terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Por que o Ocidente despreza o Islã

Nas simplificações grosseiras sobre o mundo árabe, a vítima oculta somos nós mesmos. Ao projetarmos sobre o outro nossa visão de atraso, intolerância e fundamentalismo, não enxergamos como estão sob ameaça os melhores valores de nossa civilização

Cláudio César Dutra de Souza, Sílvia Ferabolli

Khaled Hosseini é um fenômeno editorial. Suas duas últimas publicações, O Caçador de Pipas e A Cidade do Sol, figuram nas listas dos mais vendidos nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. A obra de Hosseini é lida por um público ávido por entender como vivem “os muçulmanos”. E ele parece cumprir muito bem o seu papel de (des)informar leigos pelo mundo sobre o que vem a ser o modus vivendi islâmico.

Talvez essa não tenha sido a intenção do autor. Em seus livros, ele parece ser muito claro em situar seus personagens no interior do Afeganistão, mas como o entendimento dos conceitos religiosos, étnicos e de identidade nacional que definem muçulmanos, árabes e afegãos não é o forte da maioria da população, acabam todos sendo identificados, sem distinção, como seguidores do Islã. Essa associação não é de todo incorreta, já que a maioria dos árabes são muçulmanos, assim como o são os afegãos. O grande problema é associar o Islã com os segmentos mais retrógrados e atrasados da sociedade afegã – algo como definir o cristianismo como a religião que queima mulheres e hereges em fogueiras, permite a escravidão e silencia frente aos horrores do holocausto.

Em seu Orientalismo, Edward Said mostrou como a representação literária dos povos orientais, especialmente dos muçulmanos, como bárbaros, primitivos, violentos, decadentes e irracionais legitimou os interesses dos grandes poderes da era colonial. No pós-11 de setembro, a mídia de massas retoma o projeto orientalista e passa a demonizar os muçulmanos com vistas a iniciar um novo ciclo histórico de dominação e subjugação, agora comandado pelos Estados Unidos. Árabes, afegãos, paquistaneses, indonésios, indianos, enfim, qualquer indivíduo que ostente um turbante ou véu na cabeça, ou que pelo menos pareça alguém que usaria esse tipo de vestimenta, é quase que automaticamente definido como fanático, fundamentalista, atrasado e, a palavra do momento, terrorista. O entendimento do cidadão médio, filtrado por aquilo que deve ser mostrado, constrói um Islã wahabista, pleno de explosivos Osamas e reprimidas mulheres sob véus; um povo que corta mãos de ladrões, apedreja condenados até a morte e proíbe, tal como os talibãs, qualquer forma de prazer e diversão. Não é a toa que temos O Livreiro de Cabul, Mulheres de Cabul, qualquer coisa de Cabul vira best-seller e abastece o imaginário de milhões de cidadãos no Ocidente que se horrorizam e se deliciam com esse tipo de representação do “muçulmano”.

Uma época na qual a racionalidade parece estar em extinção

Além de servir às práticas de dominação política, militar e cultural norte-americana, essas projeções do “outro” também servem para reforçar a nossa suposta normalidade em face de um contraponto tão bizarro. Gostamos de nos imaginar como filhos da modernidade, livres de superstições e paixões primitivas que um dia fizeram parte da nossa história, mas que hoje, enfim, libertos, avançamos em direção a uma liberdade nunca dantes sonhada, liberdade essa que foi duramente atacada em 11 de setembro de 2001 pelos fanáticos de Allah.

