sábado, 18 de junho de 2011

A guinada à direita de Chávez: realismo de Estado contra solidariedade internacional

180611_chavez_santos2Diário Liberdade - [James Petras] O intelectual marxista norte-americano James Petras analisa a evolução seguida pela política externa venezuelana, marcada pela procura de conciliação com o imperialismo.







Introdução

O radical governo "socialista bolivariano" de Hugo Chávez prendeu vários líderes da guerrilha colombiana e um jornalista esquerdista com cidadania sueca e entregou-os ao governo de direita do presidente Juan Manuel Santos, obtendo com isso os elogios e a gratidão do governo colombiano. A estreita colaboração em curso entre um presidente de esquerda e um regime com um historial conhecido de violações de direitos humanos, torturas e desaparecimento de presos políticos provocou protestos generalizados dos defensores da liberdade civil, esquerdistas e populistas da América Latina e Europa, ao mesmo tempo que comprazia ao establishment imperial euroamericano.
A 26 de abril de 2011, funcionários públicos de imigração da Venezuela, a partir exclusivamente de informações facilitadas pela polícia secreta colombiana (DAS), detiveram um cidadão de nacionalidade sueca, Joaquín Pérez Becerra, jornalista de origem colombiana, que acabava de chegar ao país. Com base nas denúncias da polícia secreta colombiana de que o cidadão sueco era um líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Pérez foi extraditado para a Colômbia em 48 horas. Apesar da violação dos protocolos diplomáticos internacionais e da Constituição venezuelana, esta ação teve o apoio pessoal do presidente Chávez. Um mês mais tarde, as forças armadas venezuelanas junto a seus homólogos da Colômbia capturaram um líder das FARC, Guillermo Torres (alias Julián Conrado), que está à espera de extradição para a Colômbia em um cárcere venezuelano, sem acesso a um advogado. A 17 de março, a inteligência militar venezuelana (DIM) deteve dois supostos guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), Carlos Atirado e Carlos Pérez, e entregaram-nos à polícia secreta colombiana.
A nova imagem pública de Chávez como sócio do regime repressivo da Colômbia não é assim tão nova, afinal. A 13 de dezembro de 2004, Rodrigo Granda, porta-voz internacional das FARC e cidadão naturalizado venezuelano, cuja família residia em Caracas, foi sequestrado por agentes venezuelanos à paisana, pertencentes ao serviço de inteligência, no centro de Caracas, onde tinha estado participando em uma conferência internacional, e foi levado em segredo para a Colômbia com a aprovação do embaixador venezuelano em Bogotá. Depois de várias semanas de protestos internacionais, incluídas as de muitos assistentes ao congresso, o presidente Chávez efetuou uma declaração que descrevia o denominado sequestro como uma violação da soberania da Venezuela, e ameaçou com romper com a Colômbia. Mais recentemente, a Venezuela incrementou a extradição de revolucionários opositores políticos do narcos-regime colombiano: nos primeiros cinco meses de 2009, a Venezuela extraditou 15 supostos membros do ELN, e em novembro de 2010 um militante das FARC e dois supostos membros do ELN foram entregues à polícia colombiana. Em janeiro de 2011, Nilson Terán Ferreira, suposto líder do ELN, foi entregue aos militares colombianos. A colaboração entre os mais notórios regimes de direita da América Latina e o governo socialista supostamente mais radical coloca importantes perguntas sobre o significado das identidades políticas e seu relacionamento com a política nacional e internacional, e, mais concretamente, que princípios e interesses guiam as políticas do Estado.

