domingo, 11 de março de 2012

Alemanha, o passado e o presente*


Rui Paz
Rui Paz 
É nos momentos de crise que a natureza reaccionária dos estados imperialistas se revela. Um Estado como a Alemanha Federal, fundado sob a protecção militar da NATO por «democratas» que serviram um regime de terror, reflectirá forçosamente na sua doutrina e comportamento princípios avessos à igualdade de direitos e ao respeito pela soberania dos povos.

Há mais de vinte anos que o grande capital alemão anda a rever a História, a criminalizar as vítimas da opressão nazi e as forças que mais lhe resistiram, como a URSS, os comunistas e o movimento operário. Durante 45 anos, a Alemanha Federal esteve sob controlo dos seus aliados militares. Os laços, que sempre ligaram o capital monopolista ao regime hitleriano, derrotado em 1945, estão bem visíveis não só nas dinastias de industriais e banqueiros que transitaram do nazismo para a República Federal mas também no elevado número de altos dirigentes do Estado que fizeram carreira em ambos os regimes. Recordar algumas dessas figuras mais significativas é importante para se compreender a nova vaga de ataques aos direitos do trabalhadores e de desrespeito pela soberania dos povos desencadeada por Berlim desde a chamada «unificação».
O primeiro presidente da República da Alemanha, Theodor Heuss, foi um dos deputados que a 23 de Março de 1933 votou no Reichstag a lei que deu a Hitler plenos poderes (Ermächtigunsgesetz). O seu sucessor será Heinrich Lübke, construtor de campos de concentração e de centros de trabalho escravo no III Reich. Após um curto interregno, seguir-se-ão Walter Schell e Karl Carstens, ambos antigos membros do partido de Hitler, o NSDAP. Kurt Georg Kiesinger, membro do partido nazi desde Fevereiro de 1933 será chanceler da Alemanha entre 1966 e 1969. A subida de Hans Globke ao cargo de secretário de Estado da chancelaria de 1953 a 1963 veio demonstrar não haver limites para a recuperação de nazis pelo regime de Adenauer. Globke foi o comentador oficial das leis racistas de Nuremberga, cuja finalidade era a defesa da pureza do sangue e da superioridade da raça ariana. Enquanto nazis ocupavam cada vez mais importantes funções políticas, o governo de Bona ilegalizava em 1956 o Partido Comunista Alemão (KPD) e desencadeava uma nova vaga de perseguições contra os comunistas.
Um Estado como a Alemanha Federal, fundado sob a protecção militar da NATO por «democratas» que serviram um regime de terror, reflectirá forçosamente na sua doutrina e comportamento princípios avessos à igualdade de direitos e ao respeito pela soberania dos povos.
Se lançarmos um olhar muito breve sobre a Alemanha de hoje o que verificamos? Tribunais que proíbem greves, como aconteceu nestes dias com os controladores aéreos no aeroporto de Frankfurt. Serviços secretos que espionam ideologicamente milhares de cidadãos e registam em ficheiros as suas convicções políticas. Anticomunismo de Estado visando criminalizar as forças que procuram alternativas para o capitalismo e novos caminhos para uma sociedade mais justa e mais democrática. Promiscuidade entre os serviços secretos e organizações terroristas de extrema-direita, permitindo, durante mais de dez anos, o assassínio impune de estrangeiros e a prática de atentados racistas. Dois presidentes da República demitidos, no espaço de ano e meio, o primeiro por ter confirmado que as tropas alemãs no Afeganistão defendem os interesses económicos da Alemanha e o segundo, possuidor de uma infinidade de «amigos» empresários prestadores de tais favores que o Ministério Público se viu obrigado a intervir. Mas a surpresa não será menor face à decisão do «partido único europeu da Alemanha», constituído pela CDU, SPD, Liberais e Verdes, de escolher como candidato conjunto a presidente da República um pastor protestante, visceralmente anticomunista.
É nos momentos de crise do sistema capitalista que a verdadeira natureza reaccionária, obscurantista e de classe dos estados imperialistas se revela.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 1997, 8.03.2012

Yuri Martins Fontes: Palestina; a demografia e o terror



A disparidade de meios militares entre o Estado de Israel (apoiado pelos EUA) e o povo palestino, sem exército, dispondo apenas de arcaicas armas caseiras, transformou o conflito num lento genocídio.

Por Yuri Martins Fontes, no Diário Liberdade via VERMELHO


O terror chegou a tal ponto que são várias as vítimas do Holocausto que começam a denunciar publicamente a semelhança das práticas do governo sionista com as do regime hitleriano.

Tortura, uso de seres humanos como cobaias e racismo são práticas comuns do governo de Telavive, que se estão a agravar devido a um fator – a elevada taxa de natalidade dos palestinos, muito superior à dos israelenses.

Este fato vai em poucos anos obrigar Israel, para manter os privilégios dos seus habitantes, a abandonar os últimos resquícios de "Estado democrático", limitando o direito de voto aos cidadãos não-judeus ou, ainda pior, expulsar ou assassiná-los, realizando uma limpeza étnica.

Este aparente absurdo institucional está perto de se tornar realidade. Basta atentar nos dados divulgados pelos organismos internacionais. E é, paradoxalmente, a representação diplomática do líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abas, na ONU que, ao defender a solução de "dois Estados" oferece ao povo judeu a única solução para evitar tão bárbaro rumo.

Crimes de guerra, cobaias humanas e campos de concentração

Recordemos os dados mais recentes do terrorismo israelense: no último bombardeamento massivo de Gaza (2008/2009), a desproporção de forças foi tal que, por cada israelense morto, foram assassinados 100 palestinos. Dois terços das 1.300 vítimas eram civis, a maioria delas crianças.

Conforme a análise do sociólogo Emir Sader, da Universidade do Rio de Janeiro, a matança "foi uma das piores que o mundo conheceu nos últimos tempos".

Sob a premissa de que "não há inocentes em Gaza", esta zona de alta densidade populacional foi bombardeada como se de um campo de tiro a céu aberto se tratasse.

Foram lançados sobre o território mil toneladas de bombas, que destruíram o pouco que ainda restava das infra-estruturas públicas – hospitais, fábricas e escolas – numa zona das mais pobres do mundo e onde se amontoam milhão e meio de pessoas.

Segundo a Cruz Vermelha e a ONU, os comandos israelenses ordenaram o uso de armas químicas, em clara violação das leis internacionais de guerra.

Os documentos referem que os para-quedistas lançaram pelo menos 20 bombas de fósforo branco sobre o campo de refugiados de Biet Lahaiya.

O fósforo branco é uma substância altamente inflamável, que reage ao oxigénio e causa graves queimaduras. Ao explodir, as bombas pulverizam o fósforo, que é lançado a grandes distâncias e se pega à pele, continuando a arder depois de a penetrar.

Mais, os médicos noruegueses da ONG Norwac, Mads Gillbert e Erik Fosse, denunciaram o uso de uma nova arma conhecida como Explosivo de Metal Denso.

Trata-se de uma pequena munição envolta em carbono, com uma cobertura de ferro, cuja explosão num fluxo de poucos metros "corta um corpo ao meio". Ao experimentar estas armas nunca usadas, nem pelos EUA, os israelenses fizeram dos palestinos cobaias, repetindo uma prática abominável dos tempos de Adolf Hitler.

O ódio que se semeia

Desde então realizaram-se diversas manifestações israelenses de protesto. Norman Finkelstein, filho de sobreviventes do Holocausto e autor de A indústria do Holocausto, afirmou que as acções israelenses contra os árabes "são comparáveis às dos nazis contra os judeus".

E como exemplo lembrou a expulsão dos palestinos, depois da guerra de 1948, quando os israelenses ocuparam – com a ajuda do exército – imensos territórios árabes dizendo serem terras "abandonadas".

O autor, depois de visitar o Sul do Líbano, que esteve sob domínio israelense durante duas décadas, declarou: "Era um campo de concentração".

Outra significativa denúncia dos crimes israelenses partiu de uma judia que fugiu da Alemanha e cujos pais morreram em Auschwitz.

