Ponderada...
Ponderada a luz que vem à Terra
Aquece as almas sedentas
Tornando-as significantes
Recria-as quando estando perdidas
Ilumina e reflete a vida
Cativa com seu brilho intenso
Inspira e conduz a sorte
Atrai e corteja a glória.
Carlos Costa
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
HOMENAGEM AO PIONEIRISMO SURREALISTA DE XUL SOLAR
Pioneiro na arte surrealista e antecessor de Paul Klee, amigo do escritor José Luis Borges, Alejandro Xul Solar, é o artista homenageado pela I Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Suas obras estão expostas no Espaço Cultural Aplub,
Xul Solar, nasceu
Segundo depoimento de seus conterrâneos, falava e escrevia seis idiomas vivos, além do latim, do grego e do sânscrito. Este conhecimento lingüístico levou-o a criar duas línguas, o "neocrilo", fundada em raízes provenientes do latim, com expressões locais, latino-americanas, e "panlengua", que pode ser vista como uma das muitas construções similares ao "esperanto".
Xul Solar integrou, nos anos 20, o grupo denominado Martin Fierro, que instaurou o modernismo na Argentina e do qual faziam parte, entre outros, Olivério Girondo, Macedônio Fernandez e Jorge Luiz Borges. Este, ao apresentar mostra de Xul Solar, em 1949, afirmou ser ele "um dos acontecimentos singulares de nossa época", afirmando, em outra oportunidade, que nunca conheceu um homem de "tão rica, heterogênea, imprevisível e incessante imaginação".
O artista argentino produziu algumas centenas de desenhos, aquarelas (seu meio de expressão preferido) e pinturas, geralmente de pequeno porte, as quais, juntas, formam uma espécie de escritura plástica. Arte semiótica. Além da figura humana, estilizada geometricamente, mas sem perder sua dimensão mágica, das arquiteturas e bandeiras, proliferam em suas obras signos e símbolos, muitos deles esotéricos e arcaizantes, tais como estrelas, flechas, hieróglifos, números, letras, etc. Signos e símbolos que ocupam um espaço mental e imaginário, isto é, não-realista. Em suas proposições, Xul Solar antecipa-se ao Surrealismo, assim como tangencia o Maneirismo e o Dada. Sua pintura não exige uma interpretação literal de seu sentido, podendo ser apreciada independente das questões místicas e esotéricas que a fundam.
(Jornalista Joyce Larronda - Reg. Prof.: 5349-RS/BR)
Os jovens continuam fazendo arte no Brasil como em outras épocas. A novidade são os meios, cujo acesso tornou-se mais viável. Por outro lado, a recente ampliação das políticas públicas voltadas para tal segmento da população, também tem impacto importante, tanto para o acesso aos meios como para difusão da produção artística. É nova, também, a afirmação de uma cultura produzida por artistas que vivem nos arrabaldes das metrópoles. E finalmente, o compartilhamento completa o quadro da cultura juvenil contemporânea. A idéia do compartilhar se estabelece, em função da expansão do mundo virtual e da flexibilização dos suportes decorrentes da inovação tecnológica, traz consigo um questionamento: cultura e conhecimento não devem ser mercadorias de acesso restrito. Esses quatro elementos estão produzindo uma conexão muito promissora entre coletivos culturais de classe média, adeptos de concepções anti-capitalistas no mundo da cultura, e grupos de artistas de periferia. Um diálogo que nos remete aos ideais do movimento punk e do hip hop: tenha consciência, ocupe as ruas, faça você mesmo. Junte tudo isso, e temos o caldo de cultura no qual as diferentes juventudes produzem arte, compartilham, articulam circuitos, disputam concepções: em outras palavras, renovam a cena cultural.
Há trinta anos, o movimento punk explodiu na Europa sob o lema: do it yourself. Os músicos aprendiam alguns acordes e se juntavam para tocar em bares, universidades, escolas, ruas - em qualquer lugar. A agenda cultural era divulgada nos fanzines, que se reproduziam aos milhares. Cenário, luz, alta tecnologia, cachê? Nada disso. O que importava era a atitude. E o discurso contra o sistema não tinha meias palavras: “Eu sou um anarquista. Eu sou um anti-cristo…”, gritava em alto e péssimo som o vocalista do Sex Pistols, Jhonny Rottem, deixando os conservadores completamente atordoados. Sobrou também para a Rainha e para a Major EMI, alvos da verve punk-rock implacável dos Pistols.
