segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O subjornalismo do JN 45 foi longe demais

MUDANÇA DE COMANDO NA GLOBO



Laerte Braga do sitio grupobeatrice


Os estragos causados pelo episódio da bolinha de papel atirada contra o candidato José FHC Serra são de grande monta na REDE GLOBO. A reação indignada de alguns jornalistas, em São Paulo principalmente, a preocupação com o bombardeio e desafios de outras redes em torno do noticiário do JORNAL NACIONAL sobre o episódio, tudo isso e muitos fatos outros, estão levando a direção geral do grupo a avaliar se promovem Ali Kamel para cima e afastam o todo poderoso do departamento de jornalismo, ou se simplesmente entram num acordo e Kamel vai cantar noutra freguesia.

A bolinha de papel não se desmanchou na água e acabou sendo a gota que faz transbordar.

A decisão será tomada após as eleições. Carlos Augusto Montenegro, diretor presidente do IBOPE, aumentou as preocupações do comando do grupo ao levar a informação que a bolinha de papel terá custado alguns pontos preciosos a José FHC Serra nas intenções de votos e Dilma teria hoje algo em torno de 16% de vantagem sobre o tucano.

O temor da GLOBO não está no fato do JORNAL NACIONAL ter apresentado um parecer forjado em torno do incidente envolvendo José FHC Serra. A mentira é intrínseca ao grupo. Mas no risco de crescimento das redes concorrentes. A RECORDE a mais próxima nos números de audiência e no que isso pode representar a curto, médio ou longo prazo para o “esquema”

O império de Roberto Marinho, pela primeira vez, parece estar sentindo o golpe, se vendo nas cordas e apostando fichas numa improvável eleição de José FHC Serra, mesmo assim, a um preço alto demais.

Para alguns setores do comando do grupo a empresa não é como VEJA. Tem preocupações com o parecer ser e não pode entrar numa zona de turbulência sem perspectiva de uma saída tranqüila. Ou pelo menos tenta fazer crer que é diferenciada. Banditismo de estilo mais nobre. Sangue azul.

A sorte de Ali Kamel está ligada à eleição de José FHC Serra e a própria GLOBO sabe que, a essa altura do campeonato, essa chance é mínima. Nem coelho da cartola, nem uma legião de coelhos.

E há quem entenda que o diretor de jornalismo comprometeu a credibilidade da rede e é preciso recuperá-la o mais rápido possível. O nível a que a grande mídia, GLOBO à frente, levou a campanha, o mais baixo da história das campanhas presidenciais no Brasil, pode afetar para além do JORNAL NACIONAL, do departamento de jornalismo, todo grupo.

Um episódio mais ou menos semelhante aconteceu em 1982 quando Armando Nogueira deixou o departamento de jornalismo da rede por conta do escândalo da PROCONSULT. Àquela época o fato revestiu-se de tal gravidade que algo inimaginável aconteceu. Brizola foi aos estúdios da GLOBO numa tentativa da empresa de atenuar os prejuízos causados com outra tentativa, a de fraude na totalização dos votos para o governo do estado do Rio.

Foi o primeiro momento na história de impunidade da GLOBO que a turma se viu acuada.

Kamel não age sozinho e nem monta todo esse sórdido esquema de mentira à revelia dos donos do império. Faz o que faz com aprovação dos senhores do “negócio”. A diferença é que os senhores do “negócio” se preservam nos castelos do baronato Marinho e têm, sempre, um bode expiatório à mão.

Sem falar nos interesses que acoplam a GLOBO a um todo que ultrapassa o setor de comunicações. Os braços são longos a toda a atividade econômica no País em se tratando de interesses escusos. Ou seja, há necessidade de prestar conta aos que pagam e ditam os caminhos do grupo. 

Nesta campanha eleitoral os interesses bilionários em jogo e a aposta de todas as fichas na campanha de José FHC Serra parecem ter deixado cegos os moradores do castelo e do PROJAC, uma espécie de centro de mentiras, boatos e cositas más.

