Klaus Kinski ... Don Lope de Aguirre
Helena Rojo ... Inez
Del Negro ... Brother Gaspar de Carvajal
Ruy Guerra ... Don Pedro de Ursua
Peter Berling ... Don Fernando de Guzman
Cecilia Rivera ... Flores
Daniel Ades ... Perucho (as Dan Ades)
Edward Roland ... Okello
Alejandro Chavez
Armando Polanah ... Armando
Daniel Farfán
Julio E. Martínez
Alejandro Repulles ... Gonzalo Pizarro
Indianern der Kooperative Lauramarca
Premiações
3 prêmios e 1 indicação, em categorias como "Melhor Filme Estrangeiro" e "Melhor Fotografia".
Confira a relação aqui.
Curiosidades
- Aguirre, A Cólera dos Deuses foi a primeira colaboração da conturbada e bem sucedida parceria de 15 anos do ator Klaus Kinski com o diretor Herzog e é considerado por muitos como um dos melhores filmes da década de 70.
- A idéia do filme surgiu após Herzog ter pego emprestado um livro de aventuras de um amigo. Depois de ler uma meia página dedicada a Aguirre, o diretor sentiu-se inspirado e imediatamente partiu para a criação da história. Segundo o diretor, o roteiro do longa foi escrito em dois dias e meio, enquanto ele viajava de ônibus com um time de futebol. No entanto, esta viagem trouxe também alguns atrapalhos: Num dia, após uma partida, praticamente todo o time estava muito bêbado, e um dos jogadores que estava sentado atrás de Herzog vomitou em sua máquina, arruinando muitas páginas do script. Como prejuízo, as páginas tiveram que ser jogadas fora, e como o diretor não conseguia se lembrar do que tinha escrito nelas, teve que correr em busca do tempo (e do celulóide) perdido.
- Uma boa parte de Aguirre, bem como alguns dos primeiros trabalhos do diretor, foram feitos com uma única câmera de 35mm, que ele roubou da Faculdade de Cinema de Munique. Descoberto, ele admitiu o roubo, mas rapidamente procurou justificar o seu ato com a relevância do filme que estava fazendo. Anos mais tarde, com a falta já reparada, o diretor deu umas boas risadas do episódio.
- Dentre os vários fatos e mitos que cercam o filme, um que chama a atenção diz respeito à relação conturbada entre o diretor e Klaus Kinski. Segundo relatos, Klaus estava deixando Herzog louco, tomando drogas a todo momento, instigando os outros atores contra o diretor, ameaçando deixar as filmagens e tornando o clima do filme um inferno. Num dia, Herzog disse para Kinski: "Pode ir embora Klaus, mas eu vou subir naquela árvore e dar dois tiros na sua cabeça antes de você virar aquela curva. A última bala vai ser pra mim, mas por Deus, antes eu meto as outras duas na sua cabeça!!". O Klaus era muito maluco, mas também muito medroso e acabou ficando quietinho.
- O filme conta com a participação do cineasta brasileiro Ruy Guerra (Ópera do Malandro, Estorvo) no elenco, no papel de Don Pedro de Ursua.
- As filmagens de Aguirre ocorreram durante extenuantes cinco semanas, com locações no Peru (Cuzco, Rio Huallage, Rio Nanay) e no Rio Amazonas.
- Para quem desejar saber mais a respeito deste clássico e de muito do que cercou a sua realização, recomendo o ótimo documentário "Meu Melhor Inimigo", também de Herzog, que fala do relacionamento entre o diretor e Klaus Kinski.
- Embora o filme já tenha sido postado, estou trazendo neste repost um outro rip, sem legendas fixas e com o problema de sincronia das legendas corrigido.
- Créditos da legenda para o nosso amigo Corisco, que fez a correção na sincronia da legenda. Fiz algumas adaptações para o tempo deste release e dei uma burilada na tradução em algumas partes. Confiram aí.
Crítica
Aguirre, A Cólera dos Deuses
“Aguirre, A Cólera dos Deuses” (Aguirre, der Zorn Gottes, Alemanha, 1972) é provavelmente o épico mais barato de toda a história do cinema: custou apenas US$ 380 mil. Foi feito com apenas uma câmera de 35mm, que o cineasta Werner Herzog literalmente roubou da escola de cinema que freqüentou, na Alemanha. A produção em si foi um caos, como sempre acontece nos casos de filmagens realizadas na selva – “Aguirre” foi feito na parte peruana da floresta amazônica. Durante algumas semanas, Herzog chegou a pensar que havia perdido o filme, pois a transportadora encarregada de enviar os rolos para a Alemanha não o fez, perdendo-os em um depósito local.