Mas, sejamos pragmáticos: o que o mundo livre tem a ver com dois prédios destruídos em Nova York ou o que eles simbolizavam? Ficamos menos livres a partir daquele momento? Estamos sendo ameaçados? A resposta, se é que existe apenas uma, seria que, efetivamente, uma parte do mundo está menos “livre”, mas isso diz respeito àqueles poucos que gozam dessa liberdade tão duramente conquistada através de séculos de exploração colonial, invasões e desrespeito à soberania de inúmeros povos, que agora se insurgem de uma forma desagradável para quem pensava que a história havia chegado ao seu fim com o triunfo do capitalismo liberal. Não estaríamos nos focando excessivamente no chamado “fanatismo religioso” muçulmano e esquecendo que vivemos em uma época no qual a racionalidade parece estar em extinção? Fanáticos islâmicos versus fanáticos judeus e suas intermináveis políticas fratricidas; fanáticos católicos irlandeses e norte-americanos; fanáticos amishes; um renascido em Cristo na Casa Branca e um Papa de passado duvidoso, tão ou mais fundamentalista em sua leitura tendenciosa do mundo contemporâneo quanto o mais caricato dos Aiatolás.

Fanáticos os temos para todos os gostos, com a diferença, alguém notará, que “os nossos” não explodem. Ledo engano. Norte-americanos e israelenses explodem a tudo e a todos que ousem ir contra os seus “interesses de Estado”. Os Estados Unidos “previnem” e Israel “se defende”, exatamente do quê? Sim, dos bárbaros, fanáticos e torpes muçulmanos cuja diversão e meta suprema são a de destruir a cultura e a liberdade democrática do Ocidente e, neste ínterim, vão todos à mesma vala comum, do intelectual muçulmano (sim, eles existem!), à mãe de família árabe chegando ao talibã mais raivoso, passando pelos casseurs franceses e suas demais ramificações européias – e contra todos eles é lançado o anátema de terroristas ou fanáticos muçulmanos, em uma das mais absurdas e brutais demonstrações de racismo, ignorância e manipulação midiática da atualidade.

Como se em nossa sociedade as mulheres vivessem em integridade absoluta

O modo como as mulheres muçulmanas são tratadas constitui-se em um escândalo, como se em nossas sociedades as mulheres vivessem em um patamar de integridade absoluto e não fossem estupradas, agredidas e mortas, não bastando isso, ganhassem menos, mesmo trabalhando mais do que os homens, e ainda tendo de se submeter a todo o tipo de tratamento estético, cirúrgico e dietético que já ceifaram a vida de milhares de fêmeas modernas – mortes nas mesas cirúrgicas de lipoaspiração; morte por distúrbios alimentares como bulimia e anorexia; morte por intoxicação de produtos químicos fortíssimos que visam alisar, afinar, reduzir, rejuvenescer e infantilizar cabelos, corpos e mentes.

Durante a guerra da Bósnia, dentre as tantas atrocidades perpetradas contra o povo muçulmano, talvez a pior tenha sido aquela cometida contra suas mulheres. Segundo Tadeusz Mazowiecki, investigador de Direitos Humanos da ONU, que se afastou do cargo em protesto contra a impotência da organização frente aos horrores da guerra, a "limpeza étnica" não foi resultado de ações militares, mas o objetivo principal do conflito. Os sérvios, na sua maioria cristãos ortodoxos, usaram o estupro sistemático como arma de terror para obrigar a população não-sérvia a deixar a região. Mais de 20 mil muçulmanas foram violentadas. Houve casos de mulheres inválidas torturadas com tesoura e cacos de vidro antes de serem mortas. Algumas mulheres escaparam da morte, mas não da humilhação. Quando se viram grávidas de seus estupradores, o bom Papa João Paulo II exortou-as piedosamente a não abortarem essas inocentes vidas, sob ameaça de excomunhão e de uma ida sem retorno para um lugar bem quente no outro mundo...

Aliás, a igreja católica não flexibiliza a proibição do aborto em casos de estupro, nem em casos de fetos anencéfalos e muito menos se a gravidez trouxer risco de vida à mãe. Efetivamente, o cristianismo representado pelo Vaticano não se constitui em nenhum exemplo de tratamento às mulheres que o faça estar em posição de tecer críticas ao Islã. Da mesma forma que não pode endossar a falácia de que o Corão exorta a violência, o genocídio e a usurpação e que a expansão islâmica se fez através da morte, da chacina e do roubo (a propósito: você já leu o Corão?). É necessário recordar que a expansão do cristianismo foi forjada no aço das espadas e à custa de milhões de vidas perdidas e, apesar da recomendação de amor ao próximo dos evangelhos canônicos, a imagem que parece ter sido desenvolvida pelo apologista Paulo de Tarso foi a do Cristo da Espada, o que expulsou os vendilhões do templo a chibatadas, um discurso bem mais palatável para um agonizante e bélico império Romano recém convertido por razões bem mais políticas do que de fé (a propósito: você realmente conhece a história do cristianismo?).

