sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O TRABALHO (CAPITALISTA) ESCRAVIZA.

Por Aedovirtual no blog  Porrada Cultural
 
Nos portões do campo de concentração de Auschwitz lia-se a frase ‘O trabalho liberta’. Ironia dos nazistas que construíram estes campos como locais de trabalho forçado e, posteriormente, de extermínio em massa de judeus. O trabalho passou por inúmeros formatos durante a história, desde o trabalho escravo e servil até o trabalho ‘livre’, ironia do sistema capitalista.

O trabalho artesanal, desde a antiguidade até a Revolução Industrial do século XVIII, era uma forma de trabalho onde realmente o trabalhador era livre. O artesão era dono de suas ferramentas de trabalho, trabalhava no ritmo que bem entendesse, trabalhava nos dias e horários que desejasse. Este sim era uma forma de trabalho livre.

O artesão não tinha a mesma visão de mundo que os capitalistas que tinham como objetivo central de suas atividades a acumulação de capitais, a acumulação de riquezas. O artesão trabalhava o necessário para viver, não tinha uma perspectiva de enriquecer. O tempo não era dinheiro, o tempo era vida.

O sistema capitalista estabeleceu a compra do trabalho em troca de salários, criou máquinas que escravizam os trabalhadores e transferiu para os capitalistas o controle sobre o ritmo e o tempo de trabalho.

O artesão sabia exatamente como sua mercadoria era produzida, ele criava o produto do começo ao fim, fazendo com que um dos seus produtos fosse diferente do outro. Se você tratasse um artesão como trabalhador ele era capaz de te dar uma porrada. O que ele fazia era arte, cada tapete do tecelão era diferente do outro. Cada cadeira produzida por um marceneiro era única.

Com as fábricas passou a vigorar a padronização, todos os produtos feitos por uma máquina são exatamente iguais. Cada trabalhador realiza apenas uma pequena parte do produto, não reconhecendo no produto final o seu trabalho. É o que chamamos de trabalho alienado. A charge abaixo é muito representativa deste processo de alienação do trabalho no capitalismo.



O mito de Sísifo nos leva a pensar se os gregos já não pressentiam o tédio, a monotonia, o porre, o saco, que é o trabalho alienado que submete milhões de pessoas mundo a fora a um processo que é capaz de enlouquecer ou, no mínimo, desumanizar qualquer um.

Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar um rochedo morro acima e, depois, o rochedo rolava pela encosta e Sísifo começava tudo de novo, indefinidamente. Veja esta animação sobre Sísifo:



Na década de 1930, Chaplin lançou o filme “Tempos Modernos”, hoje um clássico do cinema. Mas nos EUA o filme não foi bem recebido pelos conservadores que viam nele uma clara crítica ao capitalismo e, portanto, um manifesto pró-comunismo. Na década de 1950, período marcado pelo fenômeno do Macarthismo (ou ‘caça as bruxas’), os conservadores norte-americanos passaram a perseguir artistas e intelectuais que fossem considerados simpatizantes da URSS e do comunismo. Chaplin foi perseguido pelo macarthismo por ter dirigido o filme “Tempos Modernos”.

Mas o que o filme de Chaplin tinha de tão perigoso, de tão crítico? A cena abaixo é uma parte do filme e, a partir dele, você pode perceber a genialidade do diretor em sua feroz crítica ao trabalho alienado que o capitalismo nos impõe.




Leia mais sobre o trabalho alienado aqui:

http://educacao.uol.com.br/filosofia/marx-alienacao.jhtm

Sobre o mito de Sísifo leia aqui:


http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo

Sobre o macarthismo leia aqui:

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/mccarthy.htm

Por que sou a favor de benefícios assistenciais

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Gente é pra ser feliz, (…) não pra morrer de fome
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Meire no blog Salada Medica

