quinta-feira, 13 de março de 2008

Anjos das ruas


Pedro Salgueiro
Especial para O POVO
Ao contar uma história de solidariedade, o escritor Pedro Salgueiro abre o questionamento: se uma pessoa de boa vontade consegue salvar uma vida, o que não fariam os poderes estaduais, municipais e federais se tivessem um mínimo de boa vontade?
Silvio Tadeu parecia fazer parte da paisagem de Fortaleza (Foto: Sebastião Bisneto)
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Silvio Tadeu parecia fazer parte da paisagem de Fortaleza (Foto: Sebastião Bisneto)

Faz uns dez anos que perambula pelas ruas de nossa sonsa loirinha descabelada pelo sol um negro alto, cabelos fartos, sujo, roupas em farrapos, às vezes vestida sobre outra já em tiras.
Distingue-se pelo porte altivo, cabeça levantada e pelo quase silêncio que o acompanha: poucos escutam as palavras que pronuncia baixinho, não raro esbraveja com alguém imaginário ou faz estranhos cálculos matemáticos.

Não pede esmola, mas lhe dão dinheiro, roupa e comida; quase sempre redistribui ou deposita as cédulas amassadas e rabiscadas com números em baixo de cones, desses usados em sinalizações de trânsito, e de papelões de outros moradores de rua, nada guarda para o dia seguinte. Come pouquíssimo e toma café e fuma em abundância (que lhe dão sem ele ao menos pedir).

De dia freqüenta os logradouros no centro: Praça Murilo Borges, rua Assunção, praça Coração de Jesus e uma calçada de estacionamento na Duque de Caxias, onde passa a maior parte da tarde acocorado em silêncio; de noitinha vai em direção à Praia de Iracema até a avenida Aquidabã, lá fica também acocorado em uma calçada em frente a um posto de gasolina. Não se sabe onde dorme, como faz suas necessidades fisiológicas, muito menos o que pensa e balbucia em quase preces noturnas.

Cumpre há uma década o mesmo ritual de sempre, dizem que ele faz as mesmas coisas, nas mesmíssimas horas (até para atravessar as ruas é sempre em locais determinados), o exato itinerário, quer faça chuva ou sol: o mesmo porte altivo, o olhar contemplativo de superioridade e paz. Não se apressa nunca, nem altera o semblante; nem se importa se ao seu lado passa uma bela jovem (que quase sempre aperta a bolsa e desce a calçada) ou um outro morador de rua.

Já apareceu em diversos ensaios fotográficos sobre o centro da cidade e foi até personagem de crônica de Airton Monte: faz parte, definitivamente, da paisagem dessa Fortaleza de Todos os Perdidos-Anjos.

Pois bem, acho que cumpriria este seu eterno ritual de perambular pelas calçadas, de se esgueirar pelos becos, de se acocorar pelas calçadas, até o final dos tempos, não fosse a alma enorme e boa do meu colega de repartição (e ex-baixista da banda de regue Rebel Lions) Jânio Alcântara, que puxou conversa, com uma paciência de Santo, com nosso personagem: descobriu o nome de sua cidade natal - Paranapanema, São Paulo) e o nome da mãe, Jandira Aparecida da Cruz (completo e com seu nome de solteira e de casada).

O novo amigo foi a Internet pesquisar e conseguiu falar por telefone com a mãe, uma senhora forte e saudável morando no interior de São Paulo; em poucos dias se encontrava em nossa cidade a mãezona (que há dez anos não sabia o paradeiro do filho) e a irmã mais nova, Sidelça, uma bela jovem parecidíssima com o nosso herói-de-rua.Jânio não ficou por aí, conseguiu internamento e tratamento dignos para o agora ex-morador das ruas sujas de nossa meretríssima loirinha descamisada pelo sol.

Moral de nosso conto de fada: se uma pessoa de boa vontade (com a ajuda de outros anjos bons) consegue salvar uma vida, o que não fariam os poderes estaduais, municipais e federais se tivessem um mínimo de boa vontade, competência e solidariedade.

