explica o secretário.
A realização do concurso foi
pensada justamente para reduzir o universo de cerca de 20 mil
professores contratados sem carreira no funcionalismo, fator que
dificulta o vínculo com a comunidade escolar e influencia na qualidade
do ensino. Com o baixo desempenho dos professores, o governo gaúcho
anunciou a realização de novo concurso para este ano. As provas deverão
ser aplicadas no final do ano ou no começo de 2013, no mesmo padrão de
exigência. “Pensamos um concurso dentro de padrões que consideramos
essenciais para um profissional adequado ao ensino de qualidade. O que
pudemos perceber é que está havendo dificuldades na formação dos
professores”, reforça José Clóvis.
O governo também irá promover o concurso público para funcionário de escola. O número de vagas
não foi fechado, pois a Secretaria ainda está desenhando os cargos que
serão disponibilizados. “Estamos trabalhando outra concepção.
Repensaremos o quadro funcional de acordo com a realidade atual da
escola pública: mais complexa, que oferece mais serviços e recebe mais
aporte financeiro com os programas Mais Educação, Escola Aberta e RS
Inovador. Precisamos de nutricionista para o controle de qualidade da
merenda, que virou uma refeição completa, técnicos de contabilidade para
gerenciar os novos recursos”, exemplificou José Clóvis.
“Melhor fazer novo concurso do que contratar pessoas que não estão preparadas”, diz Mariza Abreu
A ex-secretária de Educação do RS, Mariza Abreu concorda com a
realização do concurso público aplicado na gestão atual. Segundo ela, as
inovações por área do conhecimento e por região já haviam sido pensadas
no governo de Yeda Crusius (PSDB). “Fico feliz que isto foi adequado.
Nos outros estados as provas sempre foram separadas por áreas
específicas, só no RS que não. E a continuidade nas políticas públicas é
fundamental porque as mudanças na Educação acontecem de forma gradual.
Acaba que em quatro anos nunca dá tempo de fazer tudo, porque a rede
estadual é muito grande”, falou.
Mariza entende o baixo índice de aprovados como um fator positivo. “É
melhor realizar um novo concurso do que contratar pessoas mal
preparadas, que não se habilitam com formação continuada depois”, afirma
a ex-secretária. Ela afirma que o fato da modificação por região e não
por município ajuda a evitar desequilíbrios de ter mais ou menos
professores por cidades. “Tínhamos casos em que faltava professores e
outros locais sobravam”, comenta.
Porém, analisando apenas o edital do concurso, Mariza acredita que
possa ter ocorrido algum equívoco na definição dos conhecimentos
específicos. “Podem ter feito por disciplina e não por área. Existem
várias licenciaturas que são por área. E só o fato de ter sido a
primeira vez que se faz provas específicas já pode ter influenciado na
aprovação. Não acho isso ruim. Se temos o estado maior empregador de
professores exigindo no concurso, isso vai contribuir para melhorar os
cursos de formação. Falta uma interlocução entre as agências de formação
de professores e os empregadores. O resultado disso estoura no
professor”, avalia.
“Sobrecarga dificulta preparação para as provas”, acusa Cpers
A discussão sobre os índices de
aprovação dos professores perpassa também outros aspectos da carreira do
magistério, na avaliação do sindicato da categoria, o Cpers. A
presidente Rejane de Oliveira fala que um conjunto de elementos
influenciou os resultados das provas. “Foi um concurso diferenciado.
Nossa categoria saiu das provas dizendo que as questões foram mal
elaboradas, deixavam margem para dubiedade de interpretações. Foi uma
estratégia para contratação de poucos profissionais de carreira”,
acredita.
Rejane acusa que o grau de exigência foi intencionalmente seletivo
para não aumentar o número de professores que engrossarão o bolo do
pagamento do Piso Nacional do Magistério. “A precarização das relações
de trabalho continua e o governo ainda tenta jogar na sociedade que
falta qualificação da nossa categoria. Uma categoria com negativa do
governo para pagar o piso tem que se desdobrar em três turnos para dar
conta da sua sobrevivência e sobre pouco tempo para a preparação para
uma prova tão exigente”, defende.
secretária-adjunta de Educação Eulália Nascimento contesta dizendo
que o discurso político da negociação sobre o pagamento do piso não pode
ser caracterizado. “Temos que desmitificar a precarização da carreira
do magistério. Dos 21 mil professores que estão na carreira e que
receberam completivo, 17 mil estão aposentados. Somente 4 mil na ativa
recebiam a menos que o piso. O que comprova que a estrutura salarial e a
carreira do magistério não são a miserabilidade que se anuncia”, diz.
Ela complementa dizendo que “a carreira defendida via Plano de Carreira,
possibilita que do nível médio para graduação seja de 85% o aumento, e
ainda acrescido os índices dos triênios e das possibilidades das classes
que são de 5% a 50%”. O que significaria, segundo ela, uma margem de
composição salarial ao longo da carreira do magistério que varia do 1%
ao 400%. “Queremos mais do que isso ainda, mas não é a tragédia que se
anuncia em relação ao valor do piso”, defende.
Reprovação e Reforma do Ensino Médio
Sobre a taxa de reprovação no ensino médio apresentada pelo Inep esta
semana, em que o Brasil registrou os maiores indicadores desde 1999 e o
Rio Grande do Sul lidera o ranking dos estados, os gestores do governo
gaúcho alegaram não ser um reflexo desta gestão. “É um dado que o RS tem
desde 1975. Sempre variou de 17 a 21%”, falou o secretário de Educação,
José Clóvis comparando aos atuais 20,7%.
A realização do concurso público foi uma das ações citadas pelo
secretário como fatos concretos de uma mudança na qualidade do ensino
público e que impactarão futuramente nos índices do Inep. “Desde 2011
estamos atentos a estes indicadores. Porém, os resultados são de médio e
longo prazo. Estamos licitando 400 obras em escolas para reformas
inovadoras. Escolas com cozinha industrial, áreas de esporte e lazer,
sala de estudos para professores. O ambiente adequado para que a
estrutura não comprometa a qualidade da aprendizagem”, justificou.
A precariedade das instituições públicas de ensino não passa batido
aos olhos do sindicato que acompanha o dia a dia dos professores. “Temos
escolas caindo aos pedaços. Não temos materiais pedagógicos adequados.
Faltam condições de trabalho. Tentam sempre colocar nos ombros dos
trabalhadores as mazelas da escola pública para justificar os baixos
salários”, defende a presidente do Cpers, Rejane de Oliveria.