Este post dá apenas um pontapé para que vocês discutam este tema.
Praticamente não dei plantão em serviço público. Em pouco tempo de formada ingressei na medicina privada e por anos mantive clientela de médio a alto nível sócio-econômico, já que só trabalhava em consultório particular.
Minha vida acadêmica esteve totalmente fora da realidade do nosso país até 2006, quando, pensando em fazer mais do que só consultório particular, trabalhei como médica da Rede Estadual de Assistência à Pessoa com Deficiência e tomei posse no cargo que ora exerço no Governo Federal.
Até entendo por que algumas das pessoas do meu círculo de contatos pensam como eu pensava antes, que políticas sociais são medida populista, que não é dando que se ensina, que não é dando que se leva um povo adiante, que esforço pessoal é suficiente, que iniciativa privada é o que há e por ai vai, porque já pensei assim também e não posso afirmar que a minha posição atual seja a correta.
Quem mudou meu pensamento da água para o vinho não foi nenhum bom argumentador, nenhum sociólogo, nenhuma assistente social. Foi uma baixinha de dois anos de idade, moreninha dos cabelos negros, sorridente, carinhosa, de família muito pobre  e domiciliada na periferia de Natal. Como muitos outros pacientes continuam sendo, ela foi uma das minhas grandes professoras.
A menininha nasceu com surdo-mudez e foi atendida por mim no Centro de Reabilitação Infantil. Indiquei avaliação otorrinolaringológica e ela foi escolhida para receber implante coclear. Vibramos de felicidade porque a pequena iria começar a ouvir, faríamos tratamento com fonoaudióloga  e e ela poderia ter uma vida mais próxima a das crianças de sua idade.
Mas o pai não permitiu a cirurgia, um procedimento caro, mas que seria custeado pelo SUS. Não houve acordo, tentamos de tudo e ele foi inclusive bem agressivo com a equipe. Precisei pedir ajuda ao Conselho Tutelar.
No final das contas o pai, pessoa não alfabetizada, sem formação técnica alguma, sem emprego e sobrevivendo de ‘vínculos’ precários de trabalho braçal, chorou bastante e admitiu o motivo: a menina recebia o amparo social ao deficiente. Se a menininha fosse curada a família  correria o risco de não ter o que comer, porque uma vez deixando de ser ‘deficiente‘, a menina perderia seu benefício (um salário mínimo por mês).
Entre outras atribuições, avalio praticamente todos os dias pessoas com deficiência para subsidiar a concessão deste mesmo benefício. E  não raro me emociono com mães e pais buscando, a todo custo, transformar perante a classe médica o seu filho ou filha em uma criança com invalidez. Os pais circulam em médicos, fazem exames, queixam-se de que crianças sorridentes e sapecas são psicopatas ou que crianças já alfabetizadas tem atraso mental grave e o que é pior, orientam que a criança fique calada e diga que nada sabe durante a entrevista pericial.
Excluindo os casos claros de tentativa de fraudar o sistema,  a manobra resulta do desespero, da falta de perspectiva. É a fome. Uma das formas da família receber a garantia de uma renda mensal é ser acometida por alguma fatalidade. Um pai que fique paraplégico, uma mãe que tenha um derrame e perca a memória, um filho com deficiência grave.
Um povo com fome é de fato um povo inválido, um povo paralisado, desconectado, sem capacidade de ação, é um povo que estende a mão, espera e agradece o pouco que vier, pede esmola para não roubar.
Filho de faminto tem desnutrição intra-útero e corre maior  risco de desenvolver retardo do desenvolvimento motor e cognitvo, além de epilepsia e possivelmente danos na arquitetura cerebral. Enquanto não houver um pequeno enriquecimento do povo muito pobre no nosso país iremos apenas perpetuar essa ciclo bizarro e cruel.
Quando uma família recebe um benefício assistencial que seja de fato suficiente para garantir uma cota calórico-proteica mínima ocorre uma sequência de benefícios. A mãe, que antes precisava se prostituir ou saia para trabalhar como ‘autônoma’ recebendo muito menos do que merece e muitas vezes deixando seus filhos trancados dentro de casa ou largados na rua, pode ser dar ao ‘luxo’ de dar mais atenção às crianças e mantê-las menos próximas do underground.
Sou a favor de um benefício de prestação continuada para toda e qualquer família em alta vulnerabilidade, não só para idosos ou pessoas com deficiência incapacitante, desde que associado a um mecanismo de contrapartida.
A contrapartida seria manter a criança na escola, o adolescente em um curso técnico, o adulto em programas de alfabetização, além de um bom programa de controle de natalidade. Tudo isto o Brasil já tem, mas muitas vezes as pessoas não buscam.
Fora a questão humanista em si, vem a questão de saúde pública.
A má alimentação afeta não só o crescimento e desenvolvimento da pessoa, afeta sua imunidade, facilita infecções. Famílias pobres vivem confinadas em ambientes minúsculos, muitas vezes em casas com um cômodo para várias pessoas. O confinamento aliado à desnutrição amplifica a proliferação de vírus, fungos e bactérias, tanto que o Brasil não consegue se livrar da Febre Reumática, da Tuberculose ou da Hanseníase.
Saindo da questão de saúde pública, tem a questão econômica.
O adoecimento destas pessoas gera ônus para os cofres públicos. É muito mais barato manter o povo alimentado, acordá-lo para produzir e impulsionar o desenvolvimento do país do que custear tratamento de condições ligadas a pobreza e subnutrição, exames complementares, honorários médicos, medicamentos…
Se seguirmos em frente no raciocínio, chegamos ainda em outro ponto. A distribuição de dinheiro que está retido nas contas do Governo ou em mãos de graúdos aumenta o poder de compra das pessoas. Isto gera injeção na economia, nas vendas, nos negócios, na capacidade de manutenção das empresas e geração de mais empregos. Parte destes benefícios volta para o próprio governo na forma de impostos sobre produtos e parte fica justamente nas mãos de uma parcela dos contribuintes, sejam eles comerciantes ou empresários.
E fora as questões humanistas, de saúde pública e econômica pinceladas aqui,  há a questão de segurança.
Em ‘O Ensaio Sobre a Cegueira‘ (Saramago), pessoas pacatas e de vida tranquila que se vêem engaioladas e sem suprimentos alimentares, em pouco tempo passam a apresentar comportamento criminoso, do furto ao estupro. Em todo tempo e lugar, onde há miséria e fome há saques e crimes de outras naturezas. Já sabemos que embora exista multicausalidade, inclusive uma predisposição genética ao comportamento sociopata, a variável isolada mais importante na prevalência da criminalidade de um país é a baixa condição socio-econômica.
Então se nada parece um bom argumento para justificar a distribuição de renda para pessoas desfavorecidas, pensar num país com menor violência, com menos crianças nas ruas servindo de ‘aviãozinho‘ para traficantes, com menos pedintes nas ruas não é tentador?
Mas ai vem o argumento do contra que é de fato uma falácia de generalização. ‘Ah, quem tem uma renda mínima não vai mais querer trabalhar, vai se acomodar’. Quem faz isto chama todo o povo brasileiro de oportunista e preguiçoso. Quem convive de perto com gente muito carente pode afirmar que boa parte do povo é formada por pessoas com vontade de mudar de vida, por pessoas que só precisam que uma mão seja estendida, por pessoas que querem o melhor para seus filhos, que querem que seus filhos um dia alcancem algo que nunca alcançaram.
Muitos de nós certamente viemos de famílias pobres e somos resultados dos esforços heróicos de nossos avós e pais.Quem não quiser crescer, que assim fique, viva de uma bolsa qualquer, mas não é por estes que o todo deve ser sacrificado. Façamos a devida medida de justiça.
Em suma e pensando com meus batons, chego a conclusão que a implantação da renda mínima, que seria um benefício idêntico ao concedido a idosos carentes e pessoas com deficiência + invalidez para o trabalho, é estratégia altamente razoável dos pontos de vista de cidadania, saúde pública, economia e segurança e que pode, em médio prazo, mudar o perfil do povo brasileiro.
Quanto menos pessoas com fome e mais pessoas com poder de compra o Brasil ‘produzir’, melhor para todos. Quem paga a conta são os brasileiros que como eu, tiveram mais oportunidades, puderam estudar e ter colocação no mercado, uma vida digna e independente de políticas sociais.  E pagamos satisfeitos se o fruto no nosso trabalho é transformado em algo bom para o país como um todo.
É para papo de mais de metro, porque tem ainda a questão penal. Num pais menos pobre o Estado pode ter garantido o seu direito de punir, pois não há atenuantes para quem rouba de barriga cheia.
Fora tudo isto, esta concessão evitaria a triste necessidade da família carente da atualidade entrar em verdadeiro processo mórbido em busca de um membro da família que seja inválido para que sua renda seja concedida. Vocês não tem idéia de como é triste atender pessoas com este comportamento. O brasileiro não merece essa humilhação e um país com uma carga tributária violenta como o nosso tem o dever de fazer isto.
Abraços,

