segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Reflexões de Fidel Castro

SETE DIAS SEM MORTOS PELA CÓLERA

Ontem expliquei que no Haiti já morreram 1 523 pessoas como conseqüência da cólera e ao mesmo tempo as medidas adotadas pelo Partido e o Governo de Cuba.

Não pensava escrever hoje uma palavra sobre o problema. Desisto no entanto dessa idéia, para elaborar uma breve Reflexão sobre o tema.

A Doutora Lea Guido, representante da OPS-OMS em Cuba — neste momento representante de ambas as organizações nos dois países e pessoa de grande experiência —, declarou hoje à tarde que devido às atuais condições do Haiti se esperava que a epidemia afetasse 400 mil pessoas.

Por outro lado, o Vice-ministro de Saúde de Cuba e Chefe da Missão Médica Cubana, o embaixador de nosso país no Haiti e outros colegas da Missão, estiveram reunidos durante todo o dia com o presidente René Preval, a Doutora Lea Guido, o Ministro de Saúde haitiano e outros funcionários de Cuba e do Haiti, elaborando as medidas que serão aplicadas com urgência.

A missão médica cubana atende a 37 centros que enfrentam a epidemia, onde até hoje tem oferecido atendimento a 26 040 pessoas afetadas pela cólera, aos quais se somarão logo, com a Brigada “Henry Reeve”, mais 12 centros (para totalizar 49) com 1 100 novos leitos, em barracas de campanha desenhadas e elaboradas para esses fins na Noruega e outros países, já adquiridas com os fundos para enfrentar o terremoto, entregadas a Cuba por Venezuela para a reconstrução do sistema de saúde no Haiti.

Ao anoitecer de hoje chegou uma noticia alentadora do Doutor Somarriba: durante os últimos sete dias não houve nenhum falecimento pela cólera nos centros atendidos pela missão médica cubana. Seria impossível manter esse índice, visto que outros fatores podem incidir nesse resultado, mas oferece uma idéia muito reconfortante a experiência adquirida, os métodos adequados e o grau de consagração atingidos.

Satisfaz-nos igualmente que o presidente René Preval, cujo mandato finaliza no próximo dia 16 de janeiro, tenha decidido converter a luta contra a epidemia na atividade mais importante de sua vida, a qual legará ao povo do Haiti e ao Governo que o suceda.


Fidel Castro Ruz

Bolcheviques contra o racismo

Sergio Domingues no Pilulas Diárias

A esquerda costuma ser acusada de colocar em segundo plano a luta contra o racismo. Infelizmente, é verdade. Grande parte dos partidos que se assumem socialistas ou comunistas consideram esse combate como algo menor e “divisionista”. Talvez, uma herança do desprezo dos primeiros marxistas em relação aos povos não brancos.

Não foi o caso dos bolcheviques. Os revolucionários russos que tomaram o poder em 1917 eram grandes defensores das lutas anticoloniais. Por isso, conquistaram o apoio dos povos do antigo império russo. Em 1920, o 2º congresso da Internacional Comunista aprovou as “Teses sobre a questão colonial”.

O documento dizia que a “revolução proletária e a revolução nas colônias são complementares para a vitória de nossa da luta”. E que a “Internacional Comunista” deveria trabalhar “pela destruição do imperialismo nos países economicamente e politicamente dominados.” Lênin foi duro com seus antecessores. Ele dizia que para a Segunda Internacional o “mundo só existia dentro dos limites da Europa”. Desse modo, “tornaram-se eles próprios imperialistas.”

Em 1922, ocorreu o último congresso da Internacional antes de Stalin assumir o controle do partido russo. Nele, aprovaram-se as “Teses sobre a Questão Negra”. Era a primeira vez que o tema seria discutido no movimento socialista mundial.

Entre suas resoluções, estava “a necessidade de apoiar qualquer forma de resistência dos negros que busque minar e enfraquecer o capitalismo ou o imperialismo, ou barrar a sua expansão”. Além disso, lutar para “assegurar aos negros a igualdade de raça e a igualdade política e social.”

Como se vê, a luta contra o racismo faz parte da tradição revolucionária dos socialistas.

Leia as “Teses sobre a questão negra”, aqui.

