quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Créditos: LooloBlog



1. a. Mediterranean Sundance
(Al di Meola)
b. Rio Ancho
(Paco de Lucia)
Paco de Lucia y Al di Meola

2. Short Tales of the Black Forest
(Chick Corea)
John McLaughlin y Al di Meola

3. Frevo Rasgado
(Egberto Gismonti)
John McLaughlin y Paco de Lucia

4. Fantasia Suite
(Al di Meola)
Paco de Lucia, John McLaughlin y Al Di Meola

5. Guardian Angel [Studio Recording]
(John McLaughlin)
Paco de Lucia, John McLaughlin y Al di Meola


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Palestina Livre

60 anos de resistência!
Venha conhecer a luta de libertação do Povo Palestino!

27/11/2007 - 3ª feira - 9 horas
Palestra: 60 anos de resistência! A luta de libertação do Povo Palestino.
com Fawzi El Mashni - ex-embaixador da Palestina no México.
Local: Auditório CFH - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - Trindade - Florianópolis

28/11/2007 - 4ª feira - 19 horas
Sessão Solene em Solidariedade ao Povo Palestino com a presença do Dr. Issam Isa - refugiado palestino acolhido pelo Brasil depois de 3 anos no Campo de Rueished na fronteira Iraque - Jordânia
Local: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina - Centro - Florianópolis
Após a Sessão Solene acontecerá o lançamento do Jornal árabe-português Al Baian - publicação da Liga Internacional da Luta Árabe

01/12/2007 - Sábado - dás 10 horas até o meio-dia
Ato Público: Palestina Livre
Local: Esquina Democrática - rua Felipe Schimit esquina Deodoro - Centro- Florianópolis
Hora: dás 10 horas até o meio-dia.
Exposição de fotos, distribuição de panfletos, materiais para venda e discursos de apoio a Causa Palestina

CHAMADA DA TUMBA
Mahmud Darwish

“Dizemo-lhes
Cantem pela terra que permanece!
Rebelem-se!
Ensinem nossa história sombria aos filhos
A fim de que nosso sangue
Permaneça na bandeira dos criminosos
Como sinal de catástrofe.”


Realização: Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino
comitepalestinasc@yahoo.com.br
www.vivapalestina.com

¿Porqué no te callas?

Não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Esta frase é reveladora em diferentes níveis.

Esta frase, pronunciada pelo Rei de Espanha dirigindo-se ao Presidente Hugo Chávez durante a XVII Cúpula Iberoamericana realizada no Chile, no dia 10 de Novembro, corre o risco de ficar na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colônias. De fato, não se imagina um chefe de Estado europeu dirigir-se nesses termos publicamente a um colega europeu quaisquer que fossem as razões do primeiro para reagir às considerações do último. Como qualquer frase que intervém no presente a partir de uma história longa e não resolvida, esta frase é reveladora em diferentes níveis.

Ela revela, em primeiro lugar, a dualidade de critérios na avaliação do que é ou não democrático. Está documentado o envolvimento do primeiro-ministro de Espanha de então, José Maria Aznar, no golpe de Estado que em 2002 tentou depor um presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez. Porque, naquela altura, a Espanha presidia à União Européia, esta última não pode sequer clamar total inocência. Para Chávez, Aznar ao atuar desta forma, comportou-se como um fascista. Pode questionar-se a adequação deste epíteto. Mas haverá tanta razão para defender as credenciais democráticas de Aznar, como fez pateticamente Zapatero, sem sequer denunciar o carácter antidemocrático desta ingerência?

Haveria lugar à mesma veemente defesa se o presidente eleito de um país europeu colaborasse num golpe de Estado para depor outro presidente europeu eleito? Mas a dualidade de critérios tem ainda uma outra vertente: a da avaliação dos fatores externos que interferem no desenvolvimento dos países. Num dos primeiros discursos da Cúpula, Zapatero criticou aqueles que invocam fatores externos para encobrir a sua incapacidade de desenvolver os países. Era uma alusão a Chavez e à sua crítica do imperialismo norte-americano.

Pode criticar-se os excessos de linguagem de Chávez, mas não é possível fazer esta afirmação no Chile sem ter presente que ali, há trinta e quatro anos, um presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, foi deposto e assassinado por um golpe de Estado orquestrado pela CIA e por Henry Kissinger. Tão pouco é possível fazê-lo sem ter presente que atualmente a CIA tem em curso as mesmas táticas usando o mesmo tipo de organizações da “sociedade civil” para destabilizar a democracia venezuelana.