Leonid Savin: EUA se preparam para "guerra" na internet

Depois do dia 1º de outubro, milhares de piratas cibernéticos, que trabalham como espiões militares dos Estados Unidos, se envolverão integralmente em atividades da guerra informatizada. As declarações no sentido de adotar medidas de defesa cibernética podem ser ouvidas com muita frequência no país. Analistas afirmam que as informações voltadas às redes de comunicação, das quais depende sua infraestrutura nacional, são vulneráveis aos criminosos cibernéticos.


Por Leonid Savin, no Global Research

O tema da defesa do ciberespaço é de máxima prioridade não só para os EUA. “As estatísticas revelam que os ‘cibercriminosos’ aumentaram a aposta e estão se tronando mais sofisticados e criativos na distribuição de formas mais agressivas de softwares maliciosos (malwares), segundo o site governamental Defence IQ. “Nossas estatísticas mostram que os trojans e os roguewares (“falsos" programas antivírus) ascenderam a quase 85% do total da atividade dos malwares no ano de 2009.

Esse foi também o ano de Conficker (um worm — programa autorreplicante — destrutivamente poderoso), ainda que isso oculte o fato de que os worms classificados são só 3,42% dos malwares criados no ano passado”, afirma a revista. “O worm Conficker causou graves problemas, tanto em ambientes domésticos e corporativos, com mais de 7 milhões de computadores infectados em todo o mundo, e segue se propagando rapidamente” (1).

Comparado a outros países, parece que os EUA estão preocupados demais com o problema da defesa cibernética. No dia 26 de abril, a CIA fez conhecer seus planos para novas iniciativas na luta contra os ataques baseados na web. O documento descreve os planos para os próximos cinco anos e o diretor da agência, Leon Pannetta, disse que é “vital para a CIA estar um passo à frente do jogo quando se trata de metas como a segurança do ciberespaço” (2).

Em maio de 2009 a Casa Branca aprovou o Protocolo para as Políticas no Ciberespaço (3), apresentado ao presidente dos Estados Unidos pelos membros de uma comissão especial. O documento resume o estado da rede dos EUA e a segurança da informação nacional, tendo proposto nomear um alto oficial para a cibersegurança encarregado de coordenar as políticas da área nos EUA.

O informe descreve um novo marco global para facilitar a resposta coordenada por parte do governo, do setor privado e dos aliados em caso de um incidente cibernético significativo. O novo sistema de coordenação permitiria a autoridades federais, estaduais, locais e tribais trabalharem antecipadamente com a indústria para melhorar os planos e recursos disponíveis para detectar, prevenir e responder a incidentes significativos em segurança cibernética. A iniciativa também envolve proporcionar a essas instâncias dados de inteligência e opções de caráter técnico e funcional, além de garantir a formação de novos especialistas na defesa cibernética.

E um último passo, mas não menos importante: em meados de 2010, a base aérea de Lackland, no Texas, começou a construção do primeiro centro especializado de inteligência virtual, onde já trabalham uns 400 especialistas. O 68º Esquadrão de Guerra de Redes (The 68th Network Warfare Squadron) e o 710º Esquadrão de Inteligência de Vôos (710th Information Operations Flight), da Força Aérea, foram deslocados a San Antonio. Esse lugar foi escolhido porque está perto das instalações militares que contemplam operações de “ciberguerra”, como a Agência para a Inteligência, a Vigilância e o Reconhecimento da Força Aérea e o Centro Criptologia do Texas, da Agência de Seurança Nacional, que comandam operações de informação e criptologia para o apoio da Força Aérea dos Estados Unidos. Funcionarão integrados aos interesses do Comando Espacial, o Comando da Força Aérea e a Reserva da Força Aérea dos Estados Unidos.