A turbulência chegou ao auge no laudo falso do perito Ricardo Molina, prontamente desmentido pelas redes concorrentes e por um fenômeno que a GLOBO ainda não absorveu inteiramente. A blogsfera. Ou seja, o conjunto de blogs independentes de grandes e anônimos jornalistas ou não, a derrubar em cima de cada mentira, a versão global.

Hoje o número de internautas no País é significativo, a repercussão dos comentários em blogs, sites, portais, redes de comunicação acaba por criar uma força quase tão poderosa quanto a GLOBO.

Quase tão poderosa? É a avaliação de alguns especialistas pelo simples fato que, nesta eleição a candidata do PT vence por larga margem entre os eleitores de renda mais baixa (políticas sociais de Lula) e o prejuízo à GLOBO acontece nas chamadas classes médias, divididas entre os dois candidatos e ponderável parcela escapando do fascínio do plim plim.

O poder aquisitivo dos brasileiros aumentou nesses últimos oito anos, há um orgulho nacional com o papel do Brasil no mundo e o que esse novo perfil provoca no mundo  da comunicação não foi ainda tratado corretamente pela GLOBO, a mídia privada como um todo, não foi absorvido o que quer dizer que nessa nova realidade ainda tateiam apesar de todos os esforços para diminuir o impacto da transformação.

Foi visível na campanha de Obama, é visível na campanha de Dilma.

Tornou-se mais difícil mentir, enganar, características do grupo e da mídia privada.

O que não quer dizer que até domingo, 31 de outubro, dia da votação, todo o grupo não vá se empenhar na campanha de José FHC Serra e na onda de mentiras e boatos que possam prejudicar Dilma Roussef.

Nem tem como. Equivaleria a um pouso de barriga e os riscos de um incêndio são altos demais numa eventual mudança de posição (fora de propósito), ou correção de rota para uma área neutra.

A gênese da GLOBO é a mentira e o DNA preserva suas principais características até o último suspiro.

O que assusta os donos do “negócio” para além da derrota eleitoral? Um monte de fatores.

Surge uma discussão no Brasil impensável há meses atrás, falo de proporções. Até que ponto é possível a uma empresa/famílias manter o monopólio das comunicações e associada a empresas outras (menores), mas fechando o cerco em torno de quem ainda lê jornal impresso, revistas e que tais?

O que é de fato liberdade de expressão? A mentira? O engajamento em interesses de grupos econômicos nacionais e estrangeiros (associados)?

---------------------------

Em tempo: Não propugnamos a troca de 6 por meia dúzia, que significaria a substituição do monopólio da Globo pelo monopólio da IURD-Edir Macedo-Record. Pelo contrário, defendemos a pluralidade dos meios de comunicação, ainda mais, em tempos de TV digital, o que exigirá regulamentação de artigos da Consituição Federal, quem sabe, de um novo marco regulatório da comunicação para dar conta das novas tecnologias [as que existem e as que ainda estão para serem desenvolvidas].

Mais do nunca a França precisa de uma esquerda unida



Sabia-se que, depois da decisão, em 20 de outubro, teria de se interromper ou continuar a greve na França. Sabe-se também que uma lei como a do corte de aposentadorias não será a última que um governo conservador venha a aprovar, sob o pretexto de sanear o orçamento e repartir os encargos. Um olhar ao que ocorre do outro lado do Canal da Mancha mostra já aos franceses tudo o que pode ocorrer. Mais do que nunca se precisa, na França, de uma esquerda unida: para o movimento grevista atual e para tudo o que dele possa advir. O artigo é de Michael Krätke.

Milhões de franceses perderam a paciência nestes últimos dias e se puseram na ofensiva, protestando contra a reforma das aposentadorias.

Por duas vezes, já – em 1995 e em 2003 -, atrevimentos parecidos, camuflados de projetos de reforma naufragaram no rompante dos protestos de massas nas ruas. Várias cabeças representativas da classe política rodaram pela arena. Agora Sarkozy também tem de temer por sua sobrevivência política. O cenário não oferece dúvida: se ele perde esta batalha pode ir se despedindo de sua reeleição em 2012. Se o movimento de protesto triunfa a esquerda terá melhores perspectivas do que teve até agora para ganhar as presidenciais.

