cESAR fONSECA
O
espaço da liberdade de expressão conquistado pela TV Cidade Livre é uma
vitória expressiva dos movimentos sociais pela construção da cidadania
comprometida com os valores nacionalistas expressos na cultura, na
política, na economia, mobilizando o espírito de participação e defesa
do patrimônio público, indo além do indiividualisomo e o do egoísmo
característicos do modelo de comunicação vigente nas tevês abertas,
compromissado tão somente com o lucro e não com a verdadeira qualidade
de vida que implica em consciência de si dos valores sociais que se
impregnam no indivíduo para a sua construção verdadeiramente coletiva. É
essa ação revolucionária da TV Comunitária que incomoda os
conservadores do pensamento neoliberal, consumidores da cultura e
valores importados na tentativa de eternizar colonialismo cultural no
Brasil. A resistência contra esse estado de coisas completa agora 13
anos de lutas e promete seguir adiante com força renovada. Saravá.
TV
Cidade Livre, TV Comunitária DF: 17 de maio, 13 anos de existência, de
luta, de resistência, de insistência contínua capazes de fazer valer um
outro olhar para a comunicação brasileira, comprometido,
substancialmente, com os movimentos sociais em toda a sua variedade
cultural, autêntica. Uma África! Trata-se de um dos empreendimentos mais
gigantescos verificados no Brasil no campo da comunicação popular, esse
espaço que ganha, com o tempo, uma soberania espetacular, mas que,
também, enfrenta grandes ataques, até mesmo de onde não se imaginaria,
como é o caso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito
Federal, para afirmar o pensamento livre, comprometido com a liberdade
total de expressão, colocada a serviço dos interesses populares,
totalmente, excluídos das programações das tevês abertas, privadas,
comprometidas, essencialmente, com o lucro e não com a educação
verdadeira, voltada para a formação da consciência relativamente à
afirmações dos valores humanos. O que se pode considerar espírito
revolucionário? Certamente, é aquele que cultiva os interesses do povo
brasileiro para além dos interesses particulares e se articula, do ponto
de vista da comunicação, com essa missão maior, organizando, debatendo,
abrindo-se à participação, à polêmica, à promoção de oportunidade para
as vozes que não têm acesso na grande mídia nacional a fim de expor sua
verdadeira consciência, de modo a colaborar na formação da cidadania
autêntica. Durante o período de existência da TV Comunitária, pode-se,
tranquilamente, dizer, que se praticou, levando em consideração os
valores nacionais, uma resistência revolucionária. Tanto é verdade que
forças poderosas em diversas ocasiões se mobilizaram para calar sua voz.
Inventaram, inicialmente, desculpas fajutas, relacionadas à questão
institucional do veículo, no contexto legal, porém, tais investidas não
ocultaram e continuam não ocultando a verdadeira causa, que é o incômodo
provocado pela tevê popular de insistir em abrir seu espaço com as
opiniões daqueles que são excluídos por um modelo de desenvolvimento
econômico e social concentrador de renda e poupador de mão de obra,
empenhado, com a ajuda da grande mídia conservadora e reacionária, em
dificultar a democratização da informação. O que se verifica como
predominante, com o apelido de informação democrática, anunciada pelos
grandes proprietários, é uma ação informativa oligopolizada, um
pensamento único, em essência, no plano político e econômico, que
veicula as razões dos grandes anunciantes, que, no caso brasileiro, são
os principais bancos, cuja ação nefasta se expressa na vigência de uma
taxa de juro mais alta do mundo, escravizando a nação.
Espaço do trabalhador
Para
o deputado Wasny de Roure, que organizou solenidade para homenagear a
TV Cidade Livre, totalizando mais de 400 pessoas, entre as quais
sindicalistas, diplomatas, políticos, integrantes dos movimentos
sociais, empresários etc, o espírito combatente das tevês comunitárias
germina a verdadeira mudança social à qual todos devem se submeter por
estar ali o recado essencial da evolução cultural, econõmica e política
da sociedade. Nesse sentido, disse, a TV Comunitária cumpre papel
relevante que as tevês comerciais desdenham por estarem comprometidas
com a lucratividade acima do bem e do mal e não com a formação da
verdadeira cidadania que unifica o sentimento popular para a ação
transformadora.