Hanna Arendt já denunciava lobby sionista e superfaturamento do Holocausto

Quanto aos judeus, se foram perseguidos também foram perseguidores e, como “povo eleito” foram intolerantes contra os “não eleitos”, vide a vergonhosa política israelense em relação aos palestinos, confinados em bantustões, segregados, marginalizados e humilhados em nome da proteção dos cidadãos de Israel – mas quem protegerá os palestinos do terrorismo de Estado israelense? (a propósito: você lê jornais?) Na década de 1960, Hanna Arendt já denunciava o lobby da comunidade sionista norte-americana em prol de Israel, o superfaturamento do Holocausto e a participação dos conselhos judaicos na eliminação de seu próprio povo na Alemanha nazista, o que lhe rendeu censuras e ameaças, semelhantes àquelas que Norman Finkelstein recebeu ao publicar A Indústria do Holocausto na década de 1990, denunciando o devir persecutório dos perseguidos além de uma série de outras distorções políticas e ideológicas que infelizmente fazem sofrer não apenas o povo palestino como igualmente a população judaica e israelense, à mercê da manipulação de sua própria história e de seu sofrimento por uma pequena elite religiosa.

Pode ser o Islã hoje um retrato daquilo que o Ocidente foi antes do advento das luzes, momento em que a religião possuía um efetivo poder político e transcendental sobre corações e mentes e que unia os cidadãos em verdadeiras comunidades, ao contrário de hoje, quando a idéia de Deus segue o princípio narcisista-individualista de nossos tempos? Irá o Islã, algum dia, secularizar-se e seus líderes religiosos tornarem-se uma espécie de fantoches nostálgicos como é o Papa na atualidade? Qualquer que seja o cenário a se desenhar no futuro próximo, ainda teremos muitos anos de teocracias e líderes espirituais de diversos matizes a explorar questões políticas e atuar sobre os excluídos da globalização sob a mediação do discurso religioso – mas o Islã não está sozinho no monopólio do irracionalismo! Essa exclusividade é real apenas no contexto rasamente etnográfico dos “romances de burca”, e é uma pena que a leitura desses livros outorgue a um número cada vez mais expressivo de pessoas viciadas em best-sellers o direito de julgar 1,3 bilhões de muçulmanos tendo como ferramenta analítica, única e exclusivamente, esses mal escritos recortes tendenciosos da realidade.

Passivamente assistimos ao preocupante desmonte de uma série de mitos fundadores da chamada civilização ocidental. Rasgamos a declaração universal dos direitos do homem, herança da revolução francesa, e parece que estamos em vias de reverter os processos de descolonização do pós-guerra, em uma retomada de práticas extrativistas, desrespeito a soberanias nacionais e tentativas de imposição de valores que visam aniquilar as diferenças e promover a intolerância ou algum suposto choque de civilizações. Não aceitar a confusão entre os conceitos de resistência e terrorismo; entender que as mulheres muçulmanas, na sua maioria, não vivem cobertas por burcas, mas são advogadas, engenheiras, médicas, cineastas, jornalistas e professoras com ativa participação em suas sociedades; e ousar duvidar do que nos é informado pelas agências de notícias e intelectuais de diversos matizes — comprometidos com seus governos e seus próprios preconceitos, agindo em uníssono a fim de que tenhamos medo daqueles que ousam contestar a posição vassala que lhes cabe no latifúndio mundial — é condição necessária para que possamos promover um verdadeiro diálogo entre o Islã e o mundo tributário do Ocidente que, para ser realmente livre, precisa aprender a conhecer, compreender e respeitar as diferenças culturais.