A idade de aposentadoria legal teria de passar de 65 para 57 e de 60 a 62 para uma aposentadoria antecipada, não integral. Nestes últimos casos, o número de anos de contribuição para conseguir uma aposentadoria máxima passou já de 37, 5 para 41. Uma das consequências, segundo estatísticas da União Européia é que 13% dos aposentados se encontram hoje, na França, abaixo da linha da pobreza (na Alemanha, essa quantia é de 17% e na Grã Bretanha, 30%). Trabalhar durante mais tempo para ter uma aposentadoria mais baixa, como ocorre aos alemães ou aos britânicos? De maneira alguma: a maioria dos franceses quis vetar esse excesso.

A onda de manifestações, a série de greves e bloqueios massivos, longe de minguar, não pararam de crescer, dia após dia. Até o começo da semana passada, lançaram-se às ruas diariamente mais de 3 milhões de pessoas. Os estudantes do ensino médio e universitário se uniram num movimento de greve. Mais de 1200 centros de ensino médio e muitas universidades fizeram greve. A classe política francesa tem, desde maio de 1968 um pânico inveterado da aliança entre estudantes e operários. Pois agora somaram-se os aposentados...

Os caminhoneiros confluem no movimento grevista. Antes como agora, eles se aposentam aos 55 anos. Sua operação padrão paralisou estradas francesas: o acesso aos depósitos de combustível e petróleo, a distritos industriais inteiros, deixou muitos estabelecimentos fechados. É evidente: na França houve e segue havendo solidariedade entre quem chamamos de trabalhadores assalariados.

Sarkozy intransigente
Inimaginável na Alemanha, apesar de todos os inconvenientes de tráfego, apesar da ameaça de suspensão do fornecimento de energia elétrica, apesar da previsível escassez na provisão de alimentos, apesar alvoroços e algazarras, uma folgada maioria de franceses apóia o movimento grevista nacional. Todas as pesquisas coincidem: entre 70% e 75% da população total rechaçam a reforma de Sarkozy e defendem o protesto. Para 84% dos jovens entre 18 e 24 anos, a aposentadoria se converteu numa promessa enganosa de uma futuro nebuloso. Além disso, dois terços dos franceses acreditam que as greves deveriam ter ocorrido desde o princípio de uma maneira mais radical. Por que não passar a uma greve geral indefinida? 50% dos franceses apoiariam.

É verdade que a esquerda estava dividida, mas pôde colocar-se, junto aos sindicatos, na cabeça do movimento. No Senado, os socialistas manobraram para ganhar tempo, apresentando centenas de emendas à lei de reforma, para adiar a votação final. Isso ajudou aos que protestavam nas ruas, sobretudo a comunistas e trotskistas, que exigiam um referendum sobre a questão das aposentadorias.

Nicolas Sarkozy se manteve duro até o final. Tratou por vários meios de dividir o movimento, apontando sobretudo aos poucos sindicatos homogêneos. Houve pequenas concessões – por exemplo, para mães com mais de três filhos -, para desprender algumas centrais sindicais da frente grevista. No fim das contas, todas essas manobras deram em nada, embora François Chérèque, chefe da central socialista CFDT tenha chegado a entrar em negociações. Mas quando se viu que o primeiro ministro Fillon não tinha outra coisa a oferecer senão cosméticos do projeto de reforma, não tardaram a dissipar as dúvidas. O Ministério do Interior fez das suas e manipulou sem escrúpulos as cifras e as informações. Três milhões e meio de grevistas e manifestantes foram reduzidos, como na semana anterior, a menos de um milhão. Mas não se pode negar que o corte de pensões afeta a todos. A paz e a ordem deixaram de ser o primeiro dever cidadão.

Um olhar através do canal da Mancha
Há que se enfrentar a verdade, arguía o governo: se a expectativa de vida segue aumentando, também há que se trabalhar mais tempo. Compare-se com o que ocorre nos outros países da União Européia e dêem-se conta do que fazem. Mas isso de pouco adianta a Sarkozy e a Fillon, porque mais de dois terços dos franceses consideram simples desfaçatez a pretensão de converter as aposentadorias em bode expiatório do déficit orçamentário. Se a caixa estatal está vazia, algo terá a ver com os atos de conciliação e com o resgate dos grandes bancos afetados, com as isenções fiscais às empresas e às entidades financeiras, muitas das quais causaram a crise financeira. Fala-se num “hiato geracional”; é claro que não se entende por que não se fala de um “hiato de justiça”.

