Entrevistado
ao lançar novo livro, ele debate perspectivas do movimento, Primavera
Árabe, crise da democracia, internet e como os EUA produziram seu
próprio declínio
No ano passado o movimento Occupy espalhou-se espontaneamente por inúmeras cidades dos Estados Unidos. Mudou radicalmente o discurso e fustigou a elite econômica com sua desafiante defesa das maiorias. Foi, para Noam Chomsky, “a primeira grande resposta pública a trinta anos de guerra de classes”. Em seu livro mais recente, Occupy, Chonsky debate os principais temas, questões e reivindicações que estão levando cidadãos comuns a protestar. Como se chegou a tal ponto? De que modo o 1% de mais ricos influencia as vidas dos outros 99%? Como se pode separar Política de Dinheiro? Que seria uma eleição genuinamente democrática?
Na semana passada, Chomsky foi entrevistado na web-rádio do site Alternet. Eis uma transcrição, levemente editada por motivos de clareza, de sua fala. A gravação original (em inglês) pode ser ouvida aqui.
Joshua Holland:Eu queria perguntar sobre algumas tendências que moldam nosso discurso político. Eu li muitos de seus livros, e um que eu achei importante foi O consenso fabricado, do final dos anos 1980. Desde então, houve grandes mudanças. A mídia dominante está mais consolidada mas temos, ao mesmo tempo, uma proliferação de outras formas de mídia. Você acha que o alcance do que é considerado um discurso aceitável foi ampliado ou restringido?
Noam Chomsky:
Na verdade, Ed Herman e eu lançamos uma segunda edição desse livro uns
dez anos atrás, com uma nova (e longa) introdução. Na época, não víamos
muitas mudanças, mas se fôssemos fazer de novo, certamente abordaríamos o
que você mencionou. Lembro que estávamos falando sobre a mídia
dominante. Em relação a isso, acho que praticamente a mesma análise se
sustenta, apesar de meu sentimento ser de que, desde 1960, houve
abertura no mainstream – como efeito do ativismo da década de
60, que mudou as percepções, atitudes, e civilizou o país de muitas
maneiras. Assuntos que são discutidos abertamente hoje eram invisíveis,
e, se visíveis, não eram mencionados há cinquenta anos.
Além
disso, muitos jornalistas são, eles mesmo, gente cuja formação se deu
no ativismo dos anos 60 ou nos seus desdobramentos. Essas mudanças estão
se dando por um longo tempo. Com relação às mídias alternativas, elas
certamente proporcionam uma grande variedade de opções que não existiam
antes – o que inclui o acesso à mídia estrangeira. Por outro lado, a
internet é, de certa forma, como entrar na Biblioteca do Congresso. Tudo
está lá, mas você tem que saber o que esta procurando. Do contrário,
você pode não ter acesso nenhum à biblioteca, porque daria no mesmo. Por
exemplo, não é suficiente entrar na biblioteca de Biologia de Harvard
para tornar-se biólogo. Você tem que ter as bases para o entendimento,
uma concepção do que é importante e do que não é; do que faz sentido ou
não faz. Não uma base rígida que nunca se modifica, mas você precisa ao
menos ter algum tipo de base.
Infelizmente,
isso é bem raro, quando faltam movimentos ativistas que atraiam uma
parte substancial da população para interação, intercâmbio – o tipo de
coisa que ocorria na comunidade do Occupy por exemplo. Na ausência
disso, a maioria das pessoas fica meio à deriva, na internet. Sim, é
possível encontrar coisas de valor, mas você tem que saber procurar por
elas e ter as bases de análise e percepção que permitam separá-las do
lixo.
Separar o joio do trigo..
Chomsky:
Sim – o que exige organização e ativismo. É o tipo de coisa que tem que
ser feita com outras pessoas. Você tem que ser capaz de testar ideias e
obter reações. Você tem que apurar suas percepções. Isso realmente não
ocorre sem uma organização substantiva. Existe um intercâmbio na
internet, mas ele tende a ser superficial.
