segunda-feira, 31 de maio de 2010

Genocidio em Gaza continua...

 ‘Por que vou para Gaza’
Escrito por Iara Lee   - Correio da Cidadania
 
Em alguns dias eu serei a única brasileira a embarcar num navio que integra a Gaza Freedom Flotilla. A recente decisão do governo israelense de impedir a entrada do acadêmico internacionalmente reconhecido Noam Chomsky nos Territórios Ocupados da Palestina sugere que também seremos barrados. Não obstante, partiremos com a intenção de entregar comida, água, suprimentos médicos e materiais de construção às comunidades de Gaza.
 
Normalmente eu consideraria uma missão de boa vontade como esta completamente inócua. Mas agora estamos diante de uma crise que afeta os cidadãos palestinos criada pela política internacional. É resultado da atitude de Israel de cercar Gaza em pleno desafio à lei internacional. Embora o presidente Lula tenha tomado algumas medidas para promover a paz no Oriente Médio, mais ação civil é necessária para sensibilizar as pessoas sobre o grave abuso de direitos humanos em Gaza.
 
O cerco à Faixa de Gaza pelo governo israelense tem origem em 2005, e vem sendo rigorosamente mantido desde a ofensiva militar de 2008-09, que deixou mais de 1.400 mortos e 14.000 lares destruídos. Israel argumenta que suas ações militares intensificadas ocorreram em resposta ao disparo de foguetes ordenado pelo governo do Hamas, cuja legitimidade não reconhece. Porém, segundo organizações internacionais de direitos humanos como a Human Rights Watch, a reação militar israelense tem sido extremamente desproporcional.
 
O cerco não visa militantes palestinos, mas infringe as normas internacionais ao condenar todos pelas ações de alguns. Uma reportagem publicada por Anistia Internacional, Oxfam, Save the Children e CARE relatou que "a crise humanitária (em Gaza) é resultado direto da contínua punição de homens, mulheres e crianças inocentes e é ilegal sob a lei internacional".
 
Como resultado do cerco, civis em Gaza, inclusive crianças e outros inocentes que se encontram no meio do conflito, não têm água limpa para beber, já que as autoridades não podem consertar usinas de tratamento destruídas pelos israelenses. Ataques aéreos que danaram infra-estruturas civis básicas, junto com a redução da importação, deixaram a população de Gaza sem comida e remédios de que precisam para uma sobrevivência saudável.
 
Nós que enfrentamos esta viagem estamos, é claro, preocupados com nossa segurança também. Anteriormente, alguns barcos que tentaram trazer abastecimentos a Gaza foram violentamente assediados pelas forças israelenses. No dia 30 de dezembro de 2008, o navio ‘Dignity’ carregava cirurgiões voluntários e três toneladas de suprimentos médicos quando foi atacado sem aviso prévio por um navio israelense, que o alvejou três vezes a aproximadamente 90 milhas da costa de Gaza. Passageiros e tripulantes ficaram aterrorizados, enquanto seu navio fazia água e tropas israelenses ameaçavam com novos disparos.
 
Todavia eu me envolvo porque creio que ações resolutamente não violentas, que chamam a atenção ao bloqueio, são indispensáveis para esclarecer o público sobre o que está de fato ocorrendo. Simplesmente não há justificativa para impedir que cargas de ajuda humanitária alcancem um povo em crise.
 
Com a partida dos nossos navios, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy mandou uma carta de apoio aos palestinos para o governo de Israel. "Eu me considero um amigo de Israel e simpatizante do povo judeu" escreveu, acrescentando, "mas por este meio, e também no Senado, expresso minha simpatia a este movimento completamente pacífico… Os oito navios do Free Gaza Movement (Movimento Gaza Livre) levarão comida, roupas, materiais de construção e a solidariedade de povos de várias nações, para que os palestinos possam reconstruir suas casas e criar um futuro novo, justo e unido".
 
Seguindo este exemplo, funcionários públicos e outros civis devem exigir que sejam abertos canais humanitários a Gaza, que as pessoas recebam comida e suprimentos médicos, e que Israel faça um maior esforço para proteger inocentes. Enquanto eu estou motivada a ponto de me integrar à viagem humanitária, reconheço que muitos não têm condições de fazer o mesmo. Felizmente, é possível colaborar sem ter que embarcar em um navio. Nós todos simplesmente temos de aumentar nossas vozes em protesto contra esta vergonhosa violação dos direitos humanos.
 
Iara Lee é cineasta brasileira de origem coreana e está na flotilha humanitária que levava suprimentos à Faixa de Gaza quando foi atacada pelo exército israelense em águas internacionais, o que causou a morte de onze voluntários turcos.

A crise mundial e suas consequências...

Crise na Grécia ou crise nos estados da União Européia?

Artigo de  Achille Lollo

"No dia 6 de dezembro de 2008 as agências de informação anunciavam que uma violenta rebelião popular havia sacudido as principais cidades da Grécia para protestar contra o assassinato do estudante de 15 anos Aléxis Andréas Grigoropulos, abatido a tiros pela polícia anti-motim. Durante três dias as televisões do mundo inteiro visualizaram as cenas de violência da guerrilha urbana que havia paralisado a capital Atenas, Salonicco, Patrasso, Kavale e também as ilhas de Creta, Rodi e Corfu, quando foi evidente que o assassinato do jovem Aléxis no bairro de Exarquia – fortaleza do movimento estudantil e dos grupos anarquistas - foi provocado "ad hoc" pela polícia para criar um clima de terror e esvaziar a greve geral que as centrais sindicais Adedye (funcionalismo público) e GSEE (setor privado) e os partidos de esquerda, KKE (Comunista), Pasok (social democrata), Synaspismos (Movimentos Sociais) e Verdes, haviam proclamado para dia 10, a fim de protestar contra a crise econômica, as privatizações e o aumento do desemprego". Leia a matéria na íntegra no sitio do Correio da Cidadania...


Rosa Luxemburgo, a guerreira....

Michael Löwy fala sobre Rosa Luxemburgo


Ouça a conferência do pensador marxista brasileiro radicado em França Michael Löwy sobre Rosa Luxemburgo, integrada no ciclo "Pensar os Pensadores do Socialismo", organizado pela CULTRA, e que decorreu na Livraria Ler Devagar / Lx Factory, no dia 25 de Maio, m Portugal.

Israel mais uma vez desrespeita os direitos humanos....