Uma semana de solidariedade ao povo palestino

www.vermelho.org.br

Acompanhando calendário global, organizações da sociedade civil brasileira, juntamente com a comunidade árabe-palestina no País, realizam a Semana de Solidariedade ao Povo Palestino. Atividades centrais ocorrerão em vários estados no dia 29 de novembro próximo (confira agenda abaixo).

A data marca o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino – conforme resolução da ONU (Organização das Nações Unidas) nº 32/40 de 1977. Anualmente, em todo o mundo, ocorrem inúmeras manifestações no período. No Brasil, é também lei em várias localidades.

Em 29 de novembro de 1947, portanto há 63 anos, em Assembleia-Geral da ONU, foi aprovada a Resolução nº 181, que decidiu pela partilha do território da Palestina histórica para o estabelecimento de um estado judeu e um árabe, sem qualquer consulta aos habitantes locais. Como consequência, o Estado de Israel foi implementado em 15 de maio de 1948 e o da Palestina não foi assegurado, culminando na nakba (catástrofe), em que foram expulsos mais de 700 mil palestinos de suas casas e centenas de vilas foram destruídas. O resultado é a ocupação mais longa do período contemporâneo, que tem sido aprofundada, ao arrepio das leis e convenções internacionais. Uma das maiores injustiças de que se tem notícia na história.

Consequentemente, todos os direitos inalienáveis do povo palestino têm sido desrespeitados: à autodeterminação, à saúde, à educação, a transitar livremente. Um muro em construção desde 2002, que corta a Cisjordânia ao meio – projetado para ter 720 metros de extensão e 9 metros de altura –, e centenas de checkpoints e assentamentos sionistas, além de estradas exclusivas proibidas a palestinos, são símbolos do apartheid que se configura no território ocupado. Em Gaza, o lugar mais densamente povoado do mundo, com 1,5 milhão de pessoas que se espremem em cerca de 360km2, um bloqueio criminoso tem feito com que grasse a fome e a miséria, numa punição coletiva que deveria ser impensável em pleno século 21. O território palestino, mediante esses aparatos, é mantido sob a forma de bantustões à la África do Sul. É hoje impossível, por exemplo, ir da Cisjordânia a Gaza.

Diante da barbárie, realizar atividades em 29 de novembro faz-se urgente. É uma forma de o mundo levantar suas vozes e clamar pelo fim imediato da ocupação na Palestina. A semana de solidariedade pretende contribuir para dar visibilidade a essa questão e lembrar que, dia após dia, famílias são separadas, plantações são destruídas, crianças são impedidas de ir à escola e mães, de dar à luz com dignidade. Mais do que isso: soma-se às iniciativas em que a comunidade internacional é chamada à responsabilidade pela drástica situação na Palestina e cobrada a dar continuidade a ações concretas que pressionem e levem à mudança dessa realidade.

Confira a programação e participe! É por direitos humanos e justiça!

Semana de Solidariedade ao Povo Palestino no Brasil

SÃO PAULO/SP
Semana do Povo Palestino
Dia: 29 de novembro de 2010 – segunda-feira
Horário: 14h
Local: FEA-USP Sala G-1
Instituto de Relações Internacionais
Exibição do documentário: Palestina Espera
(Palestine is waiting, EUA-Palestina, 2001, cor, 10 min -documentário)
Direção: Annemarie Kattan Jacir
Há mais de 5 milhões de refugiados palestinos, muitas vezes indesejados, vivendo em condições-limite em todo o mundo.
Participação: Maren Mantovani
Analista política, diretora de Relações Internacionais da Campanha Palestina contra o Muro do Apartheid e Representante para a América Latina do Comitê Nacional Palestino por Boicotes, Sanções e Desinvestimento (BNC)

Dia: 29 de novembro de 2010 - segunda-feira
Horário: 19h
Local: Auditório Franco Montoro - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - Av. Pedro Álvares Cabral, 201
Atividade: Ato político com convidados e autoridades, exibição de curta-metragem e poesias árabes. Participação de representante do movimento Stop the Wall.
Organização: Frente em Defesa do Povo Palestino
frentepalestina@yahoo.com.br