P.S.: Para não deixar o leitor curioso com o destino de Silvio Tadeu da Cruz, ele está internado, limpo e bem vestido. A família o espera para levá-lo de volta, pois sua avó de 99 anos de idade há dez anos não se cansa de perguntar toda noite por ele. Duas de suas irmãs moram na Europa, os outros vivem bem em Paranapanema (SP). A mãe diz que seu descontrole começou quando ele presenciou a morte, em acidente de automóvel, do irmão de que mais gostava, depois agravado pela dificuldade em pagar a faculdade de engenharia que cursava já no 2º ano, após ser despedido do banco em que trabalhava. Diz-me (agora sua belíssima irmã) que ele era o mais inteligente da família, também o mais vaidoso...

Pedro Salgueiro é escritr. Publicou O Peso do Morto (1995), O Espantalho (1996), Brincar com Armas (2000), Dos Valores do Inimigo (2005) e Inimigos (2007), de contos; além de Fortaleza Voadora (2007), de crônicas.


A GUERRA

Está nos Vedas, na Torá, no Novo Testamento, no Sun Tsu. O mesmo círculo de horror.






Está nos Vedas, está na Torá, no Novo Testamento, no manual de Sun Tsu, no programa O Aprendiz, nas colinas de Golan, no Afeganistão, no Iraque, na faixa de Gaza, no Rio de Janeiro, em Florianópolis, dentro de nós, está em toda parte. A guerra! Esse momento funesto em que a nossa raça luta entre si, pelo desejo de dominar. Não há consensos habermasianos quando as crianças poderosas iniciam o mantra: “eu tenho o petróleo, você não tem”. Ou então, quando, extasiadas pela beleza do outro, querem tomá-la, à força. Desejo de poder. Ter o que não é seu.

Sempre vejo os senhores das guerras como vampiros. Eles querem sugar o que é do outro, tirar até a última gota, para que possam viver em abundância. Assim, neste mundo cão, a riqueza de um é sempre a morte do outro. E tem sido assim desde priscas eras. Se tu tens diamantes no chão, prepara-te para ver teu povo morrer, ser escravizado. Se tens petróleo, estás perdido. Se tens ouro, estás morto. Se tens prata, estanho, guano, estás dizimado. Os que têm as melhores armas ditam as leis. Malvinas é da Inglaterra, ora pois! Não importa que seja território originário de outros seres. Quem ganhou a guerra, afinal?

Agora o império estadunidense já tem um bom parceiro no oriente. Israel está fazendo o trabalho de casa e muito bem. Joga bomba nos “terroristas”, destrói a faixa de Gaza, dizima mulheres, crianças. Está tudo sob controle naquela área. Tem as armas gringas e deita e rola.

Por conta disso, agora é hora de destruir Chávez, Correa, Morales, estes negros/índios/povos que se metem a sair um pouquinho da linha. Gente que insiste em falar de soberania, de direitos dos povos, de liberdade, de controle de suas próprias riquezas. Há que amassá-los, destruí-los, para que não sobre nada. Para que tudo tenha de recomeçar do zero. Para que esta gente saiba qual é o seu lugar: servos, submissos, ajoelhados diante do império.

E mais, nem precisa sujar as mãos. A marionete formada nas suas universidades, o representantezinho das elites locais - sempre dispostas a entregar seus povos como cordeiros para os dentes afiados do vampiro – cumpre a missão. É ao que se presta o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, querendo lavar de sangue a pátria grande.

No mesmo momento em que as FARC decidem dar um passo em direção à paz, em que começam a liberar prisioneiros, dando mostras de que não são eles os “bandidos terroristas”, o governo colombiano faz uma ofensiva de guerra. Não suporta ver o protagonismo de Hugo Chávez e Piedad Córdoba. Adentra territórios soberanos com o uso de tecnologia estadunidense, mata pessoas enquanto dormem e tem a coragem de dizer que está em busca da paz. Resta saber se os governos do Equador e da Venezuela, vão morder a isca. Resta torcer para que não o façam.

