quinta-feira, 15 de maio de 2008

Vai fazer falta


Ricardo Young



Marina imprimiu uma gestão pontuada por uma visão estratégica do meio ambiente, com foco no desenvolvimento sustentável. Sua saída é uma derrota deste governo, que não consegue enfrentar com rigor e coragem os desafios que têm pela frente

As empresas socialmente responsáveis, que buscam o equilíbrio socioambiental e econômico por meio de uma nova maneira de fazer negócios, devem estar bastante desapontadas com a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Desapontadas mas não surpreendidas, porque a ex-ministra teve sempre de enfrentar muitas resistências as suas idéias e precisou comprar muitas brigas por elas, logo Marina, pessoa tão afável e muito mais adepta do consenso do que do confronto.

Os meios de comunicação destacam os reveses que ela sofreu como motivos de sua demissão. Eu quero destacar as vitórias de sua gestão, importantes para o (pouco, mas expressivo) avanço que a questão do desenvolvimento sustentável obteve nesses últimos seis anos no âmbito do Executivo federal.

Marina imprimiu uma gestão pontuada por uma visão estratégica do meio ambiente, com foco no desenvolvimento sustentável, que passava por todo um esforço de melhoria dos quadros técnicos, da legislação e da fiscalização, bem como do enfrentamento das forças interessadas na destruição da floresta.

Dessas realizações, não podemos deixar de destacar a verdadeira revolução que Marina promoveu no Ibama, responsabilizando-o como órgão executor da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), exercendo atividades de controle e fiscalização de recursos naturais, realizando estudos ambientais, liberando licenças ambientais, embargando obras, propondo e editando medidas ambientais. Ao criar o Instituto Chico Mendes em 2007, deu relevância maior às atividades de apoiar o extrativismo e as populações tradicionais, executar políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais e incentivar programas de pesquisa e de proteção à biodiversidade, antes a cargo do Ibama. Por isso, nunca na história da entidade, este Instituto teve um papel tão ativo na preservação das nossas imensas riquezas naturais, embora esse papel ainda esteja longe do ideal.

Marina Silva também inovou ao criar o conceito de floresta pública para manejo privado, criando o interesse econômico na floresta em pé, fundamental para segurar o desmatamento. O projeto causa polêmicas e até agora não conseguiu sair do papel. Mas é uma prova de que a ex-ministra e agora senadora pode pensar à frente do seu tempo.

Especificamente para nós, empresários comprometidos com a gestão socialmente responsável como ferramenta de transformação social, a passagem de Marina Silva pelo Ministério do Meio Ambiente representou uma oportunidade única de diálogo de alto nível com foco na solução dos problemas e não no proselitismo político. Por isso, os verdadeiros empresários do agronegócio sabem que perderam uma importante aliada que tem voz nos meios externos e, enquanto esteve à frente da pasta do Meio Ambiente, usou-a para defendê-los, separando o joio do trigo.

Finalmente, mas não por último, a maior vitória de Marina é ter posto a visão do desenvolvimento sustentável na pauta de todas as discussões ministeriais. Por isso, ela deve ter perdido apoio de governo, mas não poderá ser esquecida nem longe do Ministério. A saída dela não é derrota da Marina ou de algo que tenha feito. É derrota deste governo que não consegue enfrentar com rigor e coragem os desafios que têm pela frente.

O maior deles é, sem dúvida, a Amazônia. Como ela destacou em sua carta de demissão, “o que se fizer na Amazônia será o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais,a diversidade cultural e o desejo de crescimento...(e) revela potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar o social, o econômico e o ambiental ao desenvolvimento”.

O Instituto Ethos entende que, a partir de agora, a busca pelo desenvolvimento sustentável deixa de se dar no nível institucional e volta para a sociedade. E espera ter na senadora Marina Silva uma trincheira no Legislativo, dando novamente a este Poder a possibilidade de assumir papel mais relevante no debate sobre desenvolvimento sustentável.

Convite
Gostaria de convidar todos os internautas e leitores desta coluna a participar da Conferência Internacional do Ethos, que começa no próximo dia 27 de maio e vai até o dia 30 de maio, no Palácio das Convenções do Anhembi. Este ano, a Conferência adquire um significado especial porque vai celebrar os dez anos do movimento da responsabilidade social no Brasil, do Instituto Ethos e da própria Conferência. Por isso, simultaneamente à Conferência, serão realizados mais quatro eventos: uma exposição sobre os dez anos de movimento da RSE no país, a primeira Mostra de Tecnologias Sustentáveis e a celebração do décimo aniversário do Instituto Ethos.

Este ano, o tema da Conferência é “Mercado socialmente responsável: uma nova ética para o desenvolvimento” que será discutido em alguns de seus vários desdobramentos por palestrantes como o empresário e pioneiro da gestão sustentável Ray Anderson, o físico indiano Amit Goswani, o educador Oscar Motomura, o filósofo Mário Sérgio Cortella, o vice-presidente da Febraban e diretor do Banco Itaú Antônio Jacinto Mathias, e Oded Grajew.