Na opinião da educadora Mariza Abreu, o índice é recorrente da escola
que não atende as demandas da juventude. “Mas, não podemos
responsabilizar os professores. Tem a responsabilidade da instituição
que formou o professor e dos gestores públicos neste resultado. O
pedagógico não pode ser imposto pela Secretaria de Educação aos
professores. Eles não conseguirão dar aula de um jeito que não
aprenderam, concordam ou se sentem aptos a fazer”, salienta.
Neste ponto, o atual secretário e a ex-titular da Educação no RS
concordam. “O único responsável pela reprovação na concepção dominante
acaba sendo o aluno. E ele não é. É o diretor da escola, o professor, a
Secretaria de Educação e também o aluno. É uma questão que temos que
enfrentar. A reprovação nos mostra algo bom que estamos debatendo: que a
essência do trabalho educativo, que é alcançar a aprendizagem, não está
dando certo”, disse.
Mariza Abreu concorda com o debate. “Temos que transformar o debate
em um problema para podermos modificá-lo. Mas, para mudar isto é preciso
mudar a formação dos professores e mudar os currículos. Tornar o Ensino
Médio mais atrativo”, critica. E argumenta: “Não conseguimos fazer isso
por sucessivos governos porque no fundo tem uma cultura que acha que
ensino é um só. Para não ser discriminatório, os que entram no ensino
superior, por exemplo, tem que saber de todas as áreas para poder entrar
em uma área específica”, explica.
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POLITICAS PUBLICAS
quinta-feira, 17 de maio de 2012
A mãe e a puta estão de volta
A
crise e a falta de perspectivas individuais e coletivas parecem
reativar a feminilidade mais arcaica, percebida como uma saída em uma
sociedade dura, competitiva, implacável – seja no recolhimento do lar ou
na busca por um lugar ao sol
|
por Mona Cholllet no LeMondeBrasil |
Nos últimos meses, parece que os cineastas franceses assumiram a missão
de mostrar às jovens das classes médias e populares como superar o
destino que as espera: estudos inúteis, ou nenhum estudo, seguidos de
uma longa vida de trabalho ingrato por um salário irrisório. Contudo,
trata-se menos de encorajá-las a fazer uma leitura política de sua
situação que de afirmar a existência de ricos e pobres hoje, ontem e
amanhã. A pobreza é tratada como um dado estável da história da
humanidade – ou mais ou menos estável, pois ninguém tem dúvida de que,
recentemente, os mais pobres estão se tornando mais pobres, e os mais
ricos, mais ricos. Isso faz suspeitar que haja certos mecanismos
políticos operando nesse cenário, mas repeti-los pode revelar um
populismo de mau gosto, sobretudo se você for uma linda jovem, que
horror! Ademais, por que mergulhar em reflexões extenuantes se a
natureza deu-lhe todo o necessário – um corpo jovem, sedutor e saudável –
para superar essa situação?
Em dezembro, estreou na França o filme 17 filles [17 meninas],
de Delphine e Muriel Coulin. Inspirado na história real de 18
estudantes norte-americanas que engravidaram ao mesmo tempo em 2008, foi
transposto para o universo francês da cidade de Lorient e interpreta o
acontecimento de maneira fortemente idealizada. As diretoras
apresentaram a gravidez adolescente como uma rebelião romântica contra o
universo opressivo de pais e professores, e colocaram em cena atrizes
magras e lindas, filmadas com beleza e fascinação.1
Afirmar o caráter “subversivo” da maternidade precoce implica ocultar
as campanhas de prevenção existentes há anos nos Estados Unidos e, em
menor medida, na Europa. Após o filme norte-americano Juno, de 2007, as transmissões de Teen mom(Mãe adolescente) e 16 and pregnant(16 anos e grávida), na MTV; 16 ans et bientôt maman(16 anos e logo mamãe), no M6; ou Clem, maman trop tôt!(Clem, mamãe muito cedo) e Ados et déjà mamans(Adolescentes
e já mães), no TF1, são testemunhas da estetização desse problema
social. Na França, em 2011, o videoclipe da canção Aurélie, de
Colonel Reyel, teve 23 milhões de visitas no YouTube e fez a alegria
daqueles que se opõem à interrupção voluntária da gravidez (IVG):
“Aurélie tem apenas 16 anos e espera um bebê/ Seus amigos e parentes
aconselham o aborto/ Ela não está de acordo, ela quer fazer as coisas
diferentes/ Ela diz que está pronta para ser chamada de ‘mamãe’”.
Apesar dessa atmosfera cultural, por enquanto os números seguem
estáveis: na França, são registrados alguns milhares de maternidades
precoces por ano – dez vezes menos que nos Estados Unidos. Por outro
lado, o lar representa uma ocupação atrativa para mulheres de todas as
idades perante os baixos salários e meias jornadas do mercado de
trabalho; para as mulheres de hoje, assim como para as da década de
1970, emprego não é sinônimo de independência financeira.
Depois da mãe precoce, aparece a prostituta. Em fevereiro, estreou Elles
[Elas], de Malgoska Szumowska, filme de ficção sobre a prostituição
estudantil – um fenômeno em expansão a ponto de algumas faculdades
lançarem campanhas internas de prevenção. Uma das heroínas paga aluguel,
está fazendo cursinho e não tem tempo de estudar porque chega esgotada
do trabalho em um restaurante de fast-food; a outra desembarca
de sua Polônia natal e depara com o preço do aluguel de um quarto em
Paris. Por acaso, as duas percebem que homens endinheirados podem
repartir um pouco de suas fortunas em troca de momentos de cumplicidade
carnal e intimidade. Em definitivo, o mundo não parece tão ruim.
Ambas são convocadas para uma pesquisa da revista Elle e
entrevistadas por uma jornalista (Juliette Binoche) cheia de
preconceitos, que não conhece o prazer erótico. O filme perpetua as
representações misóginas inerentes à prostituição: o burguês frustrado é
um ser sensível e triste, com esposa e filhos; a burguesa frustrada,
por outro lado, é uma sombra brutalizada, uma criatura grotesca. Única
responsável por seu fracasso, falta com seus deveres mais sagrados.
Diante de suas interlocutoras, a jornalista percebe que ela “não
compreende bem o tema sobre o qual as jovens falam sem dificuldade: dar
prazer”. Note-se: dar, e não receber.
