Conheça os inimigos da Reforma Agrária
Por Carlos Bandeira
Depois
de conseguirem emplacar a CPMI contra a Reforma Agrária, os setores
mais conservadores do Congresso Nacional passaram a escalar o seu time
de parlamentares. Foram convocados inimigos do povo brasileiro para
atuar na CPMI e nos bastidores. Esses parlamentares têm como
características o ódio aos movimentos populares e o combate à Reforma
Agrária e às lutas sociais no nosso país.
São
fazendeiros e empresários rurais, que foram financiados por grandes
empresas da agricultura e colocaram seus mandatos a serviço do
latifúndio e do agronegócio. Nas costas, carregam denúncias de roubo de
terras, desvio de dinheiro público, rejeição à desapropriação de donos
de terras com trabalho escravo, utilização de recursos ilícitos para
campanha eleitoral, devastação ambiental e tráfico de influência.
Essa
CPMI faz parte de uma ofensiva desses parlamentares, que tem mais três
frentes no Congresso. Até o fechamento desta edição, os nomes dos
parlamentares indicados para a CPMI contra a Reforma Agrária já tinham
sido lidos, mas os trabalhos não tinham começado. A CPMI pode se
arrastar até junho de 2010. O Jornal Sem Terra deste mês de dezembro
(nº 299) apresenta os deputados e senadores que estão na linha de
frente na defesa dos interesses da classe dominante rural.
KÁTIA ABREU / Senadora (DEM-TO) / Suplente na CPMI
• Formada em psicologia.
•
Presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), eleita em 2008 para três anos de mandato. Foi presidente da
Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (1995-2005).
• Dona de duas fazendas improdutivas que concentram 2.500 hectares de terras.
•
Apresentou 23 projetos no Senado e apenas três foram aprovados, mas
considerados sem relevância para o país, como a garantia de visita dos
avós aos netos.
• Torrou 60% das verbas do seu gabinete com propaganda (R$ 155.307,37).
•
É alvo de ação civil do Ministério Público na Justiça de Tocantins por
descumprir o Código Florestal, desrespeitar povos indígenas e violar a
Constituição.
•
Integrante de quadrilha que tomou 105 mil hectares de 80 famílias de
camponeses no município de Campos Lindos (TO). Ela e o irmão receberam
2,4 mil hectares com o golpe contra camponeses, em que pagaram menos de
R$ 8 por hectare.
•
Documentos internos da CNA apontam que a entidade bancou ilegalmente
despesas da sua campanha ao Senado. A CNA pagou R$ 650 mil à agência de
publicidade da campanha de Kátia Abreu.
RONALDO CAIADO / Deputado Federal (DEM-GO)
• Formado em Medicina.
• Foi fundador e presidente nacional da União Democrática Ruralista (UDR).
• É latifundiário. Proprietário de mais 7.669 hectares de terras.
• Dono de uma fortuna avaliada em mais de R$ 3 milhões
• Não teve nenhum dos seus 19 projetos aprovados no Congresso.
•
É investigado pelo Ministério Público Eleitoral por captação e uso
ilícito de recursos para fins eleitorais. Não declarou despesas na
prestação de contas e fez vários saques “na boca do caixa” para o
pagamento de despesas em dinheiro vivo, num total de quase R$ 332 mil
(28,52% do gasto total da campanha).
•
Foi acusado de prática de crimes de racismo, apologia ou instigação ao
genocídio por classificar os nordestinos como “superpopulação dos
estratos sociais inferiores” e propor um plano para o extermínio:
adição à água potável de um remédio que esterilizasse as mulheres.
ABELARDO LUPION / Deputado federal (DEM-PR) / Titular na CPMI
• É empresário e dono de diversas fazendas (três delas em São José dos Pinhais).
• Foi fundador e presidente da União Democrática Ruralista do Paraná.
• É um dos líderes mais truculentos da bancada ruralista na Câmara dos Deputados.