Até agora as greves vinham se decidindo no dia a dia, e isso também por causa da certeza de que, depois de sua votação no Senado, as coisas seriam muito diferentes e a reforma iria se tornar lei. Independente do que a maioria dos franceses pensa. Sabia-se que, depois da decisão, em 20 de outubro, teria de se interromper ou continuar a greve. Sabe-se também que uma lei como a do corte de aposentadorias não será a última que um governo conservador venha a aprovar, sob o pretexto de sanear o orçamento e repartir os encargos. Um olhar ao que ocorre do outro lado do Canal da Mancha mostra já aos franceses tudo o que pode ocorrer. Mais do que nunca se precisa, na França, de uma esquerda unida: para o movimento grevista atual, e para tudo o que dele possa advir.

(*) Michael R. Krätke, membro do Conselho Editorial de SINPERMISO, é professor de política econômica e direito tributário na Universidade de Amsterdã. É pesquisador associado ao Instituto Internacional de História Social desta mesma Universidade e é catedrático de economia política e diretor do Instituto de Estudos Superiores da Univesidade de Lancaster no Reino Unido.

Tradução: Katarina Peixoto

Atual momento eleitoral retrata Derrota Histórica do Mundo do Trabalho

Escrito por Mário Maestri  no Correio da Cidadania 
 
Dilma não é Serra, que não é FHC. No frigir dos ovos, sequer o Fernando Henrique de hoje é o mesmo que governou em 1995-2002. Eles são, todos, diversos, mesmo sendo um a cara do outro, política e socialmente. E se não acreditam, dêem uma olhada nas taxas de juro praticadas pelo Banco Central nesses últimos dezesseis anos, a mais efetiva materialização da principal forma de exploração dos povos e nações nesta fase de domínio pleno de ordem capitalista em senilidade avançada.
 
O primeiro turno eleitoral, em 3 de outubro, registrou derrota fragorosa e histórica do mundo do trabalho diante do grande capital. É simples expressão patética desse raquitismo social estrutural o esforço empreendido, nesse segundo turno, para transformar Dilma da Silva, com ou sem reticências, com ou sem pedidos de desculpas, na expressão de um Brasil popular, democrático, republicano, social, que o lulismo e o petismo ajudaram a estrangular nos últimos anos.
 
O um por cento da votação geral obtido pelos candidatos à presidência do PSOL, PSTU, PCB e PCO não registra a "infelizmente" "votação baixa" "das candidaturas identificadas com os partidos de esquerda", como propõe recente manifesto puxado pela direção do MST. Ao contrário, constitui o dramático e incontestável registro da defecção política da população com os partidos e o programa que defendem, bem ou mal, hábil ou inabilmente, as bandeiras da democracia, do laicismo, da república, do socialismo. Ou seja, delimita o desconhecimento geral das únicas e efetivas saídas para a crise histórica e atual de nossa sociedade em ininterrupto agravamento.
 
E não devemos culpar a grande mídia pela rejeição da população do programa do mundo do trabalho e sua adesão a candidaturas e propostas apoiadas em facções diversas do capital. Repetiremos assim a triste desculpa do capitão do time goleado: "– Nós jogamos ótimo! Eles jogaram melhor!". É da natureza da mídia burguesa sufocar seus inimigos viscerais: o trabalhador organizado e sua luta pela autonomia. O próprio silêncio da grande mídia não impediu, por exemplo, que alguns candidatos ao parlamento pelo PSOL obtivessem altas votações, circunscrevendo em forma inarredável a defecção da população com as políticas estratégicas psolistas.
 
A votação mais do que pífia dos partidos ancorados no trabalho e no socialismo deveu-se certamente a grave erro conjuntural – a liquidação da unidade dos partidos de esquerda, em favor dos respectivos aparatos, segundo parece. E se houve razões mais profundas para tal divisão, a população jamais foi informada sobre elas. Porém, uma Frente de Esquerda mitigaria, mas não superaria, escore eleitoral que expressou situação estrutural do movimento social, consolidada muito antes das eleições.
 
