domingo, 19 de agosto de 2012

uma ótima explicação sobre política de cotas no Brasil


O despertar do Islã, a luta dos povos e a causa palestina

do PORTAL VERMELHO


O candidato a vereador do PCdoB em São Paulo, Kháled Fayez Mahassen, participou no Dia de Jerusalém, cerimônia que encerra o tradicional período de Ramadan. Fez um discurso nas presenças do Cônsul Geral do Líbano em São Paulo, Sr. Kablan Franjieh, e do Cheikh Hassan Burji Imã, da Mesquita do Brás, entre outras lideranças, presidentes e representantes de entidades civis e políticas.


artista palestino Ismael Shammout
Povo palestino Povo palestino

Segue o discursos completo, que exalta a luta dos povos pela soberania, em particular a do povo palestino.

“Camaradas e companheiros, Caríssimos irmãos,

Al Kuds, capital da palestina.
 
Al Kuds, que vem sendo agredida, há muitos anos pela ocupação israelense,
Al Kuds, a terra sagrada pelos profetas para a humanidade.
Al kuds é a questão, é o coração da questão palestina.
Neste sagrado dia, do abençoado Ramadan, e após a vitória da revolução iraniana, foi decretado pelo Imã Al Khomeini, o dia de Jerusalém.

Este dia é o dia de renovar o nosso compromisso de luta pela principal causa árabe, a causa palestina.

Esta causa, que o imperialismo estadunidense e seus aliados vêm trabalhando para dissolver no meio das muitas questões no Oriente Médio.

Caríssimos companheiros,

O que está acontecendo hoje no Oriente Médio tem por objetivo desviar a atenção da causa palestina. A mídia internacional vem bombardeando os ouvidos do mundo por informações sobre muitos acontecimentos no mundo árabe, sem sequer tocar sobre a agressão praticada pelos israelenses na Faixa de Gaza e em toda a Palestina contra o povo valente da palestina e suas crianças e mulheres, desviar a atenção da construção do muro da vergonha que tem por objetivo encurralar o povo palestino, impedindo-o de circular, separando famílias e proibindo-o, legitimo dono dessa terra, de visitar os seus lugares sagrados como a Igreja da Natividade e a Mesquita Al Aqsa.

Participei em Teerã do 1º encontro do despertar do Islã, e não era apenas o despertar do Islã, mas sim o despertar da humanidade. E adivinhem qual era a principal questão discutida pelos organizadores e todos os oradores? Foi a questão Palestina. A principal questão humanitária.

Foi discutido como o imperialismo estadunidense atua na região, e qual é o mecanismo para impedir, suas vitorias.

Companheiros,

Como podem governos árabes permitir essas ações e essas agressões? Como podem ser parte dessa pouca vergonha?

Os Estados Unidos da América e seus aliados destruíram o Iraque, destruíram a Líbia, governam, hoje, indiretamente o Iêmen, plantaram em todos os países árabes do golfo suas bases militares, isso sem falar do modo como sufocaram o levante do povo contra a monarquia em Bahrein.

E hoje estão concentrando as suas forças para acabar com o único país que ainda diz não a Israel e seus planos na região, sim, concentram suas forças para acabar com a Síria, o coração da nação árabe.

O plano do imperialismo estadunidense é redesenhar o Oriente Médio, e quem vai impedir?
Esqueceram eles a histórica derrota do imperialismo no Líbano em 2006, derrota essa aplicada pela luta do bravo povo libanês. Esqueceram eles que não cessamos a nossa luta até libertar a Palestina da ocupação israelense, e remover dos países árabes todas as bases militares dos ingleses, americanos e seus aliados.

Essas gangues que vêm há muitas décadas saqueando a riqueza dessa nação e devolvendo-a em bombas e agressões ao nosso povo.

Fiquemos atentos sobre suas ações, não somente na pátria árabe, mas sim, em todo o Oriente Médio, na América Latina e Central e em todos os cantos. A luta do povo não pode parar até a definitiva derrota do imperialismo e seus aliados.

O dia de Jerusalém é o dia de renovar o nosso compromisso com a luta, o nosso compromisso com a honra, o nosso compromisso com o heroico povo iraniano e seu líder que fez declarações na última sexta-feira (17), dia  do abençoado Ramadan, o dia de Jerusalém.