Vamos voltar ao seu livro. Chama-se Occupy, é
uma leitura boa e rápida. Você faz um ótimo trabalho explicando a
guerra de classes promovida pela elite econômica nos últimos trina ou
quarenta anos. Mas a pobreza é relativa: americanos vivendo na linha de
pobreza ainda possuem uma riqueza maior que 80 ou 90 % da população
mundial. Poucas pessoas passam fome nesse país, e a atual tendência
[para a desigualdade] não é algo novo. Qual foi o ponto de virada? A
gravidade da recessão? O que mais ajudou a abrir os olhos das pessoas?
Chomsky: Você
está certo ao dizer que estamos melhor que a maior parte do mundo.
Antes de falar com você, eu conversava com uma mulher da Índia, que vive
e trabalha há muitos anos em vilas localizadas numa das áreas mais
pobres do país. Ela descria suas atividades: seus sucessos e fracassos. É
um mundo radicalmente diferente. As pessoas aqui não vivem em condições
comparáveis às da idade da pedra. Eles se comparam com o que está
disponível para uma vida decente na sociedade em que vivem. Esse é o
país mais rico e poderoso de toda a história do mundo. Isso tem
vantagens extraordinárias. Comparando com o que está disponível aqui, e,
dadas as circunstâncias, com o que está disponível para a maioria da
população – o imaginário dos 99% do movimento Occupy – existe um abismo
enorme.
Por
exemplo, não temos o tipo de sistema de saúde que outras sociedades
comparáveis têm. Não temos infra-estrutura equivalente. Nos últimos
trinta anos – mesmo sem contar com a última recessão – houve uma
relativa estagnação da grande maioria da população. O que realmente
aconteceu está muito bem contado em um pequeno livro que foi publicado
depois do meu. E uma recente publicação do Economic Policy Institute,
que tem sido a fonte principal de dados confiáveis nos últimos 30 ou 35
anos. Chama-se Failure by Design
[“Fracasso Projetado”]. É uma leitura fácil e que vale a pena. O título
é bastante preciso. Estamos [nos Estados Unidos] em meio a um fracasso,
na medida que grande parte da população não viveu essencialmente
progresso nenhum, ainda que uma riqueza substancial tenha sido
produzida. A própria economia é muito menos produtiva do que deveria
ser. A produção do tipo de bens de que as pessoas precisam é menos
ainda. É claro que uma pequena parte da população – os 0,1% – obteve
sucesso espetacular.
É
um fracasso baseado na diferença de classes, e foi projetado. Esse é o
fato crucial. Existiram e ainda existem outras opções disponíveis. As
coisas não precisam acontecer assim. Por isso, acumulam-se tantos
temores, raivas, frustrações. Tudo isso está visível nas pesquisas. Há
ódio às instituições e desconfiança por todo o país, e isso tem
aumentado há um bom tempo. O movimento Occupy conseguiu capturar o
sentimento e cristalizá-lo. É assim que os movimentos populares crescem.
Tomemos
como exemplo o movimento de direitos civis. Ele existiu por décadas,
mas poucas coisas produziram desenvolvimento importantes. Por exemplo, a
atitude Rosa Parks, ou estudantes negros sentando nas lanchonetes em
Greensboro, na Carolina do Norte. As coisas acontecem de repente e, do
nada, surge um movimento popular. O mesmo aconteceu no movimento contra a
guerra, os movimentos feministas, os ambientalistas, ou o movimento por
justiça global.
O
Occupy eclodiu no momento em que era mais necessário, e acho sua
estratégia brilhante. Se tivessem me perguntado, eu não a teria
recomendado. Nunca pensei que fosse funcionar. Por sorte, eu estava
errado. Funcionou muito bem. Dois grandes processos se deram, em minha
opinião, e se puderem ser mantidos e ampliados, será extremamente
importante. Um foi simplesmente mudar o discurso, colocando na agenda
temas que estavam fervendo nos bastidores, mas nunca eram o foco
principal – como a desigualdade, a corrupção financeira, a fragmentação
do sistema democrático, o colapso da economia produtiva. Estes assuntos
tornaram-se comuns. Isso foi muito importante.
