segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Misérias e glórias do xadrez

Misérias e glórias do xadrez

Esta parte do artigo analisa matches e esquivas do predecessor de Garry Kasparov na primeira demonstração da convivência entre “ser um ás no xadrez e um cretino em outros campos da vida”: o campeão mundial Alexander Alekhine

CARLOS LOPES

Algum sujeito de espírito, parece que Miguel de Unamuno, disse que “o xadrez é um excelente exercício para melhorar a capacidade de jogar xadrez”. Nada pode ser acrescentado a esse raciocínio, exceto que também é válido para o salto com vara ou para a porrinha. A diferença é, apenas, a de que ninguém jamais pretendeu que as pessoas ficassem – ou fossem - mais inteligentes por saltar com vara ou apostar uns cobres nos palitinhos. Já o xadrez...

As pessoas que jogam xadrez não o fazem porque são mais inteligentes ou para ficar mais inteligentes. Jogam porque gostam de jogar xadrez. Como conseqüência, é possível ser um ás do xadrez e, ao mesmo tempo, ser um cretino em outros campos da vida. Muito antes de Kasparov, Alexander Alekhine foi a primeira demonstração dessa estranha convivência – estranha apenas em função das fantasias que cercam o jogo.

Nascido numa família muito rica, filho de um latifundiário czarista e da herdeira de um império industrial, Alekhine saiu da Rússia em 1921. Já era, então, famoso como jogador. Apesar de um incidente na Ucrânia, em que foi preso como espião contra-revolucionário (era a época da guerra civil), as autoridades soviéticas o liberaram para disputar o campeonato de Moscou (janeiro de 1920) e a Olimpíada de Xadrez de Todas as Rússias (outubro do mesmo ano) - que seria considerada como o I Campeonato da URSS, quando esta foi organizada, em 1922. Ele venceu os dois torneios. Porém, mais do que a oportunidade de jogar xadrez, os soviéticos ofereceram-lhe emprego como tradutor na Internacional Comunista e o nomearam secretário do Departamento de Educação Comunista.

No entanto, logo em seguida, ele preferiu juntar-se àquela malta de foragidos russos que se reunia em Paris. Naturalizou-se francês e até freqüentou a Sorbonne, supostamente para formar-se em Direito com uma tese sobre o sistema penitenciário chinês - as atuais instâncias de pós-graduação ainda não existiam, mas a embromação acadêmica já tinha, há muito, feito a sua estréia. A tese não foi aprovada, até porque ele jamais chegou a elaborá-la - o que não o impediu de intitular-se “Dr. Alekhine” para o resto da vida.

Mas, foi antes de sair da Rússia que ele começou a série de casamentos com senhoras algo alucinadas, em geral tão decrépitas quanto endinheiradas, a que se refere Hans Kmoch em “Grandes Mestres Que Eu Conheci”.

Amigo de Alekhine por longos anos, seu “segundo” (analista para partidas adiadas) durante o match de 1934 pelo campeonato mundial, e árbitro do match seguinte, Kmoch rompeu com o então campeão mundial durante a II Guerra, quando vivia com a esposa na Holanda invadida pelos nazistas. Foi então que um jornal alemão editado no país ocupado publicou um artigo de Alekhine intitulado “Xadrez ariano e xadrez judaico”. Referindo-se à sua derrota no match de 1935, dizia: “O árbitro Kmoch é casado com uma judia, logo qualquer um pode imaginar como ele era objetivo”.

Com efeito, a esposa de Kmoch, Trudy, era judia – e não é preciso dizer muito mais: “Sob o olho vigilante da Gestapo, tais declarações podiam significar a morte (....). Minha mulher e eu já estávamos em constante medo de que ela pudesse ser deportada. A acusação de Alekhine foi aterrorizante”, escreveu, depois, Kmoch. Acrescente-se que este último, austríaco, era “cidadão do Reich”, ou seja, após a anexação da Áustria, estava sujeito às leis raciais da Alemanha, em que o casamento com uma judia era crime punível, inclusive, com a morte.

A necessidade de relembrar o rol de canalhices perpetradas por Alekhine durante a guerra – em que também ele era oficialmente cidadão de um país ocupado, a França – reside em que hoje apareceram vários apologistas a relevar essa conduta indecente. A última versão é a de que “não foi provado” que Alekhine escreveu os artigos que apareceram com a sua assinatura nos jornais nazistas. Isso é exatamente o que não precisa de prova. Se ele apenas os assinou, pior. E, se esses artigos não existissem, sobrariam os seus alegres retratos em torneios nazistas, no momento em que uma série de grandes jogadores recusavam-se a participar dessas promoções nos países ocupados e, sobretudo, sua longa estadia como hóspede do “governador-geral” da Polônia, SS-Obergrup-penführer (general das SS) Hans Frank, executado em Nuremberg por crimes contra a Humanidade.