Paralelamente, o hip hop emergia dos guetos de Nova York em meados dos anos 70, e causou um rebuliço no cenário cultural. Espalhou-se por todo o Planeta. Surgiu como um movimento de rua. Entretanto, diferente do punk, a cultura hip hop adaptou-se bem ao showbizz, em função da popularização do rap. O hip hop autêntico, que une seus quatro elementos: RAP, DJ, MC, o Grafite [1] e um quinto: o conhecimento a partir do qual se formam as posses - já não tem a mesma força no hemisfério Norte. Mas nas periferias dos centros urbanos da América Latina e da África a essência da cultura hip hop ainda mantém seu vigor, mobilizando milhões de jovens.
O ideário estético e político do punk e do hip hop ainda influencia corações e mentes de grupos juvenis urbanos, que se cruzam em diferentes circuitos culturais das metrópoles brasileiras. Consciência, engajamento, rima, ritmo, força da palavra escrita e falada, atitude, intervenção e a convicção de que “posso fazer e constranger o sistema” é o que marca a arte produzida nas periferias e por coletivos juvenis universitários de classe média que se articulam sob o lema da desmercantilização da cultura [2]. Esses últimos, mais próximos do punk e de toda sua derivação [3]; os primeiros umbilicalmente ligados ao hip hop.
O diálogo entre esses dois universos vem sendo cada vez mais freqüente, em virtude da ampliação do acesso aos meios. A redução dos custos de produção de CD, DVD e as infinitas possibilidades de difusão da criação artística pela internet estão abrindo oportunidades de exposição antes inimagináveis, mesmo para os jovens de classe média. Até uma década atrás, fazer um filme, gravar um CD, publicar um livro, era algo que passava, necessariamente, por corporações — fossem elas pequenas, médias ou grandes. Hoje em dia, os jovens produzem seus trabalhos em estúdios caseiros ou com equipamentos de uma ONG parceira, licenciam e difundem no Creative Commons, My Space, Overmundo ou em outros espaços virtuais de compartilhamento. Em menos de 24 horas, alguém já teve acesso, baixou, reproduziu, criando, assim, uma cadeia de difusão planetária, onde todo tipo de oportunidade aparece, inclusive, para apresentações remuneradas. Nessa nova cultura, os meios justificam os fins.
Assim é o caso do B Negão, rapper carioca que foi integrante do extinto Planet Hemp. Em 2003, ele começou a disponibilizar suas músicas na Internet. O retorno foi imediato. Internautas de todas as partes do mundo baixaram suas músicas e passaram a divulgá-las em rádios alternativas, festas e outros espaços. Algum tempo depois, chegaram os primeiros convites para apresentações na Europa. Começou com um show de curta temporada numa casa de espetáculos com capacidade para 300 pessoas, em Portugal, em em 2005. Na mesma turnê, lotou uma Casa na Espanha com capacidade para 2 mil pessoas. No ano seguinte, participou de um Grande festival na Dinamarca para 50 mil pessoas.
Na periferia do Distrito Federal, outro rapper, chamado GOG, um dos nomes mais importantes do hip hop brasileiro , criou um selo próprio - Só Balanço - e disse não às grandes gravadoras. Além de disponibilizar algumas de suas canções pela internet, declarou toda a sua obra como domínio público. Em um de seus discos, GOG gravou uma canção chamada A Ponte, uma referência crítica muito criativa à construção da Ponte Juscelino Kubitschek de Brasília. Nesse rap, ele sampleou uma canção homônima do compositor Lenine. A música chegou aos ouvidos do cantor pernambucano. Numa atitude de desapego aos rigores da proteção autoral, Lenine não só aprovou a colagem, como convidou GOG para uma participação muito especial em seu DVD. Essa participação deu uma calibrada na carreira do rapper brasiliense. Resultará na ampliação de suas produções no Só Balanço, que hoje tem como nome de ponta entre seus artistas o MC - ou cantador, como ele prefere - Rapadura, jovem revelação que é um dos mais talentosos do Brasil na atualidade, assegura GOG.
Em 2005 ,motivado pela idéia do faça você mesmo, o poeta periférico paulistano Allan da Rosa resolveu publicar seu próprio livro. Mas ele não procurou uma dessa editoras que fazem livro sob encomenda como a Scortecci ou Livro do Autor, para citar duas empresas de São Paulo especializadas no ramo. Da Rosa, como é conhecido, queria um livro cujo padrão gráfico fosse ele próprio, expressão do conteúdo de seus poemas. Fez um belo livro de poesias, escrito à mão, em papel reciclado e com a lombada perfurada por qual passam fios vermelhos de novelo de lã. Assim surgiu Vão, sua obra seminal. Com o apoio da ONG Ação Educativa e de uma gráfica, imprimiu 500 exemplares do livro. Esgotou a tiragem em quatro meses. Produziu mais uma edição, que acabou em menos de um ano. Allan vendeu, de mão em mão, na porta de teatro e cinemas, em palestras, eventos e oficinas.