Para Hedy Epstein, as ações do governo israelense mostram que não aprenderam nada: "Como podem fazer aos palestinos o mesmo que os nazis?", declarou à BBC, acrescentando: "Estas ações horríveis aumentam o anti-semitismo".

Da prática do terror à sua institucionalização

Michel Warschawski, diretor do Centro de Informação Alternativa de Jerusalém, considera "particularmente significativo" que um setor da direita já tenha percebido que a "democracia israelense está em perigo".

Israel converteu-se num Estado fundamentalista e poderá caminhar para o fascismo. Um quinto da sua população é árabe e é a parte mais pobre de uma sociedade em que a concentração de riqueza é das maiores do mundo.

Vários analistas vêm referindo que a "solução de dois Estados" é a que mais convém a Israel porque, como explica o professor de Relações Internacionais da Universidade Hebraica, Arye Katzovich, "se Israel não permitir a independência dos territórios ocupados, o país não poderá sobreviver como 'Estado judeu e democrático', já que a população árabe-israelense em poucos anos superará a judia – devido às altas taxas de natalidade e o não acesso à informação sobre planejamento familiar.

Os árabes-israelenses são 19,4% numa população de quase oito milhões. Porém, têm uma taxa demográfica duas vezes superior à dos judeus.

Se os sionistas impedirem a criação de um Estado palestino para onde possam 'deportar os árabes', só restam duas possibilidades: ou os árabes acabam por controlar o Estado ou, à semelhança do apartheid, haverá necessidade de um regime autoritário e segregacionista que permita manter o poder nas mãos da minoria judia".

No limite, poderá acontecer algo semelhante ao extermínio nazi – sempre em nome da manutenção do Estado do "povo eleito". Henri Lefebvre, filósofo de meados do século 20, já tinha notado a semelhança: "Os ideólogos hitlerianos tomaram do antigo judaísmo a ideia de um povo eleito e de uma raça, a qual aperfeiçoaram recorrendo a considerações biológicas discutíveis".

Agora, os novos membros do povo eleito, depois do débil otimismo da experiência liberal, parecem querer voltar ao pessimismo do fundamentalismo político-religioso baseado no terror.

Trabalho escravo éuma verdade inconveniente



Do BLOG DO ZEQUINHA BARRETO

Se o povo soubesse como são feitas as leis e as salsichas,não dormiria tranquilo.
A frase é atribuída a Otto von Bismarck,chanceler alemão no século XIX. Mas poderia ser hoje estendida às roupas de grife.
Na semana que passou,vieram a público os resultados de operações de fiscais que descobriram o uso de trabalho escravo na confecção da badalada marca Zara,entre outras.
As roupas da empresa espanhola vinham sendo produzidas no país por imigrantes bolivianos e peruanos. Remunerados com a metade de um salário mínimo,eles já chegavam ao Brasil devedores de seus patrões,terceirizados da empresa.
Segundo se noticiou,as peças eram feitas em apertadas e escuras residências quase sem janelas. Um habitat bem distinto dos elegantes endereços onde normalmente são vendidas. Para os operários do subúrbio da alta costura,algo em torno de dois reais por trabalho.
A empresa disse que não sabia da situação;muitos consumidores,que não queriam saber.
Parte dos clientes ouvidos afirmou que não se importa com o problema. Eles acreditam que todas as empresas fazem o mesmo e,enfim,avaliam não ter qualquer responsabilidade sobre isso.
Não faltou quem se sentisse até indignado com a crítica,acuado com as sugestões de boicote à marca. "Vamos ter de comprar na C&A,agora?",praguejaram nas redes sociais.
A publicidade faz maravilhas. A principal delas é isolar o produto das consequências de sua fabricação.
Quando compramos nossos Ipods,Ipads e outros tantos apetrechos,não estamos pensando na situação de mineiros africanos que tenham morrido extraindo metais,nem na contaminação tóxica que a industrialização pode espalhar aos operários e ao meio ambiente.
A idealização do consumo se reveste na capacidade de poupar o consumidor dos detalhes sórdidos que estão por trás da produção,da mesma forma como não somos estimulados a pensar nos malefícios da degradação dos produtos,depois que eles não nos interessam mais.
Em "A História das Coisas"(The Story of Stuff),que circula pelas redes sociais,a ativista Annie Leonard procura chamar a atenção para o que está por trás dessa cadeia de produção,invisíveis violências contra seres humanos e a natureza.
E alerta para o motor que mantém o consumismo sempre frenético:a obsolescência planejada. Os bens são produzidos propositadamente para durar pouco e para aqueles que podem durar mais,a moda,a publicidade,a imprensa,enfim,se encarregam de fazer com que queiramos trocar por modelos mais práticos,mais bonitos,mais modernos.
Enfim,consumir sempre mais e mais.
O ataque desenfreado aos recursos naturais e a exploração desmedida da mão-de-obra barata não fazem parte de nossas preocupações enquanto consumimos. São verdades inconvenientes.
Afinal,conhecer a podridão da produção significa sentir-se responsável por parte dos seus males. E,como se sabe,a culpa é inimiga do consumo.
A emergência do perigo ao planeta tem direcionado muitos jovens às causas ecológicas,esperançosos em participar de um desenvolvimento sustentável,que nos permita viver sem exterminar o mundo ao mesmo tempo.
Mas tanto quanto o planeta,milhões e milhões de pessoas na base da pirâmide social,também correm sério risco de extinção a cada dia. Refugiados somalis,trabalhadores sem- terra ou imigrantes escravizados são prova viva disso. Ou quase viva.
A exploração predatória dos recursos naturais tem tudo a ver com o modo de produção que reduz o trabalhador a muito menos do que a sua dignidade.
A ganância não encontra limites que não lhe sejam impostos. E a ânsia do lucro estratosférico atropela qualquer resquício de responsabilidade social que o marketing possa nos apresentar em meio a sorrisos e belas imagens na TV.
Salvar o planeta é mais do que usar papel reciclado ou participar da coleta seletiva.
É compreender que quem compra uma camisa no shopping também é responsável pela exploração do trabalhador que a produziu.

Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos:essência do Direito do Trabalho"(LTr) e autor de "Crime Impossível"(Malheiros) e do romance "Certas Canções"(7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

Professores caminham para greve nacional


O magistério do DF deliberou pela greve nesta quinta, se juntando a outros três estados que já estão parados. No RS os professores já se encontram em estado de greve. SP, RN, PB e SC poderão aumentar esta lista, uma vez que já têm assembleias marcadas com esta pauta. Para semana que vem, a CNTE planeja três dias de greve nacional e mais estados poderão aderir. Piso nacional da categoria é o problema central.


Brasília - Os professores do Distrito Federal (DF) decidiram entrar em greve a partir do dia 12 de março. A decisão tomada nesta quinta (8) foi motivada pelo não cumprimento dos acordos assumidos em abril de 2011 pelo governo distrital, de acordo com o sindicato da categoria. Assim, o DF se junta a Piauí, Rondônia e Goiás, onde os professores da rede pública estadual já estão em greve.

A categoria já está parada há 32 dias em Goiás, há 11 no Piauí e há duas semanas em Rondônia. Esta tendência deve ser crescente. No Rio Grande do Sul, os professores já estão em estado de greve. São Paulo e Rio Grande do Norte tem assembleia no dia 14, Santa Catarina no dia 15 e Paraíba no dia 16.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) já anunciou uma greve em todo o país entre os dias 14 e 16 de março. Trata-se de um universo de aproximadamente 2,5 milhões de professores. Porém, a decisão pela adesão prolongada ao movimento grevista depende da realidade de cada estado. Em 2011, 15 estados viram o magistério publico entrar em greve.

A reivindicação central, apesar de não ser a única, é o pagamento do piso nacional do magistério estipulado para 2012 pelo Ministério da Educação (MEC): R$ 1.451.

“Provavelmente quem não se dispuser a pagar este valor enfrentará greve. Atualmente 17 estados não pagam e que ainda não se comprometeram conosco a pagar. Só do Espírito Santo ainda não temos as informações”, aponta secretária geral da CNTE, Marta Vanelli.

De acordo com a entidade, os 17 estados são: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Norte, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.