Porém, sobre os apologistas de Alekhine, bastam alguns trechos do relato de Kmoch - escrito pouco antes de sua morte, em 1973 - que reproduzimos aqui porque “Grandes Mestres Que Eu Conheci” não foi publicado em livro (há uma tradução em inglês, “Grandmasters I Have Known”, nos arquivos da revista eletrônica “ChessCafe.com”):

“Algum tempo atrás, escrevi um artigo sobre Alekhine. Já que ele era um contemporâneo meu que eu havia conhecido bem por muitos anos, senti que poderia evitar a costumeira apresentação dele como um grande gênio do xadrez e modelo de virtude. Ao invés disso, escrevi sobre sua personalidade e sobre minhas próprias experiências com ele, o que significava mostrá-lo, entre outras coisas, como um alcoólatra, um oportunista político e um anti-semita no estilo nazista.

“Quando meu artigo apareceu na Deutsche Schachzei-tung, uma revista sobre xadrez de Berlim, enfrentei considerável menosprezo por parte de alguns ardorosos arianos. Um professor alemão insistiu que nunca tinha visto Alekhine bêbado e que, portanto, Alekhine não podia ter sido um alcoólatra. Outro professor alemão explicou tudo apontando a minha própria inferioridade. Um homem que em Viena costumava pertencer somente a clubes arianos de xadrez, condenou meu artigo como irreconciliável com o fato de que eu uma vez fora segundo de Alekhine.

“Muito mais tarde, alguns nobres especialistas em cobrir de cal a realidade, gente da mesma categoria dos professores alemães acima mencionados, explicaram que Alekhine foi forçado a escrever aqueles infames artigos. Mas isso é simplesmente uma variante da história do bêbado que borrou as calças e depois queria saber quem era o culpado”.

Porém, em 1927, quando se tornou campeão, a consciência geral ainda era a de que os nazistas não passavam de alguns palhaços. Somente quando lhe pareceu que os nazistas iriam ganhar a guerra, é que Alekhine começou publicamente a bajulá-los. Antes, tomou bastante cuidado, inclusive para que os soviéticos não o vissem como um inimigo, apesar de sua condição de emigrado da Rússia.

A explicação é que nenhum outro país contava com tanta simpatia nos meios enxadrísticos quanto a URSS. Esta, aliás, havia sido governada por um enxadrista, Lenin, e era agora dirigida por outro, Stalin, ambos conhecidos como fortes jogadores. Quando o grande Lasker foi obrigado, após a tomada do poder por Hitler, a sair da Alemanha, preferiu Moscou como local de moradia, em vez de Londres, onde havia, a princípio, se asilado. Posteriormente, foi encontrar-se com seu amigo Albert Einstein, nos EUA.

A FUGA

O primeiro problema de Alekhine, depois de ganhar o título mundial, foi o mesmo de antes: José Raul Capablanca. Por acordo mútuo, havia sido acertado que haveria um match-revanche. Alekhine rompeu o compromisso - e é impressionante a energia que investiu para fugir a um novo confronto.

Não era apenas uma fuga do match-revanche. Alekhine fugiu de qualquer enfrentamento, mesmo em torneios, com Capablanca. Numa atitude que só seria vista muitas décadas depois, exigiu, em certas ocasiões, que a inscrição de Capablanca não fosse aceita, como condição para sua participação em torneios - tal como Kasparov faria com o GM Valery Salov, é verdade que, nesse último caso, por razões políticas, e de forma mais covarde, pois Salov não era Capablanca, e, em meio à queda da URSS, tinha a mídia contra ele.

O outro método de Alekhine, ao saber que Capablanca seria um dos participantes de um torneio em que já estava inscrito, era, na última hora, fazer exigências financeiras extorsivas, a serem cumpridas em prazo exíguo (v. p. ex., sua carta de 19/05/1932 a um dos organizadores do Torneio de Pasadena, Califórnia).

Quando do falecimento de Capablanca, em 1942, Alekhine diria que “morreu o maior jogador de todos os tempos, um gênio como nunca se verá novamente”. Próximo da própria morte solitária em Portugal, deixou escapar: “Não entendo, nem agora depois de tantos anos, como consegui ganhar de Capablanca no match de 1927”.

Em suma, Alekhine queria manter o título contra alguém que tinha certeza de que era melhor do que ele. Há quem não concorde com esta avaliação sobre Capablanca. Mas esta era a avaliação de Alekhine. Conta Reuben Fine que, no início dos anos 30, Capablanca mostrou a ele a montanha de correspondência mantida com Alekhine e/ou seus representantes, com o objetivo de realizar um novo match. Tudo perfeitamente inútil. Alekhine estava fugindo de jogar uma simples partida, quanto mais um match.

