sábado, 26 de maio de 2012

Considerações sobre a reprovação dos educadores



Eunice Couto*
Professora Estadual
Para o Amigos

Impossível não ouvir, sem despertar a indignação dos educadores, os comentários acerca da baixa aprovação no concurso do magistério gaúcho. Em primeiro lugar, creio ser importante analisar o resultado como consequência das políticas educacionais implantadas no país ao longo das últimas duas décadas.

No início da década de 90 a disciplina de Língua Portuguesa contava com quatro ou cinco horas-aulas semanais para o Ensino Médio e ainda eram ensinados conteúdos gramaticais relevantes, sem que os professores fossem tachados de pré-históricos. Atualmente a carga horária diminuiu (duas a três aulas semanais) e tais assuntos – cobrados em qualquer concurso público de forma tradicional – devem ser trabalhados de forma disfarçada. Leia-se: superficial!

Por outro lado, há que se refletir sobre quantos desses quase 70 mil inscritos são vítimas da “expansão universitária”, a qual, entre outros aspectos, possibilitou a criação de centenas de universidades a distância, dessas que “formam” licenciados em Letras, Pedagogia, História, Biologia, etc, em dois ou no máximo dois anos e meio, a baixo custo, “popularizando o acesso ao diploma”. Destaque para o termo ‘Popularizar’ que, aqui, significa baixar a qualidade.

Ainda importantíssimo pensar que, ao contrário do que apregoam os governos sobre avaliação escolar e reprovação – buscando inclusive responsabilizar os educadores pelo baixo rendimento dos alunos, sem considerar aspectos gerais da vida dos educandos – o formato da prova exigia pontuação mínima de 60% em cada uma das quatro partes que a compunha: Língua Portuguesa, Legislação, Conhecimentos Pedagógicos e Conhecimentos Específicos. Ou seja, o candidato poderia totalizar 70% da prova, mas se numa delas não atingisse os 60%, estaria desclassificado.

Além dessas observações, outros pontos necessitam de atenção:

• Foram abertas 10 mil vagas, porém o número de contratos, ditos emergenciais, é bem superior a este número. Assim, o problema da falta de profissionais não seria solucionado, nem mesmo para o ano de 2013 por este concurso;

• Existe uma lei que prevê um piso salarial nacional (proporcional às 20 horas semanais) de R$ 725,50, em 2012, mas o salário básico oferecido no Edital é de apenas R$ 395,54;

• O valor da inscrição variava entre R$ 53,38 (para a formação mínima: Ensino Médio/Magistério) e R$ 121,70 (para formação em curso superior) – um dos processos seletivos mais caros, observando, principalmente, a remuneração oferecida.

Ao considerar esses aspectos, pode-se imaginar que houvesse seriedade na promoção do certame? Real interesse na solução dos problemas de falta de professores na rede pública de ensino do RS? Ou seria, além de fazer um bom caixa – fala-se numa arrecadação aos cofres públicos em torno de R$ 8 milhões (!?) – passar a ideia de atender a uma reivindicação ou promessa eleitoral e, por fim, consolidar suas posições de desmoralizar a categoria e justificar o não cumprimento da lei salarial perante a sociedade?

Ainda há outro ponto importante: é necessário, ao Estado, manter o maior número de profissionais contratados, precarizados, ou seja, sob a ameaça da perda do emprego, caso não se submetam às suas determinações; como também é fundamental que esses trabalhadores não tenham vínculos, não tenham direito à estabilidade, não gerem ônus futuros.

Simplificando: este concurso foi apenas engodo, ilusão para toda a sociedade gaúcha, passando a ideia de que o governo é bom, os trabalhadores é que não se esforçam, são preguiçosos ou desinteressados e, assim, colocar a população contra si própria.

* Eunice Couto é natural de Caçapava do Sul, Licenciada em Letras - Língua e Literatura Portuguesa pela URCAMP/Bagé, em 1991, Especialista em Educação, Professora na rede pública há 25 anos, sendo 17 anos somente na rede pública estadual e militante no movimento sindical desde 2000. Há 3 anos leciono no Colégio Estadual Dom João Braga, no Ensino Médio e Fundamental diurno. "Acredito na mudança da sociedade, rumo à justiça social, mas esta passa, inevitavelmente, pela educação e pela explicação nítida e objetiva acerca dos fatos que nos cercam" - diz a autora.