A programação completa da Conferência pode ser conferida em www.ethos.org.br/ci2008

A Mostra de Tecnologias Sustentáveis e a exposição dos dez anos do movimento da RSE são abertas ao público, mas é preciso credenciar-se no site para visitá-las: www.ethos.org.br/mostradetecnologiassustentaveis

Espero encontrar vocês todos no Anhembi.

Ricardo Young

Desenvolvimento sustentável

Brasil - A batalha do fator previdenciário

Altamiro Borges - Adital

O governo Lula, que neste segundo mandato ainda não baixou medidas graves de regressão dos direitos trabalhistas, está na berlinda. O Senado aprovou o projeto do petista gaúcho Paulo Paim que extingue o fator previdenciário, uma excrescência imposta por FHC que reduziu a já misera renda dos aposentados e pensionistas. Diante da decisão, a equipe econômica, sempre apegada à ortodoxia do ajuste fiscal, pressiona os deputados e já ameaça com o veto presidencial ao projeto do senador, um ex-sindicalista que fundou a CUT ao lado de Lula. A briga promete ser quente.

Em reunião no final de abril, dirigentes das principais centrais sindicais do país manifestaram seu apoio ao projeto do senador Paim, que elimina o fator previdenciário e garante o mesmo reajuste do salário mínimo aos aposentados. Conforme declarou Wagner Gomes, presidente da CTB, "o sindicalismo está vigilante e preparado para mobilizar suas bases em defesa destas duas medidas, que já foram aprovadas no Senado e, em breve, serão apreciadas e votadas na Câmara Federal". As centrais planejam realizar várias atividades para pressionar os deputados federais e o governo Lula, incluindo uma barulhenta concentração na Câmara dos Deputados em 14 e 15 de maio.

Matemática perversa dos tucanos

O fator previdenciário foi instituído pela Lei 9.876, aprovada em novembro de 1999, no bojo da contra-reforma de FHC. Ele é um perverso mecanismo contábil de arrocho dos trabalhadores que retarda os pedidos de aposentadorias por tempo de contribuição, elevando em cinco anos a idade média de quem requer o benefício. Como a redução dos rendimentos é expressiva (ele fica menor quanto mais tarde a pessoa se aposenta), o trabalhador é obrigado a adiar o acesso ao benefício. Aplicado no cálculo da contribuição, o fator reduz em 30 e 35% - respectivamente para homens e mulheres - o valor da aposentadoria e da pensão em comparação com o salário da ativa.

Não é para menos que o fim deste monstrengo tucano foi saudado por várias categorias. Na base do próprio presidente Lula, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC divulgou boletim com o título: "Fim do fator previdenciário, vitória dos trabalhadores". Segundo o texto, a aprovação do PLS 296/03 do senador Paulo Paim representa "uma alteração de amplo e importante alcance social". Além de extinguir o fator previdenciário, "esse redutor das aposentadorias", o projeto "estende a política de valorização do salário mínimo às aposentadorias e pensões. O sindicato, que projetou Lula no cenário nacional, promete pressionar o governo e elogia a "tenacidade do senador Paim".

A desculpa esfarrapada do déficit

Apesar do uníssono apoio ao fim do fator previdenciário, o Palácio do Planalto parece decidido a sabotar a vitória. O atual ministro da pasta, Luiz Marinho, que por ironia da história já presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, informou às centrais que o presidente Lula vetará o projeto, caso ele não seja rejeitado pela Câmara Federal. A desculpa apresentada é a mesma de sempre: a de que a medida elevará o déficit da Previdência Social. Durante a campanha eleitoral de 2006, o candidato Lula garantiu nos palanques que "a Previdência não é deficitária", contrapondo-se aos agourentos neoliberais que propunham mais arrocho no setor. Agora, parece, mudou o discurso.

A realidade, porém, rejeita os mitos neoliberais. No primeiro trimestre deste ano, em decorrência do tímido aquecimento da economia, o déficit a Previdência baixou 17,2% na comparação com o mesmo período de 2007. A própria Folha de S.Paulo, ardorosa defensora da destruição do setor, foi forçada a admitir que "a redução do rombo reflete a maior criação de empregos formais, que impulsiona a arrecadação das contribuições que financiam a Previdência. Entre janeiro e março, foram criadas 554 mil vagas - aumento de 39% em relação a 2007. Com isso, a arrecadação no trimestre chegou a R$ 35,4 bilhões, alta de 9,9% em relação ao mesmo período do ano passado".


[Autor do livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi)].


* Jornalista, editor da revista Debate Sindical

Bach - Well tempered clavier - Glenn Gould

http://ecx.images-amazon.com/images/I/513vSyJWXoL.jpg


Bach - Well tempered clavier - Glenn Gould

MP3 format, 320 kbps,484MB


http://rapidshare.com/files/105283634/bwtcgg.part1.rar
http://rapidshare.com/files/105293917/bwtcgg.part2.rar
http://rapidshare.com/files/105304827/bwtcgg.part3.rar
http://rapidshare.com/files/108922648/bwtcgg.part4.rar
http://rapidshare.com/files/108933249/bwtcgg.part5.rar
http://rapidshare.com/files/109185835/bwtcgg.part6.rar
http://rapidshare.com/files/109189410/bwtcgg.part7.rar