Outro fenômeno que surgiu, e é difícil de medir, foi a criação de comunidades. As comunidades do Occupy foram extremamente valiosas. Formaram-se espontaneamente, com base no auxílio mútuo, intercâmbio público e outras coisas que fazem muita falta, em uma sociedade pulverizada como a nossa, onde as pessoas estão sozinhas. A unidade social por que o mundo dos negócios luta é apenas uma díade, um par. Você e sua televisão e seu computador. O Occupy quebrou isso de forma extremamente significante. A possibilidade de cooperação, solidariedade, apoio mútuo, discussão pública e participação democrática é um modelo que pode inspirar as pessoas. Muitas pessoas participaram disso, pelo menos de forma periférica.
Outro fenômeno que surgiu, e é difícil de medir, foi a criação de comunidades. As comunidades do Occupy foram extremamente valiosas. Formaram-se espontaneamente, com base no auxílio mútuo, intercâmbio público e outras coisas que fazem muita falta, em uma sociedade pulverizada como a nossa, onde as pessoas estão sozinhas. A unidade social por que o mundo dos negócios luta é apenas uma díade, um par. Você e sua televisão e seu computador. O Occupy quebrou isso de forma extremamente significante. A possibilidade de cooperação, solidariedade, apoio mútuo, discussão pública e participação democrática é um modelo que pode inspirar as pessoas. Muitas pessoas participaram disso, pelo menos de forma periférica.
Se
estas duas conquistas puderem ser mantidas e expandidos, poderá haver
um impacto de longo prazo. Não será fácil, há existem desafios imensos.
As táticas terão que ser ajustadas, como sempre, mas o que aconteceu foi
um ponto de virada. Se você pensar no que aconteceu em apenas alguns
meses, é surpreendente.
Vamos
mudar de assunto um pouco. Você falou e escreveu muito sobre a chamada
Primavera Árabe. Parece que esse “despertar” tem sido desigual, assim
como a reação do governo dos Estados Unidos a ele, nos vários países. O
governo hesitou, mas de certa forma apoiou a revolução no Egito, usou a
força na Líbia, e ao mesmo tempo fecha os olhos enquanto a Arábia
Saudita e outras forças defenderam o regime no Bahrain – um movimento
que estranhamente coloca os governos dos Estados Unidos e do Irã no
mesmo campo. Como podemos entender essas contradições… ou
desenvolvimentos desiguais?
Chomsky:
Em primeiro lugar, acho que a política dos Estados Unidos tem sido
bastante consistente, o que é verdade também em relação à Inglaterra e à
França. A França é muito influente na parte ocidental da África e no
norte do continente: a Tunísia era como um protetorado francês. As
potências imperiais tradicionais têm uma posição muito consistente: elas
opõem-se às tendências democratizantes em qualquer, lugar nessa região.
Você
afirma que os Estados Unidos apoiaram, hesitantes, a derrubada da
ditadura no Egito, mas isso é parcialmente verdade. O que vimos foi um
padrão muito tradicional de atitude. O ditador preferido torna-se cada
vez mais difícil de apoiar. No fim, o exército volta-se contra ele.
Nesses casos, e existem dezenas deles, existe um tipo de conduta que é
seguido rotineiramente. Apoia-se o ditador e o regime tanto quanto
possível. Quando isso se torna impossível – por exemplo, se o exército
volta-se contra o ditador, como no Egito – então, os EUA mandam-no
embora, declaram seu amor à democracia e tentam restabelecer tanto do
regime antigo quanto possível. Foi basicamente o que aconteceu.
O
maior sucesso da Primavera Árabe é, até agora, a Tunísia. Os franceses
apoiaram a ditadura, mesmo quando o levante popular era maciço.
Continuaram a apoiá-la, até que finalmente se afastaram. Tem havido uma
real participação popular na Tunísia, que muda muito as coisas. Há
vários problemas, mas houve progressos consideráveis. No Egito, que é o
país mais importante e onde coisas muito animadoras aconteceram, houve
vários retrocessos. Muito do antigo regime está de volta. Os grupos
islâmicos que se organizaram sob a ditadura, em favelas urbanas e nas
áreas rurais, agora têm uma grande estrutura organizacional, que lhes
permite – particularmente à Irmandade Muçulmana – manter influência
dominante em qualquer espaço político formal existente hoje.