No entanto, em 1936, Alekhine não conseguiu evitar o confronto com Capablanca. Era um dos torneios mais importantes do mundo, o de Nottingham, Inglaterra, e Alekhine estava com o prestígio abalado, por sua derrota contra Euwe no ano anterior – somente no ano seguinte ele recuperaria o título mundial, precisamente, num match-revanche. Assim, aceitou participar de Nottingham, mesmo sabendo que Capablanca estaria lá.

A partida foi especialmente tensa. Os jogadores evitaram sentar-se um em frente ao outro – faziam sua jogada e depois iam andar pelo salão, esperando a resposta do oponente. Alekhine ficou em posição superior. E foi então que o talento estratégico de Capablanca se impôs sobre o jogo eminentemente tático de Alekhine. Entre os que analisaram a partida, somente o velho Lasker – aos 68 anos – percebeu a sutileza. Eis o relato de Capablanca:

“Durante o transcurso da partida, meu contrário adquiriu uma magnífica posição, e, em um determinado momento, viu que mediante uma pequena manobra podia ganhar a qualidade [“ganhar a qualidade” = trocar um bispo ou cavalo, peças menores, por uma torre, peça maior]. Atirou-se e ganhou a qualidade, mas depois perdeu a partida. Muitos dos mestres mais fortes ali presentes puseram-se a estudá-la. Todos partiam do momento em que começava a manobra para ganhar a qualidade. Todos afirmavam que a manobra era correta, e buscavam o erro em algo posterior. Assim estiveram por muito tempo, e nisso chegou Lasker. Colocaram-no a par do resultado e lhe mostraram a posição; mas logo que começaram a demonstrar-lhe a manobra para ganhar a qualidade, ele interrompeu e disse: ‘Não, isso nunca’. O velho mestre havia percebido o que os outros não haviam visto: que ganhar a qualidade era um erro, e que meu contrário não somente perdia a vantagem que lhe dava sua magnífica posição, mas que, com qualidade e tudo, tinha uma posição perdida. Havia percebido que a combinação não havia sido feita pelo meu contrário, mas por mim, ao permitir-lhe ganhar a qualidade. Assim, disse: ‘Você, sem dúvida, respirou aliviado quando viu que seu adversário mordeu o anzol’. (....) A verdade é que Lasker foi o único alí presente que se deu conta do verdadeiro valor daquela posição, assim como das possibilidades que ela continha” (transcrito de “Ultimas Lecciones”, pela revista Ajedrez en Cuba, Vol. II-16, nº 26, set./1998).

Há algo inteiramente fora do comum neste texto: Capablanca, que sempre se mostrou amistoso com os oponentes, inclusive nas análises dos jogos que ganhou deles, nesse caso não cita o seu nome. Nem mesmo o chama de “oponente”, em geral o termo que os enxadristas preferem para designar seus adversários. Até mesmo esta última palavra é usada, no texto, somente por Lasker. Capablanca prefere chamá-lo de “meu contrário”. O que Alekhine, sob vários aspectos, e essencialmente, era.


Para ler os demais artigos de Carlos Lopes sobre xadrez e politica, visite o sitio do jornal HoraDoPovo

CPI da corrupção no RS divulga audio das escutas telefonicas de (des)governo YRC...

A presidente da CPI da Corrupção, Stela Farias (PT), apresentou na tarde desta segunda-feira (14) 24 trechos de escutas telefônicas entre integrantes do suposto esquema de corrupção que desviou R$ 44 milhões dos cofres públicos gaúchos entre 2003 e 2008.

As gravações, segundo a Polícia Federal (PF), mostram as negociações para a divisão dos recursos obtidos através de fraude em exames de motorista operados pelo Detran (Departamento de Trânsito) do Rio Grande do Sul.


O FBI apresenta os três aúdios mostrados na matéria do Uol.

Parece que as Organizações Serra já largaram a Yeda Crusius (foto) e Pedro Simon à própria sorte...





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Marina Silva e o PV....

Marina e os Tucanos

Regina Abrahão * www.vermelho.org.br

Depois do programa do Partido Verde - PV, assisti o filme "O Dia que a Terra Parou". Concluí, então, que os verdes do Brasil não consideram o ser humano com caracteríscas viróticas, portanto não pensam em varrer a humanidade da face da Terra. Aliás o PV brasileiro está mais para PV alemão. O que me leva a pensar na reação que terá a ex-ministra durante a campanha eleitoral de 2010, caso tenha que, em algum momento, compartilhar palanque com o tucanato, como fez até agora seu líder Gabeira.