Dia: 4 de dezembro de 2010 - sábado
Horário: 16h
Local: Matilha Cultural - Rua Rego Freitas, 542
Atividade: Exibição dos filmes:
Ponto de Encontro (Encounter Point) - Direção: Júlia Bacha e Ronit Avni. Documentário, 85 min, 2008 e Nós e os Outros (Selves and Others, A Portrait of Edward Said) - Direção: Emmanuele Hamon. Documentário, 54 min, 2003.
Haverá debate com a participação de companheiros que participaram do Fórum Mundial da Educação na Palestina
Realização: Núcleo de Estudos Edward Said - Instituto da Cultura Árabe, Oboré e Matilha
Apoio: Frente em Defesa do Povo Palestino
contato@icarabe.org

CAMPINAS/SP
Dia: 24 de novembro de 2010 – quarta-feira
Local: Facamp – Faculdades de Campinas (Estrada Municipal Unicamp - Telebrás km 1, s/nº - Cidade Universitária)
Apresentação das pesquisas sobre a Palestina – história – sionismo e holocausto

Dia: 29 de novembro de 2010 – segunda-feira
Locais e atividades: Câmara Municipal de Campinas – homenagem à data Parque da Paz e Memorial Yasser Arafat – visitação pública
Colóquio – Mostra Afro-brasileira – Secretaria Municipal de Educação
Realização: Instituto Jerusalém do Brasil
institutojerusalembr@terra.com.br

PORTO ALEGRE/RS
Dia: 29 de novembro de 2010 - segunda-feira
Horário: 19h
Local: Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul – Praça Mal. Deodoro, 101
Atividade: Sessão com convidados, Embaixada da Autoridade Palestina na República Federativa do Brasil e Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados)
Organização: Comitê Gaúcho de Solidariedade ao Povo Palestino
comitepalestinars@gmail.com

FLORIANÓPOLIS/SC
Dia: 30 de novembro de 2010 - terça-feira
Horário: 19h
Local: Câmara de Vereadores - Plenário do Centro Legislativo Municipal
Rua Anita Garibaldi, 35 - Centro
Atividade: Sessão solene e Ato político com convidados e autoridades
Lei 34/40 PMF – 1990 - 29 de novembro - Dia Municipal de Solidariedade ao Povo Palestino em Florianópolis
Lei nº 13850 - 2006 - Dia Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino em Santa Catarina
Organização: Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino
comitepalestinasc@yahoo.com.br

BALNEÁRIO CAMBORIÚ/SC
Semana de Difusão da Cultura Árabe-Palestina
22 a 29 de novembro de 2010
Dia: 24 - quarta-feira
Horário: 19h
Local: Biblioteca Pública Municipal Machado de Assis - 3º Avenida, esquina com Rua 2.500
Atividade: cerimônia de abertura do evento com a presença de amigos, convidados e autoridades. Entrega de certificados de participação no concurso escolar “Paz para a Palestina”. Exibição do filme: “Palestina - A história de uma terra” (Simone Bitton)

Dia: 25 - quinta-feira
Horário: 9h
Local: Auditório BI 4 - Curso de Relações Internacionais – Univali
Campus Balneário Camboriú
Tema: Palestina: história, cultura, religião e atualidades
Palestrantes: Fairuz Saleh Bujaa - advogada, integrante do Grupo Palestino Terra / Miriam Ramoniga - advogada, mestre em Direito e professora de Direito Internacional / Saleh Bujja - palestino (80 anos) residente no Brasil há 60 anos / Queila Martins - coordenadora do curso de Relações Internacionais da Univali / Márcia Sarubbi - professora do curso de Direito e Relações Internacionais da Univali
Dia: 25 - quinta-feira
Horário: 17h
Local: Câmara de Vereadores de
Balneário Camboriú
Atividade: Acompanhamento da votação da legislação municipal que institui o “Dia 29 de novembro como o Dia de Solidariedade ao Povo Palestino no município de Balneário Camboriú - SC”
Dia: 26 - sexta-feira
Horário: 20h
Local: Restaurante Pharol - Av. Atlântica
Barra Sul, 5.740
Atividade: Jantar árabe - comidas típicas da gastronomia árabe, músicas, apresentações de danças folclóricas