Israel ataca navios com ajuda humanitária para Gaza

Reproduzido do sitio Esquerda Net
 
Pelo menos 15 mortos e 50 feridos no ataque israelita à "Frota Liberdade" que transportava para Gaza cerca de 10 toneladas de ajuda humanitária e algumas centenas de militantes pró-palestinianos. O ataque deu-se em plenas águas internacionais.
Israel usa força para travar navios com ajuda humanitária. Foto 
LUSA/EPA.
Soldados israelitas transportam feridos para o hospital em Tel Aviv, após ataque militar de Israel, em águas internacionais, à «Frota Liberdade» que levava ajuda humanitária para Gaza. Foto LUSA/EPA, Roni Schutzer.
De acordo com a AFP, a União Europeia já pediu um inquérito ao incidente e os palestinianos pediram uma reunião urgente na ONU. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, condenou o ataque, classificando-o de “massacre”.
O conjunto de barcos era liderado por um navio de nacionalidade turca e dirigia-se para a Faixa de Gaza com ajuda humanitária e algumas centenas de pessoas que procuravam furar o bloqueio imposto por Israel àquela região do Médio Oriente.
Detectados pela defesa israelita, três navios lança-mísseis da classe Saar saíram do porto de Haifa e dirigiram-se à frota internacional com a missão de a interceptar e impedir a sua aproximação de território palestiniano.
Era já madrugada quando esta segunda feira os três navios de guerra avistaram a frota auto-denominada "Frota Liberdade". Encontravam-se em plenas águas internacionais. Foi aí que as autoridades militares decidiram agir. Helicópteros israelitas transportaram os comandos que desceram por cordas à abordagem dos navios alegadamente humanitários.
"Quinze pessoas foram mortas durante o ataque, na sua maioria cidadãos turcos", afirmou Mohammed Kaya, responsável pela divisão de Gaza da IHH, uma organização turca de defesa dos direitos do Homem, que fazia parte da operação naval.
Algumas embarcações estavam assinaladas com a bandeira turca, país que já fez saber que condena veementemente esta operação militar, classificando-a de inaceitável. “Israel vai sofrer as consequências por este seu comportamento”, frisou o ministro turco dos Negócios Estrangeiros. O embaixador israelita em Ankara já foi chamado pelo governo turco. O vice primeiro-ministro turco que substitui o chefe de governo que está de visita ao Chile convocou uma reunião de emergência com o ministro do Interior e com as chefias das Forças Armadas.
Os responsáveis palestinianos já condenaram o ataque. O chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, condenou aquilo que classificou como um "crime contra uma missão humanitária" e o Presidente da Autoridade Palestiniana, Amhmoud Abbas, apelidou o incidente de "massacre"e decretou três dias de luto nos territórios palestinianos.
Este ataque está, de resto, a provocar uma onda de levantamentos diplomáticos. A União Europeia quer um inquérito completo ao incidente. A Suécia qualificou o incidente de "completamente inaceitável" e já convocou o embaixador israelita em Estocolmo para lhe dizer exactamente isso. A Grécia também já chamou o embaixador israelita em Atenas para saber da situação dos seus cidadãos e interrompeu o exercício militar conjunto a que que levava a cabo com a marinha israelita.

Em Portugal, o Comité de Solidariedade com a Palestina divulga no seu blogue um relato desde um dos navios da Frota da Liberdade por Thomas Sommer-Houdeville, coordenador da Campanha internacional para a protecção do povo palestiniano (CCIPP) e convoca uma concentração em Lisboa, às 17h30, frente à Embaixada de Israel (Rua António Enes - metro Saldanha).

domingo, 30 de maio de 2010

A propriedade da terra e seus limites necessários....

Plebiscito consultará sociedade sobre limite de propriedade de terra

300510_latifundio Adital - Você acha que deveria haver um limite para propriedade de terra no Brasil? Entre os dias 1º e 7 de setembro deste ano, a sociedade brasileira terá a oportunidade de responder a essa pergunta através de um plebiscito popular.
A iniciativa, promovida pelo Fórum Nacional Popular pela Reforma Agrária e Justiça no Campo juntamente com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pretende indagar a população se há necessidade de limitar ou não as propriedades de terras.
Diversas organizações e entidades sociais já começaram a se articular para preparar a consulta. De acordo com Luiz Cláudio Mandela, coordenador colegiado da Cáritas Brasileira, 72 entidades de diferentes regiões já participaram de um primeiro plenário sobre o assunto. "23 estados já estão participando [da organização] e os outros começam a se articular", afirma.
A ideia é, até setembro, conscientizar e mobilizar a população brasileira sobre a importância do limite de propriedade de terras. "Queremos dialogar com a sociedade sobre a concentração de terras no Brasil. Isso interfere na estrutura política, social, geografia e econômica do país", destaca.
Enquanto o dia da consulta popular não chega, os interessados em participar da Campanha já podem assinar e divulgar o abaixo-assinado em apoio à proposta de emenda à Constituição que limita a área da propriedade de terra no país. "As pessoas já podem levar a folha do abaixo-assinado para debates sobre o assunto e assinar", comenta.
De acordo com Mandela, para torna-se um projeto de lei de iniciativa popular, são necessárias, no mínino, 1,5 milhão de assinaturas, meta que pretendem superar. "Mas a expectativa é que esse número no plebiscito seja muito maior. Queremos que ele seja como os outros, como o da Dívida [em 2000], que contou com seis milhões de votos, o da Alca [Área de Livre Comércio das Américas - realizado em 2002], que teve mais de dez milhões", acrescenta.
Desta vez, o plebiscito irá propor à sociedade um limite de 35 módulos fiscais para as propriedades de terras rurais. A intenção é que essa limitação esteja prevista na Constituição Federal. Segundo informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), módulo fiscal é a unidade que "serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho". A Lei nº 8.629, de fevereiro de 1993, considera grandes propriedades imóveis acima de 15 módulos fiscais.
De acordo com a Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra, a inclusão na Constituição do limite das propriedades de terras em até 35 módulos fiscais "resultaria numa disponibilidade imediata de mais de 200 milhões de hectares de terra para as famílias acampadas, sem despender recursos públicos para a indenização dos proprietários".
O plebiscito acontece nacionalmente durante o Grito dos Excluídos, na primeira semana de setembro. Mais informações: http://www.limitedaterra.org.br/index.php

tráfico de cocaína....

Reproduzo do blog do Luis Nassif dados muito interessantes sobre o tráfico de cocaína, feito pela ONU, em 2008.