Já pagam de acordo com o piso Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo.

Em Goiás os sindicalistas reclamam que o governo aceitou pagar o piso, mas incorporou a gratificação ao salário base e achatou o resto da carreira. Os professores com nível superior, em regime de 40 horas, tiveram apenas R$ 30 de reajuste, passando de R$ 1.980 para R$ 2.010.

Pará, Maranhão, Pernambuco não pagam o piso , mas já se comprometeram oficialmente em pagá-lo na folha de março.

O piso nacional do magistério - sancionado em 2008, pelo ex-presidente Lula, e declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado - determina que nenhum professor pode receber menos do que o valor determinado por uma jornada de 40 horas semanais.

O seu reajuste é calculado com base no aumento do custo por aluno estabelecido pela Lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Governadores e prefeitos defendiam que o reajuste se baseasse no Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que este ano foi de 6%.

O valor de R$ 1.451 definido para 2012 representa aumento de 22,22% em relação a 2011, quando o piso foi R$ 1.187. Em 2010, o piso era de R$ 1.024 e em 2009, R$ 950.

Os Bronfman


Edgar Bronfman, presidente do Congresso Mundial Judaico, em plena campanha por uma renovada identidade judaica...

Além de presidente do Congresso Mundial Judaico, Edgar Bronfman é o chefão da conhecida e bilionária família Bronfman, ex-proprietários da Seagram's Company Ltd., uma gigantesca empresa de bebidas alcoólicas com matriz em Montreal, no Canadá, e subsidiárias em todo o mundo.
As atividades dessa família no ramo de destilados tiveram início com Samuel Bronfman, fundador do atual império Seagram's, na década de 20 do século passado, com a fabricação e venda de bebidas alcoólicas, sendo a principal dessas bebidas uma "inovação" inventada por Eneas Coffey em 1831: o blend whiskey. Samuel Bronfman dizia: "A destilação é uma ciência, o blending é uma arte". Veremos mais à frente o que é, e o que significa essa "arte" de Samuel Bronfman.
Stephen Birmingham, em The Rest of Us: The Rise of America's Eastern European Jews (Boston, 1984) relata que "enquanto o verdadeiro scotch whiskey levava de dois a doze anos para ser envelhecido, o fenômeno "cotch Bronfman" poderia envelhecer em dois dias sem que ninguém percebesse a diferença."
A "mágica" se dá através de uma mistura de álcool com várias espécies de malte, dois ou três tipos de uísque de grão, e outros ingredientes. Foi por meio desse líquido que Samuel Bronfman deu início ao seu império.
Quanto a esse apelido de família, é digno de nota o fato que Samuel, o pai de Edgar, não se chamava Bronfman mas sim, Baryla... Só depois, com a sua atividade de contrabandista, passou a usar o nome Bronfman, uma vez que essa palavra, em yidish, significa... whiskey man, "o homem do uísque".
A Seagram's Company Ltd. é uma empresa canadense dessa família de judeus russos, e cujo rápido crescimento se deu na época da "Lei Seca", ou seja, durante a proibição de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, exatamente quando Samuel Bronfman começou a traficar uísque falsificado do Canadá, inundando a América com os seus venenos através de negócios milionários com a Cosa Nostra.
Essa organização de psicopatas, a Máfia, fartamente abastecida não só com ininterruptos carregamentos de blend whiskey, mas também com os famosos licores Seagram's e outras bebidas, era chefiada por facínoras como Lucky Luciano,
   
Da esquerda para a direira: Lucky Luciano, Frank Costello e Meyer Lanski.
Frank Costello e Meyer Lansky (nascido Majer Suchowlinski). Este último logrou transformar a "organização" numa corporação multinacional (graças a fornecedores como Sam Bronfman) ao abrir cassinos, clubes noturnos e casas de jogos em Cuba, nas Bahamas e em Londres, além de internacionalizar o circuito da prostituição.1
O psicopata e mafioso judeu, Meyer Lanski, em visita a Jerusalém...
Meyer Lansky era um fanático sionista, tendo contribuído com milhões de dólares do crime organizado para a agressiva campanha do lobby judeu na votação da ONU durante a partilha da Palestina e, transbordante da empáfia judia, escolheu para o seu epitáfio a frase que rancorosamente gostava de repetir: "Jamais me curvarei ante um cristão". E assim, com sócios como esses, as portas começaram a se abrir rapidamente para essa família de traficantes internacionais, os Bronfman.

Os herdeiros
Sam, o godfather, legou a seu herdeiro, Edgar Bronfman, uma estrutura tal que as bebidas Seagram's hoje são vendidas em mais de cento e noventa países e territórios. Afiliados e subsidiárias em quarenta países formam com eles o maior sistema de distribuição da indústria de bebidas alcoólicas do planeta. A Seagram's produz, comercializa e distribui mais de duzentas e trinta marcas de bebidas destiladas, mais de cento e oitenta marcas de vinhos, champagnes, ports, cherrys, e mais de cinqüenta marcas de cervejas e de outras bebidas, como refrescos e misturas com variados teores de álcool. Entre algumas das mais conhecidas, estão marcas como Crown Royal, Captain Morgan, Chivas Regal e Absolut Vodka.
Com o tempo, o primeiro herdeiro do império Bronfman legou a seu filho, Edgar Bronfman Jr., primo de Jeffrey Bronfman2, todas as condições para que expandisse as empresas Seagram's para áreas de multimídia e do entretenimento de massas, e assim surgiu um imenso conglomerado de mega-empresas, como a Warner Music, e que hoje abarca a MCA (empresa de entretenimento); a Universal Pictures (uma das maiores companhias cinematográficas do mundo); a Interscope Records (o maior promotor de um novo e estranho tipo de "música", a gangsta rap, cujas letras incitam explicitamente os negros a cometer atos de violência contra brancos); a Universal Music e a PolyGram (empresas discográficas, sendo esta última a maior da Europa). Com a compra da PolyGram, em 1998, Bronfman apropriou-se também da Deutsche Grammophon, da Decca-London e das empresas discográficas Philips. Entre os tantos "artistas" que os Bronfman já produziram, ou empresariam, figuram Madonna, e Xena: a Princesa Guerreira, entre outros famosos.
Quando a renda da PolyGram se somou às da MCA e da Universal, os Bronfman se tornaram donos do quarto maior império dos meios de comunicação, com renda anual em torno dos doze bilhões de dólares. Grupos como esses Bronfman, detentores da mídia mundial, realmente controlam os Estados Unidos e o mundo. Os Bronfman podem até se dar ao luxo de financiar simultaneamente dois candidatos à presidência dos Estados Unidos. Nas eleições americanas, nas quais Bush venceu, eles doaram a ambos os partidos, quantias praticamente iguais, o mesmo ocorrendo, evidentemente, agora durante a disputa Obama vs McCain.
Além de traficar bebidas e alucinógenos, a whiskey family está envolvida no controle da mídia internacional e a serviço da política dos Rothschild, com o apoio do Clube Bilderberg e da B'nai B'rith, que também é dirigida por Edgar Bronfman. Eis o sinistro tripé, a base da estrutura do poder da chamada Nova Ordem Mundial.
Samuel Bronfman (o terceiro da esquerda para a direita) reunido com líderes judeo-sionistas em Jerusalém, em 1956.
A expressão Nova Ordem Mundial é usada freqüentemente para referir a distensão e a reorientação das relações internacionais do pós-Guerra Fria mas, em realidade, esse nome refere o insidioso processo de despersonalização dos povos que eclodiu ao final do século XIX e, mais especificamente, a Grande Onda: esse avassalador movimento em escala gigantesca, de perversão e decadência da nossa Civilização, surgido nos EUA, já na década de 1950, e avançando pelo mundo afora.

