quinta-feira, 2 de julho de 2009

A terra paralela de Yeda Crusius e seus pais omissos (e omitidos)


Quem olha para os últimos movimentos e declarações de Yeda Crusius (PSDB) pode constatar o crescimento exponencial da terra paralela construída pela governadora. Ela reúne todo seu secretariado, com pompa e circunstância, para “comemorar os 30 meses de seu governo”. Fala de um Estado que só existe nas fronteiras fechadas de alguns gabinetes do Palácio Piratini. Logo em seguida, pega seu instrumento voador e viaja a Brasília, onde, segundo ela declara, as flores ajudam a restituir o equilíbrio. Defende a assessora Walna Villarins Meneses das denúncias de envolvimento com desvio de recursos públicos e destaca a transparência que marca seu governo. Ela até criou uma secretaria para mostrar que seu governo preza a transparência e a probidade administrativa.

A primeira secretária, Mercedes Rodrigues, pediu demissão e saiu dizendo que o governo não estava seriamente interessado em uma gestão transparente. O segundo secretário, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, está demissionário. Recomendou à governadora a abertura de uma sindicância interna e o afastamento de Walna. Entre outras coisas, a assessora foi flagrada em uma escuta telefônica da Operação Solidária, falando sobre compra de flores (estas que ajudam a restituir o equilíbrio) e operações bancárias. Yeda e Walna gostam muito de flores. Estão plantando várias no Palácio Piratini.

Enquanto isso, no mundo real, o governo se arrasta no dia-a-dia bombardeado por denúncias de corrupção, fraudes em licitações, caixa-dois, três…Enquanto isso, no mundo real, a população é informada que o Rio Grande é o Estado que menos investe em saúde e educação no país. A atividade produtiva do RS registra queda recorde.

Também no mundo real, os pais políticos de Yeda Crusius (PSDB) combinam uma operação dupla, tentam desesperadamente segurar um governo que se esvai a cada dia, barrando a instalação de uma CPI da Corrupção na Assembléia Legislativa. Tentam salvar os próprios dedos, também seriamente chamuscados por denúncias de corrupção. E, ao mesmo tempo, procuram esconder sua responsabilidade pelo atual estado de coisas no Rio Grande do Sul. Esses pais têm nome e sobrenome: Pedro Simon, Eliseu Padilha, Germano Rigotto e José Fogaça são alguns deles. Todos seguem sustentando o arremedo de governo instalado no Piratini, mas cuidam para não serem associados ao mesmo.

Nos últimos anos, construiu-se no Estado algo chamado de “anti-petismo”. Curiosamente, nunca se ouviu falar de um “anti-peemedebismo”. Mas qual é mesmo o legado do PMDB para o Estado do RS? Do governo Britto até hoje, com exceção dos quatros anos do governo Olívio Dutra (PT), o PMDB sempre esteve no poder. Ao contrário do que acontece cotidianamente com o PT, nunca foi cobrado publicamente por suas ações e pelo que deixou para o Estado. Qual é o balanço das privatizações, por exemplo? O Estado avançou ou retrocedeu do ponto de vista de uma agenda de desenvolvimento social? O governo Yeda Crusius representa o ápice de um processo de degeneração política e cultural de um Estado que, segundo alguns, seria o mais politizado do país. Quem é afinal, responsável, pelos constrangedores e vergonhosos dias que estamos vivendo hoje?

Ilustração: Hupper

Golpe em Honduras...

