domingo, 6 de dezembro de 2015

[Hidef] O Sacrifício / Offret (1986) - Andrei Tarkovsky - Making Off

O Sacrifício
(Offret)
The.Sacrifice.1986.720p.BluRay.x264-CiNEFiLE
Poster
Sinopse
Intelectual
aposentado e ateu, Alexander vive confinado em sua casa de campo com a
mulher, o filho pequeno e seus dilemas existenciais. Durante seu
aniversário, na companhia de amigos, a televisão anuncia uma tragédia
nuclear que poderá causar a extinção da humanidade. O medo do fim leva
todos ao desespero e provoca reações inesperadas nos convidados. Movido
pela irracionalidade da fé que sempre desdenhou, o anfitrião busca uma
saída espiritual para salvar o planeta.

Último trabalho do
diretor russo Andrei Tarkovsky – e com o qual arrematou o prêmio
especial de júri e crítica em Cannes-, o Sacrifício foi rodado na Suécia
com a ajuda de colaboradores do seu grande ídolo Ingmar Bergman. Nele,
Tarkovsky dá sua última e derradeira mensagem: de que nos momentos
difíceis, mesmo aqueles que crêem no livre-arbítrio, acabam sempre
esbarrando na espiritualidade.

No desespero, toda descrença e
subversão agnóstica caem por terra e o homem cabalmente sucumbe a Deus
para encontrar refúgio. Como tudo parece um grande pesadelo, o filme
também permite outras leituras como a paranóia de um conflito nuclear,
já que a Guerra Fria ainda era presente na década de 80 ou mesmo uma
crise existencial agravada pela reclusão do protagonista.

De: http://blig.ig.com.b...ky-suecia-1986/
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)

Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Erland
Josephson, Susan Fleetwood, Allan Edwall, Guðrún Gísladóttir, Sven
Wollter, Valérie Mairesse, Filippa Franzén, Tommy Kjellqvist, Per
Källman, Tommy Nordahl

Para detalhes, vide IMDB
Gênero: Drama
Diretor: Andrey Tarkovsky
Duração: 2h 28mn
Ano de Lançamento: 1986
País de Origem: Suécia
Idioma do Áudio: Sueco
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0091670/
Qualidade de Vídeo: BR Rip
Container: MKV
Vídeo Codec: V_MPEG4/ISO/AVC
Vídeo Bitrate: 4517 Kbps
Áudio Codec: AC3
Áudio Bitrate: 640 Kbps
Resolução: 1200x720
Aspect Ratio: 1.667
Formato de Tela: Widescreen
Frame Rate: 23.976
Tamanho: 5.465 GiB
Legendas: Em anexo
Crítica
Palavras,
palavras. Teatro insuficiente das palavras. "Ninguém vai fazer nada?" –
pergunta a si mesmo o patriarca da família. "Tudo será sempre igual, se
fizermos tudo sempre da mesma forma?" O Sacrifício é o testamento de um
cinema em busca de um ultrapassamento, de um cinema em que a fissura da
superfície aparece como obsessão – de uma vida de imagens debruçadas
sobre a possibilidade da ruptura, da quebra, do estilhaçar de um certo
apaziguamento aparente das coisas. Em O Sacrifício, a normalidade
aparece na forma marcada e gélida de uma família sueca que se encontra
para comemorar o aniversário de seu patriarca. A tensão dos gestos, a
aspereza dos diálogos, a rugosidade das paredes vazias ao longo do
primeiro terço do filme, todo o teatro das cenas remete a um lugar ao
mesmo tempo de conforto/acomodação e de profundo incômodo. Há um grito
latente no perambular dos personagens, nas trocas de olhares entre pais e
filhos, patrões e empregados, maridos e esposas... Atores e mobílias da
casa parecem se igualar na sua manutenção da ordem, na sua economia dos
espaços. Em meio a toda essa frieza, o patriarca se sobressai como a
figura que carrega no peito uma angústia, um se indispor diante da
vida-posta, uma condição espiritual que dá a ele um sentido patético,
uma espécie de fantasma de gestos vagos.