Agentes de perversão e corrupção social
No caso dos Bronfman, à custa de quais maquinações teriam alcançado eles tamanho poder e fortuna? Sem dúvida alguma, através do sofrimento e da destruição da vida de milhões e milhões de famílias em todo o mundo. Agora contam também com os lucros astronômicos provindos de suas mega produções "artísticas", as quais seguem influenciando, de forma mórbida e perversa, outros tantos milhões de crianças e adultos em todo o mundo, tendo como protagonistas, "artistas" por eles patrocinados, que estimulam insistentemente o consumo das drogas. Com isso, lograram alastrar pelo planeta, o vício, a autodestruição e a mediocridade, atuando como perfeitos agentes dessa cabala de devassidão e degradação da humanidade.
Estima-se que cerca de 90% da população adulta do planeta, ou seja, aproximadamente cinco bilhões e meio de seres humanos, bebam álcool com alguma freqüência, sendo que aproximadamente 50% já apresentam problemas temporários devido a esse vício, e 10 a 15% são alcoólatras crônicos. O alcoolismo social é uma insidiosa forma de dependência, tolerada por quase todos e praticada pela maioria dos jovens e adultos nas sociedades "modernas e liberais", sendo a mais disseminada e a principal forma de toxicomania da atualidade.
Durante cinqüenta anos, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, acompanharam a vida de seiscentos homens para identificar as causas do alcoolismo, e o resultado está em The Natural History of Alcoholism Revisited (Cambridge, 1995) de George Eman Vaillant, com base na pesquisa da qual ele foi coordenador por duas décadas. Eis algumas de suas conclusões:
A minha principal convicção hoje é que o alcoolismo é um problema de dimensões trágicas ainda sub-dimensionadas. Em relação ao álcool, nenhuma medida efetiva vem sendo tomada. Só que, do ponto de vista da sociedade, o alcoolismo é um problema muito grave. Seu maior dano é a destruição de famílias inteiras. Para citar um só exemplo: nos Estados Unidos, 50% de todas as crianças atendidas nos serviços psiquiátricos vêm de famílias de alcoólatras. E grande parte dos abusos cometidos contra crianças têm raízes nesse vício. Sem sombra de dúvida é uma doença, resultante de um cérebro que perdeu a capacidade de decidir. Os japoneses têm um provérbio que diz: "Primeiro o homem toma uma bebida, e depois a bebida toma o homem." O indivíduo alcoólatra é alguém que perdeu a liberdade de escolha.
O alcoolismo relacionado à violência urbana e doméstica, aos acidentes de trânsito e de trabalho, e ainda, às inúmeras doenças é, atualmente, na maior parte do mundo, um dos maiores problemas no que diz respeito à saúde pública. Os gastos decorrentes do uso do álcool e de outras drogas estão entre os mais expressivos dessa área da administração pública. Para se estimar esses valores, as pesquisas têm se pautado, principalmente, nos custos com tratamento médico, na perda de produtividade dos trabalhadores consumidores de drogas e nas perdas sociais decorrentes de milhões de mortes prematuras.
Em 1997, o alcoolismo ocupava o quarto lugar no grupo das doenças que mais incapacitam. Os transtornos mentais associados ao uso de substâncias psicoativas, como as Psicoses e Síndromes de Dependência de álcool e de outras drogas, são o primeiro motivo de internações psiquiátricas.
Segundo pesquisa realizada pelo NIAAA – National Institute on Alcohol and Alcoholism Abusive, dos Estados Unidos, o consumo abusivo e persistente de álcool é uma importante causa de morbidade, um fator verificado em 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 70% dos assassinatos, mais de 30% dos casos de suicídio e 44% dos roubos ocorridos no país (ALCOHOLALERT, 1997). Pesquisas ainda comprovam que  70% das vítimas fatais de acidentes de trânsito haviam consumido álcool, isso se não for em época de datas comemorativas como carnaval, Natal, ou a passagem de ano, as quais registram índices ainda maiores.
Para se ter uma idéia, no Brasil os gastos decorrentes direta ou indiretamente do alcoolismo, atingem a marca dos cento e oito bilhões de dólares por ano, ou seja, 7.9% do Produto Interno Bruto do Brasil. E nos Estados Unidos, conforme informações do NIAAA, a cifra chega a cento e noventa bilhões ao ano.
O mais alarmante é a tendência mundial que aponta em direção ao início cada vez mais precoce da dependência de drogas e álcool por parte de crianças e adolescentes. No Brasil, servem de referência os estudos realizados, desde 1987, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) sobre o uso de drogas por estudantes de 1º e 2º graus, e crianças e adolescentes em situação de rua. O último levantamento do CEBRID, realizado em 1997, revela que o percentual de adolescentes que já consumiram drogas entre os dez e os doze anos de idade é altíssimo: 51.2% usaram álcool; 11% usaram tabaco; 7.8%, solventes; 2% ansiolíticos e 1.8% já se utilizaram de anfetaminas. Nas dez capitais pesquisadas, cresceu a tendência para o uso constante de maconha entre crianças e adolescentes. O uso freqüente de cocaína e de álcool também aumentou em seis capitais. Quanto ao uso pesado de drogas, isto é, vinte vezes ou mais ao mês, também foi constatado um aumento nas dez capitais para a maconha e, para o álcool, em oito capitais. A situação agrava-se entre as crianças e adolescentes que vivem nas ruas.
É essa a perversa "arte" dos Bronfman que, ao mesmo tempo em que lograram a proeza de diminuir "magicamente" o tempo de envelhecimento do uísque para dois dias, lograram também diminuir drasticamente a qualidade e o tempo de vida de milhões e milhões de seres humanos e de suas famílias pelo mundo afora.
O alcoolismo é um dos mais graves e dramáticos problemas da nossa sociedade. O álcool é uma droga como a heroína e a cocaína; vicia, degenera e altera o estado mental das pessoas, levando-as a atos insensatos, violentos e até a cometer crimes. É um escândalo que as bebidas alcoólicas não sejam combatidas, mas sejam glamorizadas, e o seu uso incentivado no convívio social. A abstinência do álcool é considerada praticamente impossível frente aos perversos estímulos e armadilhas da publicidade e da propaganda; e os responsáveis por essa perversidade, são justamente os meios de comunicação social que, infelizmente, estão nas mãos daqueles mesmos agentes que destilam, fermentam e distribuem em escala mundial, o álcool, o vício e a decadência.3 

NOTAS:
1 O tráfico de mulheres brancas e de entorpecentes, a prostituição em larga escala, devidamente industrializada, é obra reconhecidamente judaica. Há uma sociedade internacional denominada Zwig Migdal, que explora esse rendoso negócio e contra a qual têm sido impotentes todas as polícias dos países corrompidos, ou judaizados e "liberais". Ver a documentação reveladora em Julio Alsogaray, La prostitutión en Argentine, Editora Denoel et Steele, Paris.
2 Jeffrey Bronfman, o cínico lobista e descarado traficante de alucinógenos, lança os seus tentáculos por todo o mundo, aliciando jovens e adultos numa rede internacional de cretinos lobotomizados e de ladinos agentes disfarçados como desapegados "ambientalistas" e defensores de "novas religiões" e "seitas primitivas". Repare no que esses estranhos mentores andam tramando sob o negligente olhar das autoridades, ou com a cínica cumplicidade de alguns políticos em Brasília: "Nutrindo as raízes"...
Esses "mentores" vão arrebanhando uns pobres mamelucos e índios completamente desenraizados, e depois de lhes ensinarem ridículos arremedos de "pajelanças" e de falsos rituais, vão convencendo, desde ingênuos adolescentes de classe média, até crédulos e distraídos universitários que, através do consumo de umas certas ervas e plantas alucinógenas, poderiam receber, entre vômitos e arrotos, "antigos saberes e profundos segredos transcendentais ocultos no seio da floresta"... e o "ministro"...
3 Ainda hoje a pequena e a média burguesia e uma certa classe média universitária, dita de esquerda, ou "bem pensante", teimam em negar o óbvio escancarado e fingir que não lhes diz respeito a orquestrada decadência da nossa sociedade.

