terça-feira, 19 de junho de 2007

Noam Chomsky - entrevista

SONGBOOK CHICO BUARQUE - 8 CDS




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MARIA BETHÂNIA


Nascida em Santo Amaro da Purificação (BA), cantava desde pequena, com outros da família, e pensava em ser atriz. Em 1960 foi para Salvador terminar os estudos, e passou a freqüentar o meio artístico, ao lado do irmão Caetano Veloso.

Três anos depois estreou na peça "Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, como cantora. Por essa época, Bethânia e Caetano conheceram outros músicos iniciantes: Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Alcivando Luz e outros. Esse grupo montou, em 1964, os espetáculos "Nós Por Exemplo", "Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova" e "Mora na Filosofia". Na ocasião, Bethânia foi ouvida pela musa da bossa nova, Nara Leão, que a convidou para substituí-la no espetáculo "Opinião", em cartaz no Rio de Janeiro.

Bethânia e Caetano foram para o Rio em 1965, e ela tornou-se conhecida por sua participação no "Opinião", interpretando "Carcará" (João do Vale/ José Cândido), que a marcou como cantora de protesto. Ainda no ano de 1965 gravou seus primeiros discos, um compacto e um LP, com sambas de Noel Rosa, Benedito Lacerda, e músicas de Caetano.

Depois de um breve retorno à Bahia, participou, em 1966 dos espetáculos "Arena Canta Bahia" e "Tempo de Guerra", ambos com direção de Augusto Boal. Também competiu em festivais e cantou em teatros e casas noturnas no Rio e São Paulo, tornando-se nacionalmente conhecida. Com mais de 30 discos gravados ao longo de sua carreira, dividiu shows e álbuns com Edu Lobo, Chico Buarque e participou do grupo Doces Bárbaros em 1976, ao lado de Caetano, Gil e Gal Costa.

Seu disco "Álibi", de 1978, foi o primeiro de uma cantora brasileira a vender mais de um milhão de cópias, alavancado pelos sucessos de "Negue" (Adelino Moreira/ Enzo Passos), "Explode Coração" (Gonzaguinha), "Ronda" (Paulo Vanzolini), "Sonho Meu" (Dona Ivone Lara/ Délcio Carvalho) e "Cálice" (Gil/ Chico Buarque). Em 86, lançou o LP "Dezembros", que destacava o bolero "Anos Dourados", de Tom Jobim e Chico Buarque.

Até meados dos anos 90, realizou discos mais intimistas, até que em 1994, voltou ao romantismo num disco só com músicas de Roberto e Erasmo Carlos ("As Canções que Você Fez pra Mim"). Em 96, lançou o CD "Âmbar", que se transformou no espetáculo "Âmbar - Imitação da Vida", no ano seguinte, um grande sucesso de público e virou álbum duplo. Em 1999 lançou o CD duplo "Diamante Verdadeiro", também ao vivo.

O ano de 2000 foi marcado por grandes concertos e encontros musicais; Bethânia apresentou-se ao lado do tenor italiano Luciano Pavarotti, em Salvador (Bahia); com Caetano Veloso no Pavilhão Atlântico em Lisboa (Portugal); e na noite de 31 de dezembro fez um show para mais de 200.000 pessoas com Gilberto Gil no Farol da Barra (Bahia/Salvador).

Maria Bethânia comemorou 35 anos de carreira em 2001, completados na verdade em 2000, (a data oficial de sua estréia profissional é 13 de Fevereiro de 1965, o dia exato em que subiu ao palco no show Opinião no Rio substituindo Nara Leão). E em dose dupla: o show de lançamento do novo álbum "Maricotinha" reuniria no dia 04 de Setembro no palco do Canecão, Rio de Janeiro, uma constelação de grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, e Gilberto Gil, prestando sua homenagem à diva. Em 2002, Maria Bethânia surpreendeu ao lançar "Maricotinha ao vivo" pela gravadora independente "Biscoito Fino". O sucesso alcançado pelo álbum duplo, que vendeu mais de 100 mil cópias, mostrou que ela não estava errada. Com 49 faixas, gravado no Directv Hall, em São Paulo, registra o show "Maricotinha", apresentado em inúmeras capitais brasileiras. Além do repertório do último disco, o show apresenta antigos sucessos na voz de Bethânia, como "Álibi" (Djavan), "Ronda" (Paulo Vanzolini), "Anos dourados" (Chico Buarque e Tom Jobim), "Festa" (Luiz Gonzaga Júnior) e "Opinião" (Zé Kéti), esta última, a música que lançou a cantora em 1965. Dirigido por Fauzi Arap, no espetáculo são recitados textos de Fernando Pessoa, Ferreira Goulart, José Vicente, Lya Luft, Sophia de Mello Breyner e Natália Correa. "Maricotinha ao vivo" foi lançado também em DVD, em 2003. Filmado na tradicional casa de espetáculos carioca, o Canecão, o DVD traz os videoclipes "A voz de uma pessoa vitoriosa", que mostra o Rio de Janeiro dos anos 60, e "Coração meu", vídeo composto por cenas fluviais e marinhas.