É apenas com o seu
pequeno filho, porém (e só com ele), que o homem consegue travar um
embate direto – ironia-poética de Tarkovski, o menino acaba de passar
por uma cirurgia na garganta e não pode falar – se comunicando apenas
por gestos e grunhidos, sob um chapéu de pano branco que lhe esconde o
rosto. Desde o primeiro plano essa relação é estabelecida, como se
naquele menino estivesse a imagem reposta de uma esperança ainda sem
palavras. O filme se inicia assim: com os dois personagens, ao longe,
plantando juntos uma árvore à beira de um lago, enquanto o homem narra a
fábula de um homem cuja sina era regar uma árvore morta (até que ela
florescesse novamente...). Nesse certo sentimento de impossível,
Alexander (o pai) reitera a figura do desviante, do visionário trágico,
presente em diversos aspectos da obra do diretor. É ele que, numa
espécie de sonho-sono-previsão do futuro, vê ou antevê a explosão de uma
guerra nuclear de proporções mundiais que aparecia como o anúncio do
apocalipse. Alexander se ajoelha e lança os olhos para o alto: por cerca
de um minuto, faz sua súplica ao vazio, coloca a própria ordem
(família, casa, filhos) de sua vida em sacrifício e promete deixar tudo
para trás "se tudo voltar a ser como antes...". Nesse misto de transe,
de histeria, o personagem quase-nonsense do carteiro faz as vezes de um
anjo mensageiro/consciência, que sussurra para Alexander a única e
absurda saída: fazer amor com uma misteriosa empregada da casa, uma
bruxa capaz de reverter o destino trágico da humanidade.

Tarkovski
não faz diferenças de tom, de verdade, entre as possíveis alucinações e
a rotina da casa, tudo é apresentado no mesmo tom, na mesma cadência, e
às vezes o absurdo parece mais plausível do que a ordem tão
naturalizada das coisas. O filme, sem palavras claras, vai aos poucos
narrando as ações de Alexander, e nos fazendo reconhecer em suas ações
os gestos extremos das palavras proferidas em sua súplica. A casa em
chamas, uma certa alegria trágica. O Sacrifico é um elogio dos gestos
extremos, da incapacidade de deixar que tudo permaneça, do
ultrapassamento de seus sentimentos mais sedimentados para a
possibilidade de uma sobrevida do homem. Loucura e libertação andam
juntas, e é belíssimo ver como Tarkovski inscreve esse sentido na carne
do filme. É notável o longo plano-seqüência em que Alexander corre de
seus familiares e da ambulância antes de ser capturado num vasto campo
gramado – a casa em chamas ao fundo e a correria quase ridícula, tira o
filme da sintonia apática, dos gestos marcados, da câmera dura. Há um
pequeno caos, uma pequena ruptura, um pequeno sacrifício da vida como
ela é, para que a própria vida possa perpetuar-se/expandir-se para além
do hábito. O apocalipse não como fim de tudo, mas como o findar de tudo
numa repetição sem limites. O Sacrifício é um elogio do ir além, uma ode
à vida como possibilidade de reinvenção e não como manutenção do mesmo.
A saúde da loucura, sua capacidade de tirar as coisas do lugar, como
esse necessário sacrifício do espírito diante da amenização da vida.

Último
filme de Tarkovski, O Sacrifício é dedicado a seu filho e termina com o
menino de Alexander deitado aos pés da árvore morta, que ainda não
floresceu. Essa imagem final, de esperança (mais do que de melancolia), é
o plano final da filmografia do diretor. É quando ouvimos, pela
primeira vez (e somente), a voz pequena do menino e ele profere a
pergunta primeira, a mais essencial de todas ("No início era o verbo" –
ação primordial do espírito) – aquela que talvez fosse a saída para o
recomeço que o cinema de Andrei Tarkovski sempre se esmerou em intuir,
ou seja: "Por que, meu pai, por quê?".

Felipe Bragança, em Contracampo
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.


Versão
baixada do Karagarga, mas disponível em http em diversos fóruns
(HDArena, tehParadox, etc). Rip do Blu-Ray da Kino Lorber lançado
recentemente.

Upgrade de O Sacrifício / Offret (1986)

O torrent, com a legenda em inglês embutida no arquivo:

Arquivo anexado
 The.Sacrifice.1986.720p.BluRay.x264-CiNEFiLE.6553840.TPB.torrent   14.51K
  994 Downloads

A legenda em português, devidamente sincronizada:

Arquivo anexado
 The.Sacrifice.1986.720p.BluRay.x264-CiNEFiLE.rar   21.91K
  898 Downloads

sábado, 5 de dezembro de 2015

Altamiro Borges: Crise venezuelana e golpe paraguaio

Crise venezuelana e golpe paraguaio

Por Francisco Fonseca, no site Carta Maior:

A admissão do processo de impeachment da presidente Dilma, formalmente deflagrado em 03 de dezembro é o desfecho esperado de uma conjunção de fatores:

1) A derrota eleitoral do PSDB – a quarta consecutiva, nunca é demais relembrar – e do rentismo deletério que representa, o que vem implicando toda sorte de revanchismo antidemocrático

2) ascensão do carbonário deputado Eduardo Cunha, representante do que há de mais escuso na vida “pública”, com seu séquito do “baixo clero” que tem no Congresso um balcão de negócios;

3