As cenas com os clientes são cheias de humanidade tocante, excessos
charmosos, transgressões quentes e canções de amor com violão. Ao mesmo
tempo, quando lançava sua própria linha de lingerie, a ex-prostituta de
luxo Zahia Dehar, que em 2009 foi o “presente de aniversário” do jogador
de futebol Franck Ribéry, era manchete do Next, suplemento de moda do Libération
(4 fev. 2012). O estilista Karl Lagerfeld acreditava que ela se
inscrevia “na linha de cortesãs francesas”, uma “tradição puramente
nacional que o mundo inteiro admirou e copiou”. A jornalista
ex-prostituta entendia sua história como um “imenso respiro” em uma
sociedade “condenada à era dos herdeiros”: não, o elevador social não
está bloqueado...
Se nem todas as mulheres se deixam seduzir por esse “conto moderno”
(título do perfil da ex-prostituta), todas são convidadas com uma
insistência particular a comportar-se como objeto mais que sujeito. Os
critérios estéticos e as roupas que definem a qualidade “sexy” são
sugeridos desde a mais tenra idade, e em geral com grande adesão: a moda
e a beleza representam, ao mesmo tempo, a passagem para a ascensão
social e a entrada em um universo de sonhos.2
Assim, a crise e a falta de perspectivas individuais e coletivas
parecem reativar a feminilidade mais arcaica, percebida como uma saída
em uma sociedade dura, competitiva, implacável – seja no recolhimento do
lar ou na busca por um lugar ao sol (a panóplia da mulher fatal). Lado
mãe ou lado prostituta, essa feminilidade se define em função das
necessidades e expectativas dos outros. Aquelas que se conformam com
essa condição reprimem seus próprios desejos, opiniões e ambições
íntimas. “Bem longe do ideal das lutadoras de outrora, das mulheres
livres, das intelectuais e mulheres de poder, a feminilidade hoje parece
responder a apenas um atributo – a sedução – e ter um único objetivo – a
maternidade. Os homens e as crianças primeiro!”, escreve Maryse
Vaillant,3 que enxerga uma persistente censura intelectual sobre a sexualidade de suas semelhantes. Em Next,
Zahia conta que quando criança, na Argélia, era a “primeira aluna da
classe”. Adorava matemática e sonhava em ser “piloto de avião”.
Exercer uma profissão por gosto, existir socialmente por outras
competências além da maternidade, da sexualidade e da sedução, e
conquistar a independência financeira dormindo apenas com quem se quer:
ser mulher, sobretudo se não se nasce em berço de ouro, significa lutar.
Mas, atualmente, nem isso parece ser um objetivo.
Mona Cholllet é autora de Rêves de droite (Sonhos de direita), Paris, editora Zones, 2008.
Ilustração: Natalia Forcat 1 Cf. “17 filles et pas mal d’objections” [17 meninas e muitas objeções], 1º jan. 2012, Peripheries.net. 2 Cf. Beauté fatale. Les nouveaux visages d’une aliénation féminine [Beleza fatal. As novas faces da alienação feminina], Zones/La Découverte, Paris, 2012. 3 Maryse Vaillant, Sexy soit-elle. Propos sur la féminité [Sexy seja ela. Proposta sobre a feminilidade], Les Liens qui Libèrent, Paris, 2012. A única ressalva é que a autora opõe as evoluções atuais a uma feminilidade “autêntica”, que, em última instância, também está relacionada a outra série de clichês. |
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Do Homossexualismo ao direito de ser livre
Do Homossexualismo ao direito de ser livre
por: Anderson Castro e Tiago Silveira - Juventude do PSTU
O dia 17 de maio entrou para o
calendário do movimento LGBT’s como o Dia Internacional de Combate a
Homofobia. Esse é o dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde)
retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais
(homossexualismo). Direito, esse, conquistado com muita luta e
organização de LGBT’s para exercer sua sexualidade. Num breve histórico
da luta dos homossexuais pela igualdade de direitos, vemos uma constante
ofensiva ideológica, no sentido da preservação de uma moral que
discrimina e oprime mulheres e homens no capitalismo. A luta contra as
fogueiras, contra legislações que condenavam e perseguiam, a luta contra
os campos de concentração que torturavam e matavam. Podemos aqui citar
inúmeras perseguições aos que “saiam do padrão”.
No século XX, a Revolução Russa foi
onde mulheres e homens tiveram a mais importante vitória na luta pela
igualdade, sendo o momento em que os homossexuais tiveram a equidade dos
seus direitos, abolindo toda e qualquer legislação que condenava,
mulheres e homens, por atos sexuais. Também marco da luta contra a
opressão e discriminação aos homossexuais foi o 28 de junho de 1969,
quando gays, lésbicas e travestis rebelaram-se contra a repressão
policial, tomaram as ruas, tombaram e incendiaram carros, levantaram
barricadas e transformaram o Bar Stonewall - NY (onde a revolta teve
início) em “marco zero” da luta contra a homofobia, influenciados pelo
maio de 68.
No Brasil dos anos 80, quando o país
era estremecido pelas greves do ABC paulista, cerca de 50 homossexuais
entraram com faixas e cartazes em plena greve dos metalúrgicos apoiando a
luta da classe trabalhadora elxs foram aplaudidos pelos mais 100mil
operários, num gesto que demonstra que a luta dos explorados e oprimidos
deve ser uma só.
Criminalização da Homofobia Já!
Vivemos uma ofensiva brutal por parte
dos setores mais reacionários e conservadores de nossa sociedade. Vimos
no governo Lula, a falsa campanha “Brasil sem Homofobia” que em nada
diminuiu as agressões e mortes de homossexuais no Brasil. Hoje estamos
no segundo ano do mandato de Dilma e não foram poucos os “Bolssonaros”
que apareceram por ai. Iremos para 10 anos de um governo de “Frente
Popular” e hoje somos o país campeão mundial de violência homofóbica.
São cerca de 250 assassinatos por anos, e os números só crescem. Apenas
em janeiro de 2012 foram 36 mortes. Mesmo assim presenciamos “acordões”
como o de Marta Suplicy (PT/SP) com os senadores Marcelo Crivella
(PRB-RJ), ligado à Igreja Universal, e Demóstenes Torres (DEM-GO), líder
do DEM no senado, que fizeram a mutilação do Projeto de Lei 122/06 que
criminalizaria a homofobia, retirando ponto importantes como a proteção à
demonstração pública de afeto e a criminalização do discurso
homofóbico. Não podemos esquecer também do veto do “Kit Anti-Homofobia”,
que iria incentivar o debate na escola no sentido de conscientizar e
apresentar a questão da sexualidade desde a infância.