Numerosas publicações dos EUA mostram que as refomas das forças cibernéticas para a defesa nacional, assim como a introdução da doutrina de estratégia de guerra cibernética estão a ponto de se completarem. Quanto à estratégia para a “ciberguerra” dos Estados Unidos podemos supor que ela está em consonância com o conceito geral da ofesiva militar global dos EUA.

William Lynn III em seu artigo “A Ciberestratégia do Pentágono”, publicado na revista Foreign Affairs (setembro/outubro de 2010), expõe cinco princípios básicos da estratégia de guerra do futuro:

– O ciberespaço deve ser reconhecido como um território de domínio igual a guerra por terra, mar e ar;

– Qualquer postura defensiva deve ir mais além “da boa preparação ou higiene” e incluir operações sofisticadas e precisas que permitam uma resposta rápida;

– A Defesa Ciberespacial deve ir mais além do mundo das redes militares do Departamento de Defesa, para chegar até as redes comerciais, que também são subordinadas ao conceito de Segurança Nacional;

– A estratégia da Defesa Ciberespacial deve acontecer com os aliados internacionais para uma efetiva política “de advertência compartilhada” ante as ameaças;

– O Departamento de Defesa deve contribuir com a manutenção e aproveitar o domínio tecnológico dos Estados Unidos para melhorar o processo de aquisições e se manter com a velocidade e agiliade da indústria da tecnologia da informação (4).

Ao comentar esse artigo, os analistas sublinham que “as capacidades que se buscam permitirão aos “ciberguerreiros” dos EUA enganar, negar, interromper, degradar e destruir a informação e os computadores de todo o mundo” (5)

O general Keith Alexander, chefe do novo super Cibercomando do Pentágono (ARFORCYBER), afirmou: “Temos que ter capacidade ofensiva, o que significa que, em tempo real, seremos capazes de aniquilar qualquer um que nos ataque”. Keith Alexander comparou os ataques cibernéticos com as armas de destruição em massa, e de acordo com suas recentes declarações os EUA têm previstas as aplicações ofensivas desse novo conceito de guerra.

Notas

(1) http://www.defenceiq.com/article.cfm?externalID=2718

(2) http://www.defenceiq.com/article.cfm?externalID=2460

(3) http://www.whitehouse.gov/assets/documents/Cyberspace_Policy_Review_final.pdf

(4), William J. Lynn III W. “A defesa de um novo domínio: “Ciberestratégia” do Pentágono” Foreign Affairs. Setembro / outubro de 2010. http://www.foreignaffairs.com/articles/66552/william-j-lynn-iii/defending-a-new-domain (29/08/2010)

(5) S. Webster: “O Pentágono poderá aplicar a política de guerra preventiva na Internet”. 29 de agosto 2010. http://www.rawstory.com/rs/2010/0829/pentagon-weighs-applying-preemptive-warfare-tactics-internet/ (30/08/2010).

(6) E. Nakashima: “O Pentágono considera ataques preventivos no marco da estratégia de ciberdefesa” The Washington Post. 28 de agosto 2010. http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/08/28/AR2010082803849_pf.html

(7) Daniel Lynn L. “Esboços das ameaças da informática e as medidas defensivas” Serviçoo de Imprensa do Exército dos EUA http://www.defense.gov/news/newsarticle.aspx?id=60600
 

Apertem os cintos: o PT sumiu!

  Raymundo Araujo Filho no Correio da Cidadania  
 
Nestes dias fiz uma pequena leitura do mapa eleitoral para a eleição de governadores nos estados, mais ou menos consolidados a cerca de um mês das eleições. Pouparei este trabalho para os meus possíveis leitores, pois certas tarefas não desejo nem para os meus desafetos, quanto mais para quem me lê.
 
É surpreendente a mágica que se faz na opinião pública, transformando o que é uma acachapante derrota eleitoral em uma "vitória retumbante".
 
O artifício é simples, e foi amplamente assumido pelo próprio PT, que, em troca da eleição de sua candidata à presidência da República, fez todos os acordos regionais com ex-adversários e atuais aliados de ocasião, visto a opção do lullo-petismo de usar o povo apenas como massa de manobra eleitoral, excluindo-o como sujeito do debate político. Ou seja, fez a opção pela "governabilidade palaciana" como caminho mais fácil para manter-se não no poder, mas no cargo principal do país, ao arrepio de todas as propostas originais que construíram, durante cerca de 25 anos, as forças que elegeram Lulla em 2002.
 
Assim, repasso a todos o tal mapa eleitoral nos estados, com a devida análise que me permito, a partir dos fatos, não dos desejos ou mentiras, expondo e confirmando o que digo no título do artigo.
 
O presidente Lulla se constitui na entidade política de maior projeção midiática, o PT é falado todos os dias em todos os jornais e mídias, assim como as políticas governamentais, sendo nenhuma delas criticada no seu íntimo. Ao contrário, são apoiadas desavergonhadamente até por quem se diz oposição de direita ao Lulla, pois sabem que este obedece às diretrizes do capital internacional, este sim o principal mandatário do país. No entanto, o PT como partido não chega nem perto de uma inserção institucional na política brasileira do tamanho do alarde que fazem, pegando carona no Lulla. Aliás, paro de escrever sobre política se alguém me mostrar uma só das macropolíticas de Lulla que seja criticada pela direita brasileira.
 