Solidariedade revolucionária e interesses de Estado

A recente guinada na política da Venezuela, da simpatia e inclusive o apoio às lutas e os movimentos revolucionários na América Latina até sua atual colaboração com os regimes de direita pró-imperialistas tem numerosos precedentes históricos. Pode ser útil examinarmos o contexto e as circunstâncias destas colaborações.
O governo revolucionário bolchevique da Rússia inicialmente apoiou com todas suas forças os levantamentos revolucionários na Alemanha, Hungria, Finlândia e outros países. Com a derrota das revoltas e a consolidação dos regimes capitalistas, o Estado russo e os interesses econômicos primaram entre os dirigentes bolcheviques. Os acordos comerciais e de investimento, os tratados de paz e o reconhecimento diplomático entre a Rússia comunista e os estados capitalistas ocidentais definiram a nova política de coexistência. Com o surgimiento do fascismo, a União Soviética de Stalin subordinou ainda mais a política comunista às alianças de estado para estado, primeiro com os aliados ocidentais e, inclusive, com a Alemanha nazista. O pacto Hitler-Stalin foi concebido pelos soviéticos como uma maneira de evitar uma invasão alemã e assegurar suas fronteiras ante um inimigo declarado de direita. Como parte da expressão da boa fé de Stalin, este entregou a Hitler vários dos principais líderes comunistas alemães exilados na Rússia. Não é preciso dizer que foram torturados e executados. Esta prática só terminou depois de que Hitler invadiu a Rússia e Stalin encorajou então as dizimadas fileiras comunistas alemãs a aderirem à resistência clandestina antinazista.
A princípios da década de 1970, com a reconciliação da China de Mao com os Estados Unidos de Nixon e sua ruptura com a União Soviética, a política exterior chinesa passou a apoiar os movimentos contrarrevolucionários apoiados pelos Estados Unidos, entre outros Holden Roberto em Angola e Pinochet no Chile. A China denunciou qualquer governo e movimento de esquerda que mantivesse laços com a URSS, por fracos que fossem, apoiando seus inimigos, por servis que fossem ante os interesses imperiais euroamericanos.
Na URSS de Stalin e a China de Mao, os interesses imediatistas do Estado impuseram-se à solidariedade revolucionária. Quais eram estes interesses de estado?
No caso da URSS, Stalin apostou em um pacto de não agressão com a Alemanha de Hitler que os protegeria de uma invasão imperialista nazista e poria fim, ao menos em parte, ao cerco da Rússia. Stalin já não confiava na força da solidariedade internacional da classe trabalhadora para evitar a guerra, especialmente a partir de uma série de derrotas revolucionárias e do retrocesso generalizado da esquerda durante as décadas anteriores (Alemanha, Espanha, Hungria e Finlândia). O avanço do fascismo e da extrema-direita, a incessante hostilidade ocidental para a URSS e a política da Europa ocidental de apaziguar Hitler, convenceram Stalin para buscar seu próprio acordo de paz com a Alemanha. Com o fim de demonstrar sua sinceridade para seu novo sócio, a URSS reduziu a intensidade das críticas dos nazistas, reclamando aos partidos comunistas de todo mundo que se centrassem em atacarem Ocidente, em lugar da Alemanha de Hitler, e cedeu à demanda de Hitler para extraditar à Alemanha os supostos terroristas comunistas que encontrava asilo na União Soviética.
A política de Stalin, baseada nos interesses de curto prazo do Estado soviético mediante pactos com a extrema-direita, conduziu para uma catástrofe estratégica: a Alemanha nazista teve mãos livres para conquistar primeiro a Europa ocidental e depois voltar suas armas para a Rússia e invadir uma União Soviética sem preparação, da qual ocupou metade do país. Entretanto, os movimentos de solidariedade internacional contra o fascismo tinham-se debilitado e desorientado temporariamente com as mudanças de rumo da política de Stalin.
Em meados da década de 1970, a reconciliação da República Popular Chinesa com os EUA levou a uma guinada em sua política internacional: o imperialismo dos EUA converteu-se em aliado contra o que consideravam o mal maior do social-imperialismo soviético. Como resultado, a China, com o presidente Mao Zedong, instou seus partidários internacionais a denunciarem os regimes progressistas que recebiam ajuda soviética (Cuba, Vietnã, Angola, etc.) e retirou seu apoio à resistência armada revolucionária contra estados clientes pró-estadunidenses no sueste asiático. O pacto da China com Washington queria assegurar os interesses de Estado mais imediatos: o reconhecimento diplomático e o fim do embargo comercial. As vantagens comerciais e diplomáticas que Mao obteve no curto prazo tiveram a contrapartida de sacrificar os objetivos estratégicos fundamentais de promover os valores socialistas no país e a revolução no estrangeiro.
Como resultado, a China perdeu sua credibilidade entre os revolucionários anti-imperialistas do Terceiro Mundo, em troca de obter os favores da Casa Branca e um maior acesso no mercado mundial capitalista. O pragmatismo do curto prazo conduziu para a transformação do longo prazo: a República Popular Chinesa converteu-se em uma dinâmica potência capitalista emergente, com algumas das maiores desigualdades sociais da Ásia e talvez do mundo.