Dia: 27 - sábado
Horário: 18h
Local: Livraria Nobel - Av. Alvim Bauer, 250, sl. 04 – Centro
Atividade: Cultura e lazer, exposição de livros, sugestão de roteiros de viagem, apresentações de dança do ventre e degustação de pastas e doces árabes
Organização: Instituto Amigos da Cultura
ramoniga@hotmail.com
www.amigosdaculturasc.com

RIO DE JANEIRO/RJ
Dia: 29 de novembro de 2010 - segunda-feira
Horário: 18h
Local: IFCS-UFRJ (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro) - Largo de São Francisco
Atividade: Ato político em defesa do povo palestino. Lançamento da Campanha Mundial de BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel e da Campanha de Boicote Acadêmico e Cultural. Exposição do livro “Impressões de uma brasileira na Palestina”
Organização: Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino
vivaintifada@gmail.com

BELO HORIZONTE/MG
Dia: 26 de novembro de 2010 - sexta-feira
Horário: 9h30
Local: Auditório do Instituto de Ciências Exatas Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
Atividade: Seminário de Solidariedade Internacional. Palestrante: Jadallah Safa
Comitê Democrático Palestino
Coordenação: UJC e Casa da América Latina www.seminariodesolidariedadeinternacional.
blogspot.com

AÇÃO MIDIÁTICA
Divulgação do balanço da maratona na Semana contra o muro e das atividades do dia 29 de novembro
Coordenação: Ciranda Internacional da Informação Independente e Movimento Palestina para Tod@s
www.ciranda.net e www.palestinalivre.org.

Celulares são cada vez mais importantes na África, diz ativista da FreedomFone


Amanda Rossi

A massificação dos celulares é um fenômeno vivido em toda a África. Em grande parte dos países africanos, o acesso aos telefones móveis é maior que à energia elétrica. Devido ao baixo custo do aparelho e dos serviços (muito menor que no Brasil), os celulares se transformaram em uma das poucas opções de comunicação disponíveis e assumiram diversas funções: desde de realizar pequenas operações bancárias até para receber recomendações médicas.
Considerando essa realidade, uma organização do Zimbábue chamada Kubatana procura encorajar cidadãos e a sociedade civil a usarem o celular para se mobilizarem e promoverem um “ativismo eletrônico”. Fundada em 2002, a organização desenvolveu o Freedom Fone, sistema operacional com código aberto (qualquer organização pode usar livremente o software e modificá-lo), que funciona como um disque notícias. O usuário pode receber e enviar informações em mensagens de voz ou SMS.

Efe
Upenyu Makoni-Muchemwa é ativista da Kubatana, organização que estimula o ativismo eletrônico via celular 

Upenyu Makoni-Muchemwa, ativista da Kubatana, esteve no Brasil para apresentar a experiência da organização no II Fórum de Cultura Digital, realizado entre 15 e 17 de novembro na Cinemateca, em São Paulo. Ela conversou com Opera Mundi sobre o uso dos celulares para promover cidadania e a situação de seu país, considerado o menos desenvolvido do mundo pelo último Relatório de Desenvolvimento Humano, lançado este mês.

Qual é a importância dos celulares na África? Os celulares estão se tornando cada vez mais importantes, principalmente nas áreas rurais e remotas. Há lugares no Zimbábue onde não existe nem telefonia fixa, mas existe sinal de celular, que se transforma na única ferramenta disponível para se comunicar com o resto do mundo. Nós vemos casos como a Uganda, onde as pessoas estão usando a tecnologia dos celulares para microfinanças e operações bancárias. Ao redor da África, estão usando celular na saúde.