Paridade de direitos entre homossexuais e heterossexuais!
O PSTU defende o casamento Gay, nos
termos da Constituição Federal de 1988 que mostra, no parágrafo primeiro
do artigo 226, que o casamento não é religioso, “é civil e gratuita a
celebração”, um procedimento jurídico ministrado num cartório por um
juiz de paz. Também defende o direito à adoção, o acesso ao crédito por
casais do mesmo sexo, licença-maternidade e paternidade, creches,
reconhecimento do nome social de travestis e transgêneros em documentos e
órgãos públicos e privados, uma rede de saúde 100% pública e laica que
atenda às especificidades dos LGBT’s. Exige também a retirada da
resolução da Anvisa que proíbe homossexuais de doarem sangue, a inclusão
da educação sexual nas escolas e cursos de formação de professores e a
criminalização da homofobia.
O dia 17 de maio deve ser marcado como
um dia de luta contra a opressão e discriminação à Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transgêneros. O dia de erguer a bandeira da
paridade de direitos entre homossexuais e heterossexuais. Para nós, a
defesa incondicional da mais ampla liberdade de expressão sexual é parte
da luta pela construção de um verdadeiro socialismo.
No dia 12 de Junho a ANEL, o
DCE/UFRGS, e outros coletivos irão organizar o 2° Beijaço em Porto
Alegre, Participe de mais um Ato em defesa da igualdade, Contra a
Homofobia!
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quarta-feira, 16 de maio de 2012
O cenário eleitoral em Bagé=Rs hoje
Benedito Tadeu César * no SUL21
Contando com o 17º eleitorado e o 31º PIB do Rio Grande do Sul, Bagé
terá uma de suas eleições municipais mais disputadas dos últimos anos. O
grande arco de alianças partidárias, encabeçado pelo PT e que garantiu a
este partido a vitória em três eleições seguidas e o governo municipal
desde o ano 2000, foi rompido.
Desentendimentos partidários, ocorridos ao longo da atual gestão e
que atingiram seu auge no final de 2011, provocaram a saída de três dos
sete vereadores eleitos pelo PT em 2008, todos antigos integrantes do
bloco político do ex-prefeito Luiz Fernando Mainardi, do PT, o grande
articulador político no município.
Em decorrência destes fatos, duas grandes alianças estão sendo
gestadas no município neste momento, com a possibilidade de polarizar as
eleições. De um lado, o prefeito petista e candidato à reeleição Luis
Eduardo Colombo dos Santos, o Dudu, e de outro, a vereadora mais votada
no município, Adriana Lara Dias, eleita em 2008 pelo PT e hoje no PTB.
Uma terceira via foi esboçada, mas, ao que parece, não se articulou.
Dudu tenta se reaproximar de Mainardi e procura atrair o maior número
de partidos para sua coligação eleitoral. No momento, oito legendas
apoiam sua candidatura: PT, PSB PCdoB, PR, PRB, PPL, PSC e PV. Adriana
Lara tem como certo, até aqui, o apoio de sete partidos. Além do PTB,
também PDT, PSD, PMN, PHS, DEM e PPS. PMDB e PP ainda não se definiram.
Não está certo se lançam candidatura(s) própria(s) ou se apoiam Dudu ou
Adriana. Tudo dependerá das negociações da vaga do candidato a
vice-prefeito, das nominatas de vereadores e dos acordos programáticos
que forem fechados.
Pesquisas realizadas durante o ano passado e que são as únicas
publicadas sobre as preferências dos eleitores de Bagé até o momento,
apontaram resultados contraditórios. A primeira delas, realizada no final setembro e de responsabilidade do Instituto Kepeler e do Sul21,
indicava vantagem de 12,8 pontos percentuais de Dudu Colombo sobre
Adriana Lara na menção espontânea e rigoroso empate técnico nos dois
cenários estimulados testados. A segunda pesquisa,
realizada pelo Instituto Methodus no início de novembro a pedido da
Associação dos Jornais do Interior (ADI) e publicada pelo Jornal
Minuano, apontava empate técnico entre Dudu e Adriana na menção
espontânea e uma vantagem de 18,3 pontos percentuais de Adriana sobre
Dudu na menção estimulada.
As pesquisas tinham metodologias, amostras e margem de erros semelhantes, sendo que a Kepeler/Sul21
entrevistou 400 eleitores residentes em Bagé e apresentou margem de
erro admitida de cinco pontos percentuais para mais ou para menos e a
pesquisa Methodus/ADI entrevistou 300 eleitores e considerou admissível
uma margem de erro de 5,5 pontos percentuais. Além das diferenças de
resultados apontados acima, outra disparidade chama a atenção: na
pesquisa Kepeler/Sul21, apenas 23,5% dos entrevistados
declararam não ter candidato preferido na menção espontânea, enquanto na
pesquisa Methodus/ADI, 62% afirmaram não ter candidato escolhido.
Aparecia, ainda, na pesquisa Kepeler/Sul21, na menção espontânea, a referência ao ex-prefeito Luiz Fernando Mainardi como o preferido de 18,8% dos eleitores.
Independente de quem esteja na frente hoje, se Dudu Colombo ou
Adriana Lara, o que só poderá ser constatado por novas pesquisas, o que
se pode afirmar é que a eleição para a Prefeitura Municipal de Bagé de
2012 terá um cenário diferente dos anteriores. O bloco
político-partidário articulado por Fernando Mainardi foi desfeito, mas,
ao que parece, o apoio do ex-prefeito será decisivo para definir o
resultado das urnas.
. oOo.
* Benedito Tadeu César
é cientista político, mestre em antropologia social e doutor em
sociologia pela UNICAMP. Foi professor nas universidades federais do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e do Espírito Santo (UFES). Fundador e primeiro
coordenador do LABORS-IFCH (Laboratório de Observação Social) do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS. Ex-coodenador do
Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS. Consultor e
analista político, especialista em pesquisas e comportamento
político-eleitoral.
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terça-feira, 15 de maio de 2012
A crise e os sindicatos (Ricardo Antunes)
Este texto,
do professor Ricardo Antunes, foi publicado em 1993, na revista
Teoria e Debate, da Fundação Perseu Abramo. Foi escrito em meio à
arrancada neoliberal no Brasil. Assim como o texto do teórico Ernest Mandel,
precisa ser avaliado dentro de um contexto histórico, no entanto, será
que muitas críticas contidas no artigo não poderiam ser perfeitamente
aplicáveis à CUT e ao movimento sindical nos dias de hoje?