Venezuela: os interesses do Estado contra a solidariedade internacional

O auge das políticas radicais na Venezuela, causa e consequência da eleição do presidente Chávez em 1999, coincidiu com o auge dos movimentos sociais revolucionários em toda a América Latina desde finais da década de 1990 até meados da primeira década do século XXI (1995-2005). Os regimes neoliberais do Equador, Bolívia e Argentina foram derrocados, os movimentos sociais de massas que desafiavam a ortodoxia neoliberal se consolidaram em todas as partes, os movimentos da guerrilha colombiana avançaram para as grandes cidades e no Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Equador e Uruguai chegaram ao poder dirigentes de centro-esquerda. As crises econômicas estadunidenses minaram a credibilidade do programa de livre comércio de Washington. A crescente procura asiática de matérias primas estimulou um auge nas economias da América Latina, e graças a ela se financiaram programas sociais e nacionalizações.
No caso da Venezuela, o frustrado golpe de Estado militar apoiado pelos Estados Unidos e o boicote dos dirigentes da companhia nacional do petróleo, PDVSA, em 2002-2003, obrigou o governo de Chávez a se apoiar nas massas e virar à esquerda. Chávez procedeu a uma renacionalização do petróleo e indústrias afins, e a articular uma ideologia bolivariano-socialista.
A radicalização de Chávez encontrou um clima favorável na América Latina, e os abundantes rendimentos da subida do preço do petróleo financiaram seus programas sociais. Chávez manteve uma posição plural de braços abertos aos governos de centro-esquerda, apoio dos movimentos sociais radicais e apoio às propostas da guerrilha colombiana a favor de uma solução negociada. Chávez pediu o reconhecimento da guerrilha da Colômbia como beligerante legítimo e não como organização terrorista.
A política exterior da Venezuela orientou-se para o isolamento de sua principal ameaça, que emana de Washington, mediante a promoção exclusiva de organizações da área da América Latina e do Caribe, o fortalecimento do comércio e os acordos de investimento regionais, e a confirmação de aliados regionais opostos ao intervencionismo, os pactos militares e as bases dos Estados Unidos, e os golpes militares apoiados por este país.
Em resposta ao financiamento estadunidense de grupos da oposição venezuelana (eleitorais e extraparlamentares), Chávez brindou apoio moral e político aos grupos anti-imperialistas em toda a América Latina. Após Israel e os sionistas estadunidenses terem começado a atacar a Venezuela, Chávez expressou seu apoio aos palestinos e estreitou os laços com o Irã e outros movimentos e governos árabes anti-imperialistas. Acima de tudo, Chávez fortaleceu seus laços políticos e econômicos com Cuba, e realizou consultas com a dirigência cubana para formar um eixo radical de oposição ao imperialismo. Os esforços de Washington de abafar a revolução cubana mediante o embargo econômico viram-se minados pelos acordos econômicos a larga escala e longo prazo de Chávez com Havana.
Até a última parte da década, a política exterior da Venezuela -seus interesses de Estado- coincidem com os interesses dos governos de esquerda e os movimentos sociais em toda a América Latina. Chávez enfrentou-se diplomaticamente com os Estados satélites de Washington no hemisfério, especialmente com Colômbia, encabeçada pelo presidente dos esquadrões da morte e o narcotráfico, Álvaro Uribe (2002-2010). No entanto, nestes últimos anos assistimos a várias mudanças externas e internas e a uma viragem gradual para o centro.
O auge revolucionário na América Latina começou a ceder. Os levantamentos de massas levaram ao poder governos de centro-esquerda, que, por sua vez, desmobilizaram os movimentos radicais e adotaram estratégias baseadas na exportação de produtos agropecuários e minerais, ao mesmo tempo em que desenvolviam uma política exterior autônoma independente com respeito a Estados Unidos. Os movimentos guerrilheiros colombianos estavam à defensiva e diminuia sua capacidade de amortecimento para a Venezuela ante um governo colombiano hostil. Chávez adaptou-se a estas novas realidades, convertendo-se em um seguidor acrítico dos regimes social-liberais de Lula no Brasil, Morales em Bolívia, Correa no Equador, Vázquez no Uruguai e Bachelet no Chile. A cada vez com mais frequência, Chávez buscava o decidido apoio diplomático imediato dos regimes existentes acima de qualquer apoio de longo prazo, que poderia ser o resultado de uma renascença dos movimentos de massas. Os laços comerciais com o Brasil e com a Argentina e o apoio diplomático dos outros estados da América Latina ante uns Estados Unidos a cada vez mais agressivos converteram-se em elemento fundamental da política exterior da Venezuela. A base da política venezuelana já não era a política interna dos regimes de centro-esquerda e de centro, e sim seu grau de apoio a uma política exterior independente.
As repetidas intervenções dos EUA não puderam gerar um golpe de Estado bem sucedido ou uma vitória eleitoral contra Chávez. Como resultado, Washington utilizou a cada vez mais as ameaças externas através de seu satélite colombiano, Estado destinatário de 5.000 de dólares milhões em ajuda militar. A escalada militar da Colômbia, suas cruzes de fronteira e a infiltração de esquadrõe da morte em Venezuela, obrigou a Chávez a uma importante aquisição de armas da Rússia e à formação de uma aliança regional (ALVA).