O êxito do livro Vão despertou a veia de editor do poeta Allan da Rosa. Com a mesma estratégia, ele publicou o livro De passagem, mas não a passeio, da Dinha – pseudônimo de Maria Nilda, jovem poeta de 27 anos moradora da periferia da Zonal Sul de São Paulo. Dinha esgotou seu livro, publicado em 2006, em menos de um ano. Começou aí a Selos Toró que, com dois títulos, já se estabelecia como o primeiro empreendimento de literatura de periferia que se tem notícia. Hoje, o catálogo tem dez títulos. A maioria dos autores tem menos de 30 anos e todos são moradores da periferia paulistana. Os livros custam R$ 10,00 na quebrada e R$ 20,00 na porta dos cinemas na avenida Paulista. Não há intermediário: o autor fica com todo o recurso captado na venda. A cópia é livre, mas todos querem ter os livros de feições artesanais.
O caso da Edições Toró, em particular, e de modo geral o movimento da literatura periférica, denota uma tensão importante nessa aproximação da cultura de periferia com os coletivos de jovens de classe média que defendem a desmercantilização da cultura. Allan da Rosa e Dinha, além de Sacolinha, Sergio Vaz e Alessandro Buzo assinaram contrato com a Global Editora em 2007. Esses autores estão inaugurando uma coleção denominada Literatura Periférica. Essa oportunidade lhes confere uma condição de reconhecimento que responde a uma busca de anos. Sentiram-se muito satisfeitos ao receberem 50% de adiantamento do direito autoral de uma edição no ato da assinatura do contrato. Em contrapartida, a editora fica com a posse dessas obras por cinco anos (para edição em livro) e é filiada à ABDR – Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, que proíbe a reprodução de qualquer parte do livro sem prévia autorização, sujeitando os infratores aos rigores da Lei de Direito Autoral. Isso causa preocupação aos militantes contrários à propriedade intelectual.
Questionado sobre a contradição, um dos autores disse: “são regras estabelecidas; agora que estamos chegando, querem acabar com o mercado?”, indignou-se. Os ativistas da livre circulação do conhecimento, afirmam por outro lado que é justo remunerar o escritor por sua criatividade. Entretanto, argumentam que não é correto que só alguém com dinheiro na mão possa ter acesso à obra do Sergio Vaz, por exemplo. Nesse caso, o poeta da Cooperifa [4], vem disponibilizando suas poesias no seu blog, como, aliás, já fazia antes de ser publicado. Resolvida a questão? Talvez. O fato é que uma corporação ganha dinheiro com um produto cultural e isso inquieta os coletivos mais radicais da desmercantilização da cultura. O debate está apenas começando e tem sido muito positivo [5].
Tudo fica mais complicado quando se trata de um filme. E é exatamente em tal linguagem artística que os jovens de vinte e poucos anos vem se dedicando com mais ímpeto. Mas nesse campo, assim como na música, há muito espaço para difusão na internet. E nem precisa ser alternativo para circular na grande rede. Exemplo maior do que o filme Tropa de Elite não poderia haver. Antes mesmo de entrar em cartaz, a obra circulou na Internet e pôde ser baixada aos milhares, em qualquer parte do mundo.
Se o autor ganha pouco na venda do livro, menos ainda recebe o cantor e compositor na venda do CD, pior é a situação do cineasta na comercialização de seu filme. Aí a equação pode ser resolvida na remuneração da produção, independente da venda. Nesse caso, é importante a ação do Estado no estímulo à criação cinematográfica. Não por acaso, o setor do audiovisual é o que tem um arcabouço legal mais sofisticado. É, também, o produto com os custos de produção mais elevados.