Bobby Timmons - Soul Time (1960)

http://i30.tinypic.com/2czub7s.jpg


Bobby Timmons - Soul Time (1960)


Músicos:
Bobby Timmons (piano);
Blue Mitchell (trumpet);
Sam Jones (bass);
Art Blakey (drums)

Gravado em Agosto de 1960.

Musicas:
1. Soul Time
2. So Tired
3. The Touch Of Your Lips
4. S'posin'
5. Stella B.
6. You Don't Know What Love Is
7. One Mo'

Dowloand abaixo:

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Acirra-se o conflito entre capital e trabalho



Escrito por Waldemar Rossi

Os trabalhadores da GM de São José dos Campos vêm resistindo às investidas da empresa para que abram mão dos seus direitos. Surge, então, uma convocação para um amplo movimento de solidariedade da classe e do movimento social com seus companheiros da GM. As notas abaixo falam mais que meus comentários.

Em defesa dos direitos e da livre organização da classe trabalhadora

Nas últimas semanas os operários que trabalham na General Motors do Brasil em São José dos Campos/SP têm resistido bravamente a mais uma ação do Capital que, para aprofundar a exploração contra a classe trabalhadora, lançou um pacote contra os trabalhadores.

A empresa, em meados de janeiro, anuncia para a cidade a contratação de 600 trabalhadores, condicionado a proposta à implementação do banco de horas, redução do piso salarial, congelamento de salários de um setor da produção e turno de 6x2. Além disso, oculta as demissões de 980 trabalhadores que efetuou no final de 2006 e que as contratações serão por prazo determinado de 1 ano.

O governo do PSDB na cidade chama a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos para "mediar um acordo" e oferece para empresa isenção de IPTU e redução de ISS. A empresa agradece, mas diz que depende da implementação das medidas contra os trabalhadores, para trazer "os empregos" para São José.

O debate sobre a GM toma conta da região e os trabalhadores dentro da fábrica sofrem a pressão das chefias diretas e da direção da empresa e mesmo assim resistem e enfrentam quatro assembléias, onde em todas elas a maioria dos operários votou contra a proposta de redução de direitos.

Importante dizer que há mais de 10 anos os metalúrgicos de Campinas, Limeira e São José dos Campos lutam contra a implementação do banco de horas que coloca a vida dos/as trabalhadores/as a mercê da empresa e aumenta o número de acidentes e doenças provocadas pelo trabalho. Lutam contra os patrões e por inúmeras vezes contra sindicatos da CUT, Força Sindical, que não só assinaram acordos como esse que a GM em São José apresentou, mas também entregaram direitos como estabilidade aos/às trabalhadores vítimas de acidentes e doenças provocadas pelo trabalho, além da redução de direitos nos acordos coletivos.

Basta olhar a situação dos trabalhadores nas outras plantas da GM e demais montadoras onde o banco de horas e a redução de direitos foram implementados. As empresas seguiram com as demissões e conseguiram o que mais buscavam, diminuir o valor da força de trabalho.

Bem perto de São José, na cidade de Taubaté, os trabalhadores na Volks sofreram com as demissões em 2006, tiveram salários reduzidos e a imposição do banco de horas e, nos últimos dias, mais um acordo foi assinado entre a empresa e o Sindicato, que inclui pagamento da PLR condicionado a trabalharem 33 sábados em 2008. No 2◦ semestre do ano passado, os metalúrgicos trabalharam todos os sábados.

É ação do Capital para superar suas crises cíclicas: expandir e aprofundar a exploração contra a classe trabalhadora: flexibilizar a jornada, diminuir salários e direitos. Contra isso é preciso avançar na unidade da classe para manter e ampliar direitos.

Intersindical construindo a unidade para enfrentar mais essa ação do capital

Essa investida da GM contra os/as trabalhadores/as na empresa não é um problema exclusivo dos operários que lá trabalham, mas sim um ataque ao conjunto da classe trabalhadora. Por isso a Intersindical tomou a iniciativa de chamar uma discussão com o movimento sindical e popular e construir uma campanha nacional em defesa dos direitos e da livre organização da classe.