AVISO:
O artigo acima, Os Bronfman, não é de minha autoria, é um resumo de notícias e comentários sobre essa família de judeus russos, já divulgados por vários autores e em vários sites, alguns com opiniões e posições bastante diferentes das minhas. As informações sobre as atividades dos Bronfman, e de outros agentes judeo-sionistas, encontram-se em textos e artigos publicados e citados em livros, revistas e jornais de todo o mundo, e em inúmeros sites e blogs da internet e em vários idiomas sendo já, portanto, como também é esta apresentação, matéria e assunto de domínio público.
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Sacrifício às divindades do capital


Na guerra das bombas que explodem corpos assim como na guerra da economia, que explode vidas candidamente, os administradores das tragédias usam siglas inexplicáveis para justificar os motivos de tanto sacrifício.  Enquanto ao povo grego é imposta a falência e a miséria para “salvar” a nação, o novo governo técnico da Itália - que deve governar por período limitado, até as novas eleições -,   aprova decretos e pacotes severos de medidas para “livrar” o Bel Paese da crise econômica. Na Itália como na Grécia, e onde mais haja  preço alto a pagar, quem dá os mortos, como nas guerras, são os trabalhadores e seus filhos. “Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo quem conta os mortos”, escreve Eduardo Galeano.
O início de 2012 no país de Dante Alighieri e Michelangelo foi assinalado pelo despreparo para enfrentar o intenso frio que isolou comunidades e agravou o problema da energia.  Mas a população não sentiu apenas o peso do rígido inverno, que não poupou a mediterrânea Itália, fazendo gente do povo até duvidar das atemorizantes previsões  sobre o aquecimento global.  No contexto de novas pressões fiscais, demissões e aumento do desemprego, um drama bem menos divulgado pela mídia também golpeia a sociedade: o suicídio de trabalhadores e pequenos empresários,   que escolhem a morte à perda do trabalho e à bancarrota. Na Itália já se contam às dezenas os que sucumbiram ao desespero, afundados na lama de uma  crise que não nasceu da noite para o dia, tal qual meteoro catapultado do espaço sideral, como querem fazer crer os “metafísicos das finanças”, cujas vozes são apregoadas  pelos meios de comunicação  públicos e privados. 
Economista que sustenta o mercado, as liberalizações e o rigor das contas públicas, Mario Monti (professor e presidente da Bocconi, prestigiosa universidade privada italiana) substituiu, sem eleições, o descarado Silvio Berlusconi. Desde então, ele, seus ministros  e  assessores usam, para explicar as medidas de austeridade,  uma   terminologia  que Beppe Grillo (ator, ativista político e um dos blogueiros mais ‘visitados’ no mundo virtual) chama de “metáfisica da economia”, ou “metafisica das finanças”. Enquanto proliferam palavras sigladas na arte de produzir ilusionismo, providências inflexíveis  afligem os empregados - com congelamento salarial e aumento dos já pesados impostos, só para citar duas - e desesperam  os que  nem um trabalho tinham quando a crise foi finalmente admitida por governantes que até um dia antes asseguravam a solidez da  economia italiana.  Atingidos em cheio são os  trabalhadores jovens e velhos, os recém demitidos, a juventude desempregada (que nunca conseguiu um trabalho de verdade e vive de fugazes atividades precárias)  e, dulcis in fundo,  os aposentados.
O presidente da república, Giorgio Napolitano, em seu discurso para saudar a população no início do ano, reprisou a necessidade de enfrentar a crise aliando rigor financeiro e desenvolvimento, sempre com “espírito de sacrifício” e “ímpeto criativo”. Aparentando serenidade, Napolitano não poupou as arrogâncias nacionais do velho continente, lembrando ser indispensável um esforço conjunto de todos os países europeus para a recuperação da economia. Reiteirou, contudo, que a confiança não deve ser obscurecida pelo pessimismo e que nenhuma classe social pode se eximir do preço a pagar para o saneamento das contas públicas.
Napolitano denunciou o parasitismo, a corrupção e outra grave “patologia italiana”: a evasão fiscal, estimada em cerca de 180 bilhões de euros, em 2009, segundo dados de Tax Researh London, a pedido do grupo parlamentar europeu Alleanza Progressista dei Socialisti e dei Democratici. A recuperação desse valor evadido garantiria, nos cálculos de economistas, zerar a dívida pública italiana em pouco mais de 15 anos.
Decisões tomadas neste início de março para conter os chamados “salários de ouro” - de até  600 mil euros por ano, no caso de alguns altos dirigentes -   fixam um teto de 300 mil euros anuais para o salário de administratores públicos, mas  soam risíveis diante da situação dos trabalhadores empobrecidos. Além de os italianos receberem salários entre os mais rebaixados da zona do euro, neste início do ano já dispara o alarme do aumento do desemprego no país, que alcançou em janeiro, segundo o Istat (Istituto Nazionale di Statistica) o índice geral de 9,2% e o ápice de 31,1% entre os jovens.
Mas não é do patrimônio dos endinheirados que sai a obrigatória cota de privações que tanto Monti como Napolitano anunciam como única forma de “salvezza” do país. Enquanto a criação de um imposto para taxar as grandes fortunas aparece apenas em discursos políticos, mais uma vez, para a salvação da economia dos ricos, impõe-se aos pobres e remediados o sacrifício de suas vidas às divindades do capital.   É dos pobres, que têm pouco, mas são muitos, que se exige imolação para o pagamento de uma crise que nasce das entranhas do sistema capitalista.
Salvação dos bancos
As medidas de austeridade atiçam as classes populares, sabedoras de que a corda arrebenta sempre em suas mãos. Espicaçam também os ânimos de políticos jovens e maduros de todas as cores políticas.  Fabrizio Frosio, do Partito delle Aziende, Piccole e Medie Imprese (PDA), em carta aberta publicada no início do ano, denunciao suicídio de pequenos empreendedores e dispara:    “Incomodou-me  e chocou-me verdadeiramente a notícia de que a BCE (Banca Centrale Europea) coloque à disposição dos bancos europeus, a um custo próximo do zero,  mais de 400 bilhões de euros, que depois são vendidos a taxas usurárias aos comuns mortais e às pequenas empresas ainda ‘vivas’”. Frosio faz um apelo para que os italianos se rebelem contra as rapinas feitas “sem capuz” por instituições bancárias, seguradoras e organizações voltadas à recuperação forçada e desumana, que está levando a numerosos suicídios: “Basta  de bancos sem escrúpulos e cheios de cadáveres e sobretudo basta com as estratégias do grande ‘culto’ (aqui se refere a Monti), que, no final das contas,  se revela somente um ‘pobre homem’, rico apenas de poder e falsos amigos a salvaguardar.”
No último dia de fevereiro deste ano bissexto chegou  a notícia de que o Banco Central Europeu acabara de entregar a instituições bancárias  um total de 529,5 bilhões de euros, a uma taxa de 1%,  em 36 meses. Desse máxi empréstimo, do qual 139 bilhões terminaram nas mãos de bancos italianos, reclama  Antonio Di Pietro, líder do partido Italia dei Valori e crítico assíduo do governo técnico de Monti,  que, segundo ele, está se tornando “o governo da propaganda, de modo sóbrio,  mas mortal'. 
“Chega de favorecimentos aos bancos”, protesta Di Pietro, lembrando  que  se trata do segundo empréstimo de grande monta oferecido ao sistema bancário no prazo de dois meses.  O precedente, concedido em 21 de dezembro de 2011, foi de 489 bilhões de euros, dos quais um quarto do valor destinou-se a bancos italianos. Di Pietro destacou-se por sua liderança como magistrado e procurador da república no processo judicial que ficou conhecido como “Mani pulite” (Operação Mãos limpas). A investigação judicial, de grande amplitude, desencadeada nos anos 90, averiguou um devastador sistema de corrupção, financiamentos e atos ilícitos ligado ao mundo político e financeiro italiano, batizado de Tangentopoli” (“tangenti” eram propinas cobradas para conseguir  empréstimos, ganhar licitações ou fazer qualquer operação envolvendo valores ilegais).
Foram denunciados no processo ministros, deputados, senadores, empresários e até um ex primeiro ministro. Partidos históricos como Democrazia Cristiana desapareceram, políticos e industriais incriminados chegaram a cometer suicídio e os efeitos foram de tal envergadura a ponto de se  considerar que “Mani pulite” teria sido responsável pelo fim da Primeira República Italiana.
Sobre os empréstimos concedidos aos bancos no auge da crise atual, Di Pietro  declara,  no seu blog: “Este dinheiro deveria servir ao país e ao seu crescimento, não aos banqueiros e suas especulações. Os banqueiros já  embolsaram outro empréstimo multimilionário, especularam fartamente e encheram os bolsos às custas do Estado, deixando no desespero empresas e famílias que necessitavam de algum pequeno empréstimo.  O governo Monti tem o dever de impedir que este “joguinho” prossiga. Se aos bancos italianos são concedidas  essas vantagens excepcionais, eles têm que assumir a obrigação de usar os bilhões para impulsionar a Itália e não para se recapitalizarem”.
Em dois anos, segundo dados da CISL (Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori), 120 mil empreendedores artesãos e trabalhadores autônomos tiveram que fechar o batente. A estimativa é de que 60 mil empresas faliram, registrando um aumento de insolvência de 53% relativamente a 2008. Recentemente, em “L’UltimaParola”,  programa de debate político apresentado por Gianluigi Paragone e  transmitido pela  Radio Televisione Italiana (RAI) compareceu um dos invisíveis desta tragédia. O homem, desempregado, contou que não consegue mais um trabalho e já chegou ao fundo do poço. De tudo o que possuía, só conseguiu preservar seu velho automóvel, onde agora vive com a mulher e um  filho adolescente.     
Fim da linha