“Tenho noção da minha responsabilidade”, diz Brizola Neto no RS


PDT-RS
Encontro com Brizola Neto no diretório gaúcho do PDT contou com presença de lideranças estaduais da sigla | Foto: PDT-RS

Rachel Duarte no SUL21

A primeira aparição pública do ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto (PDT) fora de Brasília foi ao estado berço do trabalhismo. Nesta sexta-feira (25), ele cumpre agendas partidárias no Rio Grande do Sul, que incluem conversas com correligionários, visita ao prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT) e um ato de recepção na sede do Partido Democrático Trabalhista. O ministro permanece no estado até sábado (26), quando participa da abertura do XV Congresso Estadual da Juventude Socialista do PDT. Nas primeiras palavras proferidas em solo gaúcho, o ministro afirmou que sabe o peso de ser um brizolista no governo federal. “Tenho noção da minha responsabilidade”, disse na primeira agenda com os trabalhistas.

O primeiro compromisso foi cedo da manhã, em um café de recepção ao novo ministro escolhido por Dilma Rousseff entre uma lista de três nomes oferecidos pelo PDT. O baixo quórum no ato refletiu que as divergências internas com a escolha da presidenta ainda não foram superadas. Os trabalhistas gaúchos desejavam ver uma das principais lideranças do partido no RS, o deputado federal Vieira da Cunha no lugar do neto de Leonel Brizola. Mas a decisão pessoal de Dilma prevaleceu. “A gente entende estas coisas no processo de articulações e preferências pessoais mas, no momento em que isso é definido, nós temos o compromisso partidário e com o trabalhismo brasileiro para nos unir. Eu sei que ele (Vieira da Cunha) sabe que isso é forte nele e em mim, será isso que nos unirá”, falou ao final do ato.

Porém, o parlamentar não esteve no ato e justificou motivos de agenda. “Nos avisaram que ele estava viajando. Eu lamento. Ele é uma grande liderança no partido, mas com certeza deve estar em algum compromisso mais importante que este aqui”, disse a deputada estadual Juliana Brizola. Segundo ela, o momento de disputa já deveria ter sido superado. “Agora já temos um ministro indicado pela presidenta. Espero que os companheiros preteridos por um motivo ou outro também olhem pra frente, para uma construção coletiva”, disse.
Ouvindo as primeiras palavras do ministro ao PDT gaúcho estavam o ex-governador Alceu Collares; o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati; o deputado federal Giovani Cherini; o deputado estadual Gilmar Sossela e os representantes do PDT no governo Tarso Genro, Kalil Sehbe, Ciro Simoni e Afonso Mota. Outros parlamentares do estado e da capital, bem como representantes de outros municípios também estiveram presentes, formando um enxuto grupo de anfitriões.
A ausência do deputado federal Vieira da Cunha estava passando despercebida. Nas saudações a Brizola Neto, muitos votos de êxito ao novo ministro a frente da pasta do Trabalho e reconhecimentos ao legado brizolista que ele carrega em seu nome. E, a afirmação de unidade no partido fez parte da todas as falas.
“Vim buscar a nossa unidade partidária. Todos que fazem gestos assim pensam no crescimento do partido. Estamos à vontade com a sua presença”, disse o presidente do PDT-RS, Romildo Bolzan Jr.. Em nome dos sete deputados da bancada gaúcha na Assembleia Legislativa do RS, Gilmar Sossela disse que “a indicação de Brizola Neto honrou o partido”. Já o deputado federal Giovani Cherini disse que, apesar de alguns processos aguçarem as diferenças internas, o momento exige unidade. “Temos que aproveitar a representatividade no governo federal e reforçar o partido para disputar as eleições”, falou.