O golpe militar apoiado pelos Estados Unidos em Honduras provocou uma reformulação importante da política da Venezuela. O golpe derrocava um liberal de centro eleito democraticamente, o presidente Zelaya, em um país membro da ALVA, e estabeleceu um regime repressivo subordinado à Casa Branca. No entanto, o golpe teve o efeito de isolar os EUA na América Latina: nem um só governo apoiou o novo regime de Tegucigalpa. Inclusive os regimes neoliberais da Colômbia, México, Peru e Panamá votaram a favor de expulsar Honduras da Organização de Estados Americanos (OEA). Por um lado, a Venezuela viu nesta unidade da direita e o centro-esquerda uma oportunidade para recompor as relações com os governos conservadores; por outro, compreendeu que o governo de Obama estava disposto a utilizar a opção militar para recuperar seu domínio.
O temor a uma intervenção militar dos EUA incrementou-se muito com o acordo entre Obama e Uribe pelo que se estabeleciam sete bases militares estratégicas estadunidenses perto da fronteira com a Venezuela. Chávez vacilou em sua resposta a esta ameaça imediata. Em um primeiro momento, quase rompeu os relacionamentos comerciais e diplomatas com a Colômbia, para depois se reconciliar de imediato com Uribe, embora este último não mostrasse nenhum desejo de assinar um pacto de coexistência.
Entretanto, as eleições de 2010 ao Congresso da Venezuela levaram a um aumento importante do apoio eleitoral da direita apoiada por Estados Unidos (aproximadamente 50%) e a uma maior representação no Congresso (40%). Enquanto a direita aumentava seu apoio dentro da Venezuela, a esquerda na Colômbia, tanto a guerrilheira como a eleitoral, perdia terreno. Chávez não podia contar com nenhum contrapeso imediato contra uma provocação militar.
Chávez estava ante várias opções. A primeira, voltar à anterior política de solidariedade internacional com os movimentos radicais; a segunda, continuar trabalhando com os regimes de centro-esquerda, ao mesmo tempo que criticava e mantinha uma firme oposição aos governos neoliberais apoiados pelos EUA; e a terça, virar à direita, mais concretamente buscar uma aproximação com o recém eleito presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e assinar um amplo acordo político, militar e econômico pelo que Venezuela se comprometia a colaborar na eliminação dos adversários esquerdistas da Colômbia a mudança do compromisso de não agressão (Colômbia limitaria as narcoincursiones transfronteiriças e as incursões militares).
Venezuela e Chávez decidiram que as FARC eram um impedimento e que o apoio dos movimentos radicais sociais colombianos não era tão importante como o estreitamento dos relacionamentos diplomáticos com o presidente Santos. Chávez calculava que cumprir com as demandas políticas de Santos proporcionaria uma maior segurança para o estado venezuelano que confiar no apoio dos movimentos de solidariedade internacionais e seus próprios aliados radicais internos entre os sindicatos e os intelectuais.
De acordo com este giro à direita, o regime de Chávez cumpriu as petições de Santos de deter guerrilheiros das FARC e do ELN, bem como um destacado jornalista esquerdista, e extraditar para um Estado que detém o pior historial de direitos humanos nas Américas desde faz mais de duas décadas em termos de tortura e assassinatos extrajudiciais. Esta viragem à direita tem um caráter ainda mais ominoso se se considerar que a Colômbia tem mais de 7.600 presos políticos, dos quais 7.000 são sindicalistas, camponeses, indígenas, estudantes, isto é, não combatentes. Ao ceder às demandas de Santos, a Venezuela nem sequer seguiu os protocolos estabelecidos pela maioria dos governos democráticos, e não exigiu qualquer garantia contra a tortura e de respeito de um processo judicial correto. Por outra parte, quando algumas vozes críticas assinalaram que estas extradições sumarias violam os próprios procedimentos constitucionais da Venezuela, Chávez lançou uma feroz campanha de calúnia contra seus críticos, os qualificando de agentes do imperialismo envolvidos em um complô para desestabilizar seu regime.
O novo aliado de direita de Chávez, o presidente Santos, não pagou com a mesma moeda: a Colômbia segue mantendo estreitos vínculos militares com o inimigo principal da Venezuela em Washington. De fato, Santos segue despudoradamente o programa da Casa Branca: pressionou com sucesso Chávez para que reconhecesse o governo ilegítimo de Lobo em Honduras, produto de um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos, em troca do regresso do derrocado presidente Zelaya. Chávez fez ainda o que nenhum outro presidente latino-americano de centro-esquerda se tinha atrevido a fazer: comprometeu-se a apoiar o regresso à OEA do governo ilegítimo de Honduras. Sobre a base do acordo Chávez-Santos, a oposição latino-americana a Lobo afundou-se e Washington conseguiu seu objetivo estratégico de legitimar um governo fantoche.
O acordo de Chávez com Santos para reconhecer o governo assassino de Lobo traiu a luta heroica do movimento de massas de Honduras. Nem um só dos servidores públicos hondurenhos responsáveis por mais de uma centena de assassinatos e desaparecimentos de dirigentes camponeses, jornalistas, ativistas pró direitos humanos e pró democracia estão sujeitos a investigação judicial. Chávez deu sua bênção à impunidade e à continuação do aparelho repressivo completo, apoiado pela oligarquía hondurenha e o Pentágono.
Por outras palavras, para demonstrar sua vontade de defender seu pacto de amizade e de não agressão com Santos, Chávez esteve disposto a sacrificar a luta de um dos movimentos mais prometedores e valentes pró democracia nas Américas.

