Mais uma vitória de candidato comprometido com seu povo...
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Vitória de Evo Morales se configura esmagadora....
Mais uma vitória de candidato comprometido com seu povo...
Reflexões de Fidel....
Existe margem
para a
hipocrisia e a mentira?
hipocrisia e a mentira?
• OS Estados Unidos, em sua luta contra a
Revolução Cubana, tiveram no governo da Venezuela o
seu melhor aliado: o exímio dom Rómulo Betancourt
Bello. Não o sabíamos nessa época. Tinha sido eleito
presidente, em 7 de dezembro de 1958 e, sem ainda
tomar posse, em 1º de janeiro de 1959, triunfou em
Cuba a Revolução. Semanas depois, tive o privilégio
de ser convidado pelo governo provisório de Wolfgang
Larrazábal para visitar a pátria de Bolívar, que tão
solidária tinha sido com Cuba.
Poucas vezes na vida vi mais calor popular. As
imagens fílmicas se conservam. Avancei pela ampla
estrada que substituiu o caminho asfaltado, por onde
tinha sido conduzido, a primeira vez que viajei à
Venezuela, em 1948, de Maiquetía a Caracas, pelos
motoristas mais temerários que conheci nunca.
Dessa vez, escutei a vaia mais sonora, prolongada
e embaraçosa em minha longa vida, quando ousei
mencionar o nome do recém-eleito e ainda não
empossado presidente. As massas mais radicalizadas
da Caracas heróica e combativa tinham votado
esmagadoramente contra ele.
O "ilustre" Rómulo Betancourt era mencionado com
interesse nos círculos políticos do Caribe e da
América Latina.
Como pode ser explicado? Tinha sido tão radical
em sua mocidade, que aos 23 anos ingressou como
membro do Bureau Político do Partido Comunista da
Costa Rica, desde 1931 até 1935. Eram os tempos
difíceis da Terceira Internacional. Do
marxismo-leninismo aprendeu a estrutura de classes
da sociedade, a exploração do homem pelo homem ao
longo da história e o desenvolvimento da colonização,
do capitalismo e do imperialismo, nos últimos
séculos.
No ano 1941, junto doutros líderes de esquerda,
fundou na Venezuela o Partido Ação Democrática.
Exerceu a Presidência provisória da Venezuela,
desde outubro de 1945 até fevereiro de 1948, em
virtude dum golpe de Estado cívico militar. Teve que
sair de novo ao exílio, quando o ilustre escritor e
intelectual venezuelano, Rômulo Gallegos, foi eleito
presidente constitucional e derrocado quase
imediatamente.
A maquinaria bem lubrificada do seu partido
elegeu-o presidente, nas eleições de 7 de dezembro
em 1958, depois que as forças revolucionárias
venezuelanas, sob a direção da Junta
Patriótica que presidiu Fabricio Ojeda, derrubassem
a ditadura do general Pérez Jiménez.
Quando, a finais de janeiro de 1959, falei na
Praça do Silêncio, onde se reuniram milhares de
pessoas e mencionei Betancourt por pura cortesia, produziu-se
a colossal vaia que contei contra o presidente
eleito. Para mim, foi uma verdadeira lição de
realismo político. Tive logo que visitá-lo, por ser
o presidente eleito dum país amigo. Encontrei um
homem amargurado e ressentido. Era já o modelo de
governo "democrático e representativo" de que
precisava o império. Colaborou em tudo o que pôde
com os ianques, antes da invasão mercenária da Baía
dos Porcos.
Fabricio Ojeda, amigo sincero e inesquecível da
Revolução Cubana, a quem tive o privilégio de
conhecer e dialogar com ele amplamente, depois me
explicou muita coisa sobre o processo político de
sua pátria e da Venezuela com a qual sonhava. Foi
uma das inúmeras pessoas que aquele regime,
totalmente a serviço do imperialismo, assassinou.
Quase meio século decorreu desde essa época.