Tudo o que os Estados Unidos querem é mergulhar ainda mais esta parte norte da América Latina num caos de sangue e terror. Não por conta das gentes, mas por conta da sua própria fábrica de terror, essa que eles lançam sobre o mundo, a partir de seus aliados espúrios. Querem o petróleo da Venezuela, querem a velha submissão, querem o estanho, a prata, o ouro, os diamantes, o ferro, o urânio, a terra, a cana, o fumo. Querem tudo. E querem gente ajoelhada, cabeça baixa, olhar vazio. Já estão fazendo guerra na Colômbia desde há tempos, mas agora querem destruir o que chamam de “eixo do mal”, ou seja, gente que não se dobra a eles.

É sempre o mesmo velho círculo de horror. O império ataca, as gentes se defendem, tudo acaba em sangue. E, também como sempre, no mais das vezes, salvo raras exceções, as maiores baixas são sempre as nossas, dos povos que querem viver em paz, riquezas repartidas, dignidade. Como entender essa matemática? E o que fazer quando nossa soberania é aviltada, nossas riquezas roubadas, nossa vida sugada? Que outro remédio senão lutar? Dolorosas perguntas, dolorosas respostas.

O certo é que as gentes minimamente precisam saber por que, afinal, alguns governos fazem guerras. Por que mandam seus jovens para frente de uma batalha que os governantes só verão na TV, confortavelmente em seus gabinetes. Ninguém verá Bush comandando um pelotão de terra, enfrentando a fúria sã de quem resiste. Os senhores da guerra estão no conforto de seus lares, com seus filhos, esperando ver o sangue do outro jorrar. Eles sequer são os que apertam o botão. Eles só assistem. Os que apertam o botão lá do alto do avião, acreditam estar “limpando a área”, não enxergam os rostos, não escutam os gritos das crianças. Tudo é só um pontinho perdido na distância.

Pois é bom que se saiba que a guerra está sempre muito perto de nós. Nós, que não nos importamos com os iraquianos que morrem feito moscas – mais de um milhão já foi dizimado. Nós que estamos nem aí para os palestino, massacrados dia após dia. Nós que não fazemos caso dos garotos empobrecidos estatelados à bala nas vielas de nossas pacatas cidades. Nós, que não nos importamos com nada que não nos diga respeito. A guerra está aí. E é fruto da ganância do império e seus cães de guarda que tal e qual um César romano vêm rompendo tudo. Tal qual um Midas “al revés”, destroem tudo que tocam. Que faremos?

Esconderemos a cabeça e diremos: não temos nada a ver, ou vamos tratar de informar as gentes para além das telas da Globo e suas reportagens sacanas que anunciam ser a Venezuela um reduto de terroristas e ser o governo Chávez um financiador de guerrilhas? Será possível que ninguém se lembra das mentiras sobre o Iraque? Será que existe gente ingênua o suficiente para crer no que sai da boca ventríloqua de Fátima Bernardes? O império quer o petróleo da Venezuela, o gás da Bolívia, o petróleo equatoriano, as terras brasileiras, a prata, o ouro, tudo. O império quer as gentes de joelhos, perdidas de sua dignidade, escravas. Nós estaremos de qual lado? Fazendo o quê?

Os cascos dos cavalos imperiais estão sob nossas cabeças. Executaram soldados das FARC que dormiam na selva equatoriana. Gente que luta por um país soberano. O terrorismo é o estado colombiano. Terrorista são os senhores da guerra. Estejamos alertas e vigilantes. Porque, como bem lembra o poeta palestino Mahmud Darwish: “Ainda goteja a fonte do crime...” Desperta Abya Yala!

A Excêntrica Família de Antônia

Definido como uma celebração da vida e da morte, esta co-produção entre Holanda, Bélgica e Inglaterra ganhadora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro vai além ao contar a história de uma encantadora geração de mulheres. Comandada por Antonia, a saga familiar atravessa três gerações, falando de força, de beleza e de escolhas que desafiam o tempo. Nesse universo conhecemos curiosos personagens, como o filósofo pessimista, a netinha superdotada, a filha lésbica, a avó louca, o padre herege, a amiga que adora procriar, a vizinha que sofre abusos sexuais e os muitos amigos que são acolhidos por sua generosidade.