Boa leitura:
A crise e os sindicatos
Por Ricardo Antunes
As perspectivas generosas de emancipação
humana, tão caras a Marx, foram ou estão sendo pouco a pouco trocadas
pelos valores da acomodação social-democrata. Ao movimento sindical
impõe-se a decisão: vamos elaborar um programa de emergência para gerir a crise do capital sob sua ótica ou avançar na elaboração de uma alternativa?
A crise que atinge o mundo do trabalho, seus
organismos sindicais e partidários é de proporções ainda não de todo
assimiladas. Sua intensidade e agudeza devem-se ao fato de que,
simultaneamente, atingiu a materialidade e a objetividade do
ser-que-vive-do-trabalho. Não foram poucas as transformações vivenciadas
nesta última década, atingindo centralmente os países capitalistas
desenvolvidos, mas com repercussões fortes, decorrentes da mundialização
e globalização do capital, no conjunto de países do Terceiro Mundo,
especialmente aqueles intermediários, com um significativo parque
industrial, como é o caso do Brasil.
Indico, a seguir, alguns elementos que, no seu
conjunto, compõem a causalidade deste quadro agudamente crítico: a
automação, a robótica e a microeletrônica possibilitaram uma revolução
tecnológica de enorme intensidade. O taylorismo e o fordismo já não são
únicos, convivendo, no processo
produtivo do capital, com o “toyotismo”, o “modelo sueco”, entre
outros. Tais mudanças têm consequências diretas no mundo do trabalho,
especialmente na classe operária. A flexibilização da unidade fabril, a
desconcentração da produção, a arrasadora desregulamentação dos direitos
do trabalho, os novos padrões de gestão e “envolvimento” da força de
trabalho, como os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ),
experimentados no Japão – em realidade uma apropriação do fazer e saber
do trabalho, sob o comando manipulatório do capital dos nossos dias,
levando o estranhamento do trabalho (no sentido marxiano) ao seu limite –
tudo isso, feito sob um “inquestionável domínio” da “produtividade” e
da “modernidade social”, acabou afetando a forma de ser do proletariado
fabril, tradicional. A classe-que-vive-do-trabalho metamorfoseou-se.
Se já não bastassem estas transformações, a crise
atingiu diretamente a subjetividade do trabalho, sua consciência de
classe, afetando seus organismos de representação, dos quais os
sindicatos e os partidos são expressão. Os primeiros, os sindicatos,
foram forçados a assumir uma ação cada vez mais defensiva, cada vez mais
atada ao imediatismo, à contingência, regredindo em sua já limitada
ação de defesa de classe no universo do capital. Gradativamente foram
abandonando seus traços anticapitalistas visando preservar a jornada de
trabalho regulamentada, os demais direitos sociais já conquistados e,
quanto mais a “revolução técnica” do capital avançava, mais lutavam para
manter o mais elementar e defensivo dos direitos da classe
trabalhadora, sem o qual sua sobrevivência está ameaçada: o direito ao
trabalho. ao emprego.
É nesta contextualidade adversa que se desenvolve o sindicalismo de
participação em substituição ao sindicalismo de classe. Participar de
tudo …. desde que não se questione o mercado,
a legitimidade do lucro, o que e para quem se produz, a lógica da
produtividade, a sacra propriedade privada, enfim, os elementos básicos
do complexo movente do capital. As perspectivas generosas da emancipação
humana, tão caras a Marx, foram ou estão sendo pouco a pouco trocadas
pelos valores da acomodação social-democrata. Entre o estrago neoliberal
e a bancarrota do Leste Europeu (equivocadamente assimilada por enormes
contingentes da esquerda como o “fim do socialismo e do marxismo”), o
universo político e ideológico do mundo sindical de esquerda, incapaz de
buscar novas alternativas socialistas, refundidas, redescobertas e
radicais, se insere cada vez mais na preservação do chamado welfare state,
no universo da ação social-democrata. A luta pelo controle social da
produção, presente com intensidade nos anos 60/70 e em tantos outros
momentos da luta dos trabalhadores, parece cada vez mais distante. O
moderno é o mercado, a produtividade, a integração, a negociação, o
acordo, a conciliação, a concertação.
Incapaz de apreender a amplitude e a dimensão da
crise do capitalismo, postado numa situação desfavorável que lhe obsta a
possibilidade de visualizar e agir para além do capital, o
sindicalismo, em seus traços e tendências dominantes, conduzido pelo
ideário que tem conformado suas lideranças, a cada passo dado recua a um
patamar anterior, assemelhando-se a um indivíduo que, embora pareça
caminhar para frente, desce uma escada de costas, sem visualizar o
último degrau e menos ainda o tamanho do tombo. Cada vez mais atuando
sob o prisma institucional, distanciando-se dos movimentos sociais
autônomos, o sindicalismo, vive uma brutal crise de identidade. Penso
que se trata mesmo da mais aguda crise no universo do trabalho, com
repercussões fortes no movimento dos trabalhadores. A simultaneidade da
crise, tanto na materialidade quanto na subjetividade da
classe-que-vive-do-trabalho, a torna muito mais intensa. Quais foram as
consequências mais visíveis destas transformações?
No que diz respeito ao mundo do trabalho, as
respostas são complexas e envolvem múltiplas processualidades que aqui
somente podemos indicar, de modo a tentar configurar um esboço
explicativo para a crise que assola a classe trabalhadora e em
particular o movimento sindical. É visível a redução do operariado
fabril, industrial, gerado pela grande, indústria comandada pelo binômio
taylorismo-fordismo, especialmente nos países capitalistas avançados.
Porém, paralelamente a este processo, verifica-se uma crescente,
subproletarização do trabalho, através da incorporação do trabalho
precário, temporário, parcial etc. A presença imigrante no Primeiro
Mundo cobre fatias dessa subproletarização. Ora se confundindo, ora se
diferenciando desta tendência. há um fortíssimo processo de
terceirização do trabalho, que tanto qualifica como desqualifica e com
certeza desemprega e torna muito menos estável a condição operária.
Deslancha o assalariamento dos setores médios, incorpora-se o trabalho
das mulheres no processo produtivo. Há qualificação em vários setores,
como no ramo siderúrgico, acarretando, enquanto tendência, um processo
de intelectualização do trabalho industrial (o trabalhador como
“supervisor e regulador do processo de produção”, conforme a antecipação
genial de Marx nos Grundrisse), e desqualificação em outros, como no
mineiro. A processualidade é complexa e multiforme e tem como resultado
uma classe trabalhadora mais heterogeneizada,fragmentada e
complexificada.