Os
Estados Unidos podem viver com eles. A liderança da Irmandade Muçulmana
é neoliberal. Ela basicamente aceita a estrutura das políticas globais
estadunidenses. Os Estados Unidos não têm objeção ao domínio islâmico. A
Arábia Saudita, que é um grande aliado, é o estado mais extremamente
fundamentalista islâmico do mundo, e um dos mais opressivos. Os Estados
Unidos não têm problemas com isso. Pode ser islâmico ou qualquer outra
coisa, desde que aceite as estruturas do poder global dos Estados
Unidos.
Não
tenho tempo de ir de caso em caso, mas acho que, se você observar, irá
concluir que todos os casos são essencialmente iguais neste padrão – os
Estados Unidos e seus aliados temem um progresso democrático real, e
tentam bloqueá-lo. Existe uma razão muito simples para tanto. Examine as
pesquisas. Existem amplas sondagens de opinião pública, feitas pelos
Estados Unidos e por organizações árabes confiáveis. Todas indicam que
naquela região as sociedades veem, como maior ameaça, os Estados Unidos e
Israel.
Eles
não gostam do Irã, bastante impopular. Isso vem da tensão entre persas e
árabes. As tensões entre sunitas e xiitas também vêm de longa data. O
Irã é impopular, mas poucos o veem como uma ameaça. Na última pesquisa,
há algumas semanas, eram 5%. A oposição à política dos Estados Unidos é
tão forte que a maioria – e em alguns países, a grande maioria – pensa
que a região estaria melhor se o Irã tivesse armas nucleares. Eles não
gostariam que houvesse armas nucleares lá, mas querem compensar o poder
dos Estados Unidos e de Israel. Uma recente pesquisa do Gallup mostra
que mais de 80% dos egípcios querem rejeitar a ajuda dos Estados Unidos,
porque se opõem ao país e têm medo de ameaças.
Essas
não são posturas que os Estados Unidos e seus aliados desejam,
obviamente. Se você tem uma democracia que funciona, a opinião pública
influencia a política. Por isso, Washington se opõe à democracia. Você
não lê isso na mídia e nos jornais. Fala-se sobre nosso amor à
democracia e sobre nossa suposta inconsistência: por que aqui sim, e lá
não? Na verdade, há muito pouca inconsistência. Aliás, isso é confirmado
pelos estudiosos mais sérios, que reconhecem, meio que lastimosamente, o
apoio dos Estados Unidos à democracia, apenas como estratégia e por
objetivos econômicos. É verdade na América Latina, é verdade no Oriente
Médio, é verdade em qualquer lugar. É verdade aqui em casa, também. É
completamente inteligível, não deveríamos alimentar ilusões sobre
isso. Pode não ser o que as pessoas nos Estados Unidos querem, mas aqui,
e em outros países, há, entre a opinião pública e as políticas um
grande hiato, um sinal de não funcionamento da democracia. É, aliás, uma
das razões para o enorme um antagonismo da população para com o
Congresso. A aprovação do Congresso está na casa em um dígito. Acho que
nunca foi menor.
Numa pesquisa recente, 11%.
Chomsky: É
praticamente invisível. O mesmo é verdade em relação a instituições que
atuam no exterior. Grandes corporações, bancos, ciência, várias coisas.
Apenas o exército ainda aparece bem, em termos de confiança das pessoas nas instituições. Elas ainda confiam no exército.
Chomsky: Você
tem razão. Nada disso é saudável – na verdade, tudo é muito perigoso.
Reflete basicamente o desgaste do funcionamento da democracia, que vem
de muito tempo. O fato de as eleições serem essencialmente compradas
tornou-se tão evidente que é difícil de esquecer.
Falando
sobre tendências internacionais, o que você acha da crescente visão de
que os Estados Unidos são um império em declínio? De um lado, certamente
parece que nosso chamado soft-power está diminuindo, mas é
preciso contrastar isso com nosso crescente domínio militar na era
pós-Guerra Fria e especialmente em seguida ao 11 de Setembro. Estamos
realmente em declínio?