Posso testemunhar o cinismo excepcional do império
contra o qual nos enfrentamos infadigavelmente os
revolucionários cubanos, como dignos herdeiros de
Bolívar e de Martí.
Durante o tempo decorrido, desde os dias de
Fabricio Ojeda, o mundo mudou consideravelmente. O
poder militar e tecnológico do império cresceu;
também sua experiência e sua carência total de
ética. Seus recursos midiáticos são mais custosos e
menos subordinados a normas morais.
Acusar o líder da Revolução Bolivariana, Hugo
Chávez, de promover a guerra contra o povo da
Colômbia, desatar uma corrida armamentista,
apresentá-lo como produtor e promotor do tráfico de
droga, de reprimir a liberdade de expressão, de
violar os direitos humanos e outras acusações
similares, são ações nojentas e cínicas, como tudo o
que o império fez, faz e promove. A realidade não
pode ser esquecida nunca, nem deixar de ser
reiterada; a verdade objetiva e razoável é a arma
mais importante com a qual devemos martelar, sem
descanso, na consciência dos povos.
O governo dos Estados Unidos, é bom lembrar,
promoveu e apoiou, na Venezuela, o golpe de Estado
fascista de 11 de abril de 2002 e, após seu fracasso,
pôs todas suas esperanças num golpe petroleiro,
apoiado com programas e recursos técnicos capazes de
liquidar qualquer governo, subestimando o povo e a
direção revolucionária desse país. A partir daí,
conspirou sem descanso contra o processo
revolucionário venezuelano, como fez e continua
fazendo contra a Revolução em nossa pátria, durante
50 anos. Para os Estados Unidos, controlar
Venezuela, com os enormes recursos energéticos e
outras matérias-primas que ela possui, obtidos a
preços baixos, e a propriedade multinacional das
grandes instalações e serviços, é muito mais
importante que controlar Cuba.
Esmagada a ferro e fogo a Revolução na América
Central, e mediante golpes de Estado sangrentos e
repressivos, que tolhem os avanços democráticos e
progressistas na América do Sul, o império não podia
resignar-se à construção do socialismo na Venezuela.
Trata-se dum fato real, innegable e inocultável para
quem possua um mínimo de cultura política na América
Latina e no mundo.
É conveniente lembrar que, nem sequer depois do
golpe de Estado, promovido pelos Estados Unidos, em
abril de 2002, o governo da Venezuela se armou. O
barril de petróleo custava apenas US$20, já
desvalorizados, desde que em 1971 Nixon suspendesse
a conversão do dólar em ouro, quase 30 anos antes de
que Chávez chegasse à Presidência. Quando tomou
posse, o petróleo venezuelano não atingia os US$10.
Posteriormente, quando os preços subiram, dedicou os
recursos do país a programas sociais, planos de
investimento e desenvolvimento e à cooperação com
inúmeras nações do Caribe e da América Central e
outras de economias mais pobres na América do Sul.
Nenhum outro país ofereceu tão generosa cooperação.
Não comprou um só fuzil durante os primeiros anos
de seu governo. Fez, inclusive, algo que nenhum
outro país teria feito em condições de perigo para
sua integridade: suspender legalmente a obrigação de
cada cidadão honesto e revolucionário de defender
com as armas seu país.
Acho que a República Bolivariana tardou bastante
em adquirir novas armas. Os fuzis de infantaria de
que dispunha eram os mesmos de há mais de 50 anos,
quando o governo provisório do almirante Larrazábal,
presenteou-me um fuzil automático FAL, no penúltimo
mês da guerra, em novembro de 1958. A Venezuela
continuou dispondo desse tipo de armamento de
infantaria, vários anos depois da posse de Chávez.
Foi o governo dos Estados Unidos que decretou o
desarmamento da Venezuela, quando proibiu o
fornecimento de peças para o equipamento militar
ianque que, tradicionalmente, tinha vendido a esse
país, desde aviões de combate e transporte militar,
até comunicações e radares. É sumamente hipócrita
acusar Venezuela agora de armamentismo.