O sindicalismo não permaneceu inume a estas tendências: diminuíram as
taxas de sindicalização, na(s) últimas) década(s) nos EUA, Japão,
França, Itália, Alemanha, Holanda, Suíça, Reino Unido, entre outros
países. Com o aumento do fosso entre operários estáveis e precários,
reduz-se fortemente o poder dos sindicatos, historicamente vinculados
aos primeiros e incapazes, até o presente, de incorporar os segmentos
não estáveis da força de trabalho. Houve, na década de 80, redução do
número de greves em vários países do centro. Aumentaram os casos de
corporativismo, xenofobia, racismo, no interior da própria classe
trabalhadora. Tudo isso permite constatar que o movimento sindical
encontra-se numa crise de proporções nunca vistas. Que atingiu com
intensidade, na década de 80, o sindicalismo nos países avançados e que,
na virada de 80 para 90, tocou diretamente os países subordinados,
especialmente aqueles dotados de um parque produtivo relevante, como o
Brasil. Quando se reflete sobre as transformações vivenciadas no
sindicalismo nos países centrais e seus paralelos com aquele praticado
no Brasil, é preciso fazer as devidas mediações. Participamos de um
contexto econômico, social, político e cultural que tem traços
universais do capitalismo globalizado e mundializado, mas que tem
singularidades que, uma vez apreendidas, possibilitam resgatar aquilo
que é típico deste canto do mundo e, desse modo, reter a sua
particularidade. Trata-se, portanto, de uma globalidade desigualmente
combinada, que não deve permitir uma identificação acrítica ou
epifenomênica entre o que ocorre no centro e nos países subordinados.
O nosso sindicalismo viveu, na década de 80, ora no
fluxo, ora no contrafluxo das tendências acima descritas. Diria que, na
contabilização da década, seu saldo foi muito positivo. Houve um enorme
movimento grevista; ocorreu uma expressiva expansão do sindicalismo dos
assalariados médios e do setor de serviços; houve continuidade no avanço
do sindicalismo rural, em ascenso desde os anos 70; surgiram centrais
sindicais, como a CUT; procurou-se, ainda que de maneira muito
insuficiente, avançar nas tentativas de organização nos locais de
trabalho, debilidade crônica do nosso movimento sindical; efetivou-se um
avanço na luta pela autonomia e liberdade dos sindicatos, onde
sobressai a presença organizacional dos funcionários públicos; houve
aumento nos níveis de sindicalização, configurando-se um quadro
nitidamente favorável para o novo sindicalismo ao longo da última
década.
Porém, paralelamente a este processo, nos últimos
anos da década de 80 acentuaram-se as tendências econômicas, políticas e
ideológicas que inseriam o nosso sindicalismo na onda regressiva. A
automação, a robótica e a microeletônica, desenvolvidas dentro de um
quadro recessivo intensificado, desencadearam um processo de
desproletarização de importantes contingentes operários, de que a
indústria automobilística é um exemplo forte. As propostas de
desregulamentação, de flexibilização, de privatização acelerada, de
desindustrialização, tiveram no neoliberalismo do projeto Collor forte
impulso.
Esta nova realidade arrefeceu e acuou o novo sindicalismo que se encontrava, de um lado, frente à emergência de um sindicalismo neoliberal, expressão da nova direita, sintonizada com a onda mundial conservadora, (dê que a Força Sindical é o melhor exemplo) e de outro, frente às próprias lacunas teóricas, políticas e ideológicas no interior da CUT. Estas lacunas lhe dificultavam enormemente o avanço qualitativo, capaz de transitar de um período de resistência, como nos anos iniciais do novo sindicalismo, para um momento superior, de elaboração de propostas econômicas alternativas, contrárias ao padrão de desenvolvimento capitalista aqui existente, que pudessem contemplar prioritariamente o amplo conjunto de nossa classe trabalhadora. Neste caso, além da combatividade anterior, era necessária a articulação de uma análise aguda da realidade brasileira com uma perspectiva crítica e anticapitalista, de nítidos contornos socialistas, de modo a dotar o novo sindicalismo dos elementos necessários para resistir aos influxos externos, à avalanche do capital, ao ideário neoliberal, no lado mais nefasto e, ainda, à acomodação social-democrática, que apesar de sua crise no centro, aumentou fortemente seus laços políticos e ideológicos com o nosso movimento sindical, apresentando-se cada vez mais como a única alternativa possível para se combater o neoliberalismo.
Esta nova realidade arrefeceu e acuou o novo sindicalismo que se encontrava, de um lado, frente à emergência de um sindicalismo neoliberal, expressão da nova direita, sintonizada com a onda mundial conservadora, (dê que a Força Sindical é o melhor exemplo) e de outro, frente às próprias lacunas teóricas, políticas e ideológicas no interior da CUT. Estas lacunas lhe dificultavam enormemente o avanço qualitativo, capaz de transitar de um período de resistência, como nos anos iniciais do novo sindicalismo, para um momento superior, de elaboração de propostas econômicas alternativas, contrárias ao padrão de desenvolvimento capitalista aqui existente, que pudessem contemplar prioritariamente o amplo conjunto de nossa classe trabalhadora. Neste caso, além da combatividade anterior, era necessária a articulação de uma análise aguda da realidade brasileira com uma perspectiva crítica e anticapitalista, de nítidos contornos socialistas, de modo a dotar o novo sindicalismo dos elementos necessários para resistir aos influxos externos, à avalanche do capital, ao ideário neoliberal, no lado mais nefasto e, ainda, à acomodação social-democrática, que apesar de sua crise no centro, aumentou fortemente seus laços políticos e ideológicos com o nosso movimento sindical, apresentando-se cada vez mais como a única alternativa possível para se combater o neoliberalismo.
Não é preciso dizer que o quadro hoje é agudamente
crítico. O sindicalismo da Força Sindical, com forte dimensão política e
ideológica, preenche o campo sindical da nova direita, da preservação
da ordem, da sintonia com o desenho do capital globalizado, que nos
reserva o papel de país montador, sem tecnologia própria, sem
capacitação científica, dependente totalmente dos recursos externos.