O relatório 2008 da ONU sobre a cocaína

Dados do UNODC sobre apreensões individuais de drogas mostram que, de um número total de apreensões de cocaína realizadas na Europa em 2007 (em que a origem da remessa foi identificada), 22% haviam sido contrabandeados via África para a Europa. As cifras mostram que o contrabando da droga à Europa via África aumentou consideravelmente nos últimos três anos, com registros de 12% em 2006 e 5% em 2004. Grupos criminosos da África Ocidental continuam a dominar o tráfico no varejo em diversos países europeus. O país mencionado com mais freqüência como origem da cocaína traficada para a África é a Colômbia, seguida do Peru. Em relação às apreensões de cocaína realizadas na África, o país de trânsito mais importante é o Brasil, seguido da Venezuela. (p. 79)
Com base nas apreensões individuais reportadas ao UNODC, a maior parte da cocaína interceptada na Europa em 2006 partiu dos seguintes países: Venezuela (36% das apreensões), seguida da Colômbia (17%), República Dominicana (5%), Brasil (3%), Equador (3%), Argentina (3%) e Peru (3%). O ranking de 2007 também começou com apreensões que partiram da Venezuela (44%), seguida do Panamá (11%), Colômbia (5%), República Dominicana (4%), Peru (4%), Brasil (2%), Argentina (2%), Bolívia (1%), México (1%) e Costa Rica (1%). (p. 77)
Registros de carregamentos de cocaína especificamente destinados à Espanha mostram que a droga saiu da América do Sul principalmente pela Venezuela (31% das apreensões), seguido da República Dominicana (8%), Equador (6%), Brasil (5%), Argentina (5%) e Colômbia (4%). Traficantes de drogas de origem colombiana dominam as operações de tráfico. Integrantes destes grupos também representam o maior número de prisões de estrangeiros na Espanha (23% em 2006), à frente dos grupos do Marrocos (11%) e de grupos da República Dominicana (6%), Romênia (3%), Reino Unido (2%), Portugal (2%) e Itália (2%).
(p. 78)
As apreensões de cocaína em Portugal basicamente dobraram em 2004, em 2005 e em 2006 (de 3 t em 2003, para 7 t em 2004, 18 t em 2005 e 35 t em 2006). Grandes apreensões realizadas pelas autoridades de Portugal estão principalmente ligadas à importância da África Ocidental, inclusive países de língua portuguesa, como Cabo Verde e Guiné Bissau. A cocaína é contrabandeada da região andina, freqüentemente passando pela Venezuela, Brasil e outros países do Oeste África para chegar à Europa.
Os estrangeiros detidos em Portugal por tráfico de cocaína em 2006 eram principalmente de Cabo Verde (19%), Venezuela (14%), Brasil (13%), Guiné Bissau (5%), bem como Angola (1%) e São Tomé e Príncipe (1%). Além disso, traficantes europeus foram detidos na tentativa de contrabandear cocaína de Portugal para outros países. Entre estes estão cidadãos da Espanha (13%) e dos Países Baixos (Holanda) (6%). Apreensões individuais relatadas por Portugal ao UNODC em 2007 sugerem que 99% dos carregamentos de cocaína para Portugal transitaram por águas africanas. A maior parte teve origem no Senegal e Guiné Bissau, em 2007.



Vade retro Satanás!!!

 Reproduzo aqui artigo de Paulo Henrique Amorim, postado hoje em seu blog Conversa Afiada

 

Gilmar ameaça usar a “mídia” para atacar presidente do STF. Caiu a máscara

Ele acha que pode tudo

Fernando de Barros e Silva, na Folha (*), página A14, publica reportagem espantosa:

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Dantas (**) ameaçar usar a mídia (leia-se PiG ***) para atacar o atual presidente do STF, Cezar Peluso.


Peluso assumiu o Conselho Nacional de Justiça e resolveu conferir despesas feitas pelo ex-Supremo Presidente do Supremo com diárias e viagens.


Mais: Peluso criou um setor contábil, que não existia.


A resposta do ex-Presidente Supremo do Supremo foi feroz e incluiu: “escrever na imprensa” para se defender.


Peluso, num e-mail, ponderou que esse “não é assunto para o público externo, ‘numa alusão às incursões mediáticas do colega’ ”, completou Barros de Silva.


Ou seja, a reportagem da Folha expõe as vísceras de um mal que afligiu o Brasil durante dois anos: a sinistra associação entre quem se tinha na conta de Supremo e o PiG (***).


Uma associação que, a certa altura, este ordinário blog percebeu como um pacto para dar um Golpe de Estado da Direita.


É para isso mesmo que o PiG (***) serve.


Como vala por onde correm as ameaças ao Estado de Direito.


O que o Ministro Peluso pretende é um elementar controle sobre diárias e passagens do órgão que preside.


Nenhum presidente do Supremo deu tantas entrevistas ou fez tantas viagens quando o ex-Supremo ex-Presidente.


Só  num certo “mutirão carcerário” – que teve efeito irrelevante sobre a situação dramática dos presídios brasileiros – só por conta desse mutirão o ex-Presidente Supremo gastou a bagatela de R$ 7 milhões do povo brasileiro.


Muito bem faz o Ministro Peluso em querer saber que história é essa.


Chamar as contas às falas.


E que venha a fúria do Supremo ex-presidente no PiG.


Ela já não assusta mais ninguém.


Ele vive hoje ministerial irrelevância e se encaminha, segundo Justiniano I, o Grande – clique aqui para ler – para deixar o Supremo, com a inexorável vitória da Dilma.


E vai se dedicar, provavelmente, a processar, inutilmente, jornalista independente.


Indubitavelmente, belo fim de carreira.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é ; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Clique aqui para ver como um eminente colonista (****) do Globo se referiu a Ele.  E aqui para ver como outra eminente colonista (****) da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(****) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (***) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

sábado, 29 de maio de 2010

Ainda o Irã...

Irã: quem atira a primeira pedra?



 
 
O presidente Lula empreendeu uma delicada operação diplomática para evitar que o Irã utilize a energia nuclear para fins bélicos. As nações mais poderosas do mundo, capitaneadas pelos EUA, logo expressaram sua indignação e discordância: como um "paiseco" como o Brasil ousa querer ditar regras na política internacional?
Marx, Reich e Erich Fromm já nos haviam prevenido que preconceito de classe costuma ser um tabu arraigado. Como alguém que nasceu na cozinha tem o direito de ocupar a sala de jantar?
Pelo critério de George Bush, lamentavelmente preservado por Obama, o Irã faz parte das nações que integram o "eixo do mal". Não morro de amores pela terra dos aiatolás, considero o governo iraniano uma autocracia fundamentalista e discordo do modo patriarcal que o Irã trata as suas mulheres, como seres de segunda classe. Diga-se de passagem, assim também faz o Vaticano, razão pela qual as mulheres são impedidas de acesso ao sacerdócio.
Mas não custa questionar o cinismo dos senhores do mundo com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU: por que Israel tem o direito de possuir arsenal nuclear e o Irã não? Ele jogaria uma bomba nuclear sobre outras nações? Ora, isso os EUA já fez, em 1945, sacrificando milhares de vidas inocentes em Hiroshima e Nagasaki. O Irã desencadearia uma guerra mundial? Ora, o Ocidente civilizado já promoveu duas, a segunda vitimando 50 milhões de pessoas. O nazismo e o fascismo surgiram no Oriente? Todos sabemos: foram criações diabólicas de dois países considerados altamente civilizados, Alemanha e Itália.
Os árabes, ao longo de 800 anos, ocuparam a Península Ibérica. Deixaram um lastro de cultura e arte. A Europa ocupou e saqueou a África e a Ásia, e o lastro é de miséria, mortandade e extorsão. O Irã é uma ditadura? Quantas não foram implantadas na América Latina pela Casa Branca? Inclusive a do Brasil, que durou 21 anos (1964-1985). Há pouco, a Casa Branca apoiou o golpe militar que derrubou o governo democrático de Honduras.
Fortalecido belicamente o Irã poderia ocupar países vizinhos? E o que dizer da ocupação usamericana de Porto Rico, desde 1898, e agora do Iraque e do Afeganistão? E com que direito os EUA mantêm uma base naval, transformada em cárcere clandestino de supostos terroristas, em Guantánamo, território cubano?
Respaldado em que lei internacional os EUA implantaram 700 bases militares em países estrangeiros? Só na Itália existem 14. Na Colômbia, 5. E quantas bases militares estrangeiras há nos EUA?
Há que admitir: o Irã não está preparado para se integrar no seio das nações civilizadas... Nações que financiam, pelo consumo, os cartéis das drogas, tratam imigrantes estrangeiros como escória da humanidade; fazem do consumismo o ideal de vida.
E convém lembrar: fundamentalismo não é apenas uma síndrome religiosa. É, sobretudo, uma enfermidade ideológica, que nos induz a acreditar que o capitalismo é eterno, fora do mercado não há salvação e a desigualdade social é tão natural quanto o inverno e o verão.
Lula candidato era discriminado pelo elitismo brasileiro por não dominar idiomas estrangeiros. Surpreendeu a todos por falar a linguagem dos pobres e revelar-se exímio negociador em questões internacionais.
Sem o apoio do Brasil não avançaria essa primavera democrática que, hoje, semeia esperança de tempos melhores em toda a América Latina. Os eleitores dão as costas às velhas oligarquias políticas e escolhem governantes progressistas.
Essa nova geopolítica latino-americana, que oficializará em 2011 a União das Nações Latino-Americanas e Caribenhas, certamente preocupa Washington. A crise financeira bate as portas das nações mais poderosas do mundo e a Europa entra num período de recessão. O livre mercado, o Estado mínimo, a moeda única (euro), a ciranda especulativa, mergulham numa crise sem precedentes.
Tudo indica que, daqui pra frente, o mundo será diferente. Se melhor ou pior, depende do resultado do embate entre duas forças contrárias: os que pensam a partir do próprio umbigo, interessados apenas em obter fortunas, e os que buscam um projeto alternativo de sociedade, menos desigual e mais humano. É a antiética em confronto com a ética.
[Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org