Rádio Globo de Honduras denuncia mordaça golpista



O gerente- proprietário da Rádio Globo de Honduras, Alejandro Villatoro, colocou no site da emissora na internet duas impressionantes denúncias sobre a censura à imprensa a partir do golpe deste domingo (28). Dirigidos "à comunidade internacional, aos organismos internacionais de direitos humanos e à Corte Interamericana de Direitos Humanos", eles falam por si.
A Rádio Globo só conseguiu voltar ao ar "com uma série de condições, entre elas a de manter um perfil baixo". A programação pode ser acompanhada ao vivo – em http://www.radioglobohonduras.com –, para verificar o que significa o "perfil baixo".
Na tarde desta quarta-feira (1º), num programa com participação ao vivo dos ouvintes por telefone, o radialista cortou rapidamente a ligação de um hondurenho que começou a falar nos "golpistas".
O interlocutor seguinte, talvez advertido pelo insucesso do antecessor, preferiu falar em tese: "A burguesia não tem partido, não tem religião, a religião dela é o dinheiro".
O programa, um debate ao vivo, comentou, com as devidas cautelas, as manifestações a favor e contra o presidente Manuel Zelaya – que os hondurenhos costumam chamar simplesmente de Mel. Um dos debatedores observou, seobre o comício dos golpistas, que "essa gente tem muito dinheiro, normalmente manda os seus empregados".
O noticiário dá conta de que, "neste momento, há emissoras de rádio e televisão estão sendo resguardadas por efetivos policiais e militares". Informa também, com voz neutra, que o Parlamento acaba de "instalar o estado de sítio" e "suspender as garantias individuais". "Nós hondurenos estamos limitados no que se refere a comunicações", observa um comentarista.
As mensagens da Rádio Globo, "a emissora que se ouve porque diz a verdade", formam um interessante complemento com Imprensa hondurenha dá aulas de colaboracionismo tacanho, que o Vermelho publicou ontem: mostram o que acontece com quem não se dispõe a aplaudir o golpe. Veja a íntegra:
"À comunidade internacional e aos organismos internacionais de direitos humanos: denunciamos o seguinte:
Que, após os acontecimentos do último domingo, 28 de junho, nossa empresa, Rádio Globo, continua a ser objeto de represálias, inclusive a interrupção temporária de suas transmissões durante várias horas, desligando nossos transmissores. Depois, a rádio foi autorizada a voltar ao ar, mas com uma série de condições, entre elas a de manter um perfil baixo, o que consideramos humilhante e violador da liberdade de expressão. Também tiraram do ar por várias vezes o nosso site, www.radioglobohonduras.com, restaurado por nossos próprios meios.
A mesma situação acontece com redes noticiosas internacionais internacionais como a CNN em espanhol, cujas transmissões foram interrompidas em várias empresas de TV a cabo.
O gerente-proprietário da Rádio Globo, Alejandro Villatoro, deixa aqui o registro público de que as suas instruções aos jornalistas foi de se manterem neutros em todo este conflito, informando objetivamente, apesar ter sido capturado e sequestrado por militares durante várias horas do domingo, apesar de sua condição de deputado, sem ter cometido qualquer delito e em aberta violação de seus direitos constitucionais."
O segundo comunicado é ainda mais rico em informações:
"Senhores da Corte Interamericana de Direitos Humanos, esta mensagem leva afora minhas saudações a seguinte denúncia:
Como gerente da Rádio Globo, denuncio aos senhores que, após as ações de fato que depuseram o presidente Manuel Zelaya Rosales, iniciou-se uma campanha de intimidação contra os meios de comunicação independentes, entre eles esta emissora, que foi submetida a um atentado.
A partir das seis horas da manhã, quando iniciamos nosso trabalho, a sede da rádiol, situada na Avenida Morazan, foi militarizada. Depois de algumas negociações autorizaram nossa entrada.
Começamos nosso labor informativo, dentro dos parâmetros estabelecidos pelas normas legais ecomprometidos com a liberdade de expressão que nossa consciência nos dita.
Várias tentativas foram feitas pelos militares para entrar no edifício onde transmitíamos a Hondurase ao mundo o que realmente acontecia no país. Às seis da tarde, um comando militar, composto por cerca de sessenta elementos do exército, tomou as instalações físicas da rádio e tirou-a do ar. Os companheiros que se encontravam no estabelecimento (Alejandro Villatoro, proprietário, jornalistas Lidieth Diaz, Rony Martinez, operadores Franklin Mejia Villatoro e Orlando) foram objeto de ameaças de morte, espancamentos e intimidações. No caso de Alejandro Villatoro, que é deputado, sua condição não foi respeitada.
No caso de David Romero Ellner existia uma ordem de prisão contra ele, que conseguiu escapar lançando-se do terceiro andar do prédio que abriga a rádio (cerca de 25 metros de altura), quando fraturou uma clavícula e algumas costelas.
Franklin Mejia, operador, que é menor de idade, foi espancado em meio a gritos discriminatórios ('Preto filho de uma... vamos matá-lo, a menos que nos diga de onde estão transmitindo' e outras ofensas à sua condição humana).
Senhores: o objetivo de fundo de todo este ataque foi, e é, calar a única emissora de Honduras que transmitia os eventos tal como ocorreram. Atualmente, após negociações com os militares, a rádio reabriu suas operações porém sob uma série de condições que limitam a liberdade de expressão no país.
No âmbito deste quadro é que usamos para levar aos senhores esta denúncia formal, para que, com a autoridade que têm, procedam imediatamente a uma investigação do caso."
Fonte: http://www.radioglobohonduras.com

Ainda sobre Honduras

Jornalista hondurenho: "A rebelião é generalizada"


O site 5septiembre, do jornal de mesmo nome, de Cienfuegos, sul de Cuba, publicou esta entrevista por internet com o veterano jornalista hondurenho Eduardo Coto. Coto transmite a situação em San Pedro Sula, segunda maior cidade de Honduras (1 milhão de habitantes, no noroeste). Diz que os atores sociais responderam ao golpe "de forma admirável" e "é algo incrível o modo como se criou consciência aqui em Honduras". Veja a íntegra.