Em defesa da livre organização sindical também, pois a Embraer, indústria do setor aeroespacial, impõe uma multa da ordem de 5 milhões de reais contra o Sindicato dos Metalúrgicos de SJC. A multa é por conta de uma ação movida em 99 pela empresa contra o Sindicato, que garante um interdito proibitório impondo multa a cada panfletagem, assembléia e mobilização realizadas na empresa. Essa é uma prática das empresas que conta com o apoio do Estado nas mais diversas categorias pelo país afora.

É por tudo isso que fazemos um chamado ao conjunto do movimento sindical e popular que não se renderam ao pacto entre o Capital e o Estado a se somarem em mais essa luta.

Uma Campanha Nacional que se inicia no ato que realizaremos no dia 21 de fevereiro em São José dos Campos no Sindicato dos Metalúrgicos a partir das 16:00 horas.

Os/as companheiros/s que estão em regiões mais distantes podem se somar a essa campanha denunciando esse ataque e apoiando a luta dos/as trabalhadores, nos seus jornais, mobilizações e enviando mensagens de solidariedade ativa a essa luta.

Juntos em mais essa batalha da classe!

Mais informações: Ana Paula 12-9762 7849

Mensagens podem ser enviadas ao Sindicato dos Metalúrgicos de SJC pelo e-mail:

secretaira@sindmetalsjc.org.br

A última fronteira

La frontera infinita”, transforma a migração de centro-americanos para os Estados Unidos através do México numa metáfora da condição humana universal nos tempos da globalização conservadora.

No sábado, 9 de fevereiro, entre as duas centenas de filmes ou mais apresentados

No Festival de Cinema de Berlim, filme do mexicano Juan Manuel Sepúlveda, “

na 58ª edição de Festival de Cinema de Berlim – a Berlinale – deu-se a estréia internacional do documentário “La Frontera Infinita”, do cineasta mexicano Juan Manuel Sepúlveda. Sepúlveda, nascido em 1980, é um dos diretores e produtores da nova geracäo mexicana, tendo em seu currículo alguns documentários e filmes produzidos ou dirigidos de 2005 para cá.

O foco do documentário é a migração de centro-americanos para os Estados Unidos através do México, vindos muitos de Honduras e da Guatemala, mas também de outros países. Inclusive o filme foca também a migração dos próprios mexicanos, no caso, de crianças e adolescentes que fogem de seus pais e de suas cidades.

Além de apontar para o grave problema social que está por trás, no meio e adiante dessa migração, o olhar do cineasta mexicano a transforma numa metáfora da contemporaneidade: junto da tragédia social, o filme adquire uma tonalidade épica, exibindo a férrea determinação daqueles que, sem nada ter, e tendo tudo a perder, se arriscam numa aventura em busca do futuro – de algum futuro, cada vez mais distante.

A divisão das perdas nessa dramática corrida em busca de alguma forma de sobrevivência é desigual. O filme começa mostrando os mais frágeis, divididos em dois grupos: as crianças e adolescentes que fogem de suas famílias mas são capturados e conduzidos a um abrigo que tenta devolve-los a seus pais; e os mutilados, aqueles que, tentando como muitos embarcar clandestinamente nos trens de carga acabam caindo, seja de sono ou por outra razão, e tem seus membros decepados pelas rodas da composição. Também comparece, nas primeiras cenas, a visão dos mortos pela polícia da imigração, além de tomadas patéticas da construção da nova cortina de ferro na fronteira dos Estados Unidos.

A linguagem cinematográfica de Sepúlveda é peculiar. Lenta, usando muito as tomadas com câmera fixa numa realidade tão “semovente”, ela prolonga os depoimentos, dando tempo a que as pessoas se expliquem, contem suas histórias, suas decepções e também sua determinação de continuar nas tentativas de atravessar a mirífica fronteira, que deixa de ser uma realidade concreta e passa a ser uma visão onírica.