Pelo contrário, os Estados Unidos forneceram
bilhões de dólares em armas, meios de combate,
transporte aéreo e treino às forças armadas da
vizinha Colômbia. O pretexto foi a luta contra a
guerrilha. Posso testemunhar os esforços do
presidente Hugo Chávez na busca da paz interna nesse
país irmão. Os ianques apenas não forneceram armas,
mas também injectaram sentimentos de ódio contra a
Venezuela às tropas que treinavam, como fizeram em
Honduras através da força de tarefa, deslocada em
Palmerola.
Os Estados Unidos fornecem às unidades de
combate, nos lugares onde têm bases militares, o
mesmo uniforme e equipamento que às tropas de
intervenção de seu país, em qualquer lugar do mundo.
Não necessitam soldados próprios, como no Iraque,
Afeganistão ou o norte do Paquistão, para planejar
atos de genocídio contra nossos povos.
A extrema-direita imperialista, que controla as
molas fundamentais do poder, usa mentiras descaradas
para disfarçar seus planos.
A advogada e analista venezuelana-estadunidense
Eva Golinger, demonstra como os argumentos
estratégicos utilizados na mensagem enviada, em maio
de 2009, ao Congresso dos Estados Unidos, para
justificar um investimento na base de Palanquero,
são alterados totalmente no acordo pelo qual os
Estados Unidos recebe essa mesma base, junto a
outras inúmeras instalações civis e militares. O
documento enviado ao Congresso, em 16 de novembro,
intitulado: "Addendum para refletir os termos do
Acordo de Cooperação na área da Defesa entre os
Estados Unidos e a Colômbia, assinado em 30 de
outubro de 2009, foi completamente alterado",
explica a analista. "Já não se fala da ‘missão de
mobilidade’ que ‘garante o acesso a toda a América
do Sul, à exceção do Cabo de Fornos’. Também mudaram
toda referência a operaçãoes de ‘alcance global’,
‘teatros de segurança’ e aumento da capacidade das
Forças Armadas estadunidenses para realizar uma
‘guerra de forma expedita’ na região", escreve a
aguda e bem informada analista.
Torna-se óbvio, por outro lado, que o presidente
da República Bolivariana está batalhando arduamente
para superar os obstáculos que os Estados Unidos
criaram aos países latino-americanos, entre eles, a
violência social e o tráfico de drogas. A sociedade
norte-americana não foi capaz de evitar o consumo e
o tráfico das mesmas. Suas consequências afetam,
hoje, muitos países da área.
A violência foi um dos produtos mais exportados
pela sociedade capitalista dos Estados Unidos, ao
longo do último meio século, através do uso
crescente da mídia e da chamada indústria do lazer.
São fenômenos novos que a sociedade humana não tinha
conhecido antes. Tais meios poderiam ser utilizados
para criar novos valores, numa sociedade mais humana
e justa.
O capitalismo desenvolvido criou as chamadas
sociedades de consumo e com isso gerou problemas que
hoje não é capaz de controlar.
A Venezuela é o país que mais rapidamente está
implementando os programas sociais que podem
contestar essas tendências muito negativas. Os
sucessos colossais atingidos nos últimos Jogos
Esportivos Bolivarianos estão demonstrando-o.
Na reunião da Unasul, o chanceler da República
Bolivariana, expôs com muita clareza o problema da
paz na área. Qual é a posição de cada país perante a
instalação de bases ianques no território da América
do Sul? Não só constitui uma obrigação de cada
Estado, mas também uma obrigação moral de cada homem
ou mulher consciente e honesta de nosso hemisfério e
do mundo. O império deve saber que em qualquer
circunstância os latino-americanos lutarão sem
descanso por seus direitos mais sagrados.
Existem problemas ainda mais graves e imediatos
para todos os povos do mundo: a mudança climática;
talvez a pior e mais urgente neste instante.
Antes de 18 de dezembro, cada Estado deverá
adotar uma decisão. De novo o ilustre Prêmio Nobel
da Paz, Barack Obama, deverá definir a sua posição
sobre o espinhoso assunto.