Antes do DVD "Maricotinha ao vivo", Maria Bethânia lançou o álbum "Cânticos, Preces, Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu", em que homenageia Nossa Senhora. Neste compacto, a cantora reafirma toda sua religiosidade, presente em quase toda sua obra. Bethânia reafirmou sua independência em 2003.

Inaugurando seu selo "Quitanda" dentro da "Biscoito Fino", a cantora lançou "Brasileirinho". "Brasileirinho" superou as expectativas, conquistando crítica e público. Com participações especiais de Miúcha, Nana Caymmi, do grupo Tira Poeira, formado por cariocas, gaúchos e catarinenses, na música "Padroeiro do Brasil" (Ary Monteiro e Irany de Oliveira), e do grupo experimental mineiro Uakti na faixa "Salve as Folhas", o disco viaja pelos diversos brasis do interior. As faixas são intercaladas com intervenções poéticas de Ferreira Gullar, recitando "O Descobrimento", de Mário de Andrade, e de Denise Stoklos, que interpreta "O poeta.

No ano seguinte foi lançado o registro do show do disco "Brasileirinho", gravado ao vivo no Canecão, em DVD. O repertório extrapola o álbum e conta com 36 faixas, retomando as parcerias com Miúcha, Nana Caymmi, e com os grupos Uakti e Tira Poeira, que participam mais do espetáculo. Estão presentes também as intervenções poéticas feitas tanto por Denise Stoklos e Ferreira Gullar, como pela própria Bethânia. Nos "extras", um making of do espetáculo com entrevistas, além da versão exclusiva de "Trenzinho Caipira" e de versões em close de "Cigarro de Paia" e "Motriz".

Quase como continuação de "Brasileirinho", Bethânia produziu a homenagem "Namorando a Rosa", para Rosinha de Valença. Violonista, Rosinha teve grande participação na carreira de sucesso de Bethânia. Dirigiu seu espetáculo "Comigo me Desavim", em 1967, e gravou "Cheiro de Mato", álbum de 1976 que influenciou a obra da cantora baiana. O disco tem 13 músicas, com uma gravação de Rosinha de Valença e faixas interpretadas por Chico Buarque, Bebel Gilberto, Maria Bethânia, Yvone Lara, Delcio Carvalho, Yamandú Costa, Alcione, Martinho da Vila, Turíbio Santos, Joanna, Miúcha, Hermeto Pascoal e Caetano Veloso.

Em 2005, outra homenagem, desta vez mais pessoal, ao poeta Vinicius de Moraes. São 15 faixas nas quais Bethânia interpreta parcerias do "poetinha" com Antonio Carlos Jobim, Garoto, Chico Buarque, Carlos Lyra, Baden Powell, Toquinho, Adoniran Barbosa, Jards Macalé, além de uma versão de Caetano Veloso para "Nature Boy" (Eden Ahbez) e de um antigo registro de voz de Vinicius, recuperado por ela. O disco não deixa de ser uma retribuição de Bethânia à música "O mais-que-perfeito", de Vinicius e Macalé, que ratificou a generosidade visionária do poeta ante a geração de Bethânia, Caetano, Chico, Edu e do próprio Macalé.