Passeata em Tegucigalpa nesta quarta-feira (1º)

O rastro de sua intensa atividade não me deixa mentir: Eduardo Coto, velho jornalista independente hondurenho (um filho de mesmo nome também exerce a profissão), está nas filas da rejeição do golpe desde o domingo, 28 junho, data da quartelada contra o presidente constitucional, Manuel Zelaya.


Desde antes até: na tarde de sábado, Coto e várias centenas de pessoas realizaram uma manifestação em frente à catedral da Igreja São Pedro Apóstolo, em favor da "quarta urna" [consulta ao povo sobre uma Assembléia Constituinte].


Sabe-se o que aconteceu a seguir. Na madrugada de 28, militares mascarados tomaram de assalto a residência do presidente. Este foi sequestrado, de pijama, para Costa Rica, em uma manobra espúria que tentam apresentar ao mundo como um ato legal.


Pouco depois o povo saiu às ruas para protestar contra a usurpação. Desde então, Eduardo Coto permanece em vigília diante da igreja dedicada ao padroeiro da bela cidade hondurenha.


O 5 Setiembre digital contatou-o via internet, apresentando estas perguntas:

Eduardo Coto: A mesma que no resto do país: um estado permanente de rebelião desde o próprio domingo, quando nos demos conta deste golpe, este murro na democracia hondurenha. Estamos em estado de rebelião, como autoriza a nossa Constituição caso exista um governo espúrio como esse encabeçado por Roberto Michelleti, a quem desconhecemos como governante dos hondurenhos.

5septiembre: Como os atores sociais responderam à greve geral convocada pelo movimento pró-volta do presidente Zelaya?

Coto: Admiravelmente. É algo incrível o modo como se criou consciência aqui em Honduras, e graças a esse apelo feito pelo presidente da República, a convocar uma consulta ao povo. Eu pertenço ao partido da oposição, mas creio que em nenhum lugar do mundo se deve proibir, considerar ilegal, uma consulta ao povo.

5septiembre: O que está previsto para a cidade? Existe algum apoio aos movimentos que protestam na capital, Tegucigalpa?


Coto: Como os principais meios de comunicação estão a serviço da oligarquia, da plutocracia hondurenho, só informam o que diz o golpista a partir do Palácio Presidencial afirmou o golpe Michelleti. Aqui nós estávamos desconectados, mas pouco a pouco vamos nos dando conta de que não é só Tegucigalpa, não é só San Pedro Sula. Agora se somam Puerto Cortés, El Paraíso, comunidades no oeste, centro e sul do país. A rebelião é generalizada.

5septiembre: Zelaya anunciou que vai voltar a Tegucigalpa para retomar suas funções. Você conhece algum preparativo para viabilizar o regresso do presidente? Como é que o povo de Honduras recebeu a notícia?


Coto: Bem, o único projeto que existe é recebe-lo com aplausos e os vivas do povo hondurenho, principalmente a classe média, a classe pobre hondurenha, exceluídas pelos setores plutocráticos que hoje têm espaços abertos.


5septiembre: Eduardo, sabemos do seu protesto pacífico e da sua decisão de fazer uma greve de fome. Conte com a solidariedade com o povo de Cuba, especialmente o povo de Cienfuegos, que permanece mobilizado, denunciando o golpe e exigindo o retorno do presidente.


Coto: Veja, dou um admirador dos bravo, heróico povo cubano, desde [José] Martí [poeta e herói da independência de Cuba] e seus contemporâneos até os líderes atuais, que mantiveram acesa a tocha da liberdade. Saudações, compatriotas de Honduras! Saudações, queridos irmãos em Cuba!


Por último, colega uma mensagem para os cerca de 400 estudantes hondurenhos que cursam medicina em Cuba, em Cienfuegos. Para meus queridos compatriotas, um chamamento a que se esforcem. Desvelem-se, sacrifiquem-se, estudem, vocês são o futuro deste país. Sintam-se confortados, pois seus pais, seus amigos, estão aqui com o povo dizendo não ao golpe Roberto Michelleti, o Caim [Coto faz um trocadilho entre o apelido do chefe do golpe, Bain, e o personagem da Bília que teria sido o primeiro assassino da humanidade].


5septiembre: Muito obrigado Eduardo. Cuide-se.


Fonte: http://www.5septiembre.cu