O ano de 2012 começou de forma trágica para muitas famílias italianas, feridas pela tragédia do suicídio de seus caros. Os desesperados que deram um fim à própria vida são predominantemente do até então próspero norte, mas também do já espremido sul. Somente nos primeiros dias de janeiro registraram-se 12 suicídios.  São emblemáticos casos como os ocorridos na meridional Trani, encantadora cidadezinha da Puglia, onde um homem de 49 anos se enforcou no depósito de sua empresa de climatizadores. Ao norte, em Gaggiano, na Lombardia, um eletricista de 64 anos, proprietário de uma pequena atividade, deu um tiro na cabeça. O que aparentemente levou os dois homens ao gesto extremo, segundo relatos da imprensa, foi a situação insustentável causada pela  pressão das dívidas e a certeza da  falta de saídas a curto prazo.
Talvez o que explique a decisão desses pequenos homens de negócios se suicidarem seja o fato de que eles eram, ao mesmo tempo, empregadores e operários. Frequentemente, seus empregados eram velhos conhecidos, que com eles conviveram  uma vida inteira, muitas vezes morando  no mesmo bairro ou até na mesma rua. Por isso, para esses pequenos empregadores, tomar a decisão de demitir não significa cumprir um rito impessoal, um gesto corriqueiro num mercado sem rosto humano.
No artigo “Gli imprenditori suicidi caduti sul lavoro”, publicado no jornal Corriere della Sera,   Dario Di Vico, autor do livro Piccoli -  La pancia del paese (Editora Marsilio, 2010), julga que é preciso considerar os pequenos empresários e artesãos que se suicidam como “caídos do trabalho”, aos quais se deve todo  o reconhecimento público. “Eles merecem pelo menos que as associações honrem sua memória, como se faz, justamente, em relação a um grande número de operários que terminam cruelmente seus dias na fábrica, esmagados por uma máquina ou intoxicados por algum veneno.”
Lendo as magras biografias dos suicidas, o jornalista – também autor de “Industrializzazione senza sviluppo” e “Profondo Italia” - descobriu que alguns deles já haviam sofrido golpes violentos em família ou na comunidade.  “O individualismo tinha se transformado, de poderoso fator de mobilização de energia, em nua e crua solidão”, avalia Di Vico.
Giuseppe Nicoletto, Paolo Trivellin, Walter Ongaro e outros “caídos do trabalho” citados por Di Vico em seu artigo, representam “casos de empreendedoria corajosa e batalhadora que o mercado conheceu dia a dia, na sua versão mais realista e seletiva,  e não naquela visão teórico-acadêmica que se pode encontrar em manuais de management.”
Geralmente, trata-se, na análise do autor de “Piccoli”, de ex-operários que, com muito sacrifício, tinham criado sua própria empresa e que, na nova condição de “patrões” não tinham esquecido o mundo e os sentimentos dos quais provinham.  E os dados sobre o emprego e a conjuntura econômica italiana parecem provar isso, reputa  Di Vico: “Os ‘Pequenos’, em toda Itália,  cortaram os postos de trabalho em proporção mínima em relação a quanto suas empresas perderam em termos de lucro no horribilis 2009.  A redução de   30%  (que é a média registrada para o período) nunca se tornou 30% a menos de empregados.”
Até o fim, descreve o jornalista, “os artesãos se recusam a dispensar seus próprios colaboradores, até chegarem, alguns, ao trágico paradoxo de se matar antes de demitir alguém com quem assumiram um compromisso na condição de empregadores. O famoso ‘pacto social’, termo que nunca falta nos discursos preparados pelos  ghost writer, os Pequenos  defendem assim. Com a própria pele.”
Conforme o autor, o que deve ser aclarado e apreendido a partir desses tristes fatos é que, nos vários sistemas de valores que existem nas sociedades modernas, alguns dominam a opinião pública, se afirmam em sua hegemonia e ditam estilos de vida.  Outros, ele conclui, “permanecem ocultos, são invisíveis aos demais ou objeto de ironias levianas, mas conservam teimosamente a coerência dos seus códigos de honra”.
É por isso que, para Di Vico   não  foi  excesso de trabalho que matou os Trivellin e os Ongaro: “O que  matou esses filhos de um calvinismo menor, e pelo que devem ser respeitados e recordados,  foi  excesso de ética”.
Bancarrota e suicídio

No cenário de falências, a setentrional Lombardia aparece na frente, seguida pelo Vêneto. A quebradeira atinge principalmente pequenas empresas, em grande número da área de construção civil. Do total, 75% dos empresários obrigados a fechar as portas tinham um volume de negócios não inferior a dois milhões de euros antes da crise, segundo estimam alguns institutos de pesquisa.    
A decadência econômica aparece relacionada com episódios de suicídio, revela uma pesquisa do Eures, relativa ao ano de 2009 e divulgada em janeiro de 2012. Entre os desempregados, pequenos empresários arruinados e aposentados empobrecidos uma constatação dolorosa emerge: um suicídio por dia.
De acordo com o instituto de pesquisas econômicas e sociais já  havia, na Itália,  desde 2009, um aumento significativo de suicídios (da ordem de 5,6% relativamente ao ano de 2008),  por motivos econômicos, e principalmente entre os homens, mais frágeis diante da perda do trabalho.  Foram registrados 2.986 suicídios ao longo daquele ano em que a crise econômica não se apresentava ainda em toda a  gravidade atual.  
A incidência entre os homens foi de 78,5% contra o percentual de 21,5% na população feminina, o índice mais alto registrado nas últimas décadas. Aparece, também, em constante aumento, nesta pesquisa, a predominância masculina entre as tentativas de suicídio. Segundo o Eures, o que parece caracterizar o fenômeno é a sua relação com o aumento do desemprego. Entre os suicidas de 2009, um total de  357 estavam sem trabalho.
Em termos relativos se evidencia o fato de que ter sido expulso do mercado de trabalho constitua um fator de impulso ao suicídio, pois se registraram 18,4 dos suicídios a cada 100 mil desempregados, contra 4,1 entre os que ainda estavam trabalhando quando puseram termo à própria vida.   

Também aponta uma conexão direta entre o fenômeno e a crise o fato de que  2009 registre o índice mais alto da década (198 casos, com um crescimento de 32% em relação a 2008 e de 67.8% relativamente a 2007). Em termos relativos, a pesquisa mostra que os suicídios por motivos econômicos chegam a representar, naquele ano, 10,3% do fenômeno, contra 2,9% registrados no ano 2000, pelos mesmos motivos. E este problema humano demonstra ser avassalador entre os homens, confirmando como a perda do papel social e da identidade como trabalhador possa golpear de modo fatal o mundo masculino.