Copyright 2010 - FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato - MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].

* Escritor e assessor de movimentos sociais

poeta revolucionario....

maiakov2.jpg (22172 bytes)
Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros   poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.


(comentário de Haroldo de Campos
publicado no livro  "Maiakóvski - Poemas"
Editora Perspectiva - 1982)

DE "V INTERNACIONAL"

Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.
(tradução:  Augusto de Campos)

ESCÁRNIOS

Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes, entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas esses que sob a árvore nutriz es-
cavam com seus focinhos as raízes.
(tradução:  Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)

BLUSA FÁTUA

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!
(tradução:  Augusto de Campos


A FLAUTA VÉRTEBRA

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
(tradução:  Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

EU

Nas calçadas pisadas
                   de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
             Onde
                    forcas
                esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
             pescoço de torres
       oblíquas

   soluçando eu avanço por vias que se encruz-
                                                           ilham
à vista
de cruci-
fixos
       polícias
(tradução:  Haroldo de Campos)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O candidato certo para a direita entreguista brasileira...

A direita, enfim, achou o seu candidato


Depois do Mercosul, o novo alvo de Serra é a Bolívia. Para azar do pré-candidato tucano e sorte do Brasil e do mundo, a era Bush chegou ao fim. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisá-lo das mudanças que estão em curso no mundo. Mas se o ex-governador de São Paulo decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido ele lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.

Editorial – Carta Maior

“A questão”, ponderou Alice, “é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem tantas coisas diferentes”.
“A questão”, replicou Humpty Dumpty, “é saber quem é que manda. É só isso”.
Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas (cap.6).

As declarações do ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, acusando o governo boliviano de ser “cúmplice de traficantes”, além de levianas e irresponsáveis, podem acabar se voltando contra o próprio autor. Pela lógica da argumentação de Serra, não seria possível a exportação de cocaína a partir da Bolívia sem a conivência e/ou participação das autoridades daquele país. Bem, se é assim, alguém poderia dizer também que Serra é cúmplice do PCC (Primeiro Comando da Capital), da violência e do tráfico de drogas em São Paulo. “Você acha que toda violência e tráfico de drogas em São Paulo seria possível se o governo de lá não fosse cúmplice?” – poderia perguntar alguém, parafraseando Serra.
Neste mesmo contexto, cabe lembrar ainda as declarações do traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso em 2007 no Brasil, que, em um depoimento à Justiça Federal em São Paulo, disse: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos)”. As denúncias de um traficante valem o que ele vale. Neste caso valeram, ao menos, o interesse da Justiça Federal em investigar a possibilidade de ligação entre o tráfico de drogas e a corrupção policial, possibilidade esta que parece não habitar o horizonte de Serra. O pré-candidato foi governador de São Paulo, mas afirma não ter nada a ver com isso. A culpa é da Bolívia.
Há método na aparente loucura do pré-candidato do PSDB. O fato de ter repetido as acusações levianas contra o governo de um país vizinho – e amigo, sim – do Brasil mostra que Serra acredita que pode ganhar votos com elas. Trata-se de um comportamento que revela traços interessantes da personalidade do pré-candidato e da estratégia de sua candidatura. Em primeiro lugar, mostra uma curiosa seletividade geográfica: em sua diatribe contra governos latino-americanos, Serra esqueceu de acusar a Colômbia como “cúmplice do narcotráfico”. Esquecimento, na verdade, que expõe mais ainda o caráter leviano da estratégia. Trata-se, simplesmente, de atacar governos considerados “amigos” do governo brasileiro.
Em segundo lugar, mostra uma postura irresponsável do pré-candidato, tomando a palavra aí em seu sentido literal, a saber, aquele que não responde por seus atos. Antes de apontar o dedo acusador para o governo de um país vizinho, Serra poderia visitar algumas ruas localizadas no centro velho de São Paulo que foram tomadas por traficantes e dependentes de drogas. Serra já ouviu falar da Cracolândia? Junto com a administração Kassab, um governo amigo como gosta de dizer, fez alguma coisa para resolver o problema? Imagine, Sr. Serra, 200 pessoas sob o efeito do crack gritando sob a sua janela, numa madrugada interminável … Surreal? Na Cracolância é normal. E isso ocorre na sua cidade, não na Bolívia. Ocorre na capital do Estado onde o senhor foi eleito para governar e trabalhar para resolver, entre outros, esse tipo de problema. Mas é mais fácil, claro, acusar outro país pelo problema, ainda mais se esse outro país for governado por um índio.
E aí aparece o terceiro e mais perverso traço da estratégia de Serra: um racismo mal dissimulado. Quem decide apostar na estratégia do vale-tudo para ganhar um voto não hesita em dialogar com toda sorte de preconceito existente em nossa sociedade. Acusar o governo de Evo Morales de ser cúmplice do tráfico, além de ignorar criminosamente os esforços feitos atualmente pelo governo boliviano para combater o tráfico, aposta na força do preconceito contra Evo Morales, que já se manifestou várias vezes na imprensa brasileira por ocasião das disputas envolvendo o gás boliviano. Apostando neste imaginário perverso, acusar um índio boliviano de ser cúmplice do tráfico de drogas parece ser “mais negócio” do que acusar um branco de classe média que sabe usar boas gravatas. Alguém com Álvaro Uribe, por exemplo…
E, em quarto, mas não menos importante lugar, as declarações do pré-candidato tucano indicam um retrocesso de proporções gigantescas na política externa brasileira, caso fosse eleito presidente da República. Mais uma vez aqui, há método na loucura tucana. Não é por acaso que essas declarações surgem no exato momento em que o Brasil desponta como um ator de peso na política global, defendendo o caminho do diálogo e da negociação ao invés da via das armas, da destruição e da morte. Como assinala José Luís Fiori em artigo publicado nesta página:
A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potencia global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França (…) O jornal O Globo foi quem acertou em cheio, ao prever – com perfeita lucidez – na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.
As últimas linhas do texto de Fiori resumem o que está por trás da estratégia de Serra de chamar o Mercosul de “farsa”, de acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o tráfico, de criticar a iniciativa do governo brasileiro em ajudar a evitar uma nova guerra no Oriente Médio. Curiosa e tristemente, essa estratégia, entre outros lamentáveis problemas, sofre de um atraso histórico dramático. Para azar de Serra e sorte do Brasil e do mundo, a doutrina Bush chegou ao fim. No dia 27 de maio, o governo dos EUA anunciou sua nova doutrina de segurança nacional que abandonou o conceito de “guerra preventiva” como elemento definidor da estratégia da política externa norte-americana. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisar ao pré-candidato tucano das
mudanças que estão em curso no mundo, especialmente do final da era Bush. Mas se ele decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.