E para isso, temos o dever de nos unirmos, na pátria árabe e na imigração, caros irmãos, temos que ser uma força influente, viver os problemas da nação brasileira, contribuir com este povo que abriu o seu coração para nossos imigrantes, e deles fez cidadãos com direitos iguais aos nativos.

Nosso dever é informar este querido povo brasileiro sobre o que está acontecendo nos nossos países, pois o imperialismo estadunidense não poupará a América Latina das suas intenções e agressões, e para isso colocou nos mares latinos a Quarta Frota para vigiar esses países.

Neste dia temos que renovar o nosso compromisso com a verdade, com a luta dos povos por uma sociedade mais justa e mais humana.

Viva a luta dos povos,

Viva Jerusalém."

Assange livre significa internet independente também livre

No blog PALAVRAS DIVERSAS

O cerco a Assange atinge a liberdade de expressão mundial, é um risco iminente a internet livre e independente, representa o retrocesso do "monopólio da verdade". Lula pôs o dedo na ferida sobre  descaso da mídia corporativa e dos líderes mundiais
Por que a caça a Julian Assange, à blogosfera e a defesa corporativa, por meio da indiferença editorial, dos desvios éticos e morais da velha imprensa?
Assange e a blogosfera, a internet livre e independente em geral, permitem ao leitor/espectador perceber, com nitidez e em tempo quase real, os movimentos golpistas que a grande mídia, nacional e internacional, costumavam empreender em silêncio, em associação a governos conservadores, para fazer valer interesses políticos e econômicos de pequenos grupos em detrimento da grande maioria.

O advento do Wikileaks e o fortalecimento da internet independente é hoje um obstáculo para o modo operante da velha imprensa permanecer bem sucedida nestes aspectos, perturba governos blindados pela imprensa.

Hoje é possível, graças a estes agentes, que não são controlados corporativamente, alertar os golpes em ação e levá-los ao grande público, apertando governos e mídia, desmascarando editorias disfarçadas de democráticas, mas contaminadas de autoritarismo e manipulação.

Os exemplos não param de crescer de como a imprensa age para desinformar e tornar a realidade dos fatos confusas para o leitor/audiência. O cabo de guerra travado entre Carta Capital e internet progressista de um lado, contra Veja e velha imprensa de outro, nos mostram o quanto estes representantes de si mesmos e de favores mesquinhos se sentem incomodados com a pressão pela versão dos fatos que chega ao brasileiro no dia a dia, pela mãos da blogosfera.

Se por um lado denunciam-se esquemas mirabolantes que envolvem jornalistas de grandes veículos de comunicação, ministro do Supremo e políticos proeminentes da oposição, por outro lado percebe-se o silêncio estarrecedor, a tal defesa corporativa pela indiferença, da grande imprensa.

Este é um movimento desmascarado, bem articulado, que faz com que, estes que se autoproclamam defensores da democracia e da liberdade de expressão, se revelem os golpistas que costumam ser, escondidos atrás de pretensas coberturas jornalísticas imparciais.

O Datafolha em sua última pesquisa captou que o povo, em sua maioria, percebe manipulação e parcialidade escancarada, por exemplo, na cobertura da imprensa no julgamento do mensalão.
A internet independente usa da liberdade a que todos tem direito para se expressar e isto não cai bem para aqueles que intentam em manter o "monopólio da verdade" para uso difuso.

Liberdade de Assange é a liberdade de expressão
Assange e a internet independente se associaram, por afinidade ideológica, de imediato e a divulgação em massa por meio de blogues e redes sociais dos documentos comprometedores dos agentes conservadores espalhados pelo mundo, inclusive aqui no Brasil, causam arrepios na imprensa corporativa e nos seus aliados conservadores. 
Um episódio clássico mostrou a busca de interesses comuns do governo americano e da grande imprensa brasileira sobre as eleições 2010.
William Waack e Fernando Rodrigues foram flagrados por documentos publicados pelo Wikileaks em que passavam informações sobre as eleições, de maneira distorcida e parcial, para favorecer Serra e prejudicar a real percepção da imagem de Dilma Roussef, para a embaixada norte americana.
Disso depois, nada foi falado nos grandes veículos de comunicação do país, silêncio absoluto.
Ambos, Waack e Rodrigues permanecem ocupando seus espaços e com destaque, talvez, pelo trabalho desenvolvido tenham sido agraciados de prestígio e respeito por seus patrões...