Já que aceitou a responsabilidade de receber o
Prêmio, terá que cumprir a demanda ética de Michael
Moore quando conheceu a notícia: "agora ganhe-o!". É
que, por acaso, pode?, pergunto. Quando a exigência
unânime dos círculos científicos é que as emissões
de dióxido de carbono devem ser reduzidas em não
menos de 30%, em relação ao nível de 1990, os
Estados Unidos oferecem só reduzir 17% do que
emitiam em 2005, o que apenas equivale a 5% do
mínimo que exige a ciência a todos os habitantes do
planeta para 2020. Os Estados Unidos consomem o
dobro por habitante do que a Europa, e superam as
emissões da China, apesar do 1.3 bilhão de cidadãos
com que conta este país. Um habitante da sociedade
mais consumista emite dezenas de vezes mais CO2 per
cápita que o cidadão dum país pobre do Terceiro
Mundo.
Em apenas 30 anos adicionais, não menos de nove
bilhões de seres humanos que povoarão o planeta
requerem que o nível de dióxido de carbono que se
emita à atmosfera seja reduzido a não menos de 80%
do que era emitido em 1990. Tais números são
compreendidos com amargura por um número crescente
de líderes de países ricos; mas a hierarquia que
dirige o país mais poderoso e rico do planeta: os
Estados Unidos, consola-se a si própria, afirmando
que tais previsões são invenções da ciência. Sabe-se
que, em Copenhague, no mínimo, o que será aprovado é
continuar discutindo para que mais de 200 Estados e
instituciones concordem em que devem dirimir os
compromissos, entre eles, um muito importante: quem
e com quantos recursos contribuirão os países ricos
para o desenvolvimento e para a poupança energética
dos mais pobres. Acaso existe margem para a
hipocrisia e a mentira?
Fidel Castro Ruz
FESTIVAL INTERNACIONAL DO NOVO CINEMA LATINO-AMERICANO
O segredo de muitos olhos Mireya Castañeda
• O segredo dos seus olhos, o
mais recente filme do argentino Juan José Campanella,
protagonizado pelos muito reconhecidos Ricardo Darín,
Guillermo, Francella, e Soledad Villamil, foi
escolhido para inaugurar o 31º Festival
Internacional do Novo Cinema Latino-Americano.
Chegou a Havana com muitos avais, entre eles, ter
sido indicado pela Academia das Artes e Ciências
Cinematográficas da Argentina para o Oscar.
O filme fez sucesso na Argentina, o
qual sempre é um aspecto importante: que os filmes
da região tenham distribuição, presença nas telas e
no espectador. O segredo dos seus olhos
esteve a ponto de bater o recorde histórico de
bilheteria de mais dois milhões de espectadores que
o filme icônico de María Luisa Bemberg, Camila,
em 1984, interpretado por Susú Pecoraro.
Campanella, além de diretor, foi o
roteirista de quatro filmes muito conhecidos: O
Mesmo Amor, a Mesma Chuva, O Filho da noiva
(indicado para o Oscar em 2001 como o Melhor filme
de fala não-inglesa), Clube da Lua e agora
também O segredo dos seus olhos.
Este novo filme, no concurso pelo
Prêmio Coral do Festival de Havana, conta a história
de um homem recém-aposentado, Benjamín Chaparro, que
depois de trabalhar a vida toda como empregado num
Tribunal Penal, resolve escrever uma novela, um
thriller que decorre em Buenos Aires, em 1974,
baseada numa história real, da qual foi testemunha e
protagonista. É, aparentemente, a história de um
assassinato.
Com essa história, Juan José
Campanella fala dos caminhos que transitou a
sociedade argentina, da impunidade à repressão na
década de 1970, o restabelecimento da justiça e da
democracia nos últimos anos.
"ERNESTO GUEVARA"
Outro filme argentino, que é exibida
fora de concurso, em estreia mundial, é o
documentário Ernesto Guevara, do reconhecido
cineasta Tristán Bauer, do qual Alfredo Guevara,
fundador do Icaic e do festival, disse que tenta
mostrar uma faceta mais humana do guerrilheiro.