Adoro ficção. Antes tinha certo encabulamento para dizer isto; Hoje, do alto de meu meio século, assumo ser fã incondicional da boa ficção científica. Tenho coleções de Star Trek, Lost in Space, Star Wars, e filmes, como Star Gate, A máquina do Tempo, Os Doze Macacos e outros, que costumo rever de tempos em tempos.

Conto isto porque lembrei da refilmagem de "o dia em que a Terra parou". Belos efeitos, etc. O filme resume-se em apontar o comportamento virótico e destrutivo da humanidade no planeta. Portanto, quem precisa ser salva é a Terra, não o homem. Destruindo-se o homem, a Terra estará salva. São os setores que se dizem da vertente naturalista, mas que na verdade poderemos classificar como fundamentalistas ecológicos. Ao condenarem veementemente o antropocentrismo, todas e quaisquer medidas que possam causar alterações no ambiente natural, esquecem que a pior de todas as poluições, a miséria humana, que degrada homem e ambiente é a primeira a ser combatida.

E talvez desta postura que em princípio e para alguns possa ter beirado a ingenuidade surgem os desvios dos "verdes" no mundo, e agora, no Brasil. Porque deste naturalismo quase indígena de discurso inflamado é fácil pular para ações que não precisem de justificativas anti-capitalistas. O movimento destes "verdes" dispensava até agora referências ideológicas mais consistentes, já que seus líderes, de militância errática e confusa, a exemplo de Cohn-Bendit na Europa, ex- esquerdista, ex-anarquista, ex-Sourbone, atual direitista, e Gabeira, ex-esquerdista, ex-petista, atualmente verde-aliado-do-PSDB, não seriam nenhum modelo de seriedade ideológica.

A confusão estabelecida no seio do movimento ambientalista não é casual. Enfrentar a degradação ambiental e propor um novo modelo de sociedade significa repensar e remodelar toda a sociedade, acabar o modelo capitalista de produção e consumo. Por isto a ingerência o capital nesta área. Nada pode ser tão assustador ao capital quanto ameaçar seu modo de produção, seus excedentes, seus desperdícios. Hoje, além de comprar um produto, o consumidor compra também o sentimento de felicidade e o status de possuidor que este produto lhe confere. Quanto mais produtos, mais felicidade, mais status, mais lucro para o produtor, mais renda na cadeia toda envolvida de uma ponta até a outra.

Obviamente o capital não deixaria por menos. Ao partidarizar o movimento, fez com que ele se distanciasse dos partidos de esquerda. Ao invés da luta interna, isolou-se em disputas eleitorais e depois na vida partidária, perdendo o foco central. Os lobbies, as pressões, os acordos e eis o Partido Verde Alemão apoiando inclusive as Guerras humanitárias de Bush. No Brasil, Gabeira aliando-se ao PSDB. E o meio ambiente? A ministra Marina, quando viu-se contrariada, pediu para sair. Nascida no Acre, deveria ela saber que não é fácil lidar com o latifúndio, com o capital internacional, que Lula ganhou o governo mas o poder não veio inteiro de brinde.

E como o capital não brinca em serviço, eis aí nossa ex-ministra, quem sabe concorrendo em 2010, com seu discurso verde- cintilante, ao lado daqueles que ela mesma combateu por trinta anos. Assisti ao programa partidário do PV na TV para ter certeza. Não, Marina não estava deslocada. Ao contrário, estava maravilhada com a festa oferecida, mostrando o que restou do Acre, as fotos com Chico Mendes, contando sua trajetória de vida miserável de cabocla amazônica. Algumas tímidas palavras sobre a necessidade de saneamento básico, exaltações à floresta e muitas queixas. Muito mais promessas do que queixas. Quase uma plataforma. Lembrou, de leve Heloísa Helena. Pequena, magra, firme, contundente. O discurso um pouco mais leve, a menos agressiva. Marina, efetivamente, é melhor. Desta vez, a direita escolheu melhor.

Depois do programa do PV, assisti outra vez o filme O Dia que a Terra Parou. Concluí, então, que os verdes do Brasil não consideram o ser humano com características viróticas, portanto não pensam em varrer a humanidade da face da Terra. Aliás o PV brasileiro está mais para PV alemão. O que me leva a pensar na reação que terá a ex-ministra durante a campanha eleitoral de 2010, caso tenha que, e provavelmente terá, em algum momento, compartilhar palanque com o tucanato, como fez até agora seu líder Gabeira. Que cena...



* Funcionária pública, direigente municipal do PCdoB de Porto Alegre, estudante de ciências sociais da UFRGS. Dirigente da Semapi - RS