Sem o indiscutível carisma e capacidade de comunicação de Plínio Sampaio, um PSOL capitaneado por Heloísa Helena talvez obtivesse igual votação, mas jamais a mesma repercussão. A derrota da ex-senadora em seu estado natal registra o já sabido – enorme parte de sua alta seara eleitoral em 2006 não foi colhida nas terras magnânimas das classes populares, mas nos terrenos inférteis de segmentos médios comumente conservadores. Consequentemente, jamais rebrotaram ou frutificaram. Com Marina Silva desempenhando, com o apoio do capital, a função de ponte para um segundo turno, a ex-senadora assistiria seu antigo escore eleitoral dissolver-se como sorvete sob o sol abrasador do sertão.
 
Não podemos também responsabilizar Lula da Silva e o petismo pela enorme despolitização e desorganização do movimento social, em boa parte devida à gigantesca cooptação e integração ao Estado, em forma direta ou indireta, de direções sindicais e populares urbanas e rurais, do movimento negro organizado etc. O atrelamento de organismos e lideranças sociais na procura da liquidação da autonomia política, orgânica e ideológica do mundo do trabalho era condição exigida, pela burguesia, para a entrega do governo a Lula da Silva e ao petismo. A própria votação insignificante dos partidos socialistas e classistas qualifica e fortalece a candidatura de Dilma diante do capital. Lula da Silva, Dilma e o petismo mostraram-se negociantes honestos e confiáveis. Entregaram, fresco, como prometido, o peixe que venderam, ainda sendo pescado.
 
Entretanto, a ação deletéria do lulismo e do petismo sobre um mundo do trabalho historicamente frágil e débil talvez tenha sido tão competente que não poucos segmentos do capital acreditam já desnecessários seus serviços. Não deixa de ser uma ironia que a despolitização e desorganização da população, organizada pelo petismo e sindicalismo colaboracionistas, fertilizaram a adesão multitudinária ao integralismo evangélico. Cooptação política, social, ideológica e econômica profundamente conservadora, através de organização popular horizontal e de proximidade rejeitada pelo petismo quando de sua metamorfose social-liberal, para melhor manter a desmobilização.
 
O grande tropeço dos partidos da esquerda que se definem como anti-capitalistas – PSOL, PCB, PSTU, PCO – foi indiscutivelmente a não convergência em frente que apontasse para além das eleições, na procura da aglutinação e extensão das vanguardas políticas e sociais, para melhor enfrentarem os dramáticos embates com que a população já se confronta e se confrontará nos próximos tempos, seja qual seja o vencedor do segundo turno. Movimento unitário que impediria ou minoraria que essas organizações saíssem do pleito, como saíram, todas, maltratadas e fragilizadas, mesmo quando aumentaram eventualmente a representação parlamentar, como no caso do PSOL.
 
O nível dramático da crise de autonomia do mundo do trabalho no Brasil ficou registrado na submissão subjetiva das direções de suas já frágeis organizações. Elas abandonaram incontinenti as posições autonômicas defendidas para aderirem ao setor considerado mais democrático e mais progressista do capital, que acabavam de denunciar no primeiro turno. Cambalhota que registra, no melhor dos casos, as ilusões e dependências político-ideológicas à burguesia e, no pior, acomodação oportunista à estrepitosa votação do lulismo-petismo. Paradoxalmente, essa posição referenda as ilusões dos trabalhadores e da população que optaram pelo voto útil, em Dilma do Lula e no petismo, já no primeiro turno. Se é pra pedir pra deus, pra que rogar pro santo!
 
A quase totalidade da direção do PSOL abraçou-se com o petismo, deixando no isolamento dos justos seu candidato à presidência e a pequena minoria que manteve seus compromissos com este último e com os princípios que sempre defendeu. Não sabemos qual a dimensão da resistência no PCB, caso tenha ocorrido, a uma decisão que enterrou, no mínimo por um muito longo tempo, qualquer credibilidade à sua proposta de "reconstrução revolucionária". A conclamação automática do PSTU ao voto nulo perde sentido devido à votação liliputiana de Zé Maria, em contradição direta com a tradicional auto-proclamação como vanguarda revolucionária dessa organização, já com trinta anos de história.
 
