Toda vez que passo para os meus alunos
da disciplina de História a película “Tempos Modernos”, do genial
cineasta inglês Charles Chaplin, percebo a perplexidade e
concomitantemente a alegria nos olhos desses jovens alunos. Nesse filme
não há meio termo, Chaplin realmente passa uma mensagem social e
política. Cada cena é trabalhada para que a mensagem chegue
verdadeiramente tal qual a realidade é. E nada parece escapar à crítica
mordaz de Chaplin sobre a sociedade de sua época, aliás de nossa época,
pois considero ainda muito atual suas análises sobre a sociedade
capitalista que chegam a ser muitas vezes até atemporal.
O cineasta relata sobre a escravidão ainda presente em nosso
cotidiano. Mostra o amor que também surge, mas surge quase paternal: o
de um vagabundo por uma menina de rua. Como trabalhador de uma fábrica o
“Vagabundo – Carlitos” tem um colapso nervoso, o que chamamos hoje em
dia de “estresse” por trabalhar de forma quase escrava. Ou seja, uma
crítica ao trabalho monótono e repetitivo. A velha alienação do trabalho
como bem estudou o filósofo alemão Karl Marx.
Charles Chaplin identifica e faz uma analogia assaz interessante com a
realidade atual, com relação à questão do desemprego de grande parte da
população e relata a crônica da fome e as condições miseráveis que
vivem os trabalhadores das grandes cidades. É lógico que o filme
focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com
base no sistema de linha de montagem e especialização de trabalho do
final do século XIX e princípio do século XX. Não obstante, é uma
crítica severa à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo modelo
de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e
perseguido por suas idéias “subversivas”. Trata das desigualdades entre
a vida dos pobres e das camadas mais abastadas.
O mais fantástico e assustador é que ainda hoje essa mesma sociedade
capitalista, mesmo com todo o avanço tecnológico das forças produtivas,
com o desenvolvimento tecnológico da informática, cibernética e da
nanotecnologia, ainda asim, explora os trabalhadores da cidade
(proletariado) e do campo (camponeses), e que estes trabalhadores
alimentam todo o conforto, o luxo e diversão da burguesia.
Na película, Charles Chaplin é um profeta, demostrando que a máquina
tomará o lugar do homem, aumentando o exército de reserva. Ressalta o
vagabundo em transe, em sua crise de angústia, onde é tragado pela
máquina, uma metáfora ao sub-emprego e as empresas, fábricas e
indústrias que trituram gente pagando salários irrisórios e pífios. É um
visionário à frente de seu tempo, já que na cena em que um dos bandidos
coloca no saleiro a cocaína, em plena hora do almoço, evitando ser pego
em flagrante pelos guardas que fazem a revista na prisão, onde o
vagabundo ao pôr o suposto sal em sua refeição, levando-o a ficar muito
doido e em êxtase. Uma clara denúncia ao nefasto comércio de drogas e as
facilidades que este negócio lucrativo e sórdido, que leva as pessoas e
principalmente os adolescentes a aderirem à criminalidade: isso
infelizmente é rotina nas grandes cidades, onde cada vez mais jovens
entram no submundo do crime.
Infelizmente estamos perdendo a nossa juventude para o crime
organizado e para a pedra de crack, que atualmente é o fator principal
que está levando nossos jovens a roubar, matar e até mesmo a cometer
suicídios, ou seja, suas vidas são destruídas sem dó e sem piedade. Além
da desestabilização das pessoas que sofrem com a convivência de
dependentes químicos. Mas quem sofre com tudo isso é a família, cujo lar
foi destruído pelo vício de um dos seus membros.
Segundo matéria publicada pela jornalista Lêda Gonçalves do Jornal
Diário do Nordeste “a população corre risco e o crack já chegou
deixando um rastro de destruição e violência.” (Fortaleza/CE) de
25/02/2010, no Caderno Cidades. A jornalista afirma na matéria que “a
droga é consumida, principalmente por jovens cearenses entre 12 e 29
anos.”
Em Fortaleza, avalia o Coordenador da Cufa, Preto Zezé que “de
acordo com números da Central Única das Favelas (Cufa) 30 mil jovens de
12 aos 29 anos de idade são dependentes químicos em Fortaleza. No Ceará,
esse número chega a 100 mil usuários da chamada “pedra maldita”. O
vício matou mais de 1,7 jovens nos últimos três anos. O avanço da droga é
uma coisa sem precedentes.” – (Caderno Cidade do Jornal Diário do
Nordeste de 25/02/2010).
Estendo-me sobre a temática das drogas por entender que este grave e
atual tema é importante para reflexão, e também para salientar o quanto o
cineasta inglês Charles Chaplin foi perspicaz, sagaz em perceber no
século passado a problemática das drogas em nosso cotidiano. Que o
legado de Charles Chaplin seja sempre lembrado pelas novas e futuras
gerações. Que suas películas sejam contempladas e debatidas amiúde por
pessoas de todas as idades.
Brincando ele falava sobre coisas sérias, de forma lúdica nos levava a
pensar criticamente sobre a nossa sociedade, com irreverência e com
cenas bem humoradas satirizava, ironizava e levantava discussões
polêmicas. Educava através da sétima arte (cinema) com maestria e
genialidade. É por isso que seus filmes são utilizados em demasia pelos
professores de História (como fonte histórica), Filosofia e Sociologia
para entendermos a sociedade de consumo contemporânea.
Longa vida e muita prosperidade ao legado do palhaço, ator, diretor,
dançarino, roteirista, comediante, músico e bardo cineasta britânico
Charles Chaplin.
(*) Elcio Cavalcante é professor de história em
Fortaleza (CE).