Mas não se faz filmes apenas pensando no grande circuito. Diego e Daniel, que poderia ser nome de mais uma dupla sertaneja, são, na verdade, dois jovens cineastas que aprenderam roteiro, filmagem e edição num curso de formação da ONG Ação Educativa, em São Paulo. A partir daí começaram a fazer seus filmes e constituíram o grupo NCA – Núcleo de Comunicação Alternativa. A obra de estréia surgiu em 2006: Imagens de uma Vida Simples, documentário sobre o artista plástico, poeta e dramaturgo Solano Trindade. Com esse filme, participam de mostras, fazem exibições em Escolas seguidas de palestras e percorrem toda a periferia paulistana, exibindo em qualquer lugar que lhes dê a oportunidade de divulgar seu trabalho. E para viver? São cinegrafistas. Atuam em projetos de ONGs, além de realizar seus próprios projetos buscando financiamento em editais focados em pequenas produções. Até onde isso vai? Não sabem. Esperam que pelo menos seja assim enquanto forem jovens.
O tema das políticas públicas para a juventude é uma pauta desta década. Até o final dos anos 90, pouquíssimas iniciativas se efetivaram nesse campo. Uma dessas raras ações foi a criação do Centro de Referência da Juventude da Prefeitura de Santo André, no ABC Paulista, no final daquela década. E a criação de espaços públicos para os jovens tem sido uma constante entre as políticas para o segmento juvenil [6]. Mas uma ação que se tornou uma referência de política pública, consagrada em lei e que tem um impacto extremamente positivo, não está dentro de nenhum equipamento de amplas instalações erguido numa região pobre qualquer de uma grande metrópole.
Trata-se do VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, programa de fomento à cultura da cidade de São Paulo dirigido a indivíduos e grupos preferencialmente jovens de regiões pouco atendidas pelo poder público. Criado durante a Gestão da prefeita Marta Suplicy, o VAI vem abrindo editais a cada ano, e na sua terceira edição, em 2007 , contemplou 100 propostas entre 765 concorrentes, destinando uma verba de R$ 17 mil para cada um desenvolver seu projeto. Talvez, seja a verba orçamentária mais bem gasta da prefeitura paulistana: R$ 1,7 milhão financiando pequenas revoluções no cotidiano de grupos juvenis.
O selo Toró, liderado pela Allan da Rosa foi um dos grupos agraciados no último edital. Conseguiu, com a verba, publicar cinco livros com tiragem de 600 exemplares cada. Por meio do VAI, Akins Kinté, de 22 anos e Elizandra Souza, de 24 anos, freqüentadores de saraus na Periferia de São Paulo, concretizaram o sonho de ter seus poemas impressos num livro. Uma obra em dupla face, metade para cada um. Dois jovens negros, suburbanos. Ela da Zona Sul; ele, da Leste. Ambos venderam seus exemplares em menos de seis meses e, com o dinheiro arrecadado, bancaram uma nova tiragem. Elizandra, que ingressou no curso de jornalismo da Universidade Mackenzie, beneficiada pelo Pró-Uni, hoje trabalha como estagiária na sua área, dá palestras e participa de debates. Akins segue a mesma trilha, ainda almejando o sonho da faculdade. Mas expandiu suas aptidões artísticas e produziu, junto com dois jovens cineastas diletantes, um documentário sobre literatura e negritude, chamado Vaguei nos livros e me sujei com a m… toda.
Na mesma direção do programa paulistano, porém com um investimento maior, há no plano federal, a ação dos Pontos de Cultura, do Ministério da Cultura. São mais de 600 grupos apoiados em todo o Brasil, recebendo cerca de R$ 150 mil cada para desenvolver seus projetos. Essas políticas têm o mérito de perceber o movimento da cultura feito por grupos. São vontades criativas que se concretizam na dinâmica da ação coletiva, movimentando a comunidade, interferindo na realidade. No VAI, 90% são jovens. Nos Pontos de Cultura, há uma estimativa de pelo menos 60% dos grupos contemplados estarem na faixa dos 18 a 29 anos. Em ambos os casos, a maioria está nas periferias, vilas e assentamentos no interior do País, nos morros e palafitas.
O que está em jogo hoje na cultura produzida pelos jovens, embora não só pelas garotas e rapazes de vinte e poucos anos, é a emergência da criação. E o acesso às novas mídias tem reforçado essa questão. Sob a bandeira da inclusão digital e democratização do acesso aos meios de comunicação, está a idéia de que é possível fazer, escrever, compor, interferir, difundir. Daí a pertinência do debate sobre propriedade intelectual e livre circulação do conhecimento e da cultura. E, se são novidades as tecnologias, não é nova a idéia de apropriação dos meios, da afirmação da condição juvenil pela cultura. A questão que o movimento punk e o hip hop trouxeram nos anos 1970, parece estar emergindo de uma forma decisiva. Uma revolução está em curso.