O que é que Chávez busca com sua conciliação com a direita?

Segurança? Chávez recebeu só promessas verbais e algumas expressões de gratidão de Santos. No entanto, o enorme comando militar pró estadunidense e a missão dos EUA continuam no lugar. Por outras palavras, não terá desmantelamento das forças paramilitares e militares colombianas agrupadas ao longo da fronteira com a Venezuela, nem também não terá marcha atrás nos acordos das bases militares dos EUA, que ameaçam a segurança nacional venezuelana.
Segundo diplomatas venezuelanos, a tática de Chávez é ganhar Santos sacando-o da tutela dos EUA. Nediante sua amizade com Santos, Chávez espera que Bogotá não participe em nenhuma operação militar conjunta com os EUA nem que coopere em futuras campanhas de desestabilização propagandística. No breve tempo decorrido depois do pacto Santos-Chávez, um Washington encorajado anunciou já um embargo à empresa estatal petroleira da Venezuela com o apoio da oposição no Congresso venezuelano. Santos, por sua vez, não cumpriu o embargo, mas por outra parte nem um só país no mundo seguiu o exemplo de Washington. Claramente, o presidente Santos não vai pôr em perigo para a cifra anual de 10.000 milhões de dólares em comércio entre a Colômbia e a Venezuela com o fim de satisfazer o capricho da Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.
Conclusão
Em contraste com a política de Chávez de entregar os exilados de esquerda e os guerrilheiros a um regime autoritário de direita, o presidente Allende no Chile (1970-73) participou em uma delegação que deu as boas-vindas a combatentes que fugiam da perseguição em seus países, Bolívia e Argentina, e lhes ofereceu asilo. Durante muitos anos, especialmente na década de 1980, o México, com governos de centro-direita, reconhecia abertamente o direito de asilo para os refugiados e guerrilheiros de esquerda da América Central (El Salvador e Guatemala). A Cuba revolucionária, durante décadas, ofereceu asilo e tratamento médico aos refugiados e guerrilheiros que fugiam das ditaduras latino-americanas, e recusou as demandas de extradição.
Inclusive em 2006, quando o governo cubano buscava estabelecer relacionamentos de amizade com a Colômbia e seu ministro de Relacionamentos Exteriores, Felipe Pérez Roque, expressava suas sérias reservas a respeito das FARC em conversas com este autor, Cuba se negou a extraditar guerrilheiros a seus países de origem, onde iam ser torturados e maltratados. Um dia antes de deixar o cargo, em 2011, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, recusou a petição da Itália de extraditar Cessar Battisti, um ex guerrilheiro italiano. Como disse um juiz brasileiro -e é algo que Chávez deveria escutar-: "O que está aqui em jogo é a soberania nacional. Nem mais, nem menos."
Ninguém poderia criticar os esforços de Chávez para reduzir as tensões fronteiriças mediante o desenvolvimento de melhore relacionamentos diplomáticas com a Colômbia e alargar os fluxos comerciais e de investimento entre os dois países. O que é inaceitável é que se descreva o homicida regime colombiano como um amigo do povo da Venezuela e um sócio para a paz e a democracia, enquanto milhares de presos políticos democratas apodrecem nos cárceres colombianos, infestadas de tuberculose, durante anos por cargos inventados. Baixo Santos, os ativistas civis seguem sendo assassinados quase todos os dias. O mais recente crime aconteceu a 9 de junho de 2011: Ana Fabricia Córdoba, líder de uma comunidade de camponeses deslocados, foi assassinada pelas forças armadas colombianas. O abraço de Chávez com a narcopresidência de Santos vai para além das exigências que impõe a manutenção de relacionamentos diplomáticas e comerciais. Sua colaboração com os serviços secretos colombianos, os militares e a polícia secreta na caça e deportação de esquerdistas (sem o devido processo) cheira a cumplicidade na repressão ditatorial e serve para alienar aos partidários mais consequentes da transformação bolivariana da Venezuela.