Em entrevista coletiva, o presidente
do encontro cinematográfico argumentou que o
documentário mostra gravações inéditas da vida
íntima e amorosa do Che que guardava a viúva, Aleida
March, e —assinalou— "os que fomos amigos do Che,
sabemos o que ele era: o guerrilheiro, o exigente —
às vezes, azedo, isso nunca foi dito — mas ao mesmo
tempo, com uma imensa humanidade".
Tristán Bauer trabalhou no projeto
durante mais de uma década e teve acesso a arquivos
secretos do exército da Bolívia — que executou o Che
em outubro de 1967 — e aos do Centro de Estudos "Che
Guevara", de Cuba.
Entre os sete filmes que fez
sobressai o muito premiado Iluminados pelo Fogo
(2005), que inaugurou o Festival de Havana em 2006 e
o meia-metragem Evita, o Túmulo Sem Paz (1997).
DAWSON ILHA 10
Fora do concurso, exibe-se também o
novo filme de Miguel Littín, Dawson Ilha 10,
do Chile, que participa da concorrência aos prêmios
das academias norte-americana e espanhola, ou seja,
ao Oscar e ao Goya.
Protagonizada por Benjamín Vicuña, o
filme narra fatos reais acontecidos após o golpe de
Estado de Pinochet, quando os colaboradores diretos
do presidente Salvador Allende foram presos e
desterrados a uma ilha do Pacífico, situada a uma
centena de quilômetros do continente.
Dawson Ilha 10 baseia-se no
relato autobiográfico de Sergio Bitar, que fez parte
do grupo de altos funcionários constitucionais
enviados para esse campo de concentração cercado de
mar, quando foi ministro de Minas de Allende (depois,
ministro de Obras Públicas com a atual presidente
Michelle Bachelet).
Miguel Littín é um cineasta muito
conhecido, fundador do novo Cinema Latino-Americano,
ganhador de numerosos prêmios por filmes como A
Viúva de Montiel e O Recurso do Método.
Atas de Marusia e Alsino e o Condor
foram indicados para o Oscar em 1976 e 1983,
respectivamente, como melhores filmes estrangeiros.
A sua carreira cinematográfica começou em 1969, com
O Chacal de Nahueltoro, filme que fez sucesso
de bilheteria e que teve também impacto no âmbito
social e político.
Após o golpe de Estado e o
estabelecimento da ditadura de Augusto Pinochet,
teve que se exilar em 1973, domiciliando-se no
México e mais tarde, na Espanha. Em 1985, teve a
chance de voltar de maneira clandestina ao Chile e
executar um temerário projeto de filmagem sobre a
realidade política do seu país, intitulado Ata
Geral do Chile. Quando voltou à Espanha e
terminou seu trabalho, o Prêmio Nobel de Literatura
Gabriel Garcia Márquez propôs-lhe escrever a
história do seu filme, publicada sob o título Aventura
de Miguel Littín clandestino no Chile.
Retornou à temática latino-americana
com Sandino, de 1991, dirigiu Náufragos
em 1994 e retomou o estilo de epopeia popular com
Terra do fogo em 2000.
Que trouxe Coppola?
Francis Ford Coppola, que noutras
ocasiões esteve no Festival de Havana, agora enviou
o seu filme Tetro, filmado na Argentina, e
considera-se uma nova viagem do diretor de O
Poderoso Chefão pelo tema habitual da família
vista como uma versão reduzida da sociedade com
todos seus conflitos e suas reconciliações.
O filme, em preto e branco, conta a
história de dois irmãos afastados há anos, que se
reencontram em Buenos Aires para encarar um segredo
que mudará para sempre o modo da sua relação.
A lista do elenco é impressionante:
Vincent Gallo, o estreante Alden Ehrenreich, as
espanholas Maribel Verdú e Carmen Maura, o austríaco
Klaus Maria Brandauer e os argentinos Rodrigo de la
Serna, Letícia Brédice e Mike Amigorena.
