Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Kenny Burrell & John Coltrane (1958)
Kenny Burrell & John Coltrane (1958)
Personagens:
Kenny Burrell (guitar);
John Coltrane (tenor saxophone);
Tommy Flanagan (piano);
Paul Chambers (upright bass);
Jimmy Cobb (drums)
Gravado no Van Gelder Studio, Nova Jersey, em 07 de março de 1958
Músicas:
1. Freight Trane (7:21)
2. I Never Knew (7:05)
3. Lyresto (5:44)
4. Why Was I Born? (3:13)
5. Big Paul (14:04)
crimes contra o povo do Líbano
O objetivo da violência irracional
não foi só matar civis desarmados;
Israel queria expulsar a população
das fronteiras. Não conseguiu.
*Miguel Urbano Rodrigues – Brasil de Fato
Um Tribunal Internacional de Consciência reuniu-se em Bruxelas entre sábado e terça-feira (27), sob a presidência da juíza colombiana dra Lilia Solano, para apreciar os crimes cometidos pelo Estado de Israel contra o povo do Líbano.
A escritora e jornalista libanesa Leila Ghanem, em nome da organização, abriu o evento com um discurso em que expôs os objectivos da iniciativa e saudou as delegações vindas de países da Ásia, da Europa, da África e da América.
Seguiu-se uma declaração do prof. belga Jean Bricmont e a leitura por John Catalinotto, dos EUA, de um documento do International Action Center , de Ramsey Clark-ex Procurador Geral da Republica dos EUA, sobre a cumplicidade do imperialismo norte-americano na agressão ao povo do Líbano.
Os membros do júri, magistrados de prestigio internacional- Lilia Solana(Colômbia), Adolfo Abascal(Cuba-Belgica),Cláudio Moffa(Itália ) e Rajindar Sachar (Índia) abriram a audiência, com breves declarações sobre as normas processuais que seriam adoptadas pelo Tribunal.
A sentença condenou o Estado sionista de Israel por crimes contra a humanidade, genocídio e outros punidos pelo direito internacional.
Cobertura silenciosa
A rede de televisão Al Jazeera transmitiu os trabalhos do Tribunal na íntegra para os países de idioma árabe. A chamada grande imprensa européia ignorou o acontecimento; os jornais belgas também.
Para esse silêncio contribuíram pressões da Embaixada dos EUA em Bruxelas e sobretudo da Embaixada de Israel que desenvolveu intensa atividade na tentativa de evitar que o Tribunal pudesse reunir-se na capital belga.
O lugar inicialmente previsto para a realização da audiência teve de ser alterado em conseqüência de manobras de intimidação. Pressões israelenses tornaram também inevitável uma mudança do hotel inicialmente previsto para as delegações estrangeiras.
Membros destacados da comissão organizadora receberam repetidas ameaças pelo telefone. Foi transparente que elementos da Mossad, a polícia política israelense, estiveram muito ativos antes e durante o acontecimento.
Cabe ainda esclarecer que a recusa de vistos impediu a presença de advogados e magistrados que deveriam ter participado no Tribunal. As tentativas de sabotagem não conseguiram, porém, impedir que o Tribunal cumprisse a sua missão com êxito.
Depoimentos pungentes
O sábado (dia 23) foi preenchido por depoimentos das testemunhas, isto é de vitimas da agressão do Estado sionista, e por intervenções de especialistas em armamentos proibidos e questões relacionadas com o ambiente.
Advogados, procedentes também de diferentes países interrogaram as testemunhas e os peritos. O tempo reservado para a defesa não foi utilizado. A embaixada de Israel se negou a qualquer contato com a organização.
A apresentação de vídeos e de slides sobre as atrocidades israelenses contribuiu para a atmosfera de intensa emoção que envolveu a audiência. Uma onda de quente solidariedade inundou o grande salão da Casa das Associações Internacionais de Bruxelas onde funcionou o Tribunal.
Raramente em acontecimentos similares senti como ali a transformação em solidariedade colectiva dos sentimentos de revolta e dor suscitados pela revelação de crimes tão monstruosos como os cometidos no Líbano pela barbárie neonazi isrealense.
E revelação por quê, se os fatos são conhecidos?
Vivemos numa época tão desumanizada, sob o bombardeio de um sistema mediático de tamanha perversidade, que mesmo militantes veteranos das lutas antiimperialistas têm dificuldade em captar todo o horror de crimes como os que atingiram o povo do Líbano.
Ouvir as pessoas que perderam filhos ou pais, algumas toda família, recordar em depoimentos comoventes as horas trágicas do verão de 2007 –por vezes com a ajuda de imagens - é diferente do acompanhamento pela imprensa e pela televisão do que então ali ocorreu.
Mães cujos filhos nasceram deformados pelos efeitos do urânio empobrecido, camponeses cujos familiares tiverem braços ou pernas serrados por armas monstruosas, ou o fígado ou o pâncreas destruídos por partículas minúsculas de bombas de fragmentação quase desconhecidas, desfilaram pela tribuna como testemunhas e vitimas de ações de barbárie concebidas e executadas pelas forças armadas de um Estado neonazi que se apresenta como democrático e conta com o apoio irrestrito de Washington.
O Tribunal ouviu médicos e autarcas das cidades do Sul do Líbano arrasadas pela metralha israelense evocar o cenário de horrores das semanas da agressão. Tomou conhecimento das conseqüências da maré negra provocada por Israel, o flagelo que cobriu de petróleo mais de 100 quilômetros do litoral de um pequeno país. Milhares de pescadores foram lançados na miséria pela destruição por muitos anos da vida animal e vegetal nessas águas agora envenenadas. O turismo nas praias libanesas tornou-se impossível por muito tempo.