Assim, temos o PT com vitória garantida em apenas três estados, mas, sem desmerecê-los, de pouquíssima importância econômica e política para o país. São eles: Acre, Bahia e Sergipe.
 
Temos Tarso Genro com chances, mas sem qualquer garantia de vitória (acho até que perderá), com o PT disputando o segundo turno completamente empatado com as forças de oposição (como sempre no dividido Rio Grande do Sul). E no Mato Grosso do Sul, se houver segundo turno e Deus absolver todas as falcatruas e acordos espúrios (até com o DEM, inaugurando a aliança PT-DEM, anos atrás no Mato Grosso do Sul), temos o ex-governador petista que atende pela alcunha de Zeca do PT- que, entre outras coisas, foi o avalista da entrada no partido de pedófilo condenado, o ex-vereador de nome Disney (sem ironias).
 
E só! Este é o legado do PT nas suas alianças para a eleição de Dilma, após oito anos de governo Lulla, sem povo, a não ser como acessório de poder.
 
A senadora por Santa Catarina, Ideli ‘Salvar-se’, aparece com míseros 16% dos votos contra Ângela Amin do PP, não governista (31%), e Colombo, do DEM (27%), mesmo após ter sido subserviente ao extremo, tendo uma exposição midiática bem maior que a sua estatura (é baixinha, a senadora...). Até em convescote com os criadores da Bossa Nova aqui no Rio a senadora veio. E lamentou que sua mãe "não estivesse viva para curtir aquele momento". Ao menos, não vai ver sua filha vergonhosamente derrotada, após tanta subserviência.
 
Para tentar amenizar esta derrota petista nestas eleições para governos estaduais, o PSB (partido "quase" irmão do PT, com Skaff e tudo), com Renato Casagrande, será eleito no primeiro turno no Espírito Santo. A mesma coisa no Ceará, com o irmão do "enfant terrible" Ciro Gomes, o Cid Gomes (que algum troco será obrigado a dar no PT de lá, por tantas sacanagens das quais ele e seu irmão foram alvos por parte do partido). E o PSB está também consolidado como vitorioso em Pernambuco. Nestes estados, portanto, só restará ao PT ficar feliz com a vitória dos outros.
 
Em nenhuma outra unidade da federação aparecem o PT e o PSB em posição razoável na disputa. Restam o PDT e o PMDB como aliados, que analisaremos abaixo, visto que o PC do B não dá nem pro cafezinho...
 
O PDT, em Alagoas, terá o Ronaldo Lessa a apoiar o Collor ou ser apoiado por ele, para eleger a coligação pró-Lulla. O que seria inimaginável alguns poucos anos atrás. E o Jackson Lago, PDT do Maranhão, boicotado pelo PT em aliança com a "progressista" Roseana Sarney (quase uma Dilma, hoje em dia), vai amargar o seu ocaso político sendo traído por quem sempre emprestou apoio, e tendo a pequena dissidência petista por lá feito até greve de fome para votar no... PC do B.
 
Resta então, para completar o júbilo petista com a vitória alheia, a eleição apenas provável do PMDB governista nos estados da Paraíba, Tocantins, Maranhão e Rio de Janeiro.
 
Em Minas Gerais, parece que Anastásio (apoiando e apoiado por Dilma, por baixo dos panos) vai disputar até o último segundo. E convenhamos que ganhar com Helio Costa soa mais como derrota - ao menos soava, antigamente.
 
No Rio Grande do Sul, uma possível vitória do PMDB com Fogaça será apoiada pelo PSDB. Assim como no Mato Grosso do Sul, em que a vitória do PMDB com Puccineli, de OPOSIÇÃO à Dilma e ao PT local, é bem provável.
 
No Pará, D. Ana Julia Carepa patinou, talvez por iniciativas como a sua aliança com madeireiros e o Projeto Paz no Campo (apelidado pelo MST de Pau no Campo), e por lá o governo será entregue ao PSDB, com Simão Jatene, com ou sem Barbalho a esta altura do campeonato (certos amigos são verdadeiros inimigos...). Já em Roraima, o PT sequer existe, nem tem aliados, mesmo os de mais baixa estirpe, com os quais a legenda se acostumou a conviver, a meu ver, despudoradamente.
 
O resto, cerca de nove estados, vai ficar mesmo com a oposição, salvo algum desimportante engano meu (paciência tem limites para estas análises). Traça-se um quadro onde o PT naufraga eleitoralmente, cedendo lugar para cerca de dez governadores "aliados", já sendo certo nove de oposição, além de disputa acirrada em apenas sete estados.
 
Assim, podemos afirmar, sem medo de errar, que Lulla e o PT oPTaram pela formatação do país em Sesmarias Políticas, retrocedendo aos tempos coloniais para manter a unidade do país (em torno da aristocracia). Dividiram o país nas malditas Sesmarias, das quais não nos livramos até hoje, e estão virando moda novamente pelas mãos do Partido dos Trabalhadores e seus coronéis aliados.
 
Some-se a isso a vitória eleitoral do PMDB, que, além de ter um vice que não é nenhum inexperiente, ao contrário, é conhecida ave de rapina do poder. Fará este partido ter o presidente da Câmara Federal e do Senado, podendo sair muito fortalecido nos estados. Só o PT mesmo para alçar um medíocre como Michel Temer a vice-presidente da República.
 