Na segunda parte o filme se concentra nas viagens migratórias, onde se sucedem as caminhadas extenuantes e as invasões dos trens que passam pelos grupos fatigados. Num flash back muito interessante Sepúlveda exibe tomadas de trens invadidos por camponeses revoltados durante a revolução de 1910, que projetou o México em escala mundial na era das grandes revoluções, tanto no plano real quanto no cinema.

A viagem é fantástica. Premidos pela repressão do próprio México, estes viajantes devem atravessar milhares de quilômetros a pé e nessas caronas ferroviárias improvisadas e perigosas. Provocativamente, o filme se detém ainda a 4 mil quilômetros da fronteira dos Estados Unidos. A fronteira é um sonho distante; todos entregam sua causa “a Deus”, e prometem prosseguir depois se forem apanhados pelos “Migras”, a polícia aduaneira dos dois países, México e Estados Unidos; assim a viagem se torna o objetivo de si mesma. Ela se torna uma motivação, um estilo de vida, e muitos daqueles que ficam pelo caminho, mutilados ou detidos, se não morrem, constroem vidas para eles provisórias, pois a última fronteira guardam para si, aquela que eles decidiram atravessar ao se jogar nessa aventura tão precária quanto grandiosa.

Sepúlveda não aborda no filme o jogo perverso da verdadeira indústria de viagens que existe dentro e em torno desse drama, embora suas marcas estejam presentes, nas viagens arranjadas, nos ônibus semiclandestinos. Seu objetivo é mesmo ressaltar o caréter sobre-humano dessas opções tomadas in extremis, nas condições da falta de rumo a que a cena econômica condena milhões de pessoas. Todos os anos são 500 mil centro-americanos, sem contar os de outros países, como o Brasil, que navegam nessas trilhas dos novos “descobridores”. Muitos deles perecem. Alguns, como os meninos que dizem que seu sonho agora é voltar para casa, talvez se redescubram. Enfim, o filme é um depoimento pungente a vigoroso sobre a condição contemporânea.

Louca Paixão - (Turks Fruit / Turkish Delight)

Louca Paixão é um dos grandes trabalhos de Verhoeven, um legítimo softcore com estilo. Excelente roteiro e forte atuação de Rutger Hauer. História baseada no livro de Jan Wolkers. Eric (Hauer) se encontra com Olga (Monique), uma garota que ele conhece de maneira ocasional. O relacionamento entre ambos é intenso, com uma química sexual considerável, mas a história irá mostrar elementos inusitados e melancólicos, como a doença de Olga. O filme então explora brilhantemente fatores como paixão insana, ódio, questionamentos, etc. Fica óbvio também que Eric não ama Olga, mas é dominado pela paixão voluptuosa. Fonte

Créditos: MakingOff - Distanásia
Gênero:
Drama / Romance
Diretor: Paul Verhoeven
Duração: 107 minutos
Ano de Lançamento: 1973
País de Origem: Holanda
Idioma do Áudio: Holandês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0070842

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 794 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 105
Resolução: 512x320
Formato de Tela: Tela Cheia
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 700 Mb
Legendas: No torrent

- Melhor Filme Holandês do Século, Golden Calf, Nederlands Film Festival 1999
- Nomeado, Melhor Filme Estrangeiro, Oscar 1974
Mais detalhes

Em Louca Paixão Verhoeven filmou muito mais do que relações que adicionam ao sentimental o escatológico; trata-se de um amor que extrapola a intimidade mais usual e instaura uma forma ímpar de aproximação humana: o amor mergulhado em todos os produtos do corpo (desde o cheiro e os hormônios até o suor e as fezes). O filme devolve tudo que colhe ao corpo e à condição biológica, o que Erik afirma de duas formas: primeiro com um ramo de flores – por ele mesmo colhidas – que coloca sobre o peito de Olga, e que depois de retiradas deixam só as larvas passeando sobre a pele branca. No segundo momento, através de uma sentença bastante clara: "Quando morrer, seu corpo será doado à ciência, querida", ele diz a Olga. Se desde Welles e Rossellini houve cineastas do corpo, poucos foram (e têm sido) os cineastas das vísceras. A câmera clínica que Sganzerla identificava em seus diretores prediletos, capaz de tatear os corpos e estabelecer uma extraordinária anatomia de superfície, é substituída em Louca Paixão por uma verdadeira câmera cirúrgica, cortante e invasiva. Mais detalhes