Ainda em 2005, é lançado um DVD, “Tempo, tempo, tempo” (Biscoito fino), com imagens do show gravado em São Paulo, onde a cantora comemorou 40 anos de carreira. Além de canções imortais de Vinícius de Moraes, Bethânia recria os compositores mais marcantes de sua trajetória, como Chico Buarque e Caetano Veloso, num repertório definitivo na voz da mais influente intérprete da música brasileira.


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ÁLBUNS DISPONÍVEIS

Revés em Gaza para a doutrina Bush
Ali Abunimah [*]

Tomada dos serviços de segurança palestinos em Gaza. A dramática derrota em Gaza das milícias apoiadas pelos EUA e por Israel, infligida pela forças leais ao Hamas, representa um enorme revés para a doutrina Bush na Palestina.

Antecedentes

Desde que o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas nos territórios ocupados, em Janeiro de 2006, elementos da liderança do movimento Fatah, há muito dominante, incluindo o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas e seus conselheiros, conspiraram com Israel, os Estados Unidos e os serviços de inteligência de vários Estados árabes para derrubar e enfraquecer o Hamas. Este apoio incluiu canalizar armas e dezenas de milhões de dólares para incontáveis milícias, particularmente a "Força de Segurança Preventiva" encabeçada em Gaza pelo senhor da guerra Mohammad Dahlan , um aliado próximo de Israel e dos Estados Unidos e pertencente à "Guarda Presidencial" de Abbas. O vice-conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Elliott Abrams — o mesmo que ajudou a desviar dinheiro para os Contras da Nicarágua na década de 1980 e que foi condenado por mentir ao Congresso no escândalo Irão-Contra — liderou o esforço para montar estes Contras palestinos. (Este antecedente foi extensamente pormenorizado em numerosos artigos publicado nos últimos meses por The Electronic Intifada ). Abrams também é conhecido por ter ajudado a encobrir massacres e atrocidades cometidas pelas milícias e esquadrões da morte apoiados pelos EUA em El Salvador.

Duas revelações recentes mostram a extensão da conspiração: em 7 de Junho, o jornal Haaretz relatou que "altos responsáveis do Fatah na Faixa de Gaza pediram a Israel que lhes permitisse receber grandes carregamentos de armas e munições de países árabes, incluindo o Egipto". Segundo aquele jornal israelense, o Fatah pediu a Israel "carros blindados, centenas de rockets RPG para furar blindagens, milhares de granadas de mão e milhares de balas de munições para armas de pequeno calibre", tudo para ser utilizado contra o Hamas.

Desde o momento da sua vitória eleitoral, o Hamas actuou pragmaticamente e com a intenção de integrar-se na estrutura política existente. Ele observou durante mais de um ano um cessar fogo unilateral em relação a Israel e parou com os ataques suicidas a civis israelenses que o haviam tornado notório. Num memorando confidencial escrito em Maio e publicado esta semana por The Guardian, o envio superior das Nações Unidas, Alvaro de Soto, confirmou que foi sob a pressão dos EUA que Abbas recusou ao Hamas o convite inicial para constituir um "governo de unidade nacional". De Soto pormenoriza que os conselheiros de Abbas ajudaram activamente a cortar a ajuda de Israel-EUA-União Europeia e o cerco dos palestinos sob ocupação, o que conduziu a um aumento maciço da pobreza para milhões de pessoas. Estes conselheiros empenharam-se junto aos Estados Unidos numa trama para "provocar a morte prematura do governo [Autoridade Palestina] liderado pelo Hamas", escreveu De Soto.

Apesar de uma sangrenta tentativa de golpe contra o Hamas por parte das forças lideradas por Dahlan, em Dezembro de Janeiro, o Hamas ainda concordou em aderir a um "Governo de Unidade Nacional" com o Fatah promovido pela Arábia Saudita na cimeira de Meca. Os conselheiros de Dahlan e de Abbas estavam determinados a sabotar isto, continuando a acumular armas e recusando-se a colocar as suas milícias sob o controle de um ministro do Interior neutro que, frustrado, acabou por demitir-se.