Não é por um acaso que assistimos a banda Radiohead, uma das mais populares do mundo, descendente do punk-rock, romper com sua gravadora e comercializar seu último disco exclusivamente na Internet, dando ao consumidor a condição de definir o preço, incluindo a possibilidade de baixar gratuitamente as músicas. Não menos coerente é observar que muitos grupos de rap prensam seus próprios CDs e distribuem diretamente aos camelôs, como faz Dudu de Morro Agudo, do coletivo Enraizado do Rio de Janeiro. “Quero que o maior número de pessoas ouçam minha música, eu tenho uma mensagem para passar”, afirmou Dudu, no debate sobre o tema no Debate Cultura e Conhecimento Livres [7]. Nessa mesma linha e com com muito mais ênfase, grupos de rap de Belém do Pará e demais capitais do Norte do Brasil articulam-se no Movimento Hip Hop da Floresta. A capital paraense é pródiga nesse tipo de circulação da cultura. Nas famosas festas de aparelhagem, o público compra o CD com as músicas tocadas durante a balada, na saída do local do evento.
A produção cultural juvenil articula-se em grupos, invariavelmente pequenos . É preciso observar essas micro-agremiações para se ter uma idéia da diversidade e complexidade das formas de expressão da cultura feita por jovens [8]. Mas os grupos se conectam em circuitos, às vezes, formando um contorno geográfico restrito a uma localidade, às vezes, sem apego a fronteiras. Ao se conectarem, formam grandes movimentos, abalam as estruturas e põem de ponta-cabeça os parâmetros estabelecidos, os cânones. Elizandra, Akins, Sacolinha, Allan da Rosa, Daniel, Diego, o pessoal do Epidemia, e outros que figuraram neste texto, estiveram conectados (presencial ou virtualmente) na Semana de Arte Moderna da Periferia que rolou em novembro na Zona Sul de São Paulo. “A arte que liberta, não pode vir da mão que escraviza”, diz um dos versos do Manifesto da Antropofagia Periférica, que serviu de liturgia ao evento. Esses e muitos outros jovens empoderaram-se e fazem, eles mesmos, a arte que os liberta.
|
PIONEIRA Há mais de três décadas Clara Brandão criou um composto alimentar que revolucionou a nutrição infantil |
|
Nunca mais?
A conivência europeia com Israel no genocídio palestino
por Omar Barghouti [*]
Cartoon de Latuff. A União Europeia, o maior parceiro comercial de Israel em todo o mundo, está a observar como Israel endurece o seu bárbaro sítio em torno de Gaza, punindo colectivamente 1,5 milhão de civis palestinos, condenando-os à devastação e à morte iminente de centenas de pacientes necessitados de diálise ou que sofrem do coração, bebés nascidos prematuramente e todos os outros que dependem da energia eléctrica para a sua sobrevivência.
Ao congelar os fornecimentos de combustível e energia eléctrica a Gaza, Israel, o poder ocupante, está essencialmente a garantir que a água "limpa" – só de nome, pois a água de Gaza é a mais poluída em toda a região, após décadas de roubo e abuso israelense – não será bombeada e distribuída a lares e instituições, que hospitais não poderão funcionar adequadamente, conduzindo à morte eventual de muitos, particularmente os mais vulneráveis, fábricas que ainda estejam a trabalhar apesar do sítio serão agora forçadas a encerrar, empurrando a já extremamente elevada taxa de desemprego para níveis ainda mais altos, o tratamento de esgotos terá de ser interrompido, poluindo mais uma vez o precioso e escasso abastecimento de água de Gaza, instituições académicas e escolas não poderão efectuar o seu trabalho habitual, e as vidas de todos os civis serão severamente afectadas, se não irreversivelmente prejudicadas. E a Europa está apática a observar.
O académico Richard Falk, de Princeton, considerou o sítio de Israel um "prelúdio para o genocídio", mesmo antes deste crime mais recente do corte geral dos abastecimentos de energia. Agora, os crimes de Israel em Gaza podem ser precisamente classificados como actos de genocídio, embora lento. De acordo com o Artigo II da Convenção das Nações Unidas sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948, o termo é definido como:
"Qualquer dos seguintes actos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tais como:
(a) Matar membros do grupo;
(b) Provocar sérios danos corporais ou mentais a membros do grupo;
(c) Infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física no todo ou em parte".
