quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Futebol: Curiosidades

Foram os ingleses que trouxeram o futebol para o Brasil. Por isso, a maior parte dos termos utilizados nesse esporte é de origem inglesa. Não só os termos, frise-se, mas também nome de clubes. Afinal, de onde você acha que vêm os nomes Sport Club do Recife e Sport Club Corinthians, entre muitos outros? Lógico que da terra dos Beatles.


Até os anos 50, o predomínio de formas inglesas na terminologia do futebol brasileiro era esmagador. Torcedores e cronistas esportivos escreviam e falavam palavras como football, goal, penalty, score, shoot, team, back, goalkeeper; referee, corner, hands. Com a popularização cada vez maior do esporte bretão, nacionalistas, principalmente mestres do vernáculo, se insurgiram contra esse abuso de anglicismos. E, assim, entraram em campo os aportuguesamentos futebol, gol, pênalti, escore, chute, time, beque, goleiro, juiz/árbitro, escanteio e toque, substituindo as forma estrangeiras.
Mas o inglês não foi o único exportador das palavras futebolísticas. Por exemplo, do francês placard, veio placar; zagueiro, que substituiu o aportuguesamento de origem inglesa beque, veio do espanhol zaguero. E o espanhol platino importou do quíchua, língua nativa do Peru, cancha e a exportou para nós, que a assimilamos sem nenhuma modificação.
Dos aportuguesamentos futebolísticos, a novela mais polêmica foi sem dúvida a que tratou do nome do esporte. Alguns puristas mais radicais não aceitavam a palavra futebol por não ser de origem vernácula. Por isso, propuseram a substituição dela por palavras criadas a partir de elementos gregos e latinos. Veremos isso agora.


BOLAPÉ, BALÍPODO E LUDOPÉDIO


Somos o país do futebol. Agora, imagine se em vez de "país do futebol", o Brasil fosse chamado de "o país do bolapé". Ou se fôssemos pentacampeões de "balípodo". Ou se a competição que mobiliza nosso país de quatro em quatro anos fosse a "Copa do Mundo de Ludopédio". O que acha? Não está entendendo? Eu explico: bolapé, balípodo e ludopédio foram três propostas de nacionalização do inglês football, que, por motivos que vão desde a sonoridade à falta de bom gosto, não pegaram. Preferimos dar uma roupagem vernácula à inglesa football, grafando-a futebol, de acordo com os moldes da nossa ortografia. Isso é uma prova de que em língua não adiantam decretos, intervenções oficialescas e até pitacos de "gênios", como o do filólogo Castro Neves, criador de balípodo, e o do poeta Fernando Pessoa, o pai de bolapé. O povo é a língua. E a língua é do povo. Purismos, nacionalismos lingüísticos, para ser fortes, para sobreviver, têm de partir do povo. Esse é o fato.

CURITIBA x CORITIBA


A capital do Paraná é "Curitiba", com U. O clube, porém, é "Coritiba", com O. Se você é aficionado do futebol, conhece essa distinção gráfica muito bem. Agora, o porquê disso certamente você desconhece. A questão é a seguinte: quando o clube foi fundado, a cidade tinha duas grafias: uma de origem indígena (Curityba, que em tupi-guarani significa "muito pinhão") e uma aportuguesada (Coritiba). Na época da fundação, o clube escolheu a forma aportuguesada e com ela está até hoje. Foi diferente com a cidade, que, depois da reforma gráfica que proibiu o uso do Y em nossas palavras, adotou a grafia Curitiba.

O CORINTHIANS E OS CORÍNTIOS


Já ouviu falar da cidade grega Corinto? E do Club Corinthians Paulista? Do clube certamente você já ouviu falar. Da cidade, talvez não. E o que o Corinthians tem a ver com Corinto? Tudo, pois a palavra inglesa "corinthians" corresponde à nossa "coríntios". É que os ingleses que fundaram o clube paulista quiseram homenagear os habitantes de Corinto, os coríntios (em português) ou the corinthians (em inglês).