• Faz campanha contra a emenda constitucional que propõe a expropriação de fazendas que utilizam trabalho escravo.
• Apresentou somente cinco projetos no exercício do mandato. Nenhum foi aprovado.
• Sua fortuna totaliza R$ 3.240.361,21.
•
Fez movimentação ilícita de R$ 4 milhões na conta bancária da mãe do
coordenador de campanha. É réu no inquérito nº 1872, que tramita no
Supremo Tribunal Federal (STF), por crime eleitoral.
•
Sofre duas representações por apresentar - em troca de benefícios
financeiros – uma emenda para as transnacionais Nortox e Monsanto na
Câmara, liberando o herbicida glifosato.
•
A Nortox e a Monsanto financiaram a sua campanha em 2002. A Nortox
contribuiu com R$ 50 mil para o caixa de campanha; já a Monsanto vendeu
ao parlamentar uma fazenda de 145 alqueires, por um terço do valor de
mercado.
•
Participou de transação econômica fraudulenta e prejudicial ao
patrimônio público da União em intermediação junto à Cooperativa
Agropecuária Pratudinho, situada na Bahia, para adquirir 88 máquinas
pelo valor de R$ 3.146.000, das quais ficou com 24.
•
Deu para parentes a cota da Câmara dos Deputados, paga com dinheiro
público, para seis voos internacionais para Madri e Nova York.
ONYX LORENZONI / Deputado Federal (DEM-RS) / Titular na CPMI
• Formado em medicina veterinária. É empresário.
• Membro da “Bancada da Bala”, defendeu a manutenção da venda de armas de fogo no Brasil durante o referendo do desarmamento.
• Gastou 64,37% da verba do seu gabinete com propaganda (R$ 230.621
• Campanha financiada por empresas como a Gerdau, Votorantin Celulose, Aracruz Celulose, Klabin e Celulose Nipo.
• Teve apenas um projeto aprovado em todo o seu mandato.
ALVARO DIAS / Senador (PSDB-PR) / Titular na CPMI
• Formado em história. É proprietário rural.
• Foi presidente da CPMI da Terra (2003/2005), que classificou ocupações de terra como “crime hediondo” e “ato terrorista”.
•
Não colocou em votação pedidos de quebra de sigilos bancários e fiscais
de entidades patronais, que movimentaram mais de R$ 1 bilhão de
recursos públicos. Não convocou fazendeiros envolvidos em ações ilegais
de proibição de vistorias pelo Incra.
•
Divulga na imprensa de forma ilegal fatos mentirosos sobre dados
sigilosos das entidades de apoio às famílias de trabalhadores rurais
para desmoralizar a luta pela Reforma Agrária.
• Não declarou R$ 6 milhões à Justiça Eleitoral em 2006. O montante é referente à venda de uma fazenda em 2002.
LUIS CARLOS HEINZE / Deputado Federal (PP-RS)
• Formado em engenharia agrônoma.
• É latifundiário. Dono de diversas frações de terras, totalizando 1162 hectares.
• Fundador e primeiro-vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (1989-1990).
• Seus bens somam mais de R$ 1 milhão.
• Nenhum dos seus projetos foi aprovado durante esta legislatura.
•
Campanha foi financiada pela fumageira Alliance One, responsável por
diversos arrestos irregulares em propriedades de pequenos agricultores.
•
Defendeu o assassinato de três fiscais do trabalho em Unaí (MG),
declarando que “os caras tiveram que matar um fiscal, de tão acuado que
estava esse povo...”, justificando a chacina promovida pelo agronegócio
(2008).
•
É contra a regularização de terras quilombolas (descendentes de
escravos), que representaria, para ele, “mais um entulho para os
produtores rurais”.
VALDIR COLATTO / Deputado Federal (PMDB/SC)
• Formado em engenharia agrônoma. Proprietário rural.
• Foi superintendente nacional da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) (2000-2002).