Assange tem demonstrado que tanto a diplomacia dos países mais ricos, liderados pelos Estados Unidos, age para desestabilizar democracias nos países que resolvem não seguir a cartilha de Washington e saem a busca de quislings para atingir tais objetivos.  O que de fato, desconstruiria a imagem nada compatível que a imprensa mundial criou e dissemina pelo planeta inteiro sobre os autoprocalamados defensores da liberdade e da democracia.

Assange atinge em cheio esta ilustração forjada do país mais poderoso do mundo.
A internet livre desmascara a divulgação desta estampa que a grande imprensa mundial tenta fazer crer ao habitantes do planeta como algo genuíno e verdadeiro.
Defender a liberdade de Assange, é defender a sobrevivência da liberdade de expressão na rede mundial, como estamos conhecendo nos dias atuais, sem a interferência corporativa ou de governos autoritários ou conservadores.
A solidariedade para com o criador do Wikileaks, é a solidariedade para si mesmos, daqueles que atuam na internet independente, livre e progressista.
Mas, é acima de tudo, um ato de dignidade humana e desaprovação inconteste contra o que representam aqueles que cercam Assange e daqueles que tentam censurar a internet, para monopolizarem a "verdade", impedindo que as versões se multipliquem e a audiência possa chegar a sua verdade, de acordo com suas crenças, subsidiados por informações livres e sem rótulos fabricados.
O momento é de ataque conservador cerrado, sem dúvida alguma, é a verdade a vítima de toda esta hostilidade reacionária.
Lula, em pronunciamento, colocou o dedo na ferida da grande imprensa e dos líderes mundiais:
 “É engraçado, não tem nada contra [o cerceamento à] liberdade de expressão...eu não vi um voto de protesto”, colocando-se como o primeiro estadista mundial a protestar contra a prisão de Julian Assange.

A dependência redobrada


Estaríamos finalmente deixando para trás a situação de dependência e submissão que secularmente nos caracteriza? E como combinar essa interpretação auspiciosa com os claros sinais de desindustrialização, de recusa do investimento em decolar, de retrocesso para uma posição periférica de país produtor de commodities?
por Leda Maria Paulani