GANDULA


Na década de 40, jogava no Vasco da Gama um argentino muito ruim de bola. Esse "hermano" perna-de-pau chamava-se Gandulla. O coitado era tão ruim, que os técnicos quase nunca o escalavam para as partidas. Geralmente ficava na margem do campo, assistindo aos jogos. Quando a bola saía, "lépido e fagueiro", o gringo ia atrás da pelota para repô-la ao jogo. E assim, todas as vezes que a bola ia para fora, a torcida cobrava: "Pega a bola, Gandulla!" Graças a isso, o nome próprio Gandulla virou o substantivo comum gandula, sinônimo de profissional responsável pela reposição de bolas nas partidas de futebol.

LAÉRCIO LUTIBERGUE é professor de português, consultor e revisor de texto

Dois pesos;duas medidas:pobre mídia!!!!

ESPERIZAÇÃO
(Liberada a caça aos pobres)
Volnei Batista de Carvalho

Que ingenuidade minha pedir aos donos do poder para que mudassem o poder(Giordano Bruno antes de ser queimado vivo)

Esperização é “o fenômeno psicosocial de travestir a realidade com justificações hipócritas aos desvios de conduta da elite dominante à defesa da impunidade por crimes cometidos por seus membros”.
Esperização é denominação colhida do nome do famoso costureiro, Ronaldo Ésper, branco e rico, flagrado roubando vasos de flores em cemitério. O fato sociológico e criminológico observado comparativamente outro caso acorrido à mesma época com a anônima empregada doméstica, Angélica Aparecida de Souza Teodoro, negra e pobre, flagrada em furto de um pote de manteiga em supermercado.
Ésper foi prontamente socorrido pelo espírito imunizante da elite nacional. Angélica ficou 128 dias no “cadeião”, perdeu a guarda do filho e teve quatro habeas-corpus negados. Ésper foi prontamente colocado em liberdade, desnecessitando de habeas-corpus. As “embaixatrizes socialites”, Hebe Camargo e Luciana Gimenez, valendo do espaço da mídia, mídia que no geral permaneceu calada, ao contrário quando do caso Angélica, partiram para defesa de Ronaldo Ésper, inclusive abrindo espaço especial na televisão para defesa própria do ladrão. Ele dramatiza o ato criminoso, cinicamente chora e ri na frente das câmeras, com cena transmita para milhões telespectadores. Ora se justifica inocente com falácias pueris, ora, como réu confesso, pede perdão às “clientes” e familiares. Foi calorosamente aplaudido pela platéia. Ronaldo Ésper foi premiado com um programa na TV – “educador de massa”. Deste fato social, o fenômeno esperização.
Verifica-se a esperização como um fenômeno social abrangente, a partir da nítida divisão em duas classe distintas na estrutura da sociedade. A “elite” governante e a massa plebéia, governada. Diferenciam-se em deveres e obrigações sociais e legais, no acesso às instituições políticas, no uso de bens e serviços públicos, na repartição da produção social da riqueza, mascarando a idealização de um Estado Democrático de Direito. O direito e o fático: a um, lei nenhuma, ou as benesses; a outro, toda lei, e seus rigores.
As justificativas hipócritas se dão no ajuste da realidade arquitetada e o fato concreto. O máximo de uma sociedade civilizada é o direito e a justiça, mas é no proceder ao direito para a justiça que a esperização falseia a idéia do injusto em justo, afastando ao longe dos olhos a impunidade e a aproximando do inconsciente. A impunidade só é definida quando comparativamente significa punição desigual.
A esperização é a falsa realidade de que temos um Estado democrático quando na verdade vivemos um “Estado feudal moderno”, nepótico e despótico. Ao contrário da servidão medievalista, o povo é “coisificado”, nada valendo a não ser o de justificar o poder numa fantasiada sociedade politicamente organizada. Nosso país é uma grande sociedade anônima – Brasil SA. Tudo se traduz em rentabilidade e utilidade, desde que à fartura da elite.
Como aceitar passivamente, sob justificativas das mais absurdamente irracionais, que a elite use dos aparelhos do Estado para assassinar impunemente milhões do povo? Quem acusa a elite? O desvio de recursos à saúde, à educação, ao atendimento às necessidades sociais, que reflete conseqüência de sofrimento e morte, é ou não crime, assassinato, genocídio? Quem julga a elite? Tem-se uma sociedade politicamente organizada, um Estado Democrático de Direito, com os poderes institucionais abrigando horda governando? Quem pune a elite?