Tanto Zapatero como o Rei ficaram particularmente agastados pelas críticas às empresas multinacionais espanholas (busca desenfreada de lucros e interferência na vida política dos países), feitas, em diferentes tons, pelos presidentes da Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina. Ou seja, os presidentes legítimos das ex-colônias foram mandados calar mas, de fato, não se calaram. Esta recusa significa que estamos a entrar num novo período histórico, o período pós-colonial, teorizado, entre outros, por José Marti, Gandhi, Franz Fanon e Amilcar Cabral e cujas primicias políticas se devem a grandes lideres africanos como Kwame Nkrumah. Será um período longo e caracterizar-se-á pela afirmação mais vigorosa na vida internacional dos países que se libertaram do colonialismo europeu, assente na recusa das dominações neocoloniais que persistiram para além do fim do colonialismo.

Isto explica porque é que a frase do Rei de Espanha, destinada a isolar Chávez, foi um tiro que saiu pela culatra. Pela mesma razão se explicam os sucessivos fracassos da União Européia para isolar Roberto Mugabe.
Mas “¿porqué no te callas?” é ainda reveladora em outros níveis. Saliento três. Primeiro, a desorientação da esquerda européia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra “socialismo” e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Pode questionar-se o “socialismo do século XXI” - eu próprio tenho reservas e preocupações em relação a alguns desenvolvimentos recentes na Venezuela - mas a esquerda européia deverá ter a humildade para reaprender, com a ajuda das esquerdas latinoamericanas, a pensar em futuros pós-capitalistas.

Segundo, a frase espontânea do Rei de Espanha, seguida do ato insolente de abandonar a sala, mostrou que a monarquia espanhola pertence mais ao passado da Espanha que ao seu futuro. Se, como escreveu o editorialista de El País, o Rei desempenhou o seu papel, é precisamente este papel que mais e mais espanhóis põem em causa, ao advogarem o fim da monarquia, afinal uma herança imposta pelo franquismo. Terceiro, onde estiveram Portugal e o Brasil nesta Cúpula? Ao mandar calar Chávez, o Rei falou em família. O Brasil e Portugal são parte dela?


Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

A espiral do jornalismo mazombo

Arnaldo Jabor lamentou: "Pena que não haja um rei português para dar um esculacho na malandragem de Brasília". Ao mandar Chávez se calar, o rei da Espanha fez ressurgir, no Brasil, uma perversão colonialista recalcada. A análise é de Gilson Caroni Filho.

Ao mandar o presidente Chávez se calar na Cúpula Ibero-Americana, o rei da Espanha, Juan Carlos, deixou duas coisas evidentes: a primeira foi o ressurgimento no campo político de uma perversão colonialista recalcada. A segunda, de fácil comprovação pelo regozijo provocado em colunas e editoriais, foi a confirmação de que a imprensa brasileira se move a partir de alguns dos pressupostos da Teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann.

Uma leitura ligeira permite identificar o viés ideológico dos atores que são escolhidos "como definidores primários" da conjuntura latino-americana. Autoridades e analistas políticos vinculados organicamente à matriz neoliberal avalizam a tematização necessária. Pluralidade de opiniões e pensamento crítico são penduricalhos dispensáveis. O que importa é estabelecer a agenda que melhor demonize dois alvos: as novas lideranças andinas e a política externa do governo brasileiro.

O "por que não se calam" do campo jornalístico não é feito a partir de um grito intempestivo, embora com ele se identifique plenamente. A consonância na divulgação de notícias e opiniões requer engenho dos profissionais e uma estruturação azeitada dos principais veículos.

Caudilhos e protoditadores
No caso do presidente Lula, a fórmula é tão repetida que pode ser resumida facilmente. Trata-se de afirmar sucessivas ignorâncias associadas a uma perigosa visão de democracia com a qual ele volta e meia flertaria. Para obter apoio dos consumidores de noticiário, a representação solicitada pelo pensamento conservador pede que se apresente o projeto bolivariano como expressão de uma democracia plebiscitária em que Chávez manipule poderes constituídos e divida a sociedade venezuelana. Quem assim não enxerga ou padece de ingenuidade incurável ou é intelectual stalinista.