Claramente, o sítio hermético de Gaza por Israel, destinado a matar, provocar sérios danos corporais e mentais, e deliberadamente infligir condições de vida calculadas para provocar a parcial e gradual destruição física, qualifica-se como um acto de genocídio, se não genocídio total. E a UE está suspeitosamente silenciosa.
Mas por que acusar a Europa, em particular, de conivência neste crime quando quase toda a comunidade internacional não está a levantar um dedo, e o obsequioso secretário-geral da ONU, que ultrapassou todos os seus antecessores na obediência ao governo dos EUA, está pateticamente a fazer meras declarações verbais? Além disso, por que não o próprio governo dos EUA, o mais generoso patrocinador de Israel que está directamente implicado no actual sítio, especialmente depois de o presidente George Bush, na sua visita recente, ter dado um sinal verdade nada subtil ao primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, para arrasar Gaza? Por que não culpar os tranquilos irmãos árabes, particularmente o Egipto – o único país que pode romper imediatamente o sítio com a reabertura do cruzamento Rafah e fornecimento através do mesmo do combustível, energia eléctrica necessários e do abastecimento de emergência? E finalmente, por que não culpar a Autoridade Palestina baseada no Ramallah, cujo líder subserviente e sem visão jactou-se abertamente numa conferência de imprensa do seu "acordo total" com Bush sobre todas as matérias substantivas?
Após Israel, os EUS são sem dúvida a parte mais culpada no crime actual. Sob a influência de uma ideologia fundamentalista, militarista, neo-conservadora que apossou-se do seu leme e de um omnipotente lobby sionista que não tem paralelo na sua influência, os EUA estão numa categoria por si mesmo. Não é preciso dizer que a AP, a ONU, bem como governos árabes e do mundo que mantêm negócios como de costume com Israel deveriam todos ser considerados responsáveis por aquiescência, seja directa ou indirectamente, com os crimes de Israel contra a humanidade em Gaza. Também é verdade que cada um dos mencionados acima arca com a responsabilidade legal e moral de intervir e aplicar a pressão que venha a ser necessária para travar o crime antes de milhares de pessoas perecerem. Mas a UE detém uma posição única em tudo isto. Ela está não apenas silenciosa e apática; na maior parte dos países europeus Israel e instituições israelenses actualmente são bem vindas e procuradas com entusiasmo sem precedentes, generosidade e deferência em todos os campos – económico, cultural, académico, atlético, etc. Exemplo: Israel foi convidado como hóspede de honra de uma grande feira de livros em Turim, Itália. Filme financiados pelo governo israelense são exibidos em festivais de cinema por todo o continente. Produtos israelenses, desde abacates e laranjas a sistemas de segurança de alta tecnologia, estão a inundar mercados europeus como nunca antes. Instituições académicas israelenses estão a desfrutar um acordo de associação especial, muito lucrativo, com órgãos relevantes na UE. Grupos de dança israelenses, bandas de cantores e orquestras são convidados a tours e festivais europeus como se Israel fosse não só um membro normal como também o mais favorecido do assim chamado mundo "civilizado". O outrora desbotado abraço da Europa a Israel tornou-se um intenso, aberto e enigmático caso de amor.
Se a Europa pensa que pode assim arrepender-se do seu Holocausto contra a sua própria população judia, ela está de facto a facilitar vergonhosamente e conscientemente a validação de actos de genocídio recentes contra o povo da Palestina. Mas os palestinos, parece, não contam muito, pois somos encarados não só por Israel como também pelos seus velhos patrocinadores "brancos" e aliados como humanos inferiores, ou relativos. O continente que inventou o moderno genocídio e foi responsável nos últimos dois séculos por massacrar mais seres humanos, sobretudo "humanos relativos", do que todos os outros continentes juntos está a acobertar crimes que recordam em qualidade, embora certamente não em quantidade, os seus próprios odiosos crimes contra a humanidade.
Em nenhum outro assunto internacional, talvez, pode o establishment europeu ser acusado de ser tão desinteressado e indiferente para com a sua própria opinião pública. Enquanto apelos pelo boicote a Israel como um Estado apartheid estão vagarosa mas firmemente a difundir-se entre organizações e sindicatos da sociedade civil europeia, esboçando paralelos perturbadores com o boicote ao apartheid da África do Sul, os governos europeus estão a considerar difícil distinguir-se da posição abertamente cúmplice dos EUA. Mesmo os clichés europeus de condenação e "exprimindo profunda preocupação" tornaram-se mais raros do que nunca nos dias de hoje. Além disso, a cruel e desafiadora violação de Israel das próprias leis de direitos humanos da Europa são ignoradas sempre que alguém questiona se Israel deveria continuar a beneficiar do seu magnânimo acordo de associação com a UE apesar da sua ocupação militar, colonização e horrendo récord de abuso dos direitos humanos contra as suas vítimas palestinas. Se isto não é cumplicidade, então o que é?