Ora! Que melhor resultado eleitoral poderiam esperar aqueles que chegaram a se assustar com o surgimento de um partido que representou as legítimas forças populares em luta, por tênues anos?
 
Certamente estão felizes e contemplados com uma Dilma que representa a domesticação dos tecnocratas e burocratas que se apoderaram das energias criativas que fizeram nascer o PT na década de 80, ladeada por cães de guarda do Império, como o são Pallocci, Henrique Meirelles e Jobim.
 
Que resultado melhor do que este, com a completa super-estruturação do poder, já totalmente burocratizado e seqüestrado, por não possuir povo protagonista, seria imaginado por Stanley Gacek? Refiro-me ao gerente trabalhista da AFL-CIO, o sindicalismo dos EUA que Lulla representou oficialmente na reunião do diálogo interamericano em 1992, com FHC, Salinas e tantos outros que se tornaram algozes de seus povos.
 
Portanto, eis o trágico resultado da experiência do lullo-petismo no poder aqui no Brasil. Fizeram com que o Brasil, tal e qual um cachorro doido, fique a dar voltas sobre si mesmo, buscando morder o próprio rabo, aqui representado por Sarney e companhia bela. Fazem fachada aos "homens do norte", que são os verdadeiros cabides em que se apóia este grupo de arrivistas do lullo-petismo, doando-lhes o Brasil em troca da concessão de ter a cabeça de chapa na eleição presidencial. Tudo para, no fim das contas, apenas gerenciarem a entrega do país com fachada - só fachada - de progressistas.
 
É a ex-esquerda Corporation S.A., aqui fazendo o papel de Luiz XIV e Maria Antonieta, nesta entrega pornográfica do país aos estrangeiros e capitalistas "nacionalistas". Dos aristocratas franceses, a guilhotina da Revolução cortou-lhes a cabeça. Quem sabe, um dia, esses neo-aristocratas brasileiros não serão passados pela guilhotina da História?
 
Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e entende muito bem de cachorros loucos.

Guerra eleitoral

Juremir Machado no CP de 08/09

Uma eleição deveria ser banal: a disputa entre diferentes projetos.
Em alguns países, como a Suíça, chega a ser um tédio. José Serra e Dilma Roussef teriam de ser vistos apenas como os representantes de ideias opostas. Nem tão opostas assim de resto.
Como diria o sábio Edgar Morin, do pico dos seus 89 anos de idade, ideias antagônicas e complementares. Pode? Logicamente talvez não. A vida é mais lógica do que a lógica. Inventa sua lógica. A campanha eleitoral, porém, revela outra realidade, a diabolização do oponente. Serra não para de cair nas pesquisas. Quanto mais adota o discurso demonizador do seu vice Índio da Costa, mais despenca.
Boa parte dos partidos de centro, como o PMDB, já aderiu à candidatura de Dilma. Um naco do PP, mais à direita, também já se bandeou. A resistência total fica por conta do PSDB e do Dem. Há uma razão óbvia para isso: são os partidos da candidatura José Serra – Índio da Costa.
Até aí tudo bem. Mais do que isso, ótimo. É a democracia.
Por que então a opção de alguns por ver em Dilma um terrível perigo para o Brasil se homens e mulheres considerados mais conservadores já capitularam e não demonstram o menor medo da petista?
O Uruguai tem um presidente que foi tupamaro. Está indo muito bem.
Por que o Brasil não poderia ter uma presidente que fez parte da luta contra a ditadura militar? Será que os estrategistas de Serra não percebem que a opção por assustar os eleitores é primária e contraproducente? Dilma não come criancinhas. Nem vai estatizar as multinacionais ianques.
Há pessoas que pararam no tempo.
Imaginam, por exemplo, que qualquer crítica aos defeitos do capitalismo signifique uma defesa do comunismo. É a chamada retórica macartista. Desejo de caçar bruxas. Invenção de espantalhos.
Uma senhora me mandou um e-mail no qual me acusava de ser “meio comuna”. Minhas ideias sobre economia não vão além daquelas professadas pelo prêmio Nobel Paul Krugman, que está muito longe de ser um comunista.
Em artigo recente no jornal “New York Times”, porém, Krugman disse que Barack Obama está sendo vítima “da direita populista e das grandes corporações”. As grandes corporações não parecem, até agora, apavoradas com a possível vitória de Dilma Roussef no primeiro turno. O problema é a direita populista e desesperada.
Krugman deu uma letra impressionante: “Do lado de fora, essa ira contra a regulação parece bizarra. Quer dizer, o que eles esperavam? O setor financeiro, particularmente, operou de forma descontrolada sob a desregulação, provocando, finalmente, uma crise que deixou 15 milhões de americanos desempregados e exigiu socorros financeiros de larga escala financiados pelo contribuinte para evitar consequências ainda piores. Wall Street esperava sair de tudo isso sem arcar com algumas novas restrições? Aparentemente, sim”. Querer mais regulação estatal não é coisa de comunista. Votar numa candidata de esquerda não é escolher o diabo. Melhor seria um pouco de enfado: discutir apenas projetos.
Ou resultados.
Aí é que a porca torce o rabo. Está melhor.