Crise na industria dos USA...

A fúria nas zonas industriais dos EUA


 Noam Chomsky, em Opera Mundi


Em 18 de fevereiro, Joe Stack, um engenheiro de computação de 53 anos de idade, suicidou-se chocando seu pequeno avião contra um edifício em Austin, Texas, destruindo um escritório do Serviço de Arrecadação Fiscal (IRS, na sua sigla em inglês), matando outra pessoa e ferindo várias mais no ato.
Stack deixou um manifesto contra o governo que explicava suas ações. A história começa quando ele era um adolescente que vivia na penúria em Harrisburg, Pensilvânia, próximo ao coração do que alguma vez foi um grande centro industrial.
Sua vizinha, uma octogenária que sobrevivia com alimento para gatos, era a viúva de um operário metalúrgico aposentado. Seu esposo trabalhara toda a sua vida nas fundições do centro da Pensilvânia, confiante nas promessas das grandes empresas e do sindicato de que, por seus 30 anos de serviço, teria uma pensão e assistência médica durante sua aposentadoria.
“Em vez disso, foi um dos milhares que não receberam nada porque a incompetente administração das fundições e o sindicato corrupto (para não mencionar o governo) incursionaram em seus fundos de pensões e roubaram sua aposentadoria. O único que ela tinha para viver era a seguridade social”.
Poderia haver acrescentado que os muito ricos e seus aliados políticos prosseguem tratando de acabar com a seguridade social.
Stack decidiu que não poderia confiar nas grandes empresas e que empreenderia seu próprio caminho, só para descobrir que tampouco poderia confiar num governo ao qual não lhe interessava as pessoas como ele, mas só os ricos e privilegiados; ou em um sistema legal no qual “há duas ‘interpretações’ de cada lei, uma para os muito ricos e outra para todos nós”.
O governo nos deixa com “a piada que chamamos de sistema de saúde estadunidense, incluídas as companhias farmacêuticas e de seguros (que) estão assassinando dezenas de milhares de pessoas ao ano”, pois racionam a assistência, em grande medida, com base na riqueza e não na necessidade.
Stack remonta a origem destes males a uma ordem social na qual “um punhado de rufiões e saqueadores podem cometer atrocidades impensáveis… e quando é a hora de que sua fonte de dinheiro fácil se esgote sob o peso de sua cobiça e de sua estupidez opressora, a força de todo o governo federal não tem dificuldade de acudir em sua ajuda em questão de dias, se não é de horas”.
O manifesto de Stack termina com duas frases evocadoras: “O credo comunista: de cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo sua necessidade. O credo capitalista: que cada um dê segundo sua ingenuidade, que cada um receba segundo sua cobiça”.
Estudos comovedores das zonas industriais abandonadas dos Estados Unidos revelam uma indignação comparável entre os indivíduos que foram deslocados à medida que os programas corporativo-estatais fecham fábricas e destroem famílias e comunidades.
Uma aguda sensação de traição se percebe nas pessoas que aceditavam que haviam cumprido seu dever com a sociedade num pacto moral com as empresas e o governo, só para descobrirem que foram instrumentos do lucro e do poder.
Existem semelhanças assombrosas na China, a segunda maior economia do mundo, investigada pela especialista da UCLA Ching Kwan Lee.
Lee comparou a indignação e o desespero da classe operária nos descartados setores industriais dos Estados Unidos com o que ela chama de a zona industrial da China: o centro industrial socialista estatal no nordeste, agora abandonado pelo desenvolvimento da zona de rápido crescimento no sudeste.
Em ambas as regiões, Lee encontrou protestos laborais maciços, mas de diferentes características. Na zona industrial abandonada, os operários expressam a mesma sensação de traição que suas contrapartes nos EUA; em seu caso, a traição dos princípios maoístas de solidariedade e dedicação ao desenvolvimento da sociedade que eles consideravam um pacto social, só para descobrir que, fosse o que fosse, agora é uma amarga fraude.
Em todo o país, vintenas de milhões de milhões de trabalhadores separados de suas unidades de trabalho “estão embargados por uma profunda sensação de insegurança” que engendra “fúria e desespero”, escreve Lee.
O trabalho de Lee e estudos da zona industrial abandonada dos Estados Unidos deixam claro que não deveríamos subestimar a profundidade da indignação moral que radica por trás da amargura furiosa, a miúdo autodestrutiva, em relação ao governo e ao poder empresarial.
Nos Estados Unidos, o movimento populista chamado Tea Party – e mais ainda nos círculos mais amplos a que chega – reflete o espírito da desilusão. O extremismo antifiscal do Tea Party não é tão imediatamente suicida como o protesto de Joe Stack, mas não obstante é suicida.
Atualmente, a Califórnia é um exemplo dramático. O maior sistema público de educação superior do mundo está sendo desmantelado.
O governador Arnold Schwarzenegger diz que terá que eliminar os programas estatais de saúde e de assistência social, a menos que o governo federal aporte uns 7.000 milhões de dólares. Outros governadores estão se unindo a ele.
Enquanto isso, um poderoso movimento recente pelos direitos dos estados está demandando que o governo federal não se meta em nossos assuntos, um bom exemplo do que Orwell chamou “duplo pensar”: a capacidade de ter em mente duas ideias contraditórias quando se acredita em ambas, praticamente um lema de nossos tempos.
A situação da Califórnia é o resultado, em grande parte, de um fanatismo antifiscal. É muito similar em outras partes, inclusive em subúrbios ricos.
Alentar o sentimento antifiscal tem caracterizado a propaganda empresarial. As pessoas devem ser doutrinadas para odiar e temer o governo por boas razões: dos sistemas de poder existentes, o governo é o único que, a princípio e ocasionalmente de fato, responde ao público e pode restringir as depredações do poder privado.
Entretanto, a propaganda antigovernamental deve ser matizada. As empresas, por suposto, favorecem um Estado poderoso que trabalhe para as instituições multinacionais e financeiras, e inclusive as resgate quando destroem a economia.
Mas, num exercício brilhante de duplo pensamento, as pessoas são levadas a odiar e temer o déficit. Dessa forma, os sócios das empresas em Washington poderiam acordar a redução de benefícios sociais e direitos como a seguridade social (mas não os resgates).
Ao mesmo tempo, as pessoas não deveriam opor-se ao que, em grande medida, está criando o déficit: o crescente orçamento militar e o sistema de assistência médica privatizado completamente ineficiente.
É fácil ridiculizar como Joe Stack e outros como ele expressam suas inquietações, mas é muito mais apropriado compreender o que está por trás de suas percepções e ações numa época em que as pessoas com verdadeiros motivos de queixa estão sendo mobilizadas em formas que representam um grande perigo para elas mesmas e para os outros.

*Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge, Massachusetts.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A religião chamada mercado....

A teologia do livre mercado dos Chicago Boys


Recentemente vários acadêmicos receberam uma petição assinada por 111 membros da Universidade de Chicago, explicando que “sem qualquer comunicado a sua própria comunidade, (a Universidade) contratou uma firma de Boston, a Ann Beha Architects, para reformar o prédio do Seminário Teológico Chicago, transformando-o no espaço para o Instituto Milton Friedman de Pesquisa em Economia (MFIRE) e levantou uma agressiva campanha de arrecadação de fundos para o controverso instituto. Seria difícil encontrar uma metáfora mais apropriada para falar do neoliberalismo. O artigo é de Michael Hudson.

Recentemente vários acadêmicos receberam uma petição assinada por 111 membros da Universidade de Chicago, explicando que “sem qualquer comunicado a sua própria comunidade, [a Universidade] contratou uma firma de Boston, a Ann Beha Architects, para reformar o prédio do Seminário Teológico Chicago, transformando-o no espaço para o Instituto Milton Friedman de Pesquisa em Economia (MFIRE) e levantou uma agressiva campanha de arrecadação de fundos para o controverso instituto”.

Seria difícil encontrar uma metáfora mais adequada do que aquilo que o comunicado à imprensa caracteriza como “conversão do prédio do Seminário num templo do neoliberalismo econômico”. Até o acrônimo MFIRE parece simbolicamente apropriado. O M pode bem servir para Money, na equação do Prof. Friedman MV =PT (Money x Velocity = Price x Transactions). E o setor Fire compreenderia finanças, seguros e investimentos imobiliários – o setor do “almoço grátis” cuja acumulação os monetaristas de Chicago celebram.

Economistas clássicos caracterizaram a renda e o acúmulo de lucros no setor FIRE como “renda não recebida”, liderada pelos ganhos de capital, que John Stuart Mill descreveu como o que os senhores da terra fazem “quando estão dormindo”. Milton Friedman, por outro lado, insistiu que “não existe almoço grátis” - como se a economia não dissesse afinal respeito ao almoço grátis e a como obtê-lo. E a principal maneira de ganhá-lo é desmantelando o papel do governo e vendendo o patrimônio público a crédito.

Como disse ironicamente Charles Baudelaire, o demônio vence no ponto em que convence o mundo de que ele não existe. Parafraseando isso podemos dizer que a vitória econômica dos rendimentos do almoço grátis obtém-se no ponto em que os reguladores governamentais e os economistas acreditam que seu retorno não existe – e então, não precisam ser taxados, regulados ou subjugados.

Com “livre mercado” os Chicago Boys querem dizer conceder livre trânsito ao setor financeiro – na direção oposta à idéia dos economistas clássicos de libertar os mercados do rentismo e dos juros. Enquanto a religião tradicional buscou estabelecer preceitos de regulação, o Instituto Friedman vai promover a desregulação. Substituir fisicamente a escola de teologia por um “templo do neoliberalismo econômico” é irônico se se considera que, em princípio, aquilo que todas as grandes religiões têm em comum em um ponto ou no outro for a oposição à cobrança de juros. O judaismo chamou a isso de “começar do zero” (Levítico, 25) e o Cristianismo baniu completamente o juro, citando as leis do Êxodo e do Deuteronômio.

Os Chicago Boys então inverteram a teologia tradicional, embora a economia tenha começado a ser ensinada enquanto disciplina acadêmica em cursos de filosofia moral nos séculos 18 e 19. As mais importantes universidades do mundo foram fundadas para formar estudantes para o clero. O curso de filosofia moral envolvia política econômica e lidava vastamente com as noções de reforma econômica e taxação da acumulação de capital financeiro em nome do interesse público como uma prerrogativa legal. A disciplina era jogada no rol da “economia” em boa medida para excluir dela as análises políticas, e as distinções entre investimento produtivo e improdutivo, bens de capital e reais, valor e preço.

Os economistas clássicos viam o rentismo e os juros como remanescentes da conquista da Europa feudal da terra. E viam a privatização do dinheiro e da finança como uma dívida institucionalmente baseada e monopolizada. Os economistas clássicos procuraram taxar essa “renda não recebida” para regular os monopólios naturais ou para torná-la de domínio público.

Desnecessário dizer que essa história do pensamento econômico não será ensinada no Centro Friedman. A primeira coisa que os Chicago Boys fizeram no Chile quando lhes foi dado o poder depois do golpe militar de 1973 foi fechar todos os departamentos de economia do país – e de fato, todo departamento de ciência social fora da Universidade Católica, onde eles mandavam. Eles entenderam que “livre mercado” para o capital exigia controle total do currículo educacional e da mídia cultural como um todo.

O que os livres mercados entendem é que sem uma autoridade Inquisitorial você não pode ter um livre mercado “estável” - quer dizer, um livre mercado para os predadores financistas que presumivelmente são os maiores financiadores do Centro Friedman da Universidade de Chicago. Os monetaristas da Escola de Chicago detiveram poder de censura sobre os maiores jornais de referência em economia, e publicar neles se tornou pré-condição para o progresso na carreira de economistas acadêmicos. O resultado tem sido limitar o escopo dos economistas para a celebração da escolha racional do “livre mercado” e da mente estreita da ideologia do “direito e da economia” oposta às idéias da justiça moral e da regulação econômica que formaram a base de tantas religiões do Ocidente.

Eu experimentei esse espírito inquisitorial quando trabalhava no Laboratório da Escola da Universidade de Chicago. Lembro do grande cartaz dependurado acima do quadro negro da sala Mr. Edgett de ciência social, em 1953: “Dê a todos eles o que os Rosenberg receberam”. Depois que o Ato da Liberdade de Informação tornou os arquivos do FBI públicos, meus colegas de classe tiveram acesso aos relatórios sobre eles e suas orientações políticas, escritos por professores da Universidade de Chicago e seus associados no Shimer College.