Moralidade posta de parte, afundar Gaza num mar de escuridão, pobreza , morte e desespero não pode augurar nada de bom para a Europa. Ao apoiar activamente um ambiente conducente à ascensão do fanatismo e da violência desesperada próximo às suas fronteiras, a Europa está loucamente a convidar a devastação para a sua entrada. Ao invés de prestar atenção – ou pelo menos considerar seriamente – apelos ao boicote, desinvestimento e sanções contra o Israel do apartheid, adoptado por virtualmente todo o espectro da sociedade civil palestina, pode em breve ter de ajustar contas com forças impossíveis de conter de violência irracional e indiscriminada e o caos resultante.
Parece que as elites europeias estão actualmente determinadas a nunca se oper a Israel, não importa que crimes cometa. É como se o clamado – e cada vez mais hipócritas – slogan sustentado por sobreviventes judeus do genocídio europeu, "Never again!" ("Nunca mais!") , fosse agora endossado pelas elites europeias com uma diferença: o acréscimo de duas letras, 's' e 't', no fim — "Never against" ("Nunca contra").
21/Janeiro/2008
[*] Analista político palestino, independente, membro fundador da Campanha Palestina pelo Boicote Académico e Cultural de Israel.
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/barghouti01212008.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
A "EPIDEMIA" DE FEBRE AMARELA
Fim de dezembro de 2007. Surge o primeiro caso suspeito de febre amarela deste verão. Rapidamente, o assunto domina o noticiário. A mídia, por conta própria, decreta: a febre amarela voltou. O auge foi conclamar a população a se vacinar
A primeira vez que se cogitou vacinar toda a população foi no final de 1999 e início de 2000. Em Goiás, na Chapada dos Veadeiros, ocorria um grande surto de febre amarela. Ao mesmo tempo, havia alta infestação do mosquito Aedes aegypti em boa parte das cidades brasileiras. O aedes, além de transmitir o vírus da dengue, é o transmissor do vírus da febre amarela urbana.
Após intenso debate com especialistas das nossas principais instituições de pesquisa, o governo optou, como agora, não vacinar os moradores de áreas sem risco. A vacina é eficaz e segura. Porém, ela pode produzir efeitos colaterais, alguns graves; em raros casos, óbitos. No Brasil, há quatro mortes associadas à vacina a partir de 2000. Há fortes indícios de que já exista mais uma. Ocorreu quinta-feira, dia 31 de janeiro, em São Paulo: uma mulher que não precisava se vacinar – ela não pretendia viajar para região de risco – e, ainda, tinha contra-indicações. De
Ambas são doenças infecciosas, causadas pelo mesmo vírus. A última epidemia de febre amarela urbana aconteceu no Acre em 1942. Já a febre amarela silvestre não voltou por uma simples razão: ela nunca foi embora. É de 1692 o primeiro relato da doença no Brasil; foi um surto na Bahia. “Nem irá nos abandonar”, antecipa Castilho. “A menos que se exterminem todos os macacos, o Haemagogus e o Sabethes. Algo totalmente irreal. Afinal, são seres silvestres e fazem parte da natureza.”
1) Vacinação de quem realmente precisa vacinar-se. “Incluem-se, aqui, as crianças que residam ou viajam para as áreas de risco”, alerta o pediatra
Brasil só tem a forma silvestre
Doença infecciosa aguda, de curta duração (no máximo, 10 dias), gravidade variável, causada pelo vírus da febre amarela. Continua a ser importante problema de saúde pública nas Américas e África tropical. Tem dois tipos de transmissão: a silvestre e a urbana. No Brasil, a que existe é a febre amarela silvestre, restrita principalmente às áreas de matas e florestas.
Dos animais para o ser humano
Começando pelo tipo silvestre. O Haemagogus prefere o macaco. Aí, o mosquito, caso esteja infectado, transmite o vírus ao primata, que então se infecta. Assim, um passa o vírus para o outro, sucessivamente. É um ciclo mosquito-macaco-mosquito.
* Em azul, a área indene, isto é, sem risco de febre amarela. Além de não haver circulação do vírus, não tem contigüidade com áreas onde ele circula.
