Palocci e as escolhas de Dilma
por Rodrigo Vianna, via BLOG DO MIRO
A denúncia contra Palocci parece consistente. Ah, mas a “Folha” quer desgastar a Dilma… E daí? O fato ocorreu ou não?
Ah, mas a denúncia foi vazada por “ruralistas” interessados em
enfraquecer o ministro. E daí, de novo? É só quando os poderosos
divergem que essas coisas vêm à tona…
Sim, Palocci (contradição do mundo real?!) cumpria nesse caso um
papel positivo: negociava duramente com os ruralistas da base
governista, para que aceitassem um Código Florestal menos retrógrado do
que o proposto por Aldo Rebelo.
Por isso, criticar Palocci agora – dizem alguns apoiadores de Dilma – é fazer “o jogo da direita”. Será?
Aliás, se o caso surgiu como “fogo amigo” de dentro da base
governista, por conta da votação do Código Florestal, a essa altura
parece ter ganho dinâmica própria. Os jornais já relacionam o
enriquecimento de Palocci à campanha de Dilma. Vale a pena manter um
ministro que traz esse grau de instabilidade ao governo?
Quem acompanhou os bastidores da campanha eleitoral de 2010 sabe qual
foi a opção de Dilma e do núcleo dirigente do PT no primeiro turno:
tentaram ganhar a eleição só com o programa de TV e a popularidade do
Lula. A idéia era ganhar sem fazer política. No primeiro turno, foi
assim: campanha controlada pelo marqueteiro e pelos 3 porquinhos
(Palocci, Dutra e Zé Eduardo).
Quem fez política foi o Serra. Politizou pela direita: trouxe aborto e
religião para a campanha. Com isso, empurrou milhões de votos pra
Marina, e levou a eleição pro segundo turno. Aí, a ficha no PT caiu.
Dilma e o núcleo da campanha finalmente compreenderam o que já estávamos
vendo na internet há semanas: o terrorismo conservador. Dilma deixou os
conselhos do marqueteiro de lado, teve coragem de ir pra cima no debate
da “Band” (primeiro domingo do segundo turno): pendurou no pescoço do
Serra a história do aborto (a mulher de Serra tinha dito que Dilma
gostava de “matar crancinhas”), falou em Paulo Preto, reanimou a
militância.
Se Dilma tivesse insistido no figurino do primeiro turno, poderia ter
perdido a eleição. Pesquisas internas, pouco antes do debate da Band,
davam apenas 4 pontos de diferença sobre Serra no início do segundo
turno. Foi a realidade que levou Dilma a mudar de figurino.
Pois bem. Passada a eleição, Dilma montou o ministério e começou a
governar. Como? Com o figurino idêntico ao usado no primeiro turno da
eleição: sem política, longe dos movimentos sociais, procurando agradar
o “mercado” e a “velha mídia”. Foi uma escolha.
Palocci tem a ver com isso. Coordenou a campanha. Ele quer um governo
moderadíssimo, que não assuste a turma a quem dá “consultoria”.
Logo no início do governo, estava claro que Dilma procurava ocupar um
espaço mais ao centro. Lula tinha (e tem) apoio da esquerda
tradicional, dos movimentos sociais, do povão que saiu da miséria. Dilma
foi em direção à classe média que lê a “Veja”. Com Palocci à frente.
Palocci é amigo da “Veja” e da “Globo”. Palocci é blindado na “Globo”.
Perguntem ao Azenha o que aconteceu na Globo quando ele tentou fazer uma
reportagem sobre o irmão do Palocci, 5 anos atrás…
Renato Rovai publicou em seu blog um texto que mostra a repercussão desastrosa – para o governo – do caso Palocci nas redes sociais. Como aconteceu na eleição, com o aborto e a onda consevadora: primeiro os temas batem na internet, depois chegam às ruas.
Assim como ocorreu na eleição, Dilma talvez perceba que o figurino
palocciano não garantirá estabilidade ao governo. Com quem ela vai
contar quando enfrentar crise séria? Com a família Marinho? Com os
banqueiros?
Dilma segue com popularidade alta. Mas o caso Palocci mostra os
limites do governo. E os riscos que ela corre diante da primeira crise
mais grave. Pode faltar base social…
Mas, seja qual for a escolha de Dilma
(ela a essa altura parece mais próxima de optar por um acerto “por
cima”, com os que mandam nas finanças e nas comunicações do Brasil), é
inaceitável que o governo vote o novo Código Florestal sob chantagem dos
ruralistas.
O governo está sob pressão dos ruralistas, que dizem nos bastidores:
“a oposição pode maneirar com o Palocci, desde que passe o Código
Florestal que nós queremos!”
O texto vai a votação na terça.
Hoje, o governo Dilma corre o seguinte risco: aceitar a chantagem dos
ruralistas pra salvar Palocci e… não conseguir salvar Palocci. Seria um
desastre.
Dilma precisa fazer uma escolha agora. Semelhante à que ela fez
naquele debate na “Band”, no início do segundo turno. A quem ela
pretende agradar? À turma do Palocci, ou à turma que foi à rua e
garantiu a vitória dela enfrentando a onda conservadora que Serra trouxe
para o debate?
A oposição está enfraquecida. O lulismo é forte e dominante no país.
Mas o governo Dilma parece frágil. Equação estranha. É preciso aproximar
o governo Dilma do lulismo. Dilma ganhou por causa disso. Vai governar,
de verdade, se estiver alinhada ao lulismo.
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