Quando Tetro foi exibido em
Cannes, o público que lotou a sala gostou muito dele,
mas não convenceu a crítica, a qual assinalou que o
roteiro dedicou muito tempo às peripécias, até
chegar a duas horas e sete minutos de duração, uma
atuação desigual, e algumas passagens coreográficas
gratuitas.
Parece que o mais convincente de
todos os atores é a espanhola Maribel Verdú, que
sabe chegar ao espectador com sua figura sofrida de
amante sacrificada do protagonista, Tetro, encarnado
por Vincent Gallo.
Coppola, a quem devemos muitos
títulos, como a trilogia de O Poderoso Chefão
e Drácula, fez recentemente 70 anos e sua
carreira conta tanto com sucessos quanto com
fracassos. Tetro é o primeiro filme baseado
numa história original sua, desde A Conversação,
ganhador da primeira Palma de Ouro em 1974 no
Festival de Cannes, a segunda foi há 30 anos com
Apocalypse Now.
Quanto a Drácula, há mais. O
Festival fará uma Exibição Especial da versão de
Drácula de George Melford, a versão latinizada
do filme feita em 1931 por Tod Browning, com Bela
Lugosi como protagonista.
Alfredo Guevara salientou que essa
versão foi encontrada nas abóbadas da Cinemateca de
Cuba e a considerou melhor que a original.
Anunciou que agora será projetada,
mas com o violonista e compositor Gary Lucas tocando
ao vivo, em estreia mundial, sua partitura para o
Drácula latino.
Muitas pessoas estão assistindo
filmes em Havana: os filmes em concurso, fora de
concurso, as mostras, os panoramas, Latino-Americano
e Contemporâneo e as homenagens (neste ano,
exclusivamente para o cinquentenário do Icaic). Qual
será o segredo? •
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Filosofando.....
Freud encontra a ética
Referindo-se
à ética, os filósofos apontam para hábitos, comportamentos e valorações
que se espera de um grupo social que, a partir desses elementos, é
descrito e caracterizado. Ao passar para o plano da metaética, os
filósofos voltam os olhos para as justificações ou fundamentos de
determinadas propostas ético-morais. Essa duplicidade de esforços
reflexivos é típica da filosofia contemporânea.
Até o final do século XIX a divisão
entre ética e metaética não se estabelecia. Pode-se dizer que, em
parte, a divisão surgiu para permitir que a filosofia pudesse continuar
a sua reflexão no âmbito ético-moral, criando uma fronteira entre o seu
campo e o das várias disciplinas científicas ou novas áreas do saber
emergentes, atentas ao comportamento humano.
Durkheim foi quem começou a sociologia
científica, exatamente investigando o campo ético-moral não mais
segundo uma visão vinculada à finalidade filosófica, mas como um objeto
empírico que ele chamou de “fato social”. No início do século XX, os
vários trabalhos no campo psico-social definiram um tipo de estudo que
marcou época, o das relações entre indivíduo e sociedade. As ciências
sociais caminharam, então, a partir de preceitos do positivismo francês
e/ou do historicismo alemão. Diferentemente, o marxismo e a psicanálise
emergiram nessa época não como saberes internos de determinadas
disciplinas, mas como áreas autônomas. Tratava-se de uma espécie de
discussão que se parecia, ainda, com a filosofia, mas que
importava muito do estilo da ciência. Foi nesse clima, na terceira
década do século XX, que Freud enveredou pela investigação em ética.
A conversa de Freud sobre ética apareceu, principalmente, no célebre ensaio O mal estar na civilização.[1] A história contada nesse belo ensaio é a de um conflito entre a força denominada de Eros e a força denominada de instinto de morte.
Essas forças se mostram na narrativa do ensaio de modo bem determinado,
cada uma com sua função. Todavia, Freud as apresenta como irmãos
siameses. Quando uma surge, imediatamente deve surgir a outra – elas se
apresentam enlaçadas, talvez de modo indissolúvel.