O esforço conjunto é de tal monta que, entre os principais articulistas, a diferença reside tão-somente na empresa para a qual vendem sua força de trabalho. A padronização do conteúdo leva ao célebre "leu um, leu todos".

Talvez algum leitor deste Observatório não tenha percebido, mas há cinco anos, com pequenas variações temáticas, o mesmo texto está presente em redações distintas. Construir uma linha do tempo, destacando os fatos mais relevantes desde a chegada de lideranças populares ao poder, é falar obrigatoriamente de populismo, caudilhos e protoditadores. Todos envolvidos, de uma maneira ou de outra, em ações para ampliar seus poderes, pondo em risco a democracia representativa.

"A mão do império"
Em 2 de junho de 2007, Miriam Leitão afirmava, na sua coluna no Globo:

"O que está acontecendo na Venezuela é perigoso e nos diz respeito, porque ameaças à liberdade dizem respeito aos democratas em geral. O governo brasileiro, que na greve geral interferiu no conflito interno fornecendo gasolina para furar a greve, agora usa o biombo da não-interferência para, de novo, ser ambíguo. O presidente Lula fez uma fraca declaração em defesa do Senado e seu principal assessor, ao seu lado, deu razão e defende Hugo Chávez. O episódio mostra a profundidade das convicções democráticas de certos assessores presidenciais."

No mesmo jornal, em 21 de janeiro, Merval Pereira, registrava que...

"...o interessante é que a mesma armadilha em que as oposições foram apanhadas pelo populismo, em termos de Estado apanha desarmado o Brasil de Lula diante da nacionalização do gás na Bolívia, por exemplo, e da ameaça de nacionalização do petróleo no Equador e de energia na Venezuela. É a retórica do `mais fraco´ contra o imperialista regional, no caso o Brasil. Foi o que o presidente da Bolívia, Evo Morales, cobrou de Lula na reunião do Mercosul para aumentar o preço do gás".

Editorial do Estado de S.Paulo (22/9/2007) não deixa dúvidas:

"Não teria mesmo cabimento o Brasil se submeter ao supremacismo de Caracas. Já a questão política é a do ingresso da Venezuela no Mercosul, que depende do voto do Senado brasileiro. Em junho, o desbocado ditador acusou o Congresso de `papagaio dos Estados Unidos´ por não haver ainda aprovado a entrada. Agora, retomou a `grossura´ da submissão aos EUA, dizendo que `a mão do império, a mão norte-americana´ está por trás do atraso."

"Tudo tem limite"
São textos escritos em tempos diversos, mas, para a grande imprensa, pensar integração regional em termos solidários não faz qualquer sentido. Ou a concebemos em termos de soma zero, ou o agendamento nos remete ao silêncio espiral. Para os que ousam uma reflexão alternativa, as melhores redações de Pindorama, a título de sugestão, indagam: por que não se calam?

Se tiver oportunidade de ler os articulistas da página 2 da Folha de S.Paulo, o rei franquista verá que em solo brasileiro não lhe falta apoio. Carlos Heitor Cony lamenta: "Nunca perdoarei a Chávez a oportunidade de se dar razão a um rei."

Eliane Cantanhêde reflete sobre o episódio:

"Rodou mundo a cena em que o rei Juan Carlos, da Espanha, mandou o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, calar a boca. `Por que não se cala?´, irritou-se ele, interrompendo um jorro de impropérios de Chávez contra o ex-presidente espanhol José María Aznar, a quem chamava de `fascista´. O rei é adversário de Aznar, mas tudo tem limite".

Quem disse a ela que o ex-premiê e o monarca espanhol se encontram em pólos opostos é um mistério, mas isso tem pouca importância.

O cargo de bobo da Corte
Clóvis Rossi lembra que...

"...para quem não acompanhou, Chávez insistiu mil vezes em chamar de `fascista´ o ex-presidente do governo espanhol, José María Aznar, até que o rei da Espanha, usualmente a mais cordial e cavalheiresca figura do mundo político, lhe apontou o dedo com uma frase curta e grossa (de contundente): `Por qué no te callas?´".