Quem teria antecipado que a economia iria terminar sendo mais de direita e autoritária, mais explicitamente oposta à idéia mesma de direitos humanos e justiça distributiva do que a teologia? Ou esta última disciplina teria sido então invertida? Os economistas clássicos eram reformistas, afinal de contas, lutando pelo mercado livre contra a “renda não recebida” - o “almoço grátis” da renda da terra das aristocracias herdeiras da Europa e contra o monopólio rentista administrado pelas corporações de comércio real criadas por governos europeus a fim de pagar por suas dívidas de guerra. Mas os monetaristas de Chicago buscam desregular os monopólios e as leis de usura, favorecendo o rentismo em vez da economia “real” do trabalho e do capital. Seu foco é na defesa do lucro da propriedade e da finança e no compromisso com os dispositivos de garantia: empréstimos bancários, ações e títulos, para os quais exigem corte de taxação. E para fomentar o mercado de alavancamento de ações, os Chicago Boys defenderam a privatização do patrimônio público, começando no Chile, depois de 1973.

Assim, o que foi invertido não é apenas a idéia clássica de mercados livres, mas o coração econômico dos primórdios da religião. Hoje, os Chicago Boys consideram que quem mais precisa de salvação são a alta finança, o investimento imobiliário e os monopólios, na sua luta para reverter os sete séculos passados de reforma econômica clássica desde que o Papa debateu como definir um Preço Justo (custos socialmente necessários da produção) com que os bancos deveriam arcar, no século XIII.

Essa medida parece tratar-se largamente do levantamento de fundos, mas essa não é a verdade da maior parte das religiões em nossos dias? A Universidade de Chicago foi financiada por John D. Rockefeller, dando a deixa para Upton Sinclair chamá-lo de “O Standard Oil da Universidade” no The Goose Step. Quando eu trabalhei lá, nos anos 50, Lawrence Kimpton tinha substituído Robert Hutchins como Chanceler, e em 1961 se tornou gerente geral de planejamento (e subsequentemente, diretor) da Standard Oil de Indiana. Seu ato mais famoso (fora a supervisão do projeto da bomba atômica Manhattan) foi suprimir a The Chicago Review, que publicava excertos do Almoço Nu de William Burroughs. Significativamente, a razão que ele deu era que a publicação poderia desencorajar a doação de fundos para a Universidade.

O senhor Rockefeller, ao menos, pôs devidamente sua suspeita sobre “aqueles que necessitam”. Num espírito contrastante, a esposa de Herman Kahn me disse que certa vez, numa festa, Milton Friedman respondeu a sua sugestão de melhorias no bem estar público e na assistência em saúde, assim: “Por que você quer subsidiar a produção de órfãos e pessoas doentes?”. Esse não é exatamente o espírito religioso clássico.

O problema com o Instituto Friedman é que sua doutrina econômica obteve notoriedade no período Pinochet, na onda dos Chicago Boys no Chile. Privatizar empresas públicas, “libertar” mercados de leis abusivas e induzir a desregulação são a antítese de quase todas as religiões, cujas diretrizes propostas, afinal, eram socializar seus membros e criar um estado moral.

O monetarismo friedmanista tem caracterizado a ideologia pós-moderna que, como a religião, tem suas próprias vacas sagradas e ídolos – e uma Inquisição. Em vez de suspeitar dos descrentes, como no Islã, temos a transferência da cobrança de impostos da religião do capital financeiro para o trabalho que está do lado de fora do templo. Como disse o comunicado de imprensa: “Grande protesto...focou-se no ataque ao forte viés ideológico do Instituto, orientado para o fundamentalismo de mercado, na tradição de Friedman. Dessa maneira ou de outras, sua natureza vai de encontro à tradição da Universidade da livre investigação e do livre debate”.

Bem, eu não estou muito certo quanto a como essa tradição recente de livre debate foi. Mas o comunicado conclui com uma nota, dizendo que “PARA MAIORES INFORMAÇÕES, CONTATAR: Robert Kendrick, Professor de Música (rkendric@uchicago.edu, 773-702-8500) ou Bruce Lincoln, Caroline E. Haskell, Professores de História das Religiões (blincoln@uchicago.edu, 773-702-5083)”.

(*) Michael Hudson é ex-economista de Wall Street e atualmente um Pesquisador destacado na Universidade do Missouri, Kansas City (UMKC), e presidente do Instituto para o estudo das tendências de longo prazo da economia (Institute for the Study of Long-Term Economic Trends ISLET). É autor de vários livros, incluindo Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (new ed., Pluto Press, 2002) [Super Imperialismo: A Estratégia Econômica do Império Ameicano] e Trade, Development and Foreign Debt: A History of Theories of Polarization v. Convergence in the World Economy. [Comércio, Desenvolvimento e Dívida Exerna: Uma História das Teorias da Polarização versus Convergência na Economia Mundial

Tradução: Katarina Peixoto

Música da nossa terra....

Christianne Neves – Refúgio (2000)


download


Alzira Espíndola – Alzira Espíndola (1987)


download


 
 
 
 
 
 
 

Lis de Carvalho – MPBaby Bossa Nova (2004)


download


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Farinha do mesmo saco???

Antonio Palocci agora escreve na Folha


O jornal da ditabranda -

Cristovão Feil - Diario Gauche

A Folha-ditabranda se reformulou graficamente. Mas o conteúdo continua o mesmo. Um jornal de direita. A serviço da direita brasileira. Agora faz a linha jornal-moderninho, mas durante a ditadura fornecia bens e serviços à repressão, como por exemplo veículos da sua frota de entrega para fazer serviço-sujo na Operação Bandeirantes (Oban), que prendeu, arrebentou, sequestrou, desapareceu, torturou e assassinou.

Quem está escrevendo na Folha, agora, é o ex-ministro Antonio Palocci (foto). A direita do PT. Um homem dos bancos no coração da República, junto com Henrique Meirelles. Quer ser ministro, caso Dilma Rousseff vença as eleições. Tem muita chance de ser ministro, de fato. Enquanto isso, é apresentado como garantidor (tácito) de que o futuro governo Dilma não vá resvalar para o chavismo.

A rigor, Palocci está lá para garantir que cerca de um terço do orçamento federal seja destinado ao pagamento de juros, ou seja, maneira indireta (e legal) de escoar dinheiro público para os bancos, rentistas, especuladores - os parasitas de sempre. Pior: dinheiro que falta na saúde, na educação, no transporte urbano, na agricultura familiar, na reforma agrária, no incentivo às novas tecnologias, no financiamento da casa própria (deficit de 8 milhões de moradias), etcetera.

A Folha concorda com isso, por isso convidou Antonio Palocci para escrever semanalmente. Eles se entendem.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Poesia revolucionária...

Não cultives a fraqueza

Vive o fraco na fraqueza
o bom na sua bondade
vive o firme na firmeza
lutando por liberdade.

Não cultives a fraqueza,
procura sempre ser forte,
que o homem que tem firmeza
não se rende nem à morte.

Educa a tua vontade
faz-te firme: em decisões,
que não terá liberdade
quem não fizer revoluções.