Na segunda década deste século, em que pesem as dificuldades enfrentadas desde 2011, o Brasil entrou definitivamente na moda. Em meio a um mundo em que a crise dá o tom, a economia brasileira paira altaneira, dizendo-se sobre ela, até mesmo, que estaria inventando uma nova forma, “mais criativa”, de garantir o sucesso econômico. Como entender o que está se passando? Estaria o país, depois de mais de duas décadas de estagnação e crescimento pífio, retomando uma trajetória sustentada de crescimento? Mas, mais importante, estaria nossa economia finalmente resgatando a autonomia e o poder soberano que chegou a vislumbrar em meados do século passado? Estaríamos finalmente deixando para trás a situação de dependência e submissão que secularmente nos caracteriza? E como combinar essa interpretação auspiciosa com os claros sinais de desindustrialização, de recusa do investimento em decolar, de retrocesso para uma posição periférica clássica de país produtor de commodities? E quais são as causas e qual é o papel, nesse contexto, da redução da desigualdade distributiva e do surgimento da assim chamada “nova classe média”? Para responder a todas essas questões é preciso, em primeiro lugar, qualificar o crescimento apresentado por nossa economia na primeira década do presente século, o que implica entender de que forma o país foi se inserindo no plano mais geral da acumulação mundial, em meio a um profundo processo de transformação do próprio capitalismo.
É bastante conhecida a história do espetacular sucesso capitalista no Brasil até o final dos anos 1970, bem como da igualmente retumbante derrocada nas décadas seguintes. O sucesso ficou visível nas elevadas taxas médias de crescimento alcançadas ao longo do século passado. Entre 1930 e 1980, o Brasil cresceu 6,4% ao ano. Nesse período, as taxas médias anuais de crescimento por década nunca foram inferiores a 4,3%, tendo alcançado 8,7% nos anos 1970, um ritmo verdadeiramente chinês. Diante desses números espetaculares, o fracasso das duas décadas finais torna-se ainda mais impressionante. Nos anos 1980, a taxa média anual de crescimento despencou para 2,9%, menos da metade de sua marca histórica nos cinquenta anos anteriores, e, nos anos 1990, caiu mais uma vez para 1,6%, quase a metade da taxa já muito magra obtida na década anterior. É perante esses pífios resultados que a performance dos anos 2000 parece um sucesso. A taxa média anual de crescimento nessa primeira década do século XXI alcançou os 3,3% (4% no período Lula), bem melhor que 1,6%, evidentemente, mas um resultado muito modesto, que nem sequer recupera a taxa média anual da pior das décadas do período 1930-1980, que foram os 4,3% obtidos nos “depressivos” anos 1930. Mas, para além das frias estatísticas numéricas, importa saber o que aconteceu nas entranhas desse processo de ascensão, queda e tímida recuperação, e não é possível fazer isso sem colocar em cena o contexto mundial em que ele se desenvolveu.
Não é o caso aqui de recuperar toda a história da economia brasileira nos últimos oitenta anos, mas cabe recordar alguns fatores importantes para entender a posição em que hoje nos encontramos. É fato sabido que no início dos anos 1980, em razão dos pesados investimentos nos setores de bens de capital e insumos básicos constantes do II PND – o plano de desenvolvimento adotado pelo governo Geisel em resposta à primeira crise do petróleo –, o Brasil acertou o passo com a Segunda Revolução Industrial, completando, ainda que extemporaneamente, sua matriz tecnológica. É verdade que já estava aí em curso a Terceira Revolução Industrial, mas ainda assim o feito não foi de pouca monta. O Brasil foi o único país da América Latina a internalizar toda essa matriz, o que poderia ter lhe dado o grau de autonomia que tentara sem sucesso obter na primeira metade dos anos 1950, com os projetos do segundo governo Vargas. Em meados da década de 1970, apesar de todo o crescimento industrial pretérito, a economia brasileira ainda sofria com a existência de várias lacunas importantes nos setores de base da indústria, sendo total ou parcialmente dependente das importações de insumos essenciais como petróleo, aço, papel e cimento, além de bens de capital de modo geral. Essa fragilidade ficara escancarada com o advento da crise do petróleo, que, em sua esteira de elevação, carregara consigo também os preços de vários dos insumos industriais essenciais. Assim, apesar do atraso no desenvolvimento de vários projetos e de alguns elefantes brancos como a ferrovia do aço e o projeto nuclear, o II PND foi bem-sucedido em completar as caselas que faltavam em nossa matriz interindustrial, tornando a economia brasileira mais forte e menos dependente.