Sem meias verdades 

A crise que se aprofunda fere também sem piedade o mundo feminino, atingindo, entre tantas mulheres, operárias que produziam míticas meias de seda que alimentaram o imaginário de gerações de italianos.   Dois dias depois do último natal, cerca de 250 trabalhadoras da Omsa, fábrica localizada em Faenza, na Emilia Romagna,  foram presenteadas, através de um fax, com a notícia da demissão.  As mulheres foram comunicadas de que, em  março de 2012, escancaram-se para elas as portas do desemprego. O estabelecimento industrial vai ser transferido para a Sérvia, onde os custos de produção são mais baixos e o operariado local submetido a um regime de exploração ainda maior. 
O otimismo que as trabalhadoras mantinham aceso apagou-se depois que as negociações fracassaram e elas ficaram diante da opção que a empresa lhes ofereceu: ficar em casa ou  transferir-se para a Sérvia, sujeitando-se às condições trabalhistas degradadas no país balcânico que a fábrica escolheu para aumentar seus lucros.
Alcançando rapidamente apoio público, as operárias lançaram na Web um apelo ao boicote da empresa, que, através de um comunicado, defende-se, alegando o princípio da “liberdade de empresa”. A Omsa argumenta que o fechamento do histórico estabelecimento de Faenza se deve à agressiva competição dos países com baixo custo de produção, que acolhem os empreendedores estrangeiros com uma cascata de incentivos econômicos.
Autor do livro “Mani bucate” (Editora Chiarelettere, 2011), o jornalista  Marco Cobianchi explica que a concorrência não é mais entre empresas livres, mas entre estados nacionais que se enfrentam com golpes de incentivos e subsídios. Ele afirma que não somente o menor custo do trabalho, mas sobretudo a chuva de subsídios, impensáveis em qualquer país da zona do euro, atraem as empresas para países como a Sérvia.  Cobianchi, que também escreveu “Bluff, perché gli economisti non hanno previsto la crisi e continuano a non capirci niente” (Orme Editore, 2009), lembra  que o motivo da Omsa é o mesmo que levou as empresas  Fiat, Generali, Intesa Sanpaolo, Unicredit, Benetton e Fantoni a se transferirem  para a Sérvia: os incentivos estratosféricos oferecidos pelo governo daquele país.
Em "Mani bucate", que Cobianchi apresenta como a primeira investigação sobre empresas mantidas com a ajuda do Estado -   há uma lista de  todos os incentivos que a Fiat obteve quando decidiu reabrir a sua “histórica” fábrica em  Kragujevac, o que causou, de fato, o fechamento do estabelecimento de Termini Imerese, na Itália. Ele escreve: “Precisei de três páginas de "Mani bucate"  só para per elencar  os títulos dos incentivos sérvios à Fiat, que,  sintetizando, tratam-se de isenções fiscais que vão dos   cinco mil  aos dez mil  euros anuais para cada vaga de trabalho criada no país (incentivo que também foi oferecido à  Omsa); una “free zone” que permite a importação dos pré-fabricados necessários para produzir os carros sem praticamente pagar taxas; nenhum imposto ao município de Kragujevac por dez anos; terrenos gratuitos para o conjunto de pequenas atividades industriais e comerciais que se desenvolverem em torno do grande complexo; vantajosos acordos comerciais firmados pela Sérvia com a Rússia, União Europeia e Estados Unidos que permitem exportação dos produtos para toda aquela área sem pagar taxas.”
As isenções fiscais de cinco a dez mil euros para cada emprego criado faz com que o custo da mão de obra, nos 12 primeiros meses, seja praticamente zerado, considerando que o salário médio de um operário sérvio é de cinco a seis mil euros por ano. E isso não é tudo, pois entre as  vantagens há também a isenção por dez anos de impostos sobre os lucros para investimentos superiores a sete milhões de euros ou para  empresas  que abram frentes de trabalho para 100 novos empregados.  
Enquanto isso, como denunciam sindicatos de trabalhadores, as regiões italianas nada fazem  para evitar a ida das empresas para fora. Na Emilia Romagna, onde se localiza a Omsa, sequer foi discutido um projeto de lei de 2010, que previa  punição para as que fossem  embora,  revogando incentivos retroativos até dez anos.Enquanto a proposta não sai da intenção e empresas emigram, contraditoriamente, multiplicam-se, patrocinados pela própria região, encontros e seminários. Os eventos servem para esclarecer como é conveniente, por exemplo,  “fare business” na Sérvia, onde investimentos diretos gozam de até 25% de financiamentos do governo a fundo perdido. Além disso, outra vantagem é o livre comércio entre a Sérvia e o trio Rússia-Bielorrússia-Czaquistão (170 milhões de pessoas), que permite exportar para aqueles mercados somente pagando reduzida taxa alfandegárias de 1%.
Brigadas teatrais

Nesse cenário de perdas e danos para os trabalhadores, as  operárias  da Omsa não esperam de braços cruzados a  data do desemprego coletivo e a atual promessa de  “cassa integrazione” (algo semelhante ao salário desemprego),  por seis meses. Além de  desencadearem uma mobilização em todo o país, através da internet, as operárias ousaram experimentar uma nova forma de luta. Abriram uma frente cultural para suas manifestações, através do teatro de rua e de um documentário.
As brigadas teatrais Omsa se comunicam com meia Itália. Vestidas de vermelho, elas expressam sua dor enquanto combatem, encenando o documentário “Licenciata!” (“Desempregada!”), nascido de sua experiência teatral.  Mulheres que passaram mais de 23 anos confeccionando e controlando a produção de meias,  entre as paredes da fábrica, agora percorrem estradas reais e virtuais, disseminando sua luta. Uma delas denuncia: “Eles vão para a Sérvia porque querem ganhar mais dinheiro, e pouco se importam com quem, sem lamentar-se, fatigou duramente 20 ou 30 anos. E talvez seja este o problema: sempre trabalhamos sem dizer nunca nada”.
Com o teatro, as trabalhadoras conversam com sua gente no meio das ruas, e com o documentário (já inscrito para concorrer ao prêmio  “Doc in Tour 2012 Emilia-Romagna”), alcançam o mundo.  Outra das operárias, que como as demais nunca havia feito teatro,   assim expressa o momento que está vivendo: “Você não é ninguém, 20 anos de sacrifício e permanece sendo apenas um número, aprisionado no braço da ‘morte’.” Ela se refere à   ‘morte civil’  dos que, fora do mercado de trabalho, nada mais contam. São apenas supérfluos.