A esperização é a detecção do supra-sumo da miséria intelectual nacional, refletida nos governantes, juízes, artistas, jornalistas, professores, policiais, pastores... O que mais execrável que ter um Parlamento como covil? Sermos governados como coisas em mesa de negociação sindical? Ser julgado por juízes condenáveis? Artistas venais? Jornalistas tendenciosos? Professores ignorantes? Policiais assassinos? Pastores imorais? São minorias, poucos, inexpressivas... Se, minorias, poucos, inexpressíveis, porque permanentes e sem reação e precaução da maioria, dos muitos, da parte mais expressiva? No mínimo, o crime de cumplicidade pela convivência ou conivência omissiva.
E onde entra a questão do menino arrastado até a morte pelas ruas do Rio de Janeiro?
A princípio, há que todo ser humano profundamente se condoer com a morte de inocentes... e também de culpados. A morte de João Hélio foi de evidente horror e pavor, a merecer todos protestos em nome da civilização. Porém, por mais que tentem situar o caso na barbárie para justificar exemplo de punição ou punição coletiva contra os pobres, a esperização os desmascaram.
Por mais horrenda e pavorosa que tenha sido a morte daquela criança, não justifica que os assassinos sejam conduzidos esgoelados, literalmente, por mãos de policiais ao olhar de todo. Nem quem, por causa desse fato insólito, se queira reduzir a idade penal punitiva, a pensarem em punir crianças de até 13 anos.
Porque não puniram os filhos da elite que queimaram vivo o índio patachó? Qual a punição dada àqueles assassinos? A matança daquelas crianças na porta da igreja da Candelária, a tiros, enquanto dormiam? Qual a punição dada aos assassinos? E a tortura e morte de crianças, filhos de pobres, nas Febens? Em fim, etc, etc, assim ad infinitum e ad eternum...
Que o Estado seja amoral, mas a elite governante o transforma em imoral. Que as instituições sejam públicas, mas a elite dominante transforma as instituições a serviço do nepotismo e o corporativista insano. Que temos leis escritas, mas desigualmente aplicadas, em benefício da impunidade à glorificação da força do poder da elite. As armas que mais matam são acionadas pelos agentes do Estado. Que os grandes traficantes não estão nas favelas, se confundem entre agentes políticos.
Disso, como entender a tolerância com toda a barbárie policial praticada diariamente, décadas, secularmente, em flagrante violação dos mais comezinhos direitos humanos? Como justiçar a massa encarcerada de pessoas humildes do povo? Dos privilégios de prisões especiais para certos indivíduos, qualificados por elitizados? De foro privilegiado, que deveriam temer e rejeitar, por ser tribunais superiores?
Ora, não é o Estado, nem as instituições, as leis, as armas, as drogas e as bebidas alcoólicas, o responsável direto a tamanha violência reinante. Nem a se imputar como mal da natureza humana, nem resultado de intervenção de forças malignas transcendentais. O povo miúdo é bom (está deixando de ser), pacífico (está deixando de ser), solidário (está deixando de ser), alegre (está deixando de ser). O que há é um comportamento de relacionamento social nacional, entre um extrato social distinto, a classe dominante, e o restante do povo, a massa, subjacente a toda a forma de expressão de violência social. Esse comportamento das elite é culturalmente histórico, e para mudar significa processo abrupto de ruptura. Esse relacionamento é também sistêmico porque se define e se manifesta através do ordenamento jurídico, econômico e político. O ordenamento jurídico, injusto; o econômico, desumano; e político, excludente. E ideológico, na esperização, na medida da produção e reprodução de realidades inconcretas. Disso, é de se entender que toda esse estado permanente de violência do Brasil repousa na única e exclusiva responsabilidade da classe dominante, agente e mandante de toda miséria e criminalidade que crassa a sociedade brasileira.
O problema da mudança é que a nação acostumada à servidão, agora passivamente aceita a “coisificação” gradativa, até ser coisa descartável. Contenta-se em aplaudir idéias manipuladas de dominação e a jogar a liberdade a um salvador transcendental. Enquanto seu filhos rebeldes, premidos em reagir para sobreviver, são tratados como animais e dizimados pelas ruas e prisões.
Só uma maneira da caça resistir, se voltar contra o caçador.