Se
pinta uma tevê capaz de debater abertamente essa questão pela voz da
comunidade, que se organiza conforme as lutas de classes no ambiente
capitalista, evidentemente, todas as forças do mundo se unem contra tal
propósito. Esse é o verdadeiro motivo que mobiliza os inimigos da TV
Cidade Livre, o espaço que se amplia da cidadania para se organizar em
favor dos seus direitos, nos bairros, no trabalho, nos sindicatos, nos
partidos, como movimento de criação da verdadeira democratização. Os
feitos desse novo veículo que se articula com grande dificuldade, mas
com extraordinário vigor, com a alegria da infância e a serenidade dos
velhos experientes, de forma tenaz e emocionante, são enormes,
abrangendo uma gama diversificada de ações. Contudo, acreditamos que o
valor substancial, supremo da TV Comunitária é o de abrir seu espaço
para os trabalhadores. Os sindicatos estão ali presentes, levando suas
lutas, no dia a dia, espraindo-se pela cidade, pelos bairros, pelas
ruas, pelas comunidades, com total liberdade. Grande incômodo para a
grande mídia, que trata o movimento social como algo abstratamente
estético, como um ideal construído no exterior da realidade, sem sangue,
sem vibração. No canal comunitário, não. Vibram as consciências, que se
forjam no processo de construção do empreendimento de comunicação
popular, organizado em assembléias representativas dos segmentos sociais
variados, dispostos à luta, à participação, à construção coletiva etc. A
cultura popular está presente de maneira intensa, o sentimento
integracionista latino-americano é amplo, os movimentos nacionalistas,
alí, se constroem nas propostas que brotam dos debates, como a defesa
da energia brasileira para os brasileiros, a proteção das matérias
primas estratégicas, como o nióbio, alvo da cobiça internacional, dada
sua utilização fundamental na industrialização estratégica dos
componentes da comunicação e da automação, etc. Sobretudo, a tevê
popular se bate pela integração econômica sul-americana, pela criação de
uma consciência continental que se expresse no parlamento
sul-americano, no tribunal de justiça sul-americano, no banco central
sul-americano, nas forças armadas sul-americanas, capazes de coordenar
interesses integracionistas, na moeda sul-americana, a fim de que se
possa fugir da ditadura do dólar furado que se encontra em crise total
na bancarrota financeira capitalista. Enfim, o debate desabrido de todas
essas questões tem ido ao ar com os recursos modestos, muito inferiores
aos que estão ao alcance dos veículos comprometidos com o interesse do
capital, mas faz um barulho forte e assustador para as consciências
infelizes, preocupadas e comprometidas, tão somente, com a expansão do
egoísmo, do individualismo, do espírito diversionista, empenhado em
atacar os que se põem contra investidas anti-nacionalistas racistas e
promotoras da exclusão social.
A construção da revolução
Abnegado
defensor da tevê pública por entender que somente por meio dela o
interesse público se realiza com verdadeira liberdade e participação
popular, sobrepujando o interesse econômico e a gama de iniciativas
interesseiras que ele carrega, dada sua natureza intrínseca
individualista e egoísta, Beto Almeida, desde o primeiro momento, em
1986, engajou-se de corpo e alma no projeto da tevê comunitária com a
dedicação total, buscando sempre a articulação com os movimentos
sociais, a fim de dar ao empreendimento o verdadeiro sentido que ele
carrega, o de ser o veículo de expressão do trabalhador brasileiro.
Tremendo
carregador de piano, entusiasta, vibrante, engajado, articulador dos
grupos sociais e mobilizador das principais lideranças das classes
sindicais, para que seu pensamento se expresse genuinamente no canal
comunitário, configurando espírito de classe do trabalhador ao veículo
de comunicação, fazendo a diferença em relação à mídia nacional, Paulo
Miranda, pode se dizer, é a verdadeira alma da TV Cidade Livre. Por ela,
sacrifica tudo, a fim de formar em torno de si uma conjugação de
fatores que acabou transformando a TV Cidade Livre, no verdadeiro espaço
da liberdade radical.
Um
grupo de abnegados tem se postado, bravamente, heroicamente, no comando
das operações da TV Comunitária, para dar sequências decisões
democráticas tiradas das assembléias amplamente representativas. Como
sempre acontece nos empreendimentos humanos, existem aqueles gigantes
que não deixam a peteca cair e em torno dos quais os resistentes se unem
para levar adiante a grande luta. Nesse sentido, deve-se fazer justiça
aos jornalistas Beto Almeida e Paulo Miranda, verdadeiros apóstolos do
espírito comunitário que anima a TV Cidade Livre, coordenando as ações,
distribuindo bolas, arregimentando outros abnegados como eles para
levar adiante a tarefa hercúlea, de manter no ar, 24 horas por dia, a
comunicação a serviço do trabalhador. As novas etapas que estão por vir,
certamente, serão coroadas de sucesso, mas de muito combate por parte
dos resistentes ao espírito libertário. A iniciativa, anunciada por
Beto, na solenidade de comemoração do aniversário da tevê popular, na
Assembléia Distrital, convocada pelo deputado Wasny de Roure(PT-DF), de
abrir-se mais amplamente a tevê para a comunidade, para a ampla
mobilidade dela em organizar-se para produzir o seu próprio conteúdo
comunicacional, é algo absolutamente revolucionário. Ao mesmo tempo,
cuidar de preservar a memória popular da capital é outra jogada de
comunicação genial, porque as gerações mais velhas, como acontece nas
comunidades indígenas, dispõem do DNA comunitário que deve ser passado
adiante, às gerações presentes e futuras, com seus ensinamentos, suas
lutas, vitórias e derrotas, de modo a servir de lição para novas etapas
de luta. O aprofundamento da visão comunitária sintonizada com a herança
cultural intensa que carrega as gerações que lançaram as sementes do
próprio saber comunitário significam um plano de trabalho que finca
raízes profundas no campo social e político, configurando o modo de ser
de uma sociedade que se constroi por si mesma, conscientemente,
manejando seus próprios instrumentos de libertação, visto que comunicar é
libertar, desde que essa comunicação, como a empreendida pela TV
Comunitária, não tenha seu compromisso com o lucro, mas ,
fundamentalmente, com a libertação da consciência popular. O canal de
comunicação verdadeiro dos trabalhadores em que se transformou a TV
Comunitária, agora, reproduzindo o noticiário da TV do Trabalhador,
diariamente, representa uma lição da verdadeira lei do valor-trabalho,
ancorada na consciência de que o trabalho é valor que se valoriza em
favor do próprio trabalhador. Há algo mais revolucionário do que isso no
ambiente televisivo nacional totalmente descomprometido com a ética do
trabalhador? Salve a TV Comunitária!
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