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ANTIDEPRESSIVOS: PESQUISADORES ESCONDEM RESULTADOS NEGATIVOS

Blog do Azenha


Os fabricantes dos antidepressivos Prozac e Paxil nunca publicaram os resultados de cerca de um terço das pesquisas que conduziram para conseguir aprovação do governo, enganando médicos e consumidores sobre a verdadeira eficácia das drogas, uma nova análise descobriu.

Em pesquisas publicadas, cerca de 60% das pessoas que tomavam as drogas informaram ter tido alívio significativo dos sintomas da depressão, comparados com cerca de 40% daqueles que tomaram placebo (comprimido inócuo usado em testes científicos). Mas, quando os estudos menos positivos, que não foram publicados, são incluídos, a vantagem encolhe: as drogas são mais eficazes que os placebos, mas por uma margem modesta, de acordo com um estudo publicado quinta-feira pelo The New England Journal of Medicine.

Pesquisas anteriores haviam descoberto o mesmo tipo de distorção para uma variedade de medicações; e muitos pesquisadores questionam a eficácia dos antidepressivos. Mas a nova análise, revisando informações de 74 pesquisas envolvendo 12 drogas, é a mais completa até hoje. E documenta uma grande diferença: enquanto 94% dos estudos positivos (para as drogas) foram publicados, somente 14% daqueles com resultados decepcionantes ou incertos foram publicados.

A descoberta provavelmente vai inflamar o contínuo debate sobre como as pesquisas devem ser divulgadas. Em 2004, depois da revelação de que estudos negativos não haviam sido divulgados, um grupo de publicações concordou em não publicar os dados de pesquisas que não sejam primeiro registradas em um banco de dados público. Representantes das maiores empresas farmacêuticas anunciaram que as companhias começariam a divulgar mais informação, mais rapidamente, em seus próprios endereços eletrônicos.

E no ano passado o Congresso aprovou legislação que expande os tipos de estudos e a profundidade de informações que devem ser submetidos ao banco de dados operado pela Biblioteca Nacional de Medicina. A agência do governo que regulamenta o setor, FDA, dá acesso limitado aos dados de testes clínicos recentes, mas críticos dizem que o banco de dados é difícil de navegar.

"Isso é muito importante por duas razões", diz o dr. Jeffrey M. Drazen, editor-chefe do The New England Journal. "Um é que, quando você receita drogas, quer ter certeza de que está trabalhando com a melhor informação possível; você não compraria ações de uma empresa se soubesse apenas um terço da verdade sobre ela." Segundo, continuou o dr. Drazen, "devemos mostrar respeito às pessoas que participam de testes clínicos."

"Elas correm algum risco ao participar do teste e depois as companhias escondem as informações?", perguntou. "Esse tipo de coisa nos deixa realmente interessados na questão."

Alan Goldhammer, sub-vice presidente para assuntos regulatórios dos Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos da América, disse que o novo levantamento deixou de mencionar que a indústria e o governo já tinham dado passos para tornar a informação sobre testes clínicos mais transparente. "Isso tudo é baseado em informação de antes de 2004 e desde então nós acabamos com o mito de que as companhias têm qualquer coisa a esconder", ele disse.

No estudo, uma equipe de pesquisadores identificou todos os testes de antidepressivos entregues ao FDA para conseguir a aprovação de drogas de 1987 a 2004. Os estudos envolveram mais de 12.564 adultos testando drogas como o Prozac da Eli Lilly, o Zoloft da Pfizer e o Effexor da Wyeth.