“Só vou ficar feliz quando Vieira da Cunha abraçar o ministro”, diz Collares

Prefeito de Porto Alegre José Fortunati (PDT) recebeu confirmação de apoio de Brizola Neto para sua reeleição | Foto: Jefferson Bernardes

Foi quando o ex-governador Alceu Collares usou a palavra para fazer sua saudação “ao menino que recebe uma nobre tarefa”, que a ausência de Vieira da Cunha foi posta na mesa. “Cadê o Vieira da Cunha que eu não to vendo aqui?”, perguntou o líder trabalhista. Ao ser informado da razão da viagem, disse que se tratava de uma velha desculpa. “Eu só vou ficar feliz quando o Vieira abraçar o ministro”, disse arrancando aplausos.
Antes que o ministro se justificasse que pretende resolver qualquer mal-estar ainda existente junto ao parlamentar, Collares seguiu expondo outras feridas do partido. “Os últimos acontecimentos da pasta do Trabalho foram lamentáveis. Este ministério foi criado pelo trabalhismo de Getúlio Vargas. Brizola Neto precisa restabelecer as funções esvaziadas, por diversos motivos, do Ministério do Trabalho”, falou. E deu um conselho digno de um antigo quadro partidário. “Ele assume com obrigação da unidade e terá que construí-la, pois não sei se teremos outra oportunidade”, disse.

Recuperar o tradicional trabalhismo no governo de uma trabalhista

Embora a visita de Brizola Neto ao Rio Grande do Sul não seja ministerial, ele aproveitou para reforçar suas intenções como representante do governo federal. “O trabalho era assunto de polícia antes da era Vargas. Depois da redemocratização, os autênticos trabalhistas e os novos trabalhistas tiveram diferenças de projetos de poder. Hoje, precisamos retomar nossa afinidade pelo bem do crescimento econômico do país com justiça social”, falou.
Brizola Neto diz que está à vontade no governo Dilma, devido à trajetória da presidenta no PDT gaúcho. O ministro disse que reconhece o peso de ser neto de Leonel Brizola, mas que está confiante no espaço dado a ele por Dilma. “Apenas fazer lembrar a memória de Brizola no país já seria suficiente, mas vou cumprir os compromissos pelo tradicional trabalhismo no governo Dilma”, garantiu aos colegas de partido.
Segundo ele, a principal tarefa será devolver o protagonismo da pasta antes dos escândalos de suspeitas de esquema de propinas que resultou na queda do antecessor Carlos Lupi. “Precisamos voltar a contribuir para colocar o trabalho como instrumento principal para o desenvolvimento nacional. O crescimento da economia brasileira esta relacionado com a valorização do trabalho e do trabalhador”, disse.
Sobre o encontro com Vieira da Cunha, o ministro desconversou. “A gente sempre se fala e se procura”. A irmã, deputada Juliana Brizola defendeu que “terão outras oportunidades para ele abraçar o deputado”.
Após deixar o ato na sede estadual do PDT gaúcho, o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto visitou o ex-marido de Dilma Rousseff, Carlos Araújo. Sobre o apadrinhamento de Araújo na indicação para o ministério, Brizola Neto disse que “é um grande amigo e foi um grande orientador na trajetória que eu tenho”.

1 milhão de vagas para Porto Alegre no Pronatec

Ministro Brizola Neto visita prefeito de Porto Alegre José Fortunati nesta sexta-feira | Foto: Luciano Lanes / PMPA

Em visita ao prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o ministro Brizola Neto anunciou a abertura de 1 milhão de vagas para cursos de qualificação em Porto Alegre, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Segundo o ministro, a coordenação do Pronatec será dividida com o ministério da Educação (MEC). A visita ao prefeito teve o objetivo de consolidar a parceria da União com os municípios. “Dependemos 100% das prefeituras para execução dos programas do governo federal na área da qualificação profissional”, destacou.
Segundo Fortunati, a prefeitura já mantém convênios com o ministério para a realização de cursos de qualificação profissional. Este ano, a Secretaria Municipal do Trabalho Emprego projeta a criação de oito mil vagas em cursos na parceria com o governo federal, através dos programas Pronatec e Setorial de Qualificação (PlanSeQ). Os cursos de qualificação em Porto Alegre oferecem vagas em 40 especialidades, em áreas como comércio, serviços, construção civil, hotelaria, indústria e empreendedorismo. As novas vagas devem ser disponibilizadas até o final do ano.