Chomsky:
Sim, estamos. Os Estados Unidos estão em declínio desde 1945. No final
da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos estavam em uma posição de
poder fenomenal. Tinham metade da riqueza do mundo. Tinham segurança
total. Controlavam o hemisfério ocidental. Controlavam os dois oceanos e
as margens opostas dos dois oceanos. Tinham objetivos muito ambiciosos
de controlar a maior parte do mundo e assegurar que não houvesse
objeções a esse domínio. Isso era muito explícito e amplamente
implantado. O país entrou em declínio muito rápido.
Em
1949, houve um grande evento, que é chamado aqui de a “perda” da China.
Significa que o país tornou-se independente. Isso é uma enorme fonte de
controvérsias e conflitos nos Estados Unidos desde então – as pessoas
perguntam quem é responsável pela “perda” da China… Logo depois disso,
começaram a se preocupar com a “perda” da Indochina, que espalhou a
preocupação de que haveria a “perda” do sudeste asiático. O conceito de
“perda” é interessante. É uma pretensão tácita de que são basicamente…
nossos.
A
situação se desfez ao longo dos anos. Em 1970, o percentual da riqueza
mundial nos Estados Unidos era aproximadamente 25% – o que ainda é
colossal, mas não é 50%. O mundo já estava se tornando mais diverso. Na
última década, a América do Sul adquiriu substancial independência.
Vimos isso recentemente na Conferência de Cartagena, na Colômbia. Os EUA
mantiveram-se em posição isolada em todos os grandes temas: drogas,
Cuba e outros. É um sinal de significativa perda de poder e influência.
Agora, ocorre no Oriente Médio. É outra razão pela qual os Estados
Unidos e seus aliados estão tão preocupados com a ameaça da democracia e
da independência. .
Você
tem razão ao dizer que o poder militar não declinou. Na verdade, pode
ter se ampliado, em comparação com o resto do mundo. Os Estados Unidos
são responsáveis por quase metade dos gastos militares do mundo. O único
país com centenas de bases e com a habilidade de se projetar em
qualquer lugar. Novas tecnologias de destruição e assassinato – drones, por exemplo. Estão muito à frente do resto do mundo.
Você
também citou o chamado soft-power. Isso é importante. A capacidade de
influência continuou a cair, como tem acontecido desde 1945. Uma forma
de ver isso são os vetos na ONU. Até meados da década de 1960, o mundo
estava tão sob controle que os Estados Unidos não vetaram nenhuma
resolução no Conselho de Segurança. Desde então os Estados Unidos são o
líder em vetar resoluções. A Inglaterra, um estado-cliente dos EUA, fica
em segundo. Nenhum outro país chega perto. Esse é um reflexo do
declínio de capacidade e poder, o que significa a habilidade de
influenciar e controlar.
Parte
desse declínio é auto-infligida. O que o Economic Policy Institute
chama de “fracasso projetado” enfraqueceu significantemente os Estados
Unidos, e irá continuar – a não ser que aconteçam grandes mudanças.
Mudanças que beneficiariam a população aqui e no mundo.
Há
uma espécie de conclusão comum deste raciocínio que supõe uma futura
hegemonia chinesa. Deveríamos ser cautelosos quanto a isso. O
crescimento chinês tem sido espetacular, mas a China ainda é um país
muito pobre – incomparavelmente mais pobre que os Estados Unidos. A
China cresceu como um enorme centro industrial, mas principalmente para
montagem. É principalmente uma plataforma de montagem para países de
indústria sofisticada e multinacionais ocidentais como a Apple ou
outras. Isso irá mudar com o tempo, mas é um percurso longo. A China
enfrenta problemas reais: ecológicos, demográficos e muitos outros. É um
desenvolvimento significativo, mas acredito que deveríamos olhá-lo com
algum ceticismo.
Sim,
esses processos estão sem dúvida ocorrendo. Eles são parcialmente
projetados. Um setor da sociedade está incrivelmente bem – em especial, o
ligado ao capital financeiro. Para o público em geral, a história é
diferente. É por isso que você vê revoltas em toda a parte.