Um revés para os Estados Unidos e Israel

O núcleo da estratégia americana na Ásia Sudoeste e Central, particularmente no Afeganistão, Iraque, Palestina e Líbano, é estabelecer regimes fantoches que combatam inimigos da América em seu lugar. Esta estratégia parece estar a fracassar por toda a parte. Os Taliban estão a ressurgir no Afeganistão. Apesar do seu "acréscimo" ("surge") de tropas os EUA não estão mais próximos de subjugar a resistência no Iraque e não podem confiar nem mesmo no exército iraquiano que ajudaram a montar. O exército libanês, que os EUA esperavam reforçar como contrapeso ao Hizbollah, actuou fracamente contra umas poucas centenas de combatentes estrangeiros enfiados no campo de refugiados Nahr al-Bared (embora tenha provocado mortes e devastação entre muitos refugiados palestinos inocentes). Agora, em Gaza, deu-se o último fracasso.

A política de Israel é uma versão local da estratégia americana — ela também foi tentada e fracassou. Ao longo de mais de duas década Israel confiou numa milícia sua procuradora, o Exército Libanês do Sul, a fim de ajudá-lo a impor a ocupação no sul do Líbano. Em 2000, quando as forças israelenses retiraram-se precipitadamente, esta milícia entrou em colapso tão rapidamente quanto as forças de Dahlan e muitos dos seus membros fugiram para Israel. O Hamas agora está a referir-se à derrota das forças de Dahlan como uma "segunda libertação de Gaza".

Um elementos persistente da estratégia israelense tem sido tentar circunscrever a resistência palestina através da tentativa de criar lideranças traidoras. Na década de 1970 Israel ainda via a OLP como verdadeira representante da resistência. Assim, montou as "ligas de aldeia" colaboracionistas na Cisjordania como alternativa. Em 1976, permitiu eleições municipais na Cisjordania num esforço para dar alguma legitimidade a esta liderança alternativa. Quando candidatos filiados à OLP varreram o quadro, Israel começou a assassinar os presidentes de municipalidades OLP com carros bombas ou forçá-los ao exílio. Uma vez que alguns líderes exilados da OLP, nomeadamente Yasser Arafat, tornar-se subempreiteiros coniventes com a ocupação (uma acomodação formalizada pelos Acordos de Oslo), emergiu uma nova força de resistência na forma do Hamas. Os esforços israelenses para apoiar Dahlan e Abbas, o sucessor de Arafat, como alternativas de traição agora explodiram espectacularmente.

No rastro do colapso do Fatah em Gaza, o Haaretz relatou que o primeiro-ministro israelenses Ehud Olmert aconselhará o presidente Bush a manter Gaza isolada da Cisjordania. Isto pode ser encarado como uma tentativa de escorar Abbas, cuja sobrevivência Israel considera essencial para manter a ficção de que não domina directamente milhões de palestinos privados de direitos de cidadania. Um colapso total da Autoridade Palestina exporia a obrigação legal de Israel, como poder ocupante, de providenciar o bem estar dos palestinos que subjuga.

E como ficam agora os palestinos sob a ocupação?

Abbas declarou um "estado de emergência" e demitiu Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do Hamas, assim como o "governo de unidade nacional". O "estado de emergência" é meramente retórico. Todo o controle que ele tinha em Gaza acabou-se e Israel, de qualquer forma, tem o controle completa da Cisjordania.

Haniyeh, num discurso transmitido esta noite ao vivo na Al-Jazeera, rejeitou os "apressados" movimentos de Abbas e alegou que eles resultavam de pressões do exterior. Ele emitiu uma declaração com 16 pontos, dentre eles que o "governo de unidade" representava a vontade de 96 por cento dos palestinos sob ocupação expressa nas urnas eleitorais. Reafirmou o compromisso do seu movimento para com a democracia e o sistema político existente e que o Hamas não imporia mudanças no modo de vida das pessoas. Haniyeh disse que o governo continuaria a funcionar, restauraria a lei e a ordem e reafirmou o compromisso do Hamas para com a unidade nacional e o acordo de Meca. Conclamou todos os membros do Hamas a observarem uma amnistia geral beneficiando quaisquer combatentes da sua segurança capturados (isto seguia-se a relatos dos media de um punhado de execuções sumárias de combatentes do Fatah). Enfatizou também que a luta do Hamas não era com o Fatah como todo, mas apenas contra aqueles elementos que estiveram a colaborar activamente — uma referência clara a Dahlan e outros conselheiros de Abbas. Ele retratou a tomada de controle do Hamas como um último recurso na sequência da escalada de ilegalidades e tentativas de golpe de colaboracionistas, listando muito alegados crimes que acabaram por esgotar a paciência do Hamas. Haniyeh enfatizou a unidade de Gaza e da Cisjordania como "partes inseparáveis da nação palestina" e reiterou um apelo aos sequestradores do correspondente da BBC Alan Johnston a libertarem-no imediatamente.