Objetivo frustrado
Como avaliar o sofrimento dos que entre ruínas ainda fumegantes encontraram os corpos de filhos degolados pela soldadesca israelense? Porque o objetivo da violência irracional não foi apenas destruir aldeias e matar civis desarmados. O Estado sionista, ao semear um terror apocalíptico no Sul do Líbano, pretendia também que as populações abandonassem para sempre as regiões fronteiriças. Não conseguiu!
De 12 de julho a 24 de agosto, data do cessar fogo tardiamente imposto pelo Conselho de Segurança, o povo do Líbano foi alvo de uma agressão monstruosa. A heróica resistência dos combatentes da Hezbollah e dos que a seu lado se bateram contra os invasores transformou em derrota militar – a primeira infligida ao Estado sionista aquilo que Tel Aviv e Washington haviam concedido como prólogo de uma estratégia mais ambiciosa para o Oriente Médio.
Os sofrimentos do povo libanês não são quantificáveis. Os prejuízos materiais devem rondar os 2800 bilhões de dólares.
A leitura da sentença foi precedida de uma Mesa Redonda na qual intelectuais revolucionários da Europa e da América, entre os quais Georges Labica e John Catalinotto fizeram a apologia da uma solidariedade internacionalista militante contra a barbárie imperialista e sionista.
Identificado com ambos, recordei uma evidência trágica: o rumo de uma comunidade religiosa perseguida durante séculos a judaica, alvo do genocídio nazi e que no espaço de décadas se transformou numa metamorfose dramática, passando do papel de vítima ao de agressora, assumindo no Estado de Israel contornos neonazis.
A solidariedade contra os crimes desse Estado monstruoso, instrumento do imperialismo no Médio Oriente, tornou-se dever para a humanidade progressista.
*Miguel Urbano Rodrigues é escritor, jornalista e membro do Partido Comunista Português
Correa denuncia na coletiva a agressão à sua pátria
O presidente equatoriano declarou, em uma coletiva de imprensa à noite, que Uribe, ao lhe telefonar no sábado para falar da ação, "estava mal informado, ou mentiu descaradamente ao presidente do Equador". E prosseguiu: "Mas o governo equatoriano não vai permitir mais ultrajes do governo colombiano. Vamos até as últimas conseqüências para que se esclareça esse escandaloso fato, que é uma agressão a nosso território e a nossa pátria."
Massacrados enquanto dormiam
Correa informou ainda que os soldados equatorianos enviados ao local do bombardeio encontraram ali 15 cadáveres de guerrilheiros e duas guerrilheiras feridas, em território do Equador, a 2 quilômetros da fronteira. Os corpos de Reyes e outro guerrilheiro célebre morto no ataque, o cantor guerrilheiro Juan Conrado, foram levados para Bogotá pelos agressores.
Os corpos vestiam pijamas, esclareceu ainda o presidente equatoriano, e não havia sinais de perseguição nem combate. Correa disse que foram massacrados enquanto dormiam, com o uso de "tecnologia de ponta", seguramente com a colaboração de "potências estrangeiras".
O governo de Quito enviou uma enérgica nota de protesto contra a agressão. "Se não tivermos uma explicação contundente nos próximos dias, onde o presidente Uribe diga que foi enganado, então ele mentiu mais uma vez ao povo equatoriano e violou sem escrúpulos a sua soberania", afirmou.
Além de chamar seu embaixador em Bogotá, o Equador colocou suas tropas em estado de alerta na fronteira com a Colômbia, conforme informou o ministro da Defesa, Wellington Sandoval. O governo Correa já fizera reiteradas queixas de violação de seu espaço aéreo por aviões militares colombianos.
"Mafioso, paramilitar e criminoso"
Não menos duras foram as palavras de Hugo Chávez, presidente de um país que possui extensa fronteira com a Convulsionada Colômbia, e que tenta mediar um processo, hotilizado por Uribe, de intercâmbio humanitário de prisioneiros entre Bogotá e as Farc. "O governo da Colômbia se converteu no Israel da América latina", denunciou Chávez neste domingo, em seu programa de TV Alô Presidente.
"Esperamos que os governos da América Latina se pronunciem a respeito. Não podemos calar diante de uma situação tão grave como esta, que afeta a todos, sobretudo os vizinhos da Colômbia, [que é] um Estado terrorista", advertiu Chávez.
Chávez atacou frontalmente Uribe, com quem já mantinha relações tensas e em agravamento. Acusou-o de chefiar um governo "mafioso, paramilitar e criminoso". Para ele, Uribe "não é apenas um lacaio do império, não apenas é um mentiroso, é um criminoso, é um mafioso. Dirige um narcogoverno, um governo paramilitar. É um subordinado de Bush. Dirige um bando de criminosos no Palácio de Nariño", entafizou.
Dirigindo-se a Rafael Correa, Chávez manifestou sua solidariedade e apoio. "Correa, conte com a Venezuela para o que quer que acontecer. Em qualquer circunstância", sublinhou.
Também as forças armadas venezuelanas incrementaram as medidas de segurança na fronteira com a Colômbia. Quanto à embaixada da venezuela em Bogotá, foi fechada, com a retirada de todos os funcionários.
Vendaval
Fernando Pessoa
Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!
Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!
Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.
Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles - teu pulso divida
Minh'alma do mundo!
Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!
Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?
Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!
E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.
E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!
Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!