Eros é o amor. A palavra amor designa a
fusão, a união. Assim, a ação de Eros é a de agregação. Graças a Eros
os indivíduos isolados são postos no interior de grupos e estes, por
sua vez, são empurrados para a formação de outros grupos maiores. O elo
dessas agregações, isto é, aquilo que faz com que um indivíduo se
integre em um grupo e ali permaneça e o que faz com que os grupos
permaneçam unidos, com tendências a se agregar a outros, é batizado por
Freud de libido. Nem a necessidade nem a vantagem do trabalho comum,
por si sós, conseguiriam manter a união dos indivíduos se não fosse o
elo libidinal. A libido é o princípio de vida, o que vem com Eros. Mas,
esta é apenas uma das cabeças dos irmãos siameses. Contrariamente à
força que agrega, há a força que tende a desfazer a união. Trata-se da
agressão – o instinto agressivo ou a manifestação mais visível do
instinto de morte.
O instinto de morte é assumido por
Freud como existente à medida que ele nota que, contra as unidades que
surgem pela agregação, pelo amor, sempre ocorre o aparecimento de
forças contrárias que visam dissolver tais unidades, em busca de uma
volta ao estado primitivo e inorgânico. Trata-se de uma devolução da
vida à morte – pela agressão. Por isso mesmo o nome não poderia ser
outro senão instinto de morte. A libido que une nunca se mostra sem sua
contrapartida, que é a agressividade, que tenta retroceder e fazer
desaparecer a união. Junto das manifestações sexuais, que são
expressões da libido de modo mais visível, há sempre algum componente
de sadismo e/ou masoquismo, mostrando assim a presença, em graus
variados, da agressividade no momento mesmo do amor. O princípio de
morte não deixa o princípio de vida atuar solitariamente. Irmãos
siameses são irmãos siameses!
Esses dois princípios atuam no interior
tanto do desenvolvimento do indivíduo, que deve se integrar em grupos,
quanto no processo da civilização humana, que é a integração entre
grupos que vão, então, gerando grupos maiores. No caso do primeiro, o
telos é a felicidade. No segundo, não é que a felicidade seja posta de
lado de uma vez, mas o telos é realmente a criação de uma coletividade
maior. É exatamente na observação desses dois processos que Freud
recoloca sua teoria das funções da consciência tripartida em ego, id e
superego.
Como no caso ele não trata do indivíduo
somente, e sim de sua relação com a sociedade, as noções de ego, id e
superego são mostradas de um modo especial. A noção de superego, por
analogia, extrapola a consciência individual. Freud se preocupa em
mostrar – e é isso que ele diz que considera o novo na sua narrativa do
comportamento humano – a idéia de um superego não psicológico, um
superego cultural. O superego corresponde, como ele diz, à força dos
primeiros grandes líderes da comunidade, que registraram as primeiras
leis e que, enfim, se mostraram como que divinos ao agirem desse modo.
São exatamente esses líderes que irão deixar para as suas comunidades,
que continuam os seus desenvolvimentos, as exigências “que tratam das
relações dos seres humanos uns com os outros” e que estão “abrangidas
sob o título de ética”. Em outras palavras, o superego cultural é nada
mais nada menos que a ética.
Qual é o papel da ética, do superego cultural?
O ensaio O mal estar na civilização
lida com questão da busca da felicidade e, enfim com o que se mostra
como o infortúnio humano, que é a agressão entre os homens. Quanto a
esse problema, Freud diz que sempre esperamos muito da ética. Ela é
importante, pois queremos que ela resolva um problema difícil o da
agressividade mútua. É como se a ética fosse uma terapia, diz ele, uma
vez que se espera alcançar com ela, por meio de “uma ordem do superego,
algo até agora não conseguido por meio de quaisquer outras atividades
culturais.” Ora, se é isso que se deve abordar a fim de compreender a
ação ética, o objeto tem de ser exatamente a norma mais atual do
superego. Em outras palavras, o objeto é o preceito ético mais
universal de nossos tempos, o mandamento cultural vigente que, enfim,
veio do superego. Freud aponta corretamente para o mandamento “amai ao
próximo como a ti mesmo”.