Se os criollos aplaudem El-rey, não serão os mazombos da imprensa nativa que negarão apoio ao mestiço que chegou à presidência no Vice-Reino da Prata. No Jornal da Globo (13/11), Arnaldo Jabor lamentou: "Pena que não haja um rei português para dar um esculacho na malandragem de Brasília". Nesse último caso, fica um ensinamento. É assegurada total liberdade de expressão a quem aspire ao supremo cargo de bobo da Corte. Espiral mazombeira é coisa fina.

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa
Algo nos trilhos além dos trens de carreira

Alemanha e França passam por grandes movimentos grevistas no setor ferroviário. Além das reivindicações específicas dos trabalhadores, o momento indica um acúmulo de insatisfação social, política e econômica. Mas os governos conservadores, sobretudo o de Sarkozy, na França, decidiram enfrentar a maré, porque sabem o que está em jogo.

BERLIM - Há algo nos trilhos além dos trens de carreira, se me permitem parodiar o Barão de Itararé. Os momentos eleitorais vão confirmando o assente conservador pela Europa afora. Primeiro foram a Polônia e a Suíça, aquela afastando um governo de extrema-direita em favor de um de centro-direita, esta reelegendo um governo de direita com laivos de xenofobia. Depois, mais recentemente, a Dinamarca confirmou seu governo conservador.

Ao mesmo tempo, no espectro à esquerda e nos movimentos de trabalhadores as tintas vão se carregando de tons mais rubros do que o comum nas últimas décadas.

Na Alemanha os ferroviários vêm há mais de um mês fazendo paralisações com datas definidas, elevando a intensidade e a duração das mesmas. Na semana passada os trens de carga e de passageiros, mais os trens que se poderiam chamar de “suburbanos” em muitas cidades, inclusive em Berlim, pararam totalmente. E o movimento continua, agora com ameaças de uma greve por tempo indeterminado.

A malha ferroviária da Alemanha é importantíssima não só para o país como para a Europa inteira. Sem os trens alemães as indústrias belgas e holandesas, além de outras, param completamente. Na Alemanha uma greve prolongada no sistema pode provocar problemas de desabastecimento de tudo, e agora em pleno fim de outono e começo de inverno.

Ao contrário do que se pensa no Brasil, o transporte ferroviário na Europa e, em particular, na Alemanha é muito caro, e, se é extenso e intenso, tem uma certa aura de ineficiência. Os metrôs urbanos e suburbanos não: são caros para o turista, menos caros para o usuário cotidiano (um passe mensal para o metrô de Berlim, urbano e suburbano, custa 70 euros, mais ou menos 170 reais), mas são eficientes.

Esta greve na Alemanha tem motivações salariais imediatas. Dados de pesquisa mostram que, embora longe do que se vê no Brasil, a concentração de renda na Alemanha está aumentando, e trava-se uma batalha infindável em torno do sistema de seguridade social, com os conservadores empilhando propostas de restringi-los passo a passo. Na linha de frente da greve estão os maquinistas e seu sindicato. Mas outras categorias de trabalhadores ferroviários ameaçam também entrar em greve se as eventuais vantagens obtidas pelos maquinistas não lhes forem estendidas.

Na mais recente escaramuça da batalha houve um cisma no governo de coalizão entre democrata-cristãos (conservadores) e social-democratas (menos conservadores), que pode ter conseqüências maiores na organização política do país e da Europa. O vice-primeiro-ministro e ministro do Trabalho, Franz Müntefering, do Partido Social-Democrata (SPD), renunciou a seus cargos há cerca de dez dias. Müntefering pertence a uma geração de políticos da social-democracia que, liderados por Gehrard Schröder, se aproximaram do pensamento conservador da União Democrata-Cristã (CDU), da primeira-ministra Angela Merkel. Introduziram reformas de caráter liberal no corpo da seguridade social e da administração pública alemã.

Respeitado e tido como político sóbrio, Müntefering era o fiel da balança, pelo lado social-democrata, da coalizão que governa a Alemanha desde a vitória apertada do partido de Merkel. Em público, explicou que sua saída se devia a razões pessoais, pois sua esposa está em fase delicada de doença incurável. Entretanto, o cenário político apertou-se consideravelmente para ele, o que pode ter determinado a decisão.