Se queres o mundo melhor
vem cá pôr a tua pedra,
quem da luta fica fora
neste jogo nunca medra.

Francisco Miguel Duarte,
Poeta popular nascido no Alentejo,
Operário sapateiro, filho de camponeses

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Belo exemplo de Administração Pública...

TV Pernambuco radicaliza conceito de TV Pública

Em Pernambuco escreve-se hoje uma página inédita da história da TV brasileira. Pela primeira vez no Brasil uma TV pública está sendo reconstruída de baixo para cima. Trata-se da TV Pernambuco entregue pelo governador Eduardo Campos ao movimento social, comprometido com a democratização da comunicação.

Atenção historiadores da TV brasileira: em Pernambuco escreve-se hoje uma página inédita dessa história. Pela primeira vez no Brasil uma TV pública está sendo reconstruída de baixo para cima. Trata-se da TV Pernambuco, criada pelo governo do Estado em 1984, tendo tornado-se durante os governos pós-ditadura de Miguel Arraes (1987-1990 e 1995-1999) um importante veículo de informação e entretenimento regional, com significativa audiência. Abandonada na gestão Jarbas Vasconcelos (1999-2006), foi entregue em março deste ano pelo governador Eduardo Campos ao movimento social, comprometido com a
democratização da comunicação, para conduzi-la.

Na tarde da quarta-feira, 19/5, cerca de 150 pessoas participaram de um encontro organizado pela nova direção da emissora para discutir a sua forma de gestão. Produtores, artistas, professores, estudantes, jornalistas e telespectadores em geral, reunidos no auditório do Porto Digital, no Recife Antigo, puderam dar livremente as suas opiniões de como a TV Pernambuco deve se organizar para se tornar efetivamente pública.

Dois encontros anteriores discutiram as finalidades de uma televisão pública e as novas tecnologias. O resultado desses debates será sintetizado em documento a ser entregue ao governador, no começo de junho, como proposta da sociedade para a reconstrução da TV. Nessa tarefa, a diretoria é assessorada por um grupo de trabalho composto por nomes reconhecidamente comprometidos com a comunicação democrática, como Ivan Moraes Filho e Eduardo Homem, por exemplo.

Mas a mudança já começou. O novo presidente da TV é o apresentador e produtor cultural Roger de Renor, que de burocrata não tem nada.

Brincando, mas revelando o tipo de gestão que começa a ser feita, diz que os primeiros novos departamentos por ele inaugurados foram os "do bom dia, boa tarde, boa noite; o do por favor e o do muito obrigado". Pode haver coisa melhor, num meio marcado pelo egocentrismo e pelo autoritarismo?

Na música Macô, o falecido Chico Science pergunta ?Cadê Roger,
Cadê Roger, Cadê Roger, Ô?? Se pudesse ouvir diríamos ao Chico que
agora ele está na TV Pernambuco e que até há alguns meses apresentava
um excelente musical na TV Brasil chamado "Som na Rural", com estúdio
móvel instalado numa antiga Rural Willys.

Mas além de pessoas como Roger e o seu competente diretor jurídico Adriano Araujo na direção da emissora, o governador colocou também dinheiro. Dois milhões e quatrocentos mil reais foram liberados para melhorar o sinal da TV, hoje precário em parte do Estado e principalmente no grande Recife. Na capital, nas regiões em que é possível sintonizá-la, a TV Pernambuco pode ser assistida no canal 46 (UHF). Até o governo Jarbas era possível ver a TV estatal em VHF, no canal 9, ao lado das grandes redes comerciais. Mas a concessão foi perdida e ocupada, rapidamente, pela Bandeirantes.

O desafio agora é afinar as propostas no sentido de que a
ousadia do governo atual não seja derrotada por governos futuros. Daí
a importância dos debates que estão sendo realizados no Recife. Deles
deve sair um projeto capaz de garantir o financiamento constante da
emissora, imune aos humores dos governos "do dia" e uma forma de
gestão que permita a maior independência possível em relação a esses
mesmos governos.

Que possibilite também a criação de barreiras para conter as investidas dos setores mais conservadores da sociedade, sempre prontos a detonar tudo aquilo que não conseguem controlar de forma privada. Por isso, o conselho gestor antes de ser um controlador da empresa, deve ser o seu defensor diante das ofensivas reacionárias.

No entanto, mesmo com tudo aprovado oficialmente, a prática efetiva só será possível se a sociedade tiver clareza de que a emissora lhe pertence. Para tanto são necessários canais amplos de participação na gestão, acompanhados de um programação na qual o telespectador perceba que está recebendo um serviço público de radiodifusão de alta qualidade que, de alguma forma, contribui para melhorar a sua vida.

Os passos dados até agora vão nessa direção. E mesmo sofrendo algum
percalço, já são suficientes para entrar na história da televisão brasileira. Daqui para frente servirão de modelo para qualquer outra construção participativa de um meio de comunicação de massa que vier a ser feita em nosso país.

*Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

VEJA no esgoto.....

Mobilização contra a Veja e em defesa dos povos indígenas




ABA avalia se irá processar a Veja por ataques baixos contra povos indígenas e antropólogos/as

A recente matéria da revista Veja intitulada "Farra da Antropologia Oportunista" vem despertando reações veementes de condenação da prática de jornalismo descaradamente mentiroso, racista e atrelado ao lobbie dos capitalistas em conflito com povos indígenas. Em nota pública assinada pelo Prof. João Pacheco de Oliveira da UFRJ e coordenador Comissão de Assuntos Indígenas da Associação Brasileira de Antropologia, a CAI-ABA demonstra com evidências documentais que o artigo da Veja não é um fato isolado, mas parte de uma prática sistemática de deslegitimação das reivindicações dos povos indígenas que estão em conflito com interesses corporativos e do agronegócio, valendo-se para tanto de mentiras, argumentos superficiais e caluniosos, difamação de lideranças indígenas, do CIMI e de antropólogos, e uso manipulado de frases às vezes fora de contexto e em outras claramente forjadas de profissionais. A Comissão de Assuntos Indígenas revela que o presidente da Associação Brasileira de Antropologia já acionou os seus assessores jurídicos para avaliar a possibilidade de responsabilizar juridicamente os responsáveis.
"Dada a assimetria de recursos existentes, contamos com a mobilização dos antropólogos e de todos que se preocupam com a defesa dos direitos indígenas para, através de sites, listas na Internet, discussões e publicações variadas, vir a contribuir para o esclarecimento da opinião pública, anulando a ação nefasta das matérias mentirosas acima mencionadas. Que não devem ser vistas como episódios isolados, mas como manifestações de um poder abusivo que pretende inviabilizar o cumprimento de direitos constitucionais, abafando as vozes das coletividades subalternizadas e cerceando o livre debate e a reflexão dos cidadãos. No que toca aos indígenas em especial a Veja tem exercitado com inteira impunidade o direito de desinformar a opinião pública, realimentar velhos estigmas e preconceitos, e inculcar argumentos de encomenda que não resistem a qualquer exame ou discussão."