•
Foi superintendente estadual do Incra em Santa Catarina (1985- 1986) e
secretário interino da Agricultura de Santa Catarina (1987).
•
Desapropriou área de 1.000 hectares para fins desconhecidos na mata
nativa quando presidiu o Incra, causando prejuízos de R$ 200 milhões
para o poder público.
•
Apresentou projeto que tira do Poder Executivo e do Poder Judiciário e
passa para o Congresso a responsabilidade pela desapropriação de terras
por descumprimento da função social.
• É contra a demarcação das terras indígenas e quilombolas.
•
Autor do projeto que transfere da União para estados e municípios a
prerrogativa de fixar o tamanho das áreas de proteção permanente nas
margens dos rios e córregos. Com isso, interesses econômicos locais
terão maior margem para flexibilizar a legislação ambiental e destruir
a natureza.
• É um dos pivôs de supostas irregularidades envolvendo o uso da verba indenizatória na Câmara dos Deputados.
(Fonte: Jornal Sem Terra)
Mais do mesmo nos requerimentos
Carlos Bandeira, de Brasília
É
fácil encontrar o fio da meada dos 17 requerimentos apresentados pelo
deputado Moreira Mendes (PPS-RO) na CPI do MST: a reportagem da Revista Veja, da primeira semana de setembro.
Está tudo lá. Não há nada além do que foi publicado pela revista. A reportagem da Veja,que
colocou na sua capa um boné do MST cheio de notas de reais e dólares
“desvenda” uma suposta estratégia do movimento para fazer a captação de
dinheiro público para fazer ocupações de terra.
“VEJA teve
acesso às movimentações bancárias de quatro entidades ligadas aos
sem-terra. Elas revelam como o governo e organizações internacionais
acabam financiando atividades criminosas do movimento”, anunciou a
reportagem.
No entanto, não foram apresentadas as tais
“movimentações bancárias”. Nem foi anunciado de onde essas informações
saíram. Ou seja, nada de concreto. Existe uma hipótese para a origem
das informações sobre os convênios dos ministérios com entidades
sociais: são informações confidenciais da CPI da Terra e a CPI das ONGs.
Uma
coisa parece muito estranha. Ainda não são proibidos os convênios de
governos com entidades prestadoras de serviços públicos no país. Também
não se apresentou elementos concretos para questionar o resultado
desses trabalhos. Até aí, não há nada de ilegal.
Além disso, Veja não deu provas concretas de que esse dinheiro foi desviado para fazer ocupações de terras e protestos contra grandes empresas.
No entanto, a matéria da revista Veja foi
exatamente a motivação para a instalação de uma CPMI para investigar as
entidades da reforma agrária. Criou um clima fértil para se convencer
os parlamentares a assinar o requerimento.
Só que, no primeiro
lote de requerimentos, Moreira Mendes propõe investigar justamente os
“fatos” e "conclusões" que sustentaram a instalação. Diante disso, se
pode fazer duas leituras.
Ou não haveria motivos para uma nova
comissão, uma vez que as "novas" denúncias têm origem nas CPIs da Terra
e das ONGs, ou o deputado Moreira Mendes está propondo que se
investigue mais uma vez o que já foi investigado nessas duas comissões
de inquérito.
Será que os parlamentares estão sem trabalho? É
difícil de acreditar. Moreira Mendes está na política há mais de 30
anos. Atua dia e noite no Congresso em defesa da indústria de
armamentos, que apoia seu trabalho com o financiamento das suas
campanhas eleitorais. Com esse ímpeto, chegou a uma fortuna de dois
bilhões de reais como advogado e fazendeiro.
Ou existe uma
intenção ainda não anunciada? Do jeito que está, essa CPMI vai
requentar o que já foi levantado nas investigações anteriores e render
matérias para a imprensa para desmoralizar os movimentos sociais.
Carlos Bandeira é jornalista.