[ http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=777 ]

créditos: Makingoff - bmoianac
Gênero:
Drama/Comédia
Diretor: Marleen Gorris
Duração: minutos
Ano de Lançamento: 1995
País de Origem: Holanda/Bélgica/Inglaterra
Idioma do Áudio: Alemão
IMDB: http://imdb.com/title/tt0112379/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Resolução: 720 x 480
Tamanho: 652 Mb
Legendas: No torrent

- Recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (1996).

Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.



Lembrem-se de fazer login no MAKINGOFF antes de abrir o torrent:

Arquivo anexado excfamantonia_xvid.avi.torrent ( 13.01KB )

Samir Amin: "O socialismo do Século 21"


O portal Vermelho oferece aos internautas o ensaio do renomado pensador marxista egípcio Samir Amin. O autor é economista, diretor do Fórum do Terceiro Mundo em Dakar (no Senegal, onde reside) e do Fórum Mundial das Alternativas. Sua vasta obra – na maior parte dedicada ao estudo das relações assimétricas entre os países imperialistas e os países subdesenvolvidos do chamado Terceiro Mundo - já foi traduzida em muitos idiomas. Com 76 anos, Samir Amin é um duro crítico da chamada globalização que tende a criar uma desigualdade crescente entre povos e nações.

Apresentação de Augusto Buonicore



Amin: alternativa é socialismo ou barbárie

Enviado pelo autor para o Vermelho, o texto foi traduzido do original em francês com exclusividade pela professora de línguas Maria Lucília Ruy.


Neste ensaio Amin trata do programa do socialismo para o século 21. Deixando claro, no entanto, logo no início, que sua intenção “não é formular o ‘que será’ ou o que "deverá ser" o socialismo do século 21”, pois o socialismo “só pode ser o produto da luta de classes e dos povos explorados e dominados, não a realização de um ‘projeto intelectual’ concebido a priori”. Ele não se furta de traçar em grandes linhas o que seria este projeto socialista futuro. Entre elas estaria a necessidade de construção de um mundo “fundado sobre a solidariedade”, na “afirmação plena e total dos cidadãos e na igualdade dos sexos” e na “socialização da democracia”. Um mundo “fundado no reconhecimento do estatuto não mercantilista da natureza” e da vida. Isso passaria, atualmente, pela afirmação da “solidariedade dos povos do Norte e do Sul na construção de um internacionalismo sobre uma base antiimperialista”.


Para o pensador egípcio, a fase que estamos vivendo é marcada pelo fim da ofensiva do capital e do imperialismo, sob a bandeira do neoliberalismo e da “globalização”. A euforia do capitalismo foi de curta duração, estendeu-se apenas a primeira metade da década de 1990. Ela foi sustada pela resistência imposta pelas classes populares e algumas nações periféricas.


No entanto, isso é insuficiente. É preciso que os movimentos anticapitalistas e antiimperialistas retomem a ofensiva política. Isso implicará na “radicalização das lutas e sua convergência na diversidade (...) (através) de planos de ação comuns, os quais implicam uma visão estratégica, a definição de objetivos imediatos e de mais longo prazo (a perspectiva que para nós define a alternativa é a do socialismo do Século 21)”. Para o autor, “o Sul continua a ser a zona das tempestades que só pode ser controlado por meio da demonstração contínua de ameaças e intervenções militares das potências imperialistas”.


Clique aqui para ver a íntegra do artigo, polêmico e instigante pelos problemas que coloca e alternativas que apresenta.


John Pizzarelli - One Night With You (1996)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/41YWTJN7HVL._AA240_.jpg


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Faixas:
1. It Could Happen To You
2. I'm Through With Love
3. The Touch Of Your Lips
4. I'll Never Be The Same
5. Lady Be Good
6. Stray Horn
7. Oh Me, Oh My, Oh Gosh
8. Do Nothing 'Till You Hear From Me
9. Candy
10. Don't Get Around Much Anymore
11. Early Autumn
12. Take My Smile
13. Passion Flower
14. Gee Baby Ain't I Good To You