O mundo se encontra em fase perigosamente declinante. O pouco que resta da ordem socialista engolfa-se, em ritmo diverso, que tende a se unificar, nas últimas fases de movimento da restauração capitalista: China, Cuba, Vietnã etc. O inevitável domínio da barbárie social, apontada como ogro medonho, a espantar a humanidade no seu horizonte histórico, na antevisão genial de Rosa Luxemburgo, no caso da vitória do capital, aboleta-se já despachado em nossa sala de visita. A luta por reorganização socialista do mundo, denunciada ontem como miragem utópica, apresenta-se hoje como solução necessária e imprescindível para talvez a própria sobrevivência da humanidade.
 
A solução-superação de uma ordem capitalista globalizada, crescentemente senil e autofágica, se dará, caso se dê, através de processo necessariamente internacional. Os recuos e avanços, através do mundo, das lutas sociais, debilitam ou fortalecem os trabalhadores e seu projeto histórico como um todo. Na Europa, sobretudo na Grécia, na Itália e na França, os trabalhadores levantam-se em respostas duríssimas à ofensiva geral contra as populações, delimitando, nas ruas, a oposição irredutível, entre trabalho e capital, em todas as esferas sociais. A solução positiva dessas jornadas exige a difícil construção de direções e de programas que apontem e organizem, sem concessões de qualquer tipo, a transformação de batalhas ainda defensivas em assaltos às casamatas e quartéis-generais da ordem capitalista.
 
O Brasil desempenha papel determinante no confronto mundial entre capital e trabalho. O domínio do conservadorismo e do oportunismo no nosso país-continente pesa duramente sobre a América do Sul, em especial, e o mundo, em geral. É de urgência atroz a reagrupação, centralização e intervenção dos núcleos da vanguarda política e social que se buscam a defesa da autonomia do trabalho diante de todas e quaisquer expressões do capital. Reagrupação que, separando o joio e o trigo, facilite a difícil e complexa construção de programa que expresse as necessidades quotidianas e gerais da sociedade. Definição que exige integração organizada e crítica às lutas sociais, ainda que pontuais, ancorada no esforço e na necessidade mundial dos trabalhadores. Um movimento necessariamente estranho ao cretinismo parlamentar, ao propagandismo retórico, ao sindicalismo corporativista, ao autismo e ao dogmatismo partidário.
 
Mário Maestri, sul-rio-grandense, é historiador. E-mail: maestri@via-rs.net

Governo britânico planeja vender florestas e expulsar pobres de Londres

Mais de 200.000 pessoas poderão ser expulsas da cidade de Londres devido aos cortes no apoio social à habitação decididos pelo governo britânico, que pretende também privatizar metade da floresta pública.
Não a cortes de biliões - Defende o nosso Estado social - manifestação contra plano de austeridade do Governo britânico
 
Três mil pessoas manifestaram-se contra o plano de austeridade do Governo britânico, no dia da sua apresentação - Foto Lusa/EPA/Andy Rain

Os cortes devastadores nos apoios sociais à habitação vão provocar uma “limpeza social” na cidade de Londres, noticiou neste domingo o jornal Guardian.
Segundo autarcas locais da cidade, 82.000 famílias pobres, o que significa mais de 200.000 pessoas, podem ser expulsas da cidade, devido aos preços elevados das rendas e aos cortes nos apoios sociais à habitação, impostos pelo plano de austeridade anunciado na passada semana pelo Governo da coligação de conservadores e liberais-democratas.
Noutras cidades britânicas de rendas elevadas, como Oxford ou Brighton, poderá acontecer uma situação semelhante.
Em Londres, a política governamental tem o apoio do presidente da Câmara da cidade, Boris Johnson, e autarcas conservadores estão já a reservar instalações fora da capital (em Hastings, Reading e Luton), para desterrar as pessoas expulsas de Londres.
David Orr, presidente da National Housing Federation (Federação Nacional de Habitação), considera os cortes “verdadeiramente chocantes” e diz que se os ministros não reconsiderarem os “cortes punitivos” o plano levará a que mais pessoas durmam na rua, do que “em qualquer momento dos últimos 30 anos”.
Mas o governo de David Cameron e Nick Clegg pretende também prosseguir a política de privatizações iniciada por Margareth Thatcher e prosseguida por Blair. Como já vão escasseando os bens e serviços públicos, este governo quer privatizar cerca de metade dos 748 mil hectares de floresta do Estado, até 2020. Os movimentos ambientalistas exigem que os cidadãos possam usufruir das florestas, mesmo privatizadas. Os sindicatos do sector opõem-se à privatização.