Desmonte da TV Cultura contraria a comunicação democrática, plural e sem fins comerciais

Escrito por Gabriel Brito, da Redação do Correio da Cidadania  
 
No mês de agosto, os responsáveis pela administração e manutenção da Rádio e TV Cultura anunciaram planos de desmonte da maior referência nacional de meio de comunicação público. Por meio de João Sayad, presidente da Fundação Padre Anchieta (FPA), que decide seus rumos, anunciou-se a intenção de demitir 1400 funcionários de todas as áreas no final do ano, criando enorme e inevitável tensão em torno de seu futuro.
 
"Essas idéias de esvaziamento e desmonte vêm de algum tempo. Como exemplo, os programas infantis, marcas registradas da TV, deixaram de ser produzidos e sobrevivem de reprises. O nível de novas produções é baixo já há alguns anos. O problema não é novo, é que explodiu agora, fruto de uma política que tampouco começou agora", diz José Augusto de Camargo, o Guto, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
 
Por conta disso, logo após a disseminação de tal propósito, criou-se o Movimento Salve a Rádio e TV Cultura, formado por diversas entidades da sociedade civil, sindicatos e profissionais da área, a fim de combater mais um golpe de uma gestão voltada ao mercado.
 
Em entrevista ao Correio, Rose Nogueira, ex-funcionária da Cultura e também do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, afirma que "não há razão alguma para esse desmonte. A TV Cultura tem de continuar com sua programação, como sempre foi, produzindo seus programas, aperfeiçoando cada vez mais sua produção e reverenciando seu próprio produto, que é maravilhoso".
 
Por trás da idéia de enfraquecer nossa única emissora aberta de caráter não comercial, reside a persistente lógica de dissolução da ‘coisa pública’, a favor de uma pretensa ‘eficiência’ administrativa, em mais um dos capítulos de transferência do patrimônio público e social à iniciativa privada. "A TV Cultura é um patrimônio do povo paulista e brasileiro. Patrimônio material e cultural, pois é um dos melhores lugares para se fazer televisão, e também histórico, tendo sido local de trabalho de gente como Wladimir Herzog e outros grandes profissionais que passaram por lá", assinala Rose.
 
Neoliberalismo, mais uma dose
 
"Na verdade, a TV tem projeto antigo de mudança de perfil, que é resultado de alguns fatores. Primeiramente, uma falta clara de política do governo estadual para o setor de comunicação e cultura, refletida na TV. Em segundo, a TV não é administrada pelo Estado, tem perfil público e uma administração que guarda certa autonomia, impedindo que o governo se utilize da máquina da FPA para outros fins que não exclusivamente educativos e culturais. O que pode desinteressar certos setores políticos a investir na TV", esclarece Guto.
 
Para os dois dirigentes sindicais entrevistados pelo Correio, aquilo que tem sido levado adiante não representa nada mais do que uma ofensiva de cunho neoliberal, similar às que vimos avançar sobre diversos setores de nossa vida. "Como não se sabe o que fazer com aquilo, que aparentemente não tem serventia imediata (por falta de projeto político, necessidade de transparência e limitação quanto ao uso de sua máquina), abandona-se o projeto da emissora pública. Dessa forma, junta-se a fome com a vontade de comer e cria-se o caldo de cultura que os faz tentar levar adiante essa maluquice com a TV Cultura", explica Guto.
 
"Não sei de onde bateu essa idéia de desmonte, parece aquelas coisas do tempo do FHC e das privatizações. Aqueles mitos débeis mentais de que a iniciativa privada faz melhor. Se alguma coisa não está indo bem, você muda a administração, não joga ela fora!", completa Rose Nogueira.
 
Qualidade incontestável
 
Como se sabe, a emissora, principalmente por meio de seu canal televisivo, contribuiu sobremaneira para a formação cultural e educacional de amplos setores da população paulista, exatamente o contrário daquilo que oferecem as emissoras comerciais, com seu jornalismo francamente enviesado, ‘atrações’ com as mais torpes explorações de misérias humanas e completo rebaixamento intelectual.
 
"Ao longo dos anos, ela construiu essa imagem de oferecer uma programação de qualidade, uma espécie de oásis de bom gosto em meio ao que vemos aí", lembra Guto. Para ele, é exatamente essa a força que deverá sustentar a manutenção da Cultura tal como a conhecemos, longe das mãos do mercado e visões reducionistas de uma emissora cuja missão é prestar bons serviços à sociedade, que por sinal a sustenta.
 
"A Cultura foi fundada na ditadura militar, mas se construiu através do trabalho de seus funcionários. Foram basicamente os trabalhadores e algumas direções que resistiram à idéia de aparelhamento da TV e conseguiram transformá-la na melhor experiência que já tivemos em termos de TV pública", lembra Rose.
 
Ingerência política, resistência e solidariedade
 
Diante das ameaças, os trabalhadores da emissora buscam se defender. Nos espaços da mídia comercial, essas ameaças são travestidas de necessária transição ‘à modernidade’ ou ‘boa gestão’, como argumentou João Sayad, atual presidente da FPA. No entanto, esconde-se a total ingerência do governo Serra em sua gestão, que dialoga perfeitamente com processos semelhantes nas áreas de saúde, educação, rodovias etc.
 
Tanto é assim que, recentemente, a emissora demitiu os jornalistas Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli por fazerem matérias e questionamentos sobre os abusivos pedágios das estradas paulistas, política altamente rejeitada por setores da população, que paga as tarifas mais altas do mundo para circular pelo estado. Portanto, mesmo com o posterior recuo nas demissões, é absolutamente indisfarçável a interferência política nos rumos da Cultura, que nos últimos tempos ainda anunciou mudanças na programação, como no Roda Viva, agora apresentado por Marília Gabriela, e na tentativa frustrada de tirar do ar o programa ‘Manos e Minas’, voltado ao Hip Hop e outras manifestações culturais provenientes das periferias de São Paulo.
 