O contraste entre a acção de Abbas e a resposta do Hamas é gritante. Abbas, empurrado talvez pelo mesmo grupo de conselheiros, parece estar a escalar a confrontação e a fazer isso quando não há razão para acreditar que possa vencer. O Hamas, enquanto se mantém firme e a partir de uma posição de força, fala numa linguagem de conciliação, enfatizando novamente que o Hamas tem um problema apenas com um pequeno grupo dentro do Fatah, não com as suas bases. Abbas, Dahlan e seus apoiantes precisam manter uma atitude sóbria — eles podem ser tentados a dominar o Hamas na Cisjordania, mas a escala da sua derrota em Gaza teria de conte-los.

Ambas as lideranças estão confinadas. Abbas parece estar inteiramente dependente do apoio estrangeiro e israelense, e incapaz de tomar decisões independentes de uma clique corrompida e venal. O Hamas, quaisquer que tenham sido as suas intenções, é provável que se descubra em Gaza sob um cerco ainda mais duro.

Abbas, apoiado por Israel e pelos EUA, apelou a uma força multinacional em Gaza. O Hamas rejeitou-a, dizendo que esta seria considerada como uma "força de ocupação". Na verdade, eles têm razão em estarem suspeitosos: durante décadas Israel e os EUA bloquearam apelos a uma força internacional de protecção para os palestinos. A força multinacional, receia o Hamas, não estaria ali para proteger os palestinos dos seus ocupantes israelenses, mas para desempenhar o papel de procurador (proxy) na protecção dos interesses de Israel que as forças de Dahlan já não são capazes de executar e para conter a resistência — tal como a força multinacional era suposta fazer no Líbano após a guerra de Julho de 2006.

Líderes sábios em Israel e nos Estados Unidos reconheceriam que o Hamas não é um fenómeno passageiro, e que nunca poderão criar líderes fantoches que sejam capazes de competir contra um movimento de resistência popular. Mas não há sinais de sabedoria: os EUA pediram agora a Israel para "afrouxarem o seu domínio" na Cisjordania a fim de dar uma ajuda a Abbas. Embora a doutrina Bush tenha sofrido um golpe, o povo palestino não ganhou uma grande vitória. O jogo sórdido às suas custas continua.

[*] Cofundador da publicação online The Electronic Intifada e autor de One Country: A Bold Proposal to End the Israeli-Palestinian Impasse .

O original encontra-se em http://electronicintifada.net/v2/article7030.shtml

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Os três grupos poluidores



Danilo Pretti Di Giorgi

As recentes propostas e declarações dos mais importantes líderes políticos mundiais sobre possíveis soluções para o aquecimento global têm mostrado que ainda há um longo caminho a ser trilhado para encontrarmos uma saída para o dilema. Como o assunto dominou as expectativas em torno das reuniões do G8 e do G5, realizadas na Alemanha no começo de junho, foi possível levantar dados para uma análise mais aprofundada com base nas declarações publicadas na mídia. Os maiores poluidores (os países que efetivamente têm poder para influenciar os rumos desta história) estão, grosso modo, divididos em três grandes grupos.

O primeiro, formado principalmente pelos paises da União Européia, aparece à primeira vista como o mais consciente no que diz respeito ao futuro das condições de vida no planeta. Participaram ativamente da idealização do Protocolo de Kyoto e todos assinaram o documento. Mas pouca gente comenta que nenhum está caminhando para cumprir as metas por eles mesmos estabelecidas de redução de 8% nas emissões até 2012 (que, não custa lembrar, estão muito abaixo do necessário). À exceção de Inglaterra, França e Alemanha, que registraram modestas reduções desde 2000, a maior parte dos países do continente apresentou aceleração desde o começo do século.

