Por Tali Feld Gleiser.
Antrop. O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais, etc. (Dicionário Aurélio).
f. Conjunto de conhecimentos que permite que uma pessoa desenvolva seu julgamento crítico. (Real Academia Espanhola).
Parece que o julgamento crítico dos membros do Mercosul desapareceu definitivamente.
Em dezembro de 2007 firmou-se em Montevidéu um TLC entre este organismo e o estado de Israel. É uma vergonha para nós, habitantes desses países e latino-americanos um TLC e mais ainda com Israel.
O Brasil, destino de 77% das vendas israelenses aos membros do Mercosur, de acordo com o Ministro das relações exteriores Celso Amorim, foi além do TLC. Em recente vista a Israel, o Ministro assinou um acordo de cooperação cultural com esse país. Pergunto-me que tipo de cultura nos poderá transmitir um país cujo currículo escolar “alimenta o ódio aos árabes em geral e aos palestinos em particular, despojando-os de sua humanidade e descrevendo-os como selvagens, violentos, terroristas, retrasados, criminosos, sujos e animalizados”.[1]
“As crianças israelenses aprendem que a Terra Prometida de Deus tinha sido roubada por ladrões pagãos (árabes e muçulmanos) e que é um dever religioso cumprir o desejo religioso de Deus de limpar a Terra Prometida destes pagãos e construir uma casa para Deus”.[2] Ninguém pode reclamar que o estado de Israel não siga estes preceitos religiosos. Os goyim (não judeus) têm que desaparecer da terra prometida só para o povo escolhido por Deus.
Talvez o governo brasileiro pensasse que Israel poderia lhe ensinar como confinar os pobres em territórios onde falta literalmente tudo. Sabe-se que as favelas brasileiras são locais inabitáveis, mas, graças à cultura israelense de esmagar as casas com bulldozers, de destruir milhares de mesquitas e todo vestígio da sua cultura, as favelas poderiam ser urbanizadas, varrendo do mapa construções e habitantes. Negros, indígenas e minorias em geral deteriam de vez a sua mobilização popular já quase inexistente. Para que discutir as cotas raciais nas universidades brasileiras se o exemplo sionista for seguido?
E para que discutir a militarização das favelas se com a venda de armas e os sábios conselhos dos serviços de inteligência israelenses seria possível aplicar bombas de fragmentação que acabariam com todos os problemas? Ou que tal importar paramilitares colombianos treinados pelo Mossad para acabar com o pouco que resta dos movimentos populares no Brasil? Muros? Não precisamos. O muro permanente que divide a sociedade brasileira faz com que seja um dos países com maior concentração de renda.
Engana-se o governo brasileiro se acredita que assinar um tratado de cultura com Israel é respeitar a devoção histórica do povo judeu à cultura e o uso do conhecimento em prol da raça humana. O estado de Israel não tem nenhuma dessas características. Pelo contrário, quanto mais alienado e temeroso forem os israelenses-judeus, mais fácil será manter a apartheid e os privilégios de uns poucos. Israel pode nos transmitir como desconhecer sua própria história. Será que para o governo brasileiro é disso que o povo brasileiro precisa?
[1] Eli Bodia, pesquisador israelense da Universidade de Haifa. Estudo sobre o currículo acadêmico de história intitulado "A luta israelense nos livros de história acadêmicos hebreus".
[2] Elias Akleh. O terrorista sistema educativo israelense. www.rebelion.org