Mas o país não foi capaz de saltar daí para uma posição verdadeiramente soberana, tornando fato a autonomia potencial que a nova situação permitia vislumbrar. Ocorre que, para além da nova revolução tecnológica já em curso, o capitalismo começava também, nessa mesma época, a transitar para outra etapa em sua história, etapa essa cujas características não são estranhas, antes o contrário, à incapacidade de nossa economia ter dado o referido salto. Marcada por aquilo que vários economistas houveram por bem denominar “financeirização”, a dinâmica econômica passou a se dar, cada vez mais, sob os auspícios e os imperativos do capital financeiro. Isso significou uma profunda alteração quanto à forma como até então se relacionavam produção e finança, pois agora era esta última que dominava o processo de acumulação como um todo, submetendo a primeira. Por trás desse processo estava o espetacular crescimento da riqueza financeira, que começou com os depósitos das multinacionais norte-americanas no mercado offshoreda City londrina no final dos anos 1960 e ganhou definitivo impulso com a engorda produzida pelos petrodólares e pelos excedentes ainda maiores de capital que não encontravam aplicação lucrativa depois do aprofundamento da recessão mundial trazido pela crise do petróleo. Foram os interesses produzidos por essa “base material” que alentaram o discurso neoliberal e fomentaram a grita em torno da necessária liberalização das finanças, dos fluxos internacionais de capital e dos mercados em geral.
Ora, o Brasil tornou-se uma das maiores vítimas da primeira fase do processo de financeirização, quando as finanças foram primordialmente intermediadas e o capital financeiro foi majoritariamente o capital bancário. Como os investimentos do II PND tinham se tornado possíveis graças ao endividamento externo em contratos estabelecidos a taxas flutuantes, a brutal elevação dos juros internacionais ao final dos anos 1970, patrocinada pelo banco central norte-americano num golpe destinado a resgatar a posição hegemônica do dólar, atingiu em cheio a economia brasileira, minando qualquer possibilidade de uma definitiva ascensão do país ao grupo das nações desenvolvidas. O Brasil constituíra parte substantiva da demanda que faltava a um copioso volume de riqueza financeira em busca de aplicação num mundo em recessão aberta, e agora pagava por isso um elevado preço. Naquele momento, o início dos anos 1980, apesar da renitência da inflação, o Brasil era o retrato de uma economia plenamente industrializada e relativamente sofisticada, mas vitimada pela marcha acelerada do processo mundial de financeirização.
Essa forma passiva de inserção da economia brasileira no capitalismo financeirizado foi substituída por uma forma ativa de inserção, quando a partir dos anos 1990 começaram a ser tomadas as medidas para transformar o país em potência financeira emergente: além da própria estabilização monetária, a abertura financeira desbragada, a internacionalização do mercado de títulos de dívida, a adoção de políticas monetária e fiscal extremamente rígidas e o estabelecimento de taxas de juros descabidamente elevadas. Isso sem falar nas “reformas estruturais”, que alteraram o sistema previdenciário, com espaço cada vez maior para o regime de capitalização, colocaram os direitos dos credores, não importa se públicos ou privados, à frente de quaisquer outros, e estabeleceram um sem-número de benefícios e concessões tributárias ao capital financeiro de não residentes. Consolidada essa inserção ativa no processo de financeirização, o Brasil transformou-se em plataforma internacional de valorização financeira, o mercado onde se tornaram possíveis os maiores ganhos do mundo em moeda forte, por força da combinação entre taxas de juros elevadas e um persistente processo de apreciação cambial, num contexto em que as finanças eram agora primordialmente diretas, em vez de intermediadas, e onde tinham importância crescente os mercados secundários de papéis e os investimentos em derivativos. Nesse contexto, nossa crônica dependência de poupança externa mudou de cara, saltando dos empréstimos convencionais para os recursos destinados aos investimentos de portfólio, enquanto os investimentos externos diretos ganharam fôlego adicional por força do processo de privatização.
Evidentemente, isso não ocorreu sem consequências do ponto de vista de nossa inserção produtiva. Como afirmou acertadamente em entrevista recente o professor Gabriel Palma, da Universidade de Cambridge, ao optar pela dupla juro alto/câmbio apreciado, o governo brasileiro escolheu as finanças, as commodities e os serviços e desdenhou e prejudicou a indústria, que seria beneficiada pela política oposta. O boom experimentado no preço de várias das commodities em função do efeito China já seria por si só suficiente para forçar uma mudança nessa direção, empurrando de volta a economia brasileira para a indesejada posição de país produtor de bens primários e de baixo valor agregado. Ao optar conscientemente pela política econômica que atendia primordialmente aos interesses do capital financeiro, os governos que se sucederam desde os anos 1990 jogaram mais água nesse moinho e promoveram um grande retrocesso no perfil produtivo de nossa economia. O resultado é que a desindustrialização e a reprimarização da pauta de exportações do país constituem hoje uma dura realidade. A começar pelo próprio setor automotivo, cadeias produtivas inteiras foram esvaziadas, fazendo nossa indústria trabalhar atualmente mais ao estilo das maquiladoras mexicanas, que simplesmente montam um sem-número de peças e componentes importados, do que como uma verdadeira indústria, capaz de produzir valor agregado e andar em linha com o desenvolvimento tecnológico mundial. Os setores mais dinâmicos desse último ponto de vista, como os de bens de capital, equipamentos eletrônicos e química e farmacêutica, foram justamente os que mais sofreram. Quanto à reprimarização da pauta de exportações, os dados falam por si. Em meados dos anos 1970, a participação dos produtos industriais e bens de capital nas exportações brasileiras era de 38%, tendo atingido quase 70% no início dos anos 1990, para alcançar 2010 com 47%. De outro lado, a participação dos produtos básicos, que era de cerca de 60% em meados dos anos 1970, reduziu-se a 25% no início dos anos 1990, para alcançar 2010 com 45%.