É importante ressaltar, ao falar de Europa, que estamos nos referindo a países com pouco espaço para expansão econômica ou para aproveitamento territorial, com baixo crescimento demográfico ou em alguns casos negativo. Nações onde é mais simples administrar a redução da emissão de CO² do que em outras com amplas áreas livres e inexploradas, que registram crescimento populacional mais pronunciado, como Estados Unidos, Brasil e China, apenas citando alguns exemplos.

O segundo grupo, liderado pelos EUA, ao lado principalmente do Japão e da Austrália, coloca a imposição de metas aos países ditos “em desenvolvimento” como pré-requisito para assumir algum compromisso.

O terceiro grupo (o nosso), composto pelas tais “nações emergentes”, que tem à frente Brasil, Índia e China, tenta esquivar-se das metas afirmando serem os países ricos os grandes responsáveis históricos pela concentração de CO² na atmosfera. Segundo o raciocínio dominante neste grupo, os desenvolvidos teriam enriquecido exatamente poluindo o mundo e agora estariam tentando lhes tirar este “direito”.

O resultado é que o produto das discussões referentes ao clima nos encontros de lideres mundiais na Alemanha foi nulo. Mas vejamos as propostas e declarações.

A chanceler alemã, Angela Merkel, do primeiro grupo, sugeriu a redução de 50% nas emissões até 2050, mas sem um mecanismo que incluísse compromissos obrigatórios para grandes cortes nas emissões.

Liderando o segundo grupo, Bush sugeriu “diversas reuniões internacionais” entre os 15 maiores poluidores, para estabelecer metas de redução de emissões. Detalhe: as metas seriam para quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012! E, segundo sua sugestão, cada país definiria sua própria meta de redução. Assim como no caso da alemã, uma proposta imprecisa e sem efeito prático.

Hu Jintao, presidente da China, país que vem apresentando índices de destruição por segundo jamais sonhados, afirmou que cabe aos países ricos “tomar a iniciativa”, pois “para os países em desenvolvimento, obter crescimento econômico e melhorar a vida de suas populações são as principais prioridades". Lula foi na mesma linha: “os países em desenvolvimento têm o direito de crescer como os ricos cresceram e ter a mesma qualidade de vida que eles conquistaram”. Além disso, Lula, de olho nos dólares americanos, está jogando todas as fichas no etanol, uma falácia no que diz respeito a efeitos de redução no aquecimento global.

Lula me fez sentir vergonha de ser brasileiro no ano passado ao negar-se publicamente a assumir qualquer tipo de meta para redução nos desmatamentos da Amazônia. Parar o desmatamento é uma obrigação do Brasil, independente de pressões internacionais, até porque não me parece muito inteligente ver a destruição da floresta tropical como caminho para o aumento do PIB nacional.

Quando nosso presidente coloca-se contra imposições internacionais deste tipo, demonstra sede por divisas a qualquer custo, mesmo que seja com a destruição da floresta. Nunca é demais lembrar que 75% das emissões brasileiras têm origem em queimadas e desmatamento. Reduzir estas emissões a zero pode significar ao mesmo tempo nossa contribuição efetiva para as necessárias reduções globais e um colchão de gordura para permitir o tão propalado desenvolvimento, mas em bases limpas.

É animador o avanço nas discussões sobre a questão climática em todo o mundo, fato que se reflete na mudança no discurso de líderes como George Bush, para quem até pouco tempo atrás o problema parecia simplesmente não existir. Mas não é difícil perceber que a consciência sobre a gravidade da situação, inclusive de seus impactos futuros sobre a economia, ainda não chegou ao nível necessário para que as mudanças de comportamento em todas as esferas da sociedade saiam das palavras para a prática. As discussões no sentido das atitudes a serem tomadas para a efetiva redução das emissões ainda são embrionárias. Definir metas é importante, mas o essencial é definir os passos que deverão ser dados pela humanidade para que as metas sejam atingidas, o que ainda não começou a acontecer.

Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

Email: digiorgi@gmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

"Há múltiplos modelos para a esquerda"

Em entrevista ao jornal argentino Página 12, o sociólogo e vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera fala da experiência do governo Evo Morales. Segundo ele, o que a Bolívia está atravessando hoje é um processo de ampla luta e redistribuição do poder
Redação - Carta Maior
A nova realidade de um país onde as velhas elites passaram a compartilhar o poder com os indígenas, e as complexas relações entre Estado e movimentos sociais são temas de uma entrevista que o sociólogo e vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, concedeu ao jornal argentino Página 12 (11/06/2007). Na entrevista, Linera defende que há múltiplos modelos para a esquerda e explica assim o que está acontecendo em seu país: “o que a Bolívia está atravessando hoje é, essencialmente, um processo de ampla e generalizada luta e redistribuição do poder (...) Apostamos num processo de redistribuição pactuado do poder com um novo núcleo articulador: o movimento indígena”. Indagado sobre o papel do Estado nesse processo dirigido pelos movimentos sociais, Linera responde que é garantir a sustentabilidade do mesmo, através do controle dos recursos naturais.Ele fala de um governo dos movimentos sociais e da tensão inerente a essa forma de governo: “Nós falamos sempre de um governo dos movimentos sociais. Parece uma contradição. Todo Estado é, por definição, um monopólio, ao passo que um movimento social é, por definição, uma democratização e uma socialização. Como vai haver, então, um Estado dos movimentos sociais? É uma tensão evidente, mas é o que acontece na Bolívia hoje”. Para Linera, essa tensão é inevitável e saudável: “Tem que ser assim e não é, como pensam alguns, um defeito, mas uma virtude. A esta coexistência de forças capitalistas e pós-capitalistas na estrutura econômica corresponde uma tensão, dentro do Estado, entre um Estado de direito moderno com monopólio de coerção legítima e da violência simbólica legítima, como dizia (Pierre) Bourdieu, com uma instância de socialização das decisões através dos movimentos sociais”.Uma contradição virtuosaA natureza e as implicações dessa tensão, segundo ele, vão muito além do debate de (Toni) Negri e (John) Holloway, que falam de um momento de resistência dos movimentos sociais, mas não de governo. “Tem que se manter assim viva. É uma contradição. São processos que têm que avançar juntos. Corresponde aos movimentos sociais dirigir isso, mas cabe ao Estado, através da propriedade dos recursos naturais, garantir a base de sustentabilidade desse processo. Isso se faz ampliando a base moderna de nossa economia em tempos de globalização, impulsionando processos de modernização - e não, como antes, de exclusão – da economia familiar e urbana e garantindo a transferência do excedente econômico para o setor artesanal e para o setor micro-empresarial. O Estado tem um papel de potencializador desses núcleos mediante a apropriação do excedente econômico e sua transferência”.O papel que os movimentos sociais desempenham na experiência boliviana está alicerçado em um ciclo histórico de mobilizações, assinala o vice-presidente. Essas mobilizações acabaram por definir as grandes linhas de ação do governo Evo Morales em temas como hidrocarbonetos, água, terra e Assembléia Constituinte. “O programa não foi inventado por cinco pessoas que se sentaram ao redor de uma mesa, mas foi construído pelos movimentos sociais no grande ciclo de mobilizações 2000-2005. Nos tomamos isso e o levamos ao governo. O partido se apropriou dessas grandes linhas, não as impôs”. A idéia de um governo dos movimentos sociais, prossegue Linera, é comprovada quando se entende o que é o MAS (Movimento ao Socialismo): “no fundo é uma coalizão, flexível e negociada, de movimentos sociais. O MAS não tem uma estrutura partidária, o que não necessariamente é bom”. Três desfechos possíveisE é essa relação estreita entre partido e movimentos sociais, defende o sociólogo, que dá vigor e legitimidade a propostas como a modificação da Lei INRA (Instituto Nacional de Reforma Agrária) sobre a propriedade da terra. “Segundo os opositores, seria o cenário de uma guerra civil. Ela se fez através da ação dos movimentos sociais. Aconteceram assembléias, se acordou uma proposta que foi levada ao parlamento. O governo, através dos ministérios e dos blocos parlamentares, atuou subordinado à proposta dos movimentos sociais”. Outro exemplo citado por Linera é o da Assembléia Constituinte, proposta elaborada da mesma forma: um processo