Toda essa confusão não impediu “Aguirre” de se transformar em um dos filmes mais cultuados nos círculos de cinéfilos internacionais. Não é um fenômeno alemão, nem mesmo europeu. Nos EUA, os leitores da revista Entertainment Weekly o votaram em 46º, entre os mais importantes cult movies da história. Não é pouco, especialmente se for levado em consideração que Herzog é o mais hermético e o menos conhecido dos realizadores alemães que surgiram na década de 1970. A geração dele, com Rainer Werner Fassbinder e Wim Wenders, foi a mais talentosa a surgir após a época de ouro do cinema europeu (Fellini, Bergman, Antonioni).
A tomada de abertura de “Aguirre” resume não apenas o enredo do filme, mas principalmente a temática central da obra de Herzog: a vastidão, o mistério e o fascínio da natureza, em contraponto contra a pequeneza do ser humano. Em pouco mais de dois minutos, sem cortes, o espectador vê uma paisagem de tirar o fôlego: a encosta de uma alta montanha, com neblina no topo e mata fechada na base. A câmera então se aproxima lentamente, o suficiente para que a platéia perceba uma fileira de homens que descem a montanha. É uma enorme fileira; eles parecem formigas diante da enormidade da imponente montanha. A imagem então se afasta um pouco, e revela que a procissão tem milhares de homens, e se estende por diversos quilômetros. Alguns deles aparecem logo depois, em primeiro plano, diante da câmera, e então jogam a paisagem para segundo plano. É uma seqüência magistral.
A fileira de homens é formada por exploradores espanhóis e escravos índios. O filme se passa no século XVI e narra a lendária expedição empreendida por Francisco Pizarro, em busca da mítica cidade de El Dorado, um suposto vilarejo construído de ouro puro, encravado na floresta. Os espanhóis estão aonde a civilização nunca chegou. À medida que se embrenham na floresta, a expedição perde homens. Índios morrem de inanição, guerreiros de doenças. Quando percebe o erro, Pizarro volta e nomeia um pequeno grupo de homens para ir em frente. É uma espécie de pelotão suicida, pago para desbravar o desconhecido. Entre eles está o nobre Dom Lope de Aguirre (Klaus Kinski), um homem cuja ambição o deixa à beira da loucura. As condições estão, portanto, propícias para que Aguirre desenvolva seus delírios de grandeza. E ele o faz.
Klaus Kinski, no papel do lorde delirante, é a alma do filme. Seus olhos insanos e sua expressão pétrea dão a mistura perfeita de tenacidade e coragem que os integrantes da expedição – e também a platéia – necessitam para acreditar na jornada impossível. Se em algum ponto o véu da cobiça desce sobre os olhos, ninguém percebe – até que seja tarde demais. O Aguirre de Kinski é um homem mirrado, que se move de lado, como se rastejasse. Possui a ameaça de uma cobra. Ele funciona como se fosse um corcunda ou um aleijado – um Ricardo III perdido nas selvas da Amazônia. Shakespeare teria se orgulhado.
A expedição viaja de barco. É uma espécie de enorme jangada construída artesanalmente, que luta contra a forte correnteza do rio Amazonas e também contra índios que a platéia jamais vê – as flechas, no entanto, reduzem o grupo de guerreiros a cada investida. Nada disso, porém, impede que Aguirre conduza seus homens até o final da jornada, em busca de ouro, riqueza e poder. “Aguirre”, como fica claro, tem semelhanças incríveis com “Apocalypse Now”, que Coppola faria alguns anos depois. Mas não denuncia os horrores da guerra; é, sim, um dos grandes filmes sobre a cobiça (ao lado de “O Tesouro de Sierra Madre”) que já foram feitos. A majestosa seqüência final, que envolve Aguirre, um grupo de macacos e a força do rio, encerra o filme como uma nota grave.
Existem duas edições em DVD nacional, e elas são parecidas. A primeira é da Abril DVD. Essa edição possui um comentário em áudio de Werner Herzog, em inglês (sem legendas). O som do filme, remixado em Dolby Digital 5.1, também é ótimo; valoriza a música etérea e evocativa do grupo Popol Vuhl e também amplifica os ruídos da selva, que emprestam um senso de mistério ao longa-metragem. O som, aliás, é parte essencial de “Aguirre”, porque evoca algo de divino, algo não traduzível em palavras. A versão lançada pela Versátil não possui a trilha de comentário e o som é apenas DD 2.0, mas compensa a falha trazendo um documentário (59 minutos) e um curta-metragem de Herzog. Nos dois casos, a imagem aparece “encaixotada” no formato quase quadrado da TV (standard 4x3), com cortes laterais.
Fonte