Vozes do alto

Em outras partes do Bel Paese homens levantam a voz para defender seu trabalho.  No Aeroporto Leonardo da Vinci de Roma, em Fiumicino, pelo menos mil trabalhadores correm o risco de perder o trabalho, segundo denunciam os sindicatos de categoria. A arriscar a pele são os que atuam na Divisione Tecnica Alitalia, por causa de uma controvérsia ligada a trabalhadores da Argol, organização que desde 1994 se encarrega da movimentação de componentes aeronáuticos e  da logística relacionadas à operação da companhia aérea Alitalia.
Stefano Monticelli, secretário regional da Filt-Cgil (Federazione Italiana Lavoratori Trasporti)  declarou à imprensa que se está diante de uma incongruência: enquanto o aeroporto de Fiumicino assinala um constante crescimento, os trabalhadores vivem diante da ameaça concreta de demissões e precarização. Os dirigentes sindicais ligados ao setor entendem que este problema localizado é apenas a ponta do iceberg de uma situação mais alarmante, relacionada ao desrespeito de cláusulas sociais, o que coloca em perigo também  4500 trabalhadores da Alitalia, atualmente em “cassa integrazione”, e aos quais poderia não ser garantida a recolocação. La “cassa integrazione” é uma ajuda econômica às empresas em dificuldades por parte do governo, que substitui o empregador no pagamento do salário de trabalhadores ou complementa o salário de operários que trabalham em horário reduzido.
O que também preocupa os trabalhadores italianos é que os seus contracheques,  segundo estudos do Eurispes, relativos a 2010, estão entre os mais rebaixados da Europa. Entre 30 países, a Itália ocupa o 23º lugar, com um salário médio anual de 21.374 dólares, superando países como Portugal (19.150 dólares por ano). Na classificação da Ocse (Organizzazione per la  Cooperazione e lo Sviluppo Economico) entre os dez primeiros classificados  se encontram : Coreia do Sul (39.931 dólares anualmente), Reino Unido (38.147), Suiça (36.063), Luxemburgo (36.035), Japão (34.445), Noruega (33.413), Austrália (31.762), Irlanda (31.337), Países Baixos (30.796) e Estados Unidos (30.774).
Comparativamente com outros trabalhadores europeus, os italianos recebem um salário 44% inferior ao de um  inglês e 19% mais baixo do que o de um grego. Enquanto os empregados sentem o peso dos salários rebaixados, a pior situação é vivida pelos que não têm nenhum trabalho.  Conforme registro do Istituto di Statistica Nazionale, o desemprego, em janeiro de 2012, atingiu a marca de 9,2%, o  pior índice desde 2004.   A condição mais penosa  é a dos jovens: um deles, a cada três em busca de trabalho,  não consegue uma ocupação. Para agravar o problema, as novas regras aprovadas no governo Monti, relacionadas à aposentadoria, aumentam o tempo de serviço, forçando os  mais velhos a ficarem mais tempo no mercado de trabalho.
Na Itália, mandar um trabalhador para a rua não é tão difícil como em países do norte europeu, como a  Alemanha, por exemplo, onde hoje é possível demitir somente por  justa causa. E deve ficar ainda mais fácil se forem aprovadas as reformas trabalhistas propostas pelo governo técnico, como a mudança do Artigo 18 do Statuto dei Lavoratori.  Tal artigo garante que a demissão é válida apenas se acontece por justa causa ou motivo justificado. Se faltarem tais pressupostos, um juiz do trabalho declara a ilegitimidade do ato e ordena a reintegração do trabalhador na mesma função que ocupava antes.
A mudança que o governo Monti propõe prevê que trabalhadores  contratados por tempo indeterminado teriam que passar por um período probatório de seis meses, no qual não seriam tutelados,   segundo o que assegura hoje o artigo 18 (reintegração no posto de trabalho e ressarcimento por danos causados em caso de demissão discriminatória).
Isso significa que durante os seis meses probatórios o empregador poderia livremente demitir sem justa causa ou por motivo justifificado. De modo que, sem as garantias do Artigo 18, os demitidos não mais poderiam dirigir-se ao juiz para obter reintegração ou qualquer ressarcimento. Outra grave mudança, mesmo para os que viessem a superar os seis meses de prova, é que a empresa teria a faculdade de demitir por motivos econômicos ou de organização, pagando apenas uma indenização compatível com o tempo de serviço. Só ficariam livres deste perigo os contratados por tempo indeterminado e já tutelados pelo artigo 18.   
Enquanto no outro lado do oceano, nos Estados Unidos, um empresário pode mandar embora um empregado sem nenhum problema e sem ter qualquer obrigação de reintegrá-lo,   o professor Monti avança no processo de flexibilização das relações de trabalho na  Itália.  E, para chegar a isso, parece contar com um aliado importante: o presidente da república Giorgio Napolitano.

O governo garante que vai ouvir os representantes dos trabalhadores, separadamente, mas já deixou claro que decidirá sozinho, sem aceitar vetos. Susanna Camusso, líder da Cgil (Confederazione Generale Italiana del  Lavoro), em manifestações públicas e declarações à imprensa, tem sido categórica: “No artigo 18 não se toca, sobre este ponto nós não negociamos.” Em encontro com a ministra do Trabalho, Elsa Fornero, a sindicalista disse que a central está disposta a dialogar, desde que o artigo 18 permaneça intocado, pois se trata de uma conquista histórica para salvaguardar os direitos dos trabalhadores e impedir  demissões.
Horror econômico

A luta de homens e mulheres para preservar seu trabalho, o drama dos demitidos de todos os cantos, o desespero dos desempregados, as mortes dos “caídos por excesso de ética”, assim como as incontáveis batalhas perdidas por  trabalhadores em todo o mundo,  fazem pensar no  “horror econômico”,  expressão criada pela escritora francesa Viviane Forrester,.  Ela é autora de numerosos livros, entre eles  “L’Horreur Economique”, publicado  em 1996, e que em poucas  poucas semanas foi  comprado por mais de 160 mil pessoas. Traduzida em várias línguas, a obra figurou entre as mais lidas naquele ano, tendo sido erguida como uma bandeira por operários e desempregados em suas manifestações.
Forasteira no mundo dos “metafísicos da economia”, a escritora retrata, no seu denso ensaio sobre o “horror econômico” que massacra os viventes,    a angústia da exclusão através do olhar dos desempregados.  Deve-se lembrar, escreve a autora de “Uma estranha ditadura” e “O crime ocidental”,  como é “pouco importante a sorte das almas e dos corpos camuflados nas estatísticas e usados apenas como um modo de calcular.”
Ao desvelar, com seu texto contundente, a globalização da pobreza, Viviane Forrester faz tremer quando  nos leva a  constatar que já se superou a fase da  exploração do humano gênero até a última fronteira da miséria. Na ótica das potentes classes dirigentes da economia privada,  já foi ultrapassado o limiar insustentável em que a multidão de deserdados é  simplesmente considerada supérflua.
 
“Não subalternos nem reprovados: supérfluos E por essa razão, nocivos. E por essa razão...”

Islândia iniciou o julgamento do neoliberalismo

Produzido por The Week,   
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Geir Haarde, primeiro ministro da Islândia em 2008, quando se deu a derrocada bancária no país, está a ser julgado por um tribunal especial. No banco dos réus está pela primeira vez a política neoliberal que originou a bancarrota.

Durante o governo de coligação direitista e social democrata de Geir Haarde, os bancos faliram, a economia entrou em colapso. Mais do que julgar o homem que à frente do governo não conseguiu evitar a dramática situação no pequeno país, os juízes tentam apurar o que se passou e as circunstâncias que provocaram a crise. O tribunal considera que não é possível responsabilizar unicamente o ex-primeiro ministro pelo que se passou.
Da sua acusação constam o facto de não ter feito nada para evitar a debandada dos estabelecimentos financeiros, de não feito com que o banco online Icesave tivesse o estatuto de filial britânica, o que teria permitido transferir o problema da falência para Londres e evitado ao país a realização de dois referendos e a decisão dos islandeses de se recusarem a pagar por dívidas que não são suas. Este problema está actualmente no Tribunal Europeu de Justiça.
Juízes e cerca de 60 testemunhas têm reflectido durante o julgamento – que não é transmitido em directo pela TV mas está a ser seguido por milhares de islandeses através da internet – sobre as causas de uma situação que não surgiu em 2008 por geração espontânea mas sim pela deriva neoliberal a que o governo sujeitou o país.
Em causa estão, principalmente, a privatização das quotas de pesca que proporcionou aos armadores fortunas incalculáveis, um investimento em cascata no estrangeiro, quase sempre com maus resultados, uma privatização desastrosa dos bancos feita frequentemente segundo métodos corruptos e de clientelismo. A este processo seguiu-se uma onda de concessão de créditos bancários sem critérios nem garantias proporcionando, à escala do país, problemas semelhantes aos que se registaram nos Estados Unidos com a bolha imobiliária e o subprime.
Nesta fase, os bancos concederam um volume global de crédito que superou em 11 vezes o PIB islandês; quando o primeiro ministro decretou a sua falência era impossível salvá-los. Além disso, os islandeses não o permitiram e recusaram-se a assumir as dívidas alheias.
A resposta dos islandeses à crise não alinhou pelos caminhos impostos pela União Europeia aos Estados membros, pelo que hoje a Islândia, apesar de sofrer os efeitos de uma forte austeridade económica e de uma acentuada quebra no consumo, conseguiu salvaguardar o Estado social, o desemprego está em sete por cento e as entidades patronais não foram além de limitar o trabalho extraordinário para conseguirem evitar os despedimentos.
Geir Haarde, político direitista e considerado um fundamentalista neoliberal, tem 64 anos e abandonou a carreira política. Incorre numa pena de dois anos de prisão. Mais do que um chefe de governo incapaz de dirigir o país – é a acusação a que corresponderá a pena que vier a ser aplicada – no banco dos réus está a política neoliberal.