No plano imediato Müntefering viu-se numa posição difícil porque o governo de Merkel decidiu majoritariamente não atender a uma das proposições de seus aliados do SPD, qual seja, a de estabelecer um salário mínimo para os trabalhadores dos Correios, outro setor vital da economia alemã. Isso acabou de puxar o tapete sob os pés do ex-ministro do Trabalho, já que seu partido, o SPD, semanas atrás deu uma leve guinada para a esquerda, sob a liderança de Kurt Beck, de quem se diz que pretende disputar as futuras eleições contra Merkel.

Mas deve-se levar em conta também que a greve no setor ferroviário vem mostrando que o chão descortinado pelo SPD para se aproximar da direita conservadora terminou. Pressionado pela esquerda devido à criação do novo partido Die Linke (A Esquerda) e pela direita pela política até agora bem sucedida de Merkel de substituir direitos sociais mais amplos por projetos assistenciais dirigidos (a minorias, mulheres, por exemplo), o SPD de Müntefering está sob a ameaça de, se não de extinção, pelo menos de anorexia. A bola está nos pés de Beck e desta possível guinada um pouco mais à esquerda do SPD, que satisfez a maioria da ampla base sindical, intelectual e outras do partido, e que pode reorientar o cenário político da nação mais rica da Europa.

Na França, onde também se realiza uma greve no setor ferroviário, a situação é mais dramática e mais complexa. A greve seguiu o modelo do “tempo indeterminado”, e tem por motivo central a reforma pretendida pelo governo de Nicolas Sarkozy no setor previdenciário, eliminado as aposentadorias especiais do setor. Sarkozy parece decidido a ser o equivalente ao que foi Margareth Tatcher na Grã-Bretanha, ao final do século passado. Em episódio hoje reconhecido como lapidar, a greve dos mineiros de carvão, a conhecida “dama de ferro” dobrou o sindicalismo inglês numa batalha histórica, da qual aquele até hoje não se recuperou. No Brasil o modelo foi seguido pelo primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso na conhecida greve dos petroleiros logo no albor de seu primeiro mandato.

Sarkozy, que diz não querer recuar de seus projetos de reformas fortemente liberais numa França de cerrada legislação de seguridade social, parece estar determinado a levar o sindicalismo francês a uma espécie de Waterloo (o exemplo vem a calhar), para aplainar seu caminho em direção a uma projetada França “modernizada”. Apesar disso, seu primeiro ministro, François Fillon, fez um chamado à negociação, aceito pelos sindicatos do setor ferroviário. A partir de quarta-feira governo e sindicalistas, mais direções das ferrovias estarão reunidos para negociar.

Ocorre que a greve nas ferrovias – que atinge a França inteira – é apenas a ponta, ainda que gigantesca, do enorme iceberg à frente do governo conservador. Na terça-feira passada trabalhadores de vários setores públicos e outros fizera uma paralisação de solidariedade aos ferroviários, mas também levantando suas causas próprias, que colidem frontalmente com as pretendidas reformas de Sarkozy. Isto se dá num momento em que estudantes do ensino superior ocupam faculdades e universidades pela França inteira, também se opondo ao que consideram como um projeto de privatização do setor pelo governo ainda novo, mas já com determinações de estilo politicamente agressivo.

Para Sarkozy, essa batalha pode ser também seu próprio campo de Waterloo, pois sua popularidade está em baixa, e seu projeto político exige a manutenção de um perfil extremamente pró-ativo e agressivo de política, ainda que ele tenha tentado refinar seu discurso nos últimos momentos. Embora o sistema francês seja parlamentar, o presidente (ao contrário, por exemplo, da Alemanha) tem um papel importante na política cotidiana.

Ninguém fala no governo “do primeiro ministro Fillon”: não, trata-se do “governo de Sarkozy”. Uma derrota para os grevistas, ou mesmo um mero “empate técnico”, em que o governo recue alguns centímetros nas suas proposições, poderiam abrir uma cratera no chão do estilo de ação deste político que quer demonstrar ser um atleta carregado de “fitness” para cumprir o papel de novo corifeu do novo “liberal way of life” que os conservadores pretendem seja a sua “road to happiness”.

Na Alemanha e na França, pois, jogam-se os dados neste momento de um novo desenho da política na Europa Ocidental. Não haverá mudanças dramáticas, é verdade, mas poderão ocorrer inflexões significativas que levem a elas mais tarde, com reflexos decisivos para a América Latina, que detém hoje conspicuamente os governos mai
s à esquerda em escala mundial.