O papel de Chávez na legitimação do golpe de Estado de Honduras, sem ter em conta as demandas de justiça dos movimentos populares é uma capitulação clara ante a linha política de Santos-Obama. Esta linha de ação coloca os interesses do Estado da Venezuela acima dos direitos dos movimentos populares de Honduras. A colaboração de Chávez com Santos na vigilância dos esquerdistas e a debilitação das lutas populares em Honduras propõem sérios interrogantes quanto à tão badalada solidariedade revolucionária da Venezuela. Sem dúvida, semeia de profunda desconfiança os futuros relacionamentos com os movimentos populares que pudessem estar em luta com um dos sócios diplomáticos e econômicos de centro-direita de Chávez.
O que é particularmente preocupante é que os regimes mais democráticos, inclusive os de centro-esquerda, não sacrificam os movimentos sociais de massas no altar da segurança quando normalizam relações com um adversário. Certamente, a direita, especialmente nos EUA, protege seus ex clientes, aliados, oligarquias de extrema-direita e terroristas no exílio dos pedidos de extradição apresentadas pela Venezuela, Cuba e Argentina. Assassinos de massas e terroristas que colocaram bombas em aviões seguem vivendo comodamente na Flórida. O submetimento às exigências de direita dos colombianos, enquanto se queixa da proteção dos EUA a terroristas culpados de crimes na Venezuela, só pode ser explicado pela guinada ideológica de Chávez para a direita, que faz deste um país mais vulnerável às pressões para obter novas e maiores concessões no futuro.
Chávez já não está interessado em apoiar a esquerda radical. Sua definição da política estatal gira em torno de garantir a estabilidade do socialismo bolivariano em um país, inclusive se isso implicar sacrificar os militantes colombianos ante um Estado policial e os movimentos pró democracia de Honduras ante um regime ilegítimo imposto pelos Estados Unidos.
A história oferece lições encontradas. Os acordos de Stalin com Hitler foram um desastre estratégico para o povo soviético; uma vez que os fascistas conseguiram o que queriam, deram uma viragem e invadiram a Rússia. Chávez até agora não recebeu nenhuma concessão recíproca que justifique a confiança na máquina militar de Santos. Inclusive em termos de uns estreitos interesses de estado, sacrificou aliados leais em troca de promessas vazias. O Estado imperial dos EUA é o aliado principal Santos e seu grande fornecedor militar. A China sacrificou a solidariedade internacional por um pacto com os EUA, uma política que conduziu para uma exploração capitalista não regulamentada e a profundas injustiças sociais.
Se chegar a produzir-se um confronto entre os EUA e Venezuela, será capaz Chávez, ao menos, de poder contar com a neutralidade da Colômbia? Se os relacionamentos passados e presentes servirem de indicação, a Colômbia irá ficar do lado de seu cliente-mestre, mega-bem feitor e mentor ideológico. Quando se produzir uma nova ruptura, poderá contar Chávez com o apoio dos militantes que foram encarcerados, os movimentos populares que afastou e com os movimentos e intelectuais internacionais que caluniou? À medida que os EUA forem para novas confrontações com a Venezuela e intensificar suas sanções econômicas a solidariedade nacional e internacional será vital para a defesa da Venezuela. Quem vai defender a revolução bolivariana, os Santos e Lobos deste mundo "realista" ou os movimentos de solidariedade nas ruas de Caracas e das Américas?