Como você pode se infectar
O vírus da febre amarela não se "pega" como o vírus da gripe, por exemplo. A transmissão não é ser humano a ser humano. É preciso um agente intermediário. No caso, os mosquitos transmissores do vírus da febre amarela, principalmente o Haemagogus, o mais freqüente: "O Haemagogus só nos pica quando entramos de bicão no pedaço dele, e ele não tem outro alimento mais apetitoso por perto", fala sério Ramos-Filho. "Aí, o ser humano acidentalmente se infecta, caso não esteja imune." Portanto, tem risco de se infectar quem:
* Reside nas zonas verde, vermelha e amarela do mapa da SVS/MS e não tomou a vacina.
*Viaja para essas mesmas zonas, em qualquer época do ano e não se vacinou.
Nem todas as pessoas infectadas pelo vírus da febre amarela têm sintomas. Nas que apresentam, eles geralmente aparecem três a seis dias após a pessoa ser picada: febre, calafrios, vômitos; dores de cabeça, nas costas e musculares; fadiga e fraqueza. Essa fase pode ser seguida por ligeira melhora, que dura, em média, 24 horas. Porém, nos casos graves, a febre alta e demais sinais e sintomas reaparecem acompanhados de hemorragia de gengiva, nariz, estômago, intestino e pele (manchas vermelhas no corpo). Icterícia (pele e olhos ficam amarelados) e aumento de proteínas na urina freqüentemente ocorrem nos casos graves. Nos estágios mais avançados, a pessoa pode ter hipotensão, necrose do rim, arritmia cardíaca. Também entrar em coma.
“Não há tratamento específico para a febre amarela”, adverte Euclides Castilho. “Os tratamentos são apenas para os sintomas.”
Entre as pessoas infectadas pelo vírus da febre amarela e que têm sintomas, cerca de 50% morrem. No Brasil, dos 349 casos confirmados de
Vacina, a única prevenção eficaz
Só há uma forma segura de prevenir a febre amarela: vacina. É fabricada com vírus vivo da doença, atenuado, em oito países: Brasil, França, Estados Unidos, Inglaterra, Índia, Rússia, Colômbia e Senegal. São oitos laboratórios, todos pré-qualificados pela OMS. Apenas três produzem para o mercado global, entre eles: Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz – o maior produtor mundial; e o Instituto Pasteur, na França. A vacina é a mesma. De
Descubra quem deve se vacinar e por quê
Deve ser vacinado quem:
* Ainda não se vacinou e reside em: todos os estados das regiões Norte e Centro-Oeste; todos os municípios do Maranhão e Minas Gerais; municípios do sul do Piauí, oeste e sul da Bahia, norte do Espírito Santo, noroeste de São Paulo e oeste de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Atenção às contra-indicações
Como qualquer vacina composta de vírus vivos (mesmo que atenuados) e cultivados em embriões de ovos de galinha, a da febre amarela tem contra-indicações:
* Bebês com menos de seis meses; há risco de encefalite (inflamação do cérebro).
* Pessoas alérgicas, especialmente a ovo; têm risco de reação grave.
* Pessoas com baixa imunidade devido a doenças ou ao tratamento delas. Por exemplo, câncer, transplante de órgãos ou lupus, que exigem remédios imunossupressores, como corticosteróides em altas doses.
* Gestante ou mulher que pretende engravidar; há risco teórico de o vírus da vacina atravessar a placenta e causar encefalite no feto.
Como toda vacina fabricada com vírus vivos atenuados, a da febre amarela tem efeitos colaterais. Os mais comuns: dor no local da injeção – é imediata; febre baixa, dor de cabeça e mal-estar – três a oito dias após a vacinação. Atingem 5% a 15% dos vacinados. “As reações mais comuns, portanto, são leves, em sua intensidade”, enfatiza Celso Granato.
* Asma, urticária e até choque anafilático em pessoas alérgicas a ovo ou outro componente utilizado na preparação da vacina. Ocorre menos de 1 caso por um milhão de vacinados.
1 óbito para cada 1 milhão de vacinados
O risco de óbito é uma possibilidade remota. Não é exclusividade da vacina contra a febre amarela. Também não é um problema da vacina brasileira. Aconteceu igualmente com a fabricada nos Estados Unidos.
A vacina contra a febre amarela protege você por dez anos. Portanto, só a cada dez anos você tem que se revacinar.
Todos podem ajudar. Faça a sua parte!
Portanto, esta é a realidade hoje:
1) Se você mora ou vai viajar para região de risco de febre amarela, vacine-se se ainda não o fez.