Na CUT o quadro também é de grande apreensão. Ganha
cada vez mais força, dentro da Articulação Sindical, a postura de
abandono de concepções socialistas e anticapitalistas, em nome de uma
acomodação dentro da ordem, daquilo que, dizem, é o possível. O culto à
negociação, às câmaras setoriais, ao programa econômico para gerir pelo
capital a sua crise, está inserido num projeto de maior fôlego, cujo
oxigênio é dado pelo ideário e pela prática social-democrática. Trata-se
de uma crescente definição política e ideológica no interior do
movimento sindical. É uma postura cada vez menos respaldada numa
política de classe. E cada vez mais apoiada numa política para o
conjunto do país, o país integrado do capital e do trabalho.
No campo que se reconhece como socialista e anticapitalista no interior da CUT, as dificuldades também são de grande monta. Como é possível resistir a uma onda tão intensa? Como é possível elaborar um programa econômico alternativo que incorpore os milhões de trabalhadores que não participam do mercado e que vivem da miséria da economia informal? Como é possível gestar um novo modelo econômico que elimine definitivamente a superexploração do trabalho? Quais são os contornos básicos desse modelo econômico alternativo, cuja lógica deverá iniciar o desmonte do padrão de acumulação vigente no país? Como é possível pensar numa ação que não impeça o avanço tecnológico, mas o faça em bases reais, com ciência e tecnologia de ponta desenvolvida em nosso país? Como é possível um caminho alternativo que recupere valores socialistas originais, verdadeiramente emancipadores? Que não aceite uma globalização e uma integração impostas pela lógica do capital, integradora para fora e desintegradora para dentro? Como é possível, hoje, articular valores inspirados num projeto que olha para uma sociedade para além do capital, mas que tem que dar respostas imediatas para a barbárie que assola o cotidiano do ser que vive do trabalho? Em outras palavras, como superar um caminho meramente doutrinário e buscar a difícil e imprescindível articulação entre os interesses imediatos e uma ação estratégica, de longo prazo, de clara conformação anticapitalista? São, como se pode perceber, desafios enormes.
No campo que se reconhece como socialista e anticapitalista no interior da CUT, as dificuldades também são de grande monta. Como é possível resistir a uma onda tão intensa? Como é possível elaborar um programa econômico alternativo que incorpore os milhões de trabalhadores que não participam do mercado e que vivem da miséria da economia informal? Como é possível gestar um novo modelo econômico que elimine definitivamente a superexploração do trabalho? Quais são os contornos básicos desse modelo econômico alternativo, cuja lógica deverá iniciar o desmonte do padrão de acumulação vigente no país? Como é possível pensar numa ação que não impeça o avanço tecnológico, mas o faça em bases reais, com ciência e tecnologia de ponta desenvolvida em nosso país? Como é possível um caminho alternativo que recupere valores socialistas originais, verdadeiramente emancipadores? Que não aceite uma globalização e uma integração impostas pela lógica do capital, integradora para fora e desintegradora para dentro? Como é possível, hoje, articular valores inspirados num projeto que olha para uma sociedade para além do capital, mas que tem que dar respostas imediatas para a barbárie que assola o cotidiano do ser que vive do trabalho? Em outras palavras, como superar um caminho meramente doutrinário e buscar a difícil e imprescindível articulação entre os interesses imediatos e uma ação estratégica, de longo prazo, de clara conformação anticapitalista? São, como se pode perceber, desafios enormes.
Se, entretanto, consegui traçar um quadro crítico
aproximado, o desafio mais urgente do nosso sindicalismo pode ser assim
sintetizado: como se efetiva, no contexto de uma situação defensiva, uma
ação sindical que dê respostas às necessidades imediatas do mundo do
trabalho, preservando elementos de uma estratégia anticapitalista e
socialista?
Recorro a uma síntese que me parece feliz, para expor o “espírito” da resposta que me parece possível indicar:
“Sob pena de divisão, desmoralização e derrotas
certas, o movimento operário não pode se contentar em opor à crise a
simples proclamação da necessidade de uma luta anticapitalista de
conjunto. A crise confronta os trabalhadores com problemas concretos
angustiantes: dispensas, perdas de empregos, fechamento de empresas,
ataques aos salários e à assistência social, aceleração dos ritmos,
ataques aos direitos sindicais e políticos conquistados. Recusar o
combate defensivo, através de reivindicações imediatas, sob pretexto de
que não há saída no quadro do capitalismo, é condenar toda a classe
operária à impotência… Não há melhor meio para desencadear um combate
geral do que alguns combates parciais plenamente coroados de sucesso,
que demonstrem na prática, aos trabalhadores, que eles podem defender o
emprego, os salários e os direitos conquistados.
Mas é verdade que todo sucesso em um combate defensivo será frágil e
provisório. É verdade que a longo prazo a lógica do capital se imporá,
na medida em que continuamos no regime capitalista. Essa lógica do
capital coloca-se de forma especial contra a classe operária em um
período de desemprego massivo e de depressão econômica. Por isso, todo
combate defensivo deve se integrar em uma estratégia anticapitalista de
conjunto, que procure efetivamente favorecer a mobilização do operariado
por reivindicações transitórias, que sejam contrárias às causas
fundamentais do mal que o atinge”. (Ernest Mandel, “O movimento operário
diante da crise”, A crise do capital, Editora da Unicamp).
Que caminho vamos adotar: negociar dentro da ordem ou
contra a ordem? Elaborar um programa de emergência para gerir a crise
do capital sob sua ótica ou vamos avançar na elaboração de um programa
econômico alternativo, formulado sob a ótica dos trabalhadores, capaz de
responder às reivindicações imediatas do mundo do trabalho, mas tendo
como horizonte uma organização societária fundada nos valores
socialistas e efetivamente emancipadores? Pode-se responder que para
tanto é preciso muito mais que a ação sindical. É verdade. Mas pode-se
responder que a ação sindical no Brasil dos nossos dias seguramente
auxiliará, numa ou noutra direção, o que lhe confere uma enorme
responsabilidade. E que não se pode permitir a omissão de todos aqueles
que estão envolvidos na luta dos trabalhadores.
Ricardo Antunes é professor de Sociologia do Trabalho na Unicamp.
Original em: Teoria e Debate
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Sindicatos promovem ato para criticar 500 dias de Dilma e Tarso
Rachel Duarte no SUL21
Ao completar 500 dias, as gestões da presidenta Dilma Rousseff (PT) e
do governador gaúcho Tarso Genro (PT) receberam críticas públicas de
sindicatos de diversas categorias em um ato unificado realizado no Rio
Grande do Sul. A manifestação ocorreu em frente ao Palácio Piratini
desde as primeiras horas desta segunda-feira (14) e durou toda a manhã. O
carro de som e centenas de manifestantes fecharam a Rua Duque de Caxias
e gritavam palavras de ordem cobrando compromissos de campanhas dos
gestores públicos e criticando medidas adotadas pela União e o governo
Tarso em relação aos servidores públicos.