Freud acha esse imperativo ético
exigente demais, aliás, como toda ordem do superego que, enfim, pouco
se preocupa com o homem. “Amai ao próximo como a ti mesmo” é uma
afronta a qualquer tipo de egoísmo ou de narcisismo. Ao se tentar
seguir um imperativo desse tipo, o que se pode esperar do ego
individual? O ego individual teria de ser capaz de um controle total do
id, mas é óbvio que esse controle não existe. A exigência do superego
cultural, com o “Amai ao próximo como a ti mesmo” ultrapassa as
possibilidades do homem e, quando algo desse tipo ocorre, há
infelicidade – ou mesmo, no plano de análise de um superego individual
com um ego individual, há a neurose. Além do mais, quem quisesse seguir
o mandamento em questão, uma vez diante de outro que não desse muito
valor para a tal regra, cairia em desvantagem e, então, passaria por um
duplo sofrimento. A frustração levaria à culpa. Ser passado para trás
produziria a mágoa.
Diante disso, Freud vê que lidar com a
agressividade não é fácil. Ele diz: “que poderoso obstáculo a
agressividade deve ser, se a defesa contra ela pode causar tanta
infelicidade quanto a própria agressividade!”.
Como a ética nada é senão o superego
cultural, e este, por sua vez, é uma analogia com o superego psíquico
individual, a analogia pode continuar, diz Freud, e então podemos
imaginar mais correlações. Assim como o superego individual, com suas
exigências, pode produzir neuroses, a analogia permite dizer que éticas
difíceis de serem cumpridas poderiam criar civilizações neuróticas. Por
conseguinte, a idéia tão tentadora quanto perigosa seria a de começar
imaginar terapias para toda uma civilização.
Freud, aqui, se abstém de dar caminhos.
Todavia, ao final do ensaio em questão, traça uma observação
interessante sobre tendências. Durante todo o percurso em que fala de
ética, o que aborda não é outra senão a ética moderna, a chamada “ética
do dever”. Neste tipo de ética, a virtude moral vai para um lado e a
felicidade, não raro, vai para outro. Mas, ao final, Freud assume que
os juízos de valor dos homens acompanham “diretamente os seus desejos
de felicidade”. Neste caso, Freud parece assumir uma visão próxima da
ética antiga, a ética da eudaimonia. Na ética antiga, o objetivo é a realização da felicidade ou o alcance da felicidade. Ainda que eudaimonia
não possa ser traduzida, exclusivamente, por felicidade em um sentido
moderno, o que Freud diz o coloca em proximidade com a ética das
virtudes, a ética clássica. No entanto, mais uma vez, ele novamente
altera o curso. Fala da correlação entre juízos de valor e desejos de
felicidade não para endossar uma posição ética, mas para, em seguida,
dizer que essa busca de felicidade faz os homens encontrarem argumentos
de toda ordem para “sustentarem suas ilusões”.
Ao fim e ao cabo, Freud não assume uma posição ética filosófica. No que parece que vai endossar a eudaimonia,
em um final que seria espetacular, recua para a posição de um teórico
que busca certa neutralidade filosófica no campo doutrinário moral. Não
se trata de neutralidade científica, e sim de neutralidade no campo da
filosofia prática. Pesa forte, nesse caso, o espírito de época. Desse
modo, o que faz é um estudo que poderíamos dizer que se trata de um
tipo de metaética, uma especial narrativa teórica que poderia, talvez, fundamentar ou justificar uma doutrina – exatamente essa doutrina que ele, Freud, não ousa explicitar.
© Paulo Ghiraldellli Jr, filósofo
[1]
Freud, D. Mal estar na civilização. Freud. Os Pensadores. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. Todas as citações são desse volume. Elas aparecem
aspadas, mas sem a referência ou numeração de página.
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