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domingo, 24 de junho de 2012
TÍTULO DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1984) DIREÇÃO: Eduardo Coutinho
Filme documentário, Cabra Marcado para Morrer foi dirigido por Eduardo Coutinho inicialmente em fevereiro1964, sendo obrigado a interromper as filmagens devido ao golpe militar de 31 de março, quando as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia. Dezessete anos depois em 1984 retoma o projeto, seu lançamento foi no ano seguinte em 1985.
Conta história das Ligas Camponesas de Galiléia e de Sapé além da vida de João Pedro Teixeira que era um líder camponês da Paraíba assassinado a mando de latifundiários de Pernambuco em 1962.
Através de depoimento da viúva Elizabeth Teixeira, de seus filhos e de camponeses que presenciaram a história, coletou informações para o documentário. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar.
TÍTULO DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1984) DIREÇÃO: Eduardo Coutinho
ELENCO: Elisabeth Teixeira e família, João Virgínio da Silva e os habitantes de Galiléia (Pernambuco). Narração de Ferreira Gullar, Tite Lemos e Eduardo Coutinho. 120 min., Globo Vídeo.
Gênero: Documentário, Ano de Lançamento: 1985, País de Origem: Brasil, Idioma do Áudio: Português do Brasil,
Para saber mais leia em:
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=242
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabra_Marcado_para_Morrer
http://nuevomundo.revues.org/1520
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000386663
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Ironia na internet: bonitinha, mas ordinária
Como hoje é sexta, trouxe uma leitura mais leve. A gente
merece, né? Afinal de contas, a Rio+20 produziu um excelente documento
final, está tudo em paz no Paraguai e os trabalhadores rurais desfrutam
de segurança no Pará.
Pedi para Rodolfo Vianna, jornalista, mestre em
Linguística e amigo, escrever um texto para este blog sobre o seu objeto
de estudo: a ironia. Achei que seria pertinente ainda mais em um tempo
em que as pessoas se levam a sério demais. Afinal, o milagre não é uma
ironia passar despercebida mas, sim, ser entendida.
“Toda vez que ouço Wagner, me dá uma vontade de invadir a Polônia…”
Woody Allen
Woody Allen
Bonitinha, mas ordinária. Assim podemos definir a ironia, já que ela
se caracteriza como uma argumentação indireta tida como astuta,
inteligente, articulando um ponto de vista sob um manto de humor, numa
jocosidade nobre daqueles que sabem que somente as grandes burrices
tendem a ser gravemente sérias. Entretanto, a mesma ironia pode não ser
compreendida, pode agir justamente no sentido contrário da argumentação
pretendida pela sua manifestação, voltar-se contra seu feiticeiro.
A beleza da ironia, enquanto manifestação retórica, está na sua
economia argumentativa. Por meio de um comentário irônico, posso
ridicularizar toda uma construção argumentativa sólida e extensa; da
mesma forma que, para se desconstruir uma ironia, o mesmo trabalho
argumentativo extenso é necessário. O poder de síntese que a ironia
possui é que a faz ser vista como uma manifestação de inteligência, de
sagacidade, já que ela mobiliza no seu intuito argumentativo um vasto
conjunto de informações e valores para, a partir deles, construir sua
argumentação indireta: seu elogio como crítica, sua aprovação como
censura, sua afirmação como uma negativa.
Vale ressaltar aqui, en passant, que a ironia não se reduz a
dizer algo com o intuito de expressar justamente seu contrário. A
ironia abre-se à inferência de um ou mais significados que não estão
presentes na literalidade do enunciado irônico, significados estes que
carregam valores apreciativos sobre esse mesmo dito. Esses outros
significados que podem ser depreendidos de uma ironia não
necessariamente se restringem à negação do dito, como uma simples
antífrase.
Ambiguidade – Mas por que ordinária? Ora, a ironia
só se realiza quando percebida como ironia, independentemente da
intenção daquele que a produziu. Uma metáfora, por exemplo, se não for
reconhecida como tal passa a ser uma contra-verdade: se eu não entender
que “chove canivete lá fora” é uma metáfora, a frase perde sua validade
pela confrontação com a realidade, já que não chove canivete. Agora, se
eu falasse para o Neymar que ele poderia ser modelo se não fosse jogador
de futebol, e ele, por algum misterioso motivo, não entendesse a
ironia, poderia até mesmo me agradecer pelo comentário. E nada impede,
por sua vez, de ser esse agradecimento também uma ironia por parte dele.
É da natureza da ironia ser ambígua, e na ambiguidade está a armadilha.
É no reconhecimento da ironia, ou não, que mora o perigo. Aquele que
propõe fazer uma construção irônica deve prever como será a possível
percepção dela por aqueles a quem a dirige. E, para isso, é necessário
haver um compartilhamento de crenças, valores, experiências, assim como
conhecer aquele faz a ironia, para que desse arcabouço comum se possam
extrair elementos que permitam entender aquele enunciado como irônico.
“Prefiro o cheiro dos meus cavalos ao cheiro do povo” seria uma ironia
se fosse dita por Florestan Fernandes. Mas não foi ele quem disse, e não
era ironia.
Entretanto, toda a previsão é suscetível a falhas, ainda mais quando
falamos do universo da linguagem, do imaginário e da compreensão de
outrem. Por mais que existam recursos que o ironista utiliza para
sinalizar que se trata de uma ironia, seja numa conversa, seja num
texto, eles não garantem a obrigatoriedade da sua compreensão. E como
não existe ironia se ela não for percebida como tal (já que o
significado literal, não irônico, permanece válido), a responsabilidade
última de fazê-la existir é do destinatário, e não do ironista: se não
há reconhecimento da ironia, logo também não existe o ironista. Esse é o
preço a se pagar pela economia argumentativa da ironia, o preço da
ambiguidade, ou seja, o de assumir o argumento/opinião do qual queria se
afastar.
Por essas e outras que, muitas vezes, somos levados a não enxergar
ironia onde ela foi proposta, como também a entender alguma coisa como
irônica quando ela não fora assim intencionada. Atualmente, no caso
específico da internet, isso acaba ocorrendo frequentemente, já que
links em páginas de relacionamentos ou em portais nos levam a textos de
pessoas que nunca lemos antes, que não conhecemos, que não sabemos quais
são seus pontos de vista, e, portanto, não temos um arcabouço de
subentendidos e pressupostos que possibilitariam identificar pistas de
uma possível ironia presente. O quê me faz crer que esse tal de Woody
Allen não queira mesmo invadir a Polônia?
Apesar de tudo, a ironia existe, é objeto de reflexão há mais de 2
mil anos, remontando à Sócrates, e cotidianamente nos deparamos com ela.
Porém, sua concretização está mais próxima de um milagre do que da
efetivação de uma equação matemática, uma vez que ela é um paradoxo à
fria racionalidade. Mas o mundo intersubjetivo é, antes de tudo, ruído. E
na linguagem verbal nem sempre 2 + 2 = 4.
Enfim, tantas linhas para dizer que a ironia não passa de uma bobagem…
Rodolfo Vianna é formado em jornalismo (USP) e mestre em
Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (PUC-SP). É autor da
dissertação Jornalismo, ironia e “informação”. Para baixá-la, clique aqui.
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