Aliás, foi exatamente essa empreitada que fez aumentar a resistência ao desmonte da Cultura, pois não se esperava a enorme onda de críticas relativas ao fim do programa, que já voltou à grade. "A questão do Manos e Minas, mesmo que ‘repaginado’ para livrar a cara dos gestores, demonstrou o quanto isso tudo mobilizou a sociedade, o quanto ela estranhou tal decisão. Portanto, não será nada fácil o governo levar a cabo esse projeto de desmontar a Cultura e transformá-la de produtora de conteúdo cultural em mera repetidora de conteúdos de terceiros, comprados no mercado", atesta Guto.
 
Além do mais, há uma grave questão em meio ao embate de visões acerca do papel da emissora: o futuro de seus funcionários. "É um absurdo alguém antecipar via imprensa a intenção de demitir 1400 funcionários em dezembro. É pedir pra criar uma crise. Não há razão alguma para esse desmonte", exclama Rose.
 
Quanto à resistência dos trabalhadores afetados, ambos os dirigentes entrevistados pelo Correio atestam que a mobilização dos funcionários é forte o bastante para lutar contra essa nova ofensiva pró-mercado. Mas, como não poderia ser diferente, o nível de tensão não fica atrás. "Creio que eles têm uma boa organização, mas mesmo assim estão apavorados, pois é algo que diz respeito a suas próprias vidas. Imagine um profissional com 10 anos de casa, dois filhos, pagando sua casa própria... como fica esse profissional?! Ninguém tem o direito de fazer isso aos outros", completa Rose, contemporânea de jornalistas que transformaram a Cultura numa representação de "resistência", como ela mesma diz.
 
Porém, pela maneira pouco habilidosa de conduzir a questão, o governo terá grandes dificuldades em promover mais um golpe ao patrimônio público. "Além de tudo, 1400 dispensas são demissão em massa, o que é caso para o Ministério Público do Trabalho. Perguntei para algumas pessoas como seriam pagas as indenizações e me disseram que poderiam vender o prédio. Mas, examinando a situação, descobri que não podem vender o prédio, pois é público. Não podem fazer isso", completa Rose.
 
"Os funcionários estão mobilizados, a rigor existem duas frentes de trabalho na Fundação: a interna, da TV e Rádio Cultura, e a externa, da TV Justiça e Assembléia, também com funcionários da Cultura que prestam serviços a elas. Um grupo tem de discutir diretamente o futuro da Cultura, e outro precisa se preocupar com o futuro das transmissões da TV Justiça e Assembléia, já que estão lotadas nesses outros canais", detalha Guto.
 
"Há belíssimos estúdios, uma maravilhosa equipe... vão fazer o quê? Demitir para comprar fora o mesmo produto que existe em casa, pagando o lucro dos outros? E essas produtoras vão empregar as pessoas com que salários, abaixo daqueles que recebiam?", questiona Rose.
 
De olho no futuro
 
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, o que estamos a conferir é apenas mais um capítulo que antagoniza setores progressistas e retrógrados de nossa comunicação, que até hoje não se livrou dos monopólios que a controlam. De acordo com ele, o governo Lula levou ao menos a um início da conscientização de que mudanças na área são impreteríveis, além de representarem um forte anseio popular.
 
"Um ponto importante de ser colocado é o de que a TV Cultura não entrou na rede da TV Brasil, a EBC. Nem a Cultura de São Paulo e nem a TV Educativa do Rio Grande do Sul, ambos os estados sob governos do PSBD, conferindo caráter ideológico no sentido de não priorizar a TV pública. Não foi por acaso que não fizeram parte do projeto, recusando-o deliberadamente. Isso mostra uma diferença importante entre a visão do governo federal e a dos governos do PSDB", analisa.
 
Por conta disso, ele ressalta a importância da 1ª. Conferência Nacional da Comunicação, realizada em Brasília no final de 2009, escancaradamente desqualificada e boicotada pelos oligopólios soberanos de nossas comunicações.
 
"O governo Lula deixou vários problemas na comunicação sem solução. Alguns estão encaminhados, devendo ser finalizados no próximo governo, como as questões da banda larga, da digitalização etc. Ainda assim, destaco três coisas positivas: a realização da Confecom, um inegável avanço histórico; a criação da TV pública, início de um trabalho que é uma referência de respeito; e em último lugar, menos visível, mas significativo, o começo da discussão acerca da distribuição do dinheiro de publicidade", enumera.
 
"A Cultura conta com muita simpatia de vários espectros sociais, tanto do povo simples, trabalhadores e donas de casa, como também de estudiosos; dos setores mais populares aos mais intelectualizados, que se preocupam em manter as características especiais, peculiares, diferenciadas, da TV Cultura em relação às outras emissoras comuns", finaliza José Augusto Camargo.
 
É essa TV que educa que está sendo atacada. Enquanto isso, as demais navegam em mares sempre tranqüilos, desfrutando de enormes privilégios, a começar pela falta de fiscalização, contrapartida exigida de toda concessão para Rádio e TV. Prossegue, assim, o Brasil como um bastião praticamente imbatível da desigualdade, do que não escapa a arena da comunicação.
 
Gabriel Brito é jornalista.