Tradução do Diário Liberdade.

Movimentos sociais se unem na Marcha da Liberdade do Rio de Janeiro

Thais Leitão no JB
Usando faixas, cartazes, adereços, malabares e megafones, os manifestantes chamavam a atenção da população e convidavam moradores e frequentadores do bairro a se juntar ao grupo, com gritos de “Vem pra liberdade”. No percurso, também faziam coro para se manifestar sobre temas variados.
De acordo com o organizador do evento, Renato Cinco, a manifestação, que seria inicialmente para defender a descriminalização do uso da maconha, ganhou o apoio de outros movimentos e mudou de nome. Na última quarta-feira (15), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu liberar marchas pela descriminalização das drogas no país.
“A princípio seria a Marcha da Maconha, mas muita gente resolveu se juntar para defender a liberdade como uma coisa mais ampla. Todos têm o direito de se expressar livremente e isso é o mais importante” disse.
Com a palavra liberdade escrita com tinta branca no braço e uma coroa de flores sobre a cabeça, a malabarista Íris Medeiros, de 21 anos, resolveu participar do evento com outros três amigos porque espera que os artistas de rua ganhem mais reconhecimento da sociedade. “Ainda somos discriminados e precisamos ter liberdade de estar na rua, de nos expressarmos e de levar nossa arte a todo lugar”, disse.
A advogada Meli Trentin marchou com a filha Rita, de 1 ano, no colo. Segundo ela, em todos os setores, é possível ver discriminação, mas nos grupos tradicionalmente excluídos ela é mais visível. “Estamos vivendo um momento em que se discute a ampliação do sistema penal, em que movimentos sociais ainda são criminalizados e a classe média é oprimida. Temos que lutar contra isso e eu trouxe a Rita porque espero que ela ajude a construir um mundinho melhor”, afirmou.
Segurando um cartaz que chamava a atenção para a existência de drogas liberadas pela legislação, como cigarro e álcool, o técnico de planejamento Leandro Schmidt defendia a descriminalização da maconha. “O capitalismo exige que algumas drogas sejam legalizadas, mas com a maconha é diferente. Não precisamos inventar a roda, ela [a maconha] já é liberada em outros países que têm inclusive regras de uso”, defendeu.
A representante do movimento gay Márcia Marçal carregava uma bandeira com as cores do arco-íris para criticar a homofobia. Segundo ela, as ações para coibir a violência contra gays, lésbicas, transexuais e travestis precisam ser mais intensas. “Milhares de gays são mortos a cada ano e é preciso que isso acabe”, defendeu.