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Qual é o número de pessoas que tem acesso a telefonia móvel no Zimbábue? Nós estimamos em 5 milhões pessoas. A população do país é de 6 milhões, segundo o último censo – realizado há 10 anos. Mais pessoas têm acesso aos celulares que à energia elétrica. A eletricidade está distribuída em grandes centros urbanos. Mas nas vilas não há eletricidade. Recentemente, foi lançado no Zimbábue um celular com bateria solar, o que o torna ainda mais acessível para as pessoas que vivem nas zonas rurais. Você não precisa mais plugar o aparelho na tomada, você apenas o coloca no sol e ele está carregado!
Como funciona o Freedom Fone? Quem o acessa, de que local, que tipo de informação as pessoas buscam? As pessoas ligam e então ouvem as informações que estão disponíveis no Freedom Fone. Você não precisa estar na Internet para usá-lo, o que o torna muito conveniente para pessoas que vivem nas áreas rurais, onde não existe acesso a computadores. O sistema também pode ligar de volta, o que é importante caso a pessoa não possa pagar.
Qualquer organização pode usar a tecnologia do Freedom Fone. Na Kubatana nós criamos um canal alternativo de mídia, em que cada número do telefone te destina para um conteúdo diferente.
Nós descobrimos que muitos estavam interessados no noticiário porque ele era equilibrado, ao contrário dos outros veículos. Não dizia que o governo era maravilhoso. Nós apenas colocamos os fatos. Quanto ao local de acesso, eu imaginava que as pessoas só escutariam em Harare (capital do Zimbábue), mas a audiência é em todo o país, mesmo nas áreas mais remotas, mesmo em uma vila com duas pessoas. Foi incrível o jeito que se espalhou.

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A informação produzida pelo Freedom Fone pode atingir mais pessoas que a produzida pelos canais informativos tradicionais, como jornais e televisão? Sim, considerando o grande número de pessoas que têm celulares - e todo mundo no Zimbábue tem celular. O nosso maior desafio no momento é fazer com que as pessoas participem, mas para isso elas precisam parar de ter medo. Há no Zimbábue a exigência de que todas as pessoas registrem suas linhas. Com o registro e a vigilância constante do governo, como fazer para que uma pessoa perceba que não há problema em ouvir informações e em informar? Sempre ouvimos a pergunta: o governo vai saber que eu estou enviando a informação, vão vir me pegar?
Em setembro, celulares foram usados para promover uma grande revolta popular em Moçambique, na fronteira com o Zimbábue, contra o aumento do custo de vida. Os celulares são um bom instrumento para mobilizar as pessoas para agendas políticas e temas sociais? No contexto africano sim e não. Os celulares têm suas limitações, mas são a mídia mais acessada e o canal mais adequado para fornecer informações para as pessoas. Então podem ser usados para promover ativismo, mobilizar. Mas o problema é que os operadores são movidos pelo lucro, não por moral. Se o governo os pressiona e diz: nós queremos saber quem está mandando essas mensagens, eles vão liberar essa informação. O registro das linhas também está ocorrendo em Moçambique. Isso torna o espaço democrático e de liberdade de discurso muito menor e ameaça o uso dos celulares para ativismo, para debater o que está acontecendo no seu país.
Recentemente, foi lançado um novo Índice de Desenvolvimento Humano, que coloca o Zimbábue na posição do país menos desenvolvido do mundo. Essa é uma realidade perceptível? Sim e não. Nós deveríamos ter progredido mais nesses 30 anos de independência. Mas em comparação com outros países, nós não estamos tão mal. Temos mais de 90% da população alfabetizada. Eu ainda não conheci uma criança zimbábueana que não soubesse ler e escrever. É verdade que nos últimos dez anos a educação sofreu muito porque não havia dinheiro, muitos professores saíram do país. Talvez, por isso, a próxima geração pode não ser tão alfabetizada quanto as que vieram antes. Eu não sei qual é o critério desse índice de desenvolvimento, mas eu não acho que seja uma classificação justa.

Em termos de desenvolvimento como eu o entendo, o Zimbábue não está mal. O país é capaz de conquistar mudança? Sim! Nosso dinheiro valia menos que nada e nós sobrevivemos. Por outro lado, se compararmos o Zimbábue com outros países, como o Brasil, com transporte público, saúde, educação, eu acho que não estamos onde deveríamos estar.
Qual é a situação do Zimbábue hoje, depois da grande crise que abateu o país?
Nós estamos lutando. Para recuperar a posição em que estávamos nos anos 90 é um trabalho grande e para avançar é um trabalho ainda maior. Estamos no meio do caminho, ainda tentando descobrir se nossa economia vai se estabilizar, se o número de empregos vai aumentar (nossa taxa de desemprego é de 90%), como essa situação vai mudar. Mas o mais importante é que o Zimbábue enfrenta hoje uma crise de liderança. Você não diz: “esta é a pessoa que vai nos tirar do ponto A e nos levar para o ponto B”. Não. Nós temos um longo caminho pela frente, há muito trabalho.