Os pesquisadores obtiveram dados não publicados das drogas mais recentemente aprovadas no site da FDA. Para drogas mais antigas, eles foram atrás de cópias de estudos através de colegas e usando o Freedom of Information Act (lei americana que, através de ações na Justiça, pode garantir acesso a informações consideradas confidenciais). Os autores do levantamento pesquisaram em bancos de dados de pesquisas publicadas e também escreveram para as companhias que conduziram testes pedindo confirmação de publiação de pesquisas específicas.

Descobriram que 37 dos 38 testes clínicos que a FDA considerou com resultados positivos foram publicados. A agência considerou fracassados ou não-convincentes 36 dos testes, dos quais 14 foram publicados.

Mas 11 destes 14 artigos "indicaram resultado positivo", que não encontrava embasamento na revisão da FDA, segundo o principal autor, dr. Erick H. Turner, um psiquiatra e ex-funcionário da FDA que agora trabalha na Universidade de Saúde e Ciências de Oregon e no Centro Médico dos Veteranos de Guerra de Portland. Os co-autores foram pesquisadores da Kent State University e da Universidade da Califórnia em Riverside.

O dr. Turner disse que a divulgação seletiva de estudos favoráveis causa frustração nos pacientes. "Para aqueles que consideram tomar um antidepressivo, eu acho que a conclusão é de que devem ser mais cautelosos", ele afirmou, "e não devem ficar chocados se não houver efeito; nem pensar que há algum problema com eles".

Já os médicos, diz ele, "acabam perguntando, 'como é que essas drogas funcionam nos testes clínicos mas não respondem aqui no consultório?'"

O dr. Thomas P. Laughren, diretor da divisão de produtos de psiquiatria da FDA disse que faz tempo que a agência sabia que estudos favoráveis têm maior chance de serem publicados. "É um problema que enfrentamos há anos", ele disse numa entrevista. "Apóio acesso completo a todas as informações; a questão para nós é como fazer caber na bula" que acompanha a maior parte das drogas.

O dr. Donald F. Klein, um professor emérito de psiquiatria da Columbia, disse que os fabricantes de drogas não são os únicos relutantes a publicar resultados não convincentes. As próprias publicações e os autores também contribuem. "Se é informação privada e você não gosta do resultado, bem, nós não deveríamos ficar surpresos que alguns médicos nem submetem esses estudos para publicação", ele afirmou.



Protesto contra a indústria peleira
da China acontece dia 13, em São Paulo

No próximo dia 13 de fevereiro, a partir das 10h00, em
São Paulo, ativistas pretendem chamar atenção do mundo
para as barbáries cometidas pela indústria de pele chinesa.
“Enquanto aquele país não tomar sérias medidas para acabar
com essa prática cruel e desnecessária, manifestações vão
continuar convocando pessoas de todas as nações para
que se compadeçam e se juntem àqueles que já fazem
boicote aos produtos chineses”, diz Fábio Paiva, presidente
da ONG “Pelo fim do holocausto animal” e coordenador da
International Anti-Fur Coalition no Brasil.

Paiva diz que o boicote se estende às Olimpíadas 2008, que
ocorrem entre 8 e 24 de agosto. A China é a
maior produtora e exportadora de peles (51% da
produção mundial), impondo as mais extremistas formas
de crueldade aos animais. Segundo o manifestante,
“investigações comprovam os métodos cruéis de
criação, transporte, confinamento e abate dos animais.
Não somente dos tradicionais fornecedores de pele,
como raposa, coelho e guaxinim, mas também de cães
e gatos – que têm suas
peles arrancadas e comercializadas de maneira
fraudulenta, se passando por outros animais”.
Anualmente, mais de dois milhões de cães e gatos
são mortos na China para retirada de suas peles.
Ao todo, cerca de 40 milhões de animais são mortos
para que suas peles sejam utilizadas em itens de moda
e decoração.


SERVIÇO
PROTESTO CONTRA A INDÚSTRIA PELEIRA CHINESA
QUANDO: 13/02/2008
HORA: 10h00
ONDE: Consulado da China - Rua Estados Unidos,
1071, região dos Jardins, em São Paulo