Fonte: EsquerdaNet

Abramovay: pai e filho classificam de ‘repugnante’ acusações da ultradireita

  Por Redação do Correio do Brasil, de São Paulo
O professor Ricardo Abramovay sai em defesa do filho, Pedro
O professor Ricardo Abramovay sai em defesa do filho, Pedro

O economista Ricardo Abramovay, professor-titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo e Coordenador do Núcleo de Economia Socioambiental (NESA); além de membro-titular do Conselho Científico da Maison des Sciences de l’Homme de Montpellier, na França, distribuiu uma nota à imprensa, neste domingo, longe dos objetivos dos estudos e do trabalho que desenvolve, para dar voz a uma indignação civil e paterna.
“Não posso deixar de enviar-lhes a nota de meu filho Pedro Vieira Abramovay, em resposta à repugnante matéria de capa de hoje da revista (semanal de ultradireita) Veja”, escreveu, em mensagem dirigida à imprensa e aos amigos, que segue na íntegra:
Nota de Pedro Abramovay
“Nego peremptoriamente ter recebido, de qualquer autoridade da República, em qualquer circunstância, pedido para confeccionar, elaborar ou auxiliar na confecção de supostos dossiês partidários. Não participei de supostos grupos de inteligência em nenhuma campanha eleitoral. Nunca, em minha vida, tive que me esconder.
“A revista Veja, na edição número 2188 de 2010, afirma ter obtido o áudio de uma gravação clandestina entre mim e um ex-colega de trabalho. Infelizmente a revista se recusou a fornecer o conteúdo da suposta conversa ou mesmo a íntegra de sua transcrição.
“Dediquei os últimos oito de meus 30 anos a contribuir para a construção de um Brasil mais livre, justo e solidário, e tenho muito orgulho de tudo o que faço e de tudo o que fiz. Trabalhei no Ministério da Justiça como Assessor Especial, Secretário de Assuntos Legislativos e Secretário Nacional de Justiça, conseguindo de meus pares respeito decorrente de meu trabalho.
“Apesar de ver meu nome exposto desta forma, não foi abalada minha fé na capacidade de transformação de nosso país e tampouco na crença da importância fundamental de uma imprensa livre para o fortalecimento de nossa democracia.
“Pedro Vieira Abramovay  – Secretário Nacional de Justiça
Arapongas e dossiês
Na reportagem do meio de comunicação que encarna o discurso dos setores mais retrógrados da sociedade conservadora nacional, a reportagem afirma que “os diálogos aos quais a reportagem teve acesso foram gravados legalmente e periciados para afastar a hipótese de manipulação”. Mas não cita a origem da gravação, sem precisar se o material a que o repórter da revista teria acessado foi produto de um inquérito, no âmbito de algum processo judicial, ou ato de alguém contratado para esse fim.
O Correio do Brasil consultou o Ministério da Justiça acerca da publicação de um dos diálogos, no qual o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, sua chefe de gabinete, Gláucia de Paula, e o então secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior conversam sobre a origem do poder do diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa — que teria conseguido, entre outras coisas, evitar o indiciamento de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula”. Até o fechamento desta matéria, o ministério não havia se pronunciado.
Presidente do PT, José Eduardo Dutra, em conversa com jornalistas, neste domingo, também preferiu não comentar sobre o fato de o secretário exonerado Romeu Tuma Júnior ter confirmado à revista que Abramovay queixou-se de ser pressionado por petistas para produzir dossiês.