Está claro, portanto, que a tênue retomada dos anos 2000 é ainda menos auspiciosa quando se atenta para seu conteúdo. Um sinal de que o suposto sucesso da economia brasileira é praticamente uma miragem quando visto mais de perto é a razão formação bruta de capital fixo/PIB, que, mesmo com a pequena retomada do final dessa década, continua literalmente no chão, não tendo recuperado nem sequer o nível, já muito reduzido, atingido nos anos 1980 (17% contra 19%). Esse último elemento está diretamente ligado a mais um dos fatores agravantes de nossa precária situação. A dinâmica macroeconômica que produziu o crescimento um pouco mais alvissareiro a partir de 2006 esteve inteiramente assentada no consumo, e não, como deveria ser para que fosse algo sustentável, no investimento, e mais ainda, esse consumo esteve assentado na expansão do crédito, que, se traz ganhos a curto prazo, deprime a demanda a médio e longo prazos. Ancorar a dinâmica macroeconômica no consumo e o consumo no crédito é tentar fazer a economia capitalista andar com o motor girando ao contrário.
Há, porém, além da difusão do crédito para faixas da população antes dele excluídas, um fator que explica esse boom de consumo. Trata-se do surgimento da assim chamada “nova classe média”, os celebrados 30 milhões de brasileiros que ascenderam à classe C. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o fenômeno não é resultado das políticas de renda compensatória (tipo Bolsa Família), as quais beneficiam os extremamente pobres, mas sim de um sustentado processo de aumento do salário mínimo real (que eleva a renda de cerca de 30 milhões de beneficiários da seguridade social), bem como da retomada do emprego trazida pelo próprio crescimento. Para além de seu impacto econômico, esse processo tem importância em si, já que é evidente a diferença que tais mutações produzem num país secularmente marcado por uma desigualdade ímpar. Mas, ao contrário do que sustentam algumas das interpretações sobre esse fenômeno, ele está, a meu ver, longe de ser estrutural. Sua manutenção depende fundamentalmente do andamento da conjuntura. Se a economia não decola, o crescimento do emprego dá marcha a ré, problematizando um dos fatores que estão na base da “nova classe média”. Com a economia em banho-maria, as receitas do governo podem não se elevar o suficiente para que continue a ser bancado o segundo dos sustentáculos da nova classe, o crescimento real do salário mínimo, que, ao contrário do Bolsa Família, tem custo muito elevado para o governo.
Resta saber quais são as perspectivas de materialização de tal cenário. A resposta a essa pergunta já está de certa forma dada pelo resultado pífio obtido em 2011 (crescimento de 2,7%) e pelas expectativas para 2012, que, a depender da fonte, já andam abaixo dos 2%. As causas que primeiramente se levantam para explicar essa situação estão sempre relacionadas ao agravamento da cena internacional, o que tem lá sua razão de ser, já que a crise europeia está se mostrando mais profunda do que se imaginava. Mas elas não podem de modo nenhum se reduzir a isso. Com duas décadas de políticas anti-indústria, não é à toa que a crise internacional superdeprima as expectativas e impeça o investimento de decolar, por maiores que sejam os esforços do governo para estimular o consumo e, por essa via, tentar reerguê-las. As escolhas de política econômica efetuadas pelos últimos governos fizeram o país retroceder a uma posição na divisão internacional do trabalho que já se julgava ter sido ultrapassada. Se associarmos a isso seu papel de plataforma internacional de valorização financeira que a economia brasileira ainda desempenha, muito embora as taxas de juros tenham declinado substantivamente nos últimos meses, teremos uma espécie de dependência redobrada, um cenário, portanto, muito distante da imagem de autonomia e independência que os discursos sobre a “economia blindada” e o suposto “desenvolvimentismo” querem fazer crer. Nesse contexto, a possibilidade de transformar em estruturais as saudáveis mudanças no plano distributivo recentemente ocorridas torna-se diminuta, jogando por terra, mais uma vez, a oportunidade que nos deu a favorável conjuntura internacional dos anos 2000 até antes da crise de 2008 de saltarmos para uma posição altiva, em que os destinos do país pudessem ser conduzidos com soberania.

Leda Maria Paulani

Professora titular do Departamento de Economia da FEA-USP e da pós-graduação em Economia da IPE-USP. Pesquisadora do CNPq e da FAPESP, foi entre 2004 e 2008, presidente da Socidedade Brasileira de Economia Política (SEP). É autora, entre outros livros, de Modernidade e discurso econômico e Brasil Delivery, ambos publicados pela Boitempo.


Ilustração: Orlando