Diversos cartazes expressavam problemas comuns na esfera federal e
regional, na avaliação dos sindicatos. Como o não cumprimento dos
índices mínimos constitucionais em saúde e educação. No âmbito nacional,
os protestantes acusavam o governo Dilma de desonerar a folha de
servidores e priorizar terceirizações e privatizações nas ações de
gestão. Já no caso do governo gaúcho, a cobrança era pelo não pagamento
das RPVs, elevados juros do Banrisul, sucateamento do Instituto de
Previdência do RS (IPE) e o já conhecido grito dos professores pelo não
pagamento do piso nacional do magistério.
“O Tarso que tanto quis subir nos caminhões dos movimentos sociais
durante a campanha eleitoral, completa 500 dias do segundo ano de
mandato com reajustes e aumentos de Cargos em Comissão e benefícios de
isenções fiscais para os empresários”, comparou o presidente da
Associação dos Servidores da Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do
Sul – ASCE, Érico Côrrea.
A mini-reforma da previdência apresentada pelo executivo gaúcho ainda
no ano passado e que foi novamente enviada para aprovação do
legislativo gaúcho, alterando aumentando a alíquota da previdência para
13,5%, também esteve na lista de reinvidicações levadas na porta do
governador Tarso Genro.
“Um, dois, três, quatro, cinco, mil. Ou param as reformas ou paramos o
Brasil”, gritavam os servidores oriundos de diversas localidades do
estado. Os líderes do ato salientavam dos microfones do carro de som às
12 horas de luta de algumas classes trabalhadoras que vieram de São
Borja e outros locais distantes de Porto Alegre. Aos que entravam no
Palácio Piratini, os manifestantes mandavam recados ao governador. “CCs
entram a essa hora para trabalhar
(quase 10 horas). Operários estão de pé desde as 5 da manhã. E, os
reajustes só saem com muita luta”, disse a porta-voz do carro de som.
Contra auxílio-moradia de juízes
O recente reajuste aprovado no Tribunal de Contas do Estado do Rio
Grande do Sul (TCE-RS) que permite o pagamento de auxílio-moradia aos
juízes ainda não foi digerido pelo Sindicato dos Servidores da Justiça
no RS (Sindjus-RS). Presentes no ato, os sindicalistas criticaram o
direito concedido aos magistrados de receber R$ 115 mil de auxílio
moradia. O valor é distribuído de forma parcelada ao longo dos meses
sobre um salário que já está dentre os mais altos do Estado.
“Enquanto isso nos sobra o arrocho salarial, um rombo na previdência e
rotineiras práticas de assédio moral no judiciário. Somos explorados
com um volume de demandas humanamente impossível de vencer nos cartórios
na mesma velocidade que os despachos são feitos nos gabinetes dos
juízes. Recorrentes casos de lesões físicas por esforço repetido são
registrados e nos acusam de fazer corpo mole para o trabalho”,
exemplificou o sindicalista Osvaldir da Silva.
Um governo ainda fora da lei
A principal motivação do ato unificado de algumas centrais sindicais
foi atender a convocação do Cpers/Sindicato que organizou um dia
estadual de paralisação para esta segunda-feira (14). A data é
considerada marco por completar 500 dias do governo gaúcho, que ainda
não cumpre os critérios da Lei Nacional do Piso do Magistério no estado.
Uma solução parcial e provisória para adequar o Rio Grande do Sul à
lei federal assinada por Tarso Genro quando era ministro da Justiça foi
proposta pelo governo estadual no final de abril. Em acordo com o
Ministério Público Estadual do RS, a proposta foi o pagamento de uma
parcela complementar a 20 mil professores que ainda não recebem R$
1.451, valor estipulado como piso nacional da categoria. “Eles sentam às
escondidas e depois apresentam um acórdão já assinado e homologado e
explicando como eles pretendem fazer para não pagar o piso e atacar as
nossas carreiras. Servidores do MP com salários de R$ 24 mil se acharam
no direito de sentar com o goverandor para definir como um governo não
cumprirá uma lei que irá afetar e trazer consequências para os
trabalhadores”, acusou a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira.
Como a medida proposta como pagamento parcial do piso não irá incidir
sobre o plano de carreira do magistério, Rejane alegou que o sindicato
dos professores não irá permitir “que um órgão público como o MP-RS, que
deveria garantir a legislação, se atrele ao executivo para legitimar
artimanhas para o descumprimento da lei do piso”.
De acordo com a legislação federal, em seu artigo quinto, o piso deve
ser reajustado anualmente tendo como base o custo por aluno do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb). Entretanto, o governo gaúcho sempre
reitera que o piso dos professores deve ser corrigido pela variação da
inflação, calculada pelo INPC.
Para ilustrar o discurso dos dirigentes sindicais, falas do
governador Tarso Genro quando ainda era candidato nas eleições de 2010,
em debates com as categorias, foram reproduzidos no carro de som. “Eu
estou formalmente, politicamente e moralmente comprometido com o piso
salarial dos professores”, ouvia-se Tarso dizer em uma dessas gravações,
onde o agora governador acrescentava que “a lei que instituiu o piso
teve o seu parecer de constitucionalidade no ministério da Justiça,
quando eu era ministro, e essa lei leva a minha assinatura”.
Ao final da reprodução da fala de Tarso Genro um coro de vaias foi feito em frente ao Palácio Piratini.
“É um governador que não honra o que disse e escreveu ao Cpers. Que
vergonha para o nosso estado ter um governador que coloca um conjunto de
projetos em regime de urgência para evitar debate com o serviço
público. Por isso que estamos aqui para marcar os 500 dias de um governo
fora da lei que não cumpre o que prometeu. Se alguém tinha ilusão que
este governo iria ser de palavra, agora já sabe”, afirmou Rejane.
Ao final do protesto, os manifestantes soltaram balões pretos
simbolizando o luto em relação aos 500 dias dos governos Dilma e Tarso.
Antes de deixar os materiais e voltar aos municípios de origem, os
sindicalistas se comprometeram em retornar ao Palácio Piratini para
novas manifestações. Por parte do Cpers, no dia 30 de maio está
organizada uma redução nos horários nas escolas estaduais.
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