de mobilização prévio que implica deliberação e gera um respaldo. “Desde que chegamos ao governo definimos uma estratégia de distribuição pactuada do poder. O que a Bolívia está atravessando hoje é, essencialmente, um processo de luta e redistribuição do poder”.O desfecho desse processo de mobilizações, historicamente, pode ter três desfechos observa ainda o sociólogo: “Que o setor emergente desloque diretamente, mediante qualquer meio possível, o bloco anterior. Que este bloco de poder antigo consiga derrotar, reprimir, cooptar ou esmagar o bloco emergente. Ou que se consiga redistribuir o poder entre ambos. Como governo, optamos pela terceira opção. Apostamos num processo de redistribuição pactuado do poder com um novo núcleo articulador: o movimento indígena”. Mas, segundo ele, essa opção não equivale a uma escolha por uma via reformista: “Nosso objetivo é pactuá-lo. Temos dado passos importantes neste sentido e estamos dispostos a dar outros. Acontece que é preciso ver com uma certa distância o que está ocorrendo na Bolívia: uma ampliação das elites, uma ampliação dos direitos e uma redistribuição da riqueza. Isso, na Bolívia, é uma revolução.”Está em curso um projeto pós-capitalista?De fato, não se trata de uma mudança menor. Os setores que governaram a Bolívia por décadas foram obrigadas a compartilhar o poder com os índios. “Nunca mais vão poder tomar decisões sem consultá-los. Se conseguirem entender isso, não haverá complicações. Estão muito acostumados a mandar sozinhos, por tradição, por herança, por hábito, por costume e por formação. Os indígenas sempre eram os que serviam a mesa cozinhavam, cuidavam das crianças, eram pedreiros. Que agora sejam presidentes, ministros ou chanceleres obviamente é um golpe duro a esta lógica. Mas é a lógica da igualdade e da democracia. No fundo, estamos diante de um amplo processo de igualitarização social e democratização das decisões. Há setores que entendem e aceitam isso”, diz Linera. Mas, além da resistência das velhas elites bolivianas, ele identifica problemas também no campo da esquerda.“A bem da verdade, há um setor do nosso bloco que acredita que, agora que chegou o momento, é preciso monopolizar tudo. É um grande erro, porque muitas vezes gera maiores condicionamentos. Mas creio que gradualmente, por aproximações sucessivas, vamos construindo um processo no qual o bloco deslocado do controle absoluto e o bloco emergente, mas que também não vai ter o controle absoluto, articulam mecanismos para redistribuir o poder”. O poder central, esclarece, não é tanto a distribuição do poder, mas a aceitação de um novo núcleo articulador, que é o movimento indígena. Indagado sobre se o MAS lidera um projeto pós-capitalista, Linera diz que a Bolívia tem espaço e potencial para o desenvolvimento de relações de produção capitalistas. A diferença em relação ao passado, esclarece, é que, “agora buscamos mudar certas características”. Ele explica:“No topo já não estão mais os investimentos estrangeiros, mas o Estado produtivo. Já não se trata de um capitalismo endogâmico e especulativo, como o que se construiu nos anos 1970, mas um capitalismo produtivo, que reconhece uma diversidade de atores econômicos com capacidade de acumulação: o setor empresarial tradicional, evidentemente, mas também outros setores, como o empresarial não tradicional, que emerge do mundo popular indígena e que conseguiu construir, por cima do Estado, por fora e às vezes contra o Estado, mecanismos de acumulação muito interessantes, ainda que obviamente dentro da informalidade. Este setor, mesmo que esteja menos reconhecido, pode ser muito mais eficiente, em termos estritamente econômicos, que aquele que cresceu a partir do Estado”. Linera identifica, por outro lado, um outro tipo de potencial:“Há outro potencial não capitalista, ou pós-capitalista, dentro da estrutura social e econômica boliviana, que são as forças comunitárias tradicionais. Então, nossa estrutura social tem, por um lado, um potencial de desenvolvimento de um capitalismo produtivo mais diverso que o que havia até agora, mas também um potencial presente nas comunidades não capitalistas. Encontram-se fragmentadas, golpeadas e dispersas, resultado dos anos de colônia e república, mas têm em seu interior a potencialidade pós-capitalista. É uma estrutura muito ampla: 90% da economia camponesa é de tipo familiar-comunitário”. Esse potencial não capitalista, conclui, pode ser economicamente relevante porque não é meramente tradicional ou de auto-sustentação. “Nosso grande desafio como governo é potencializar essas estruturas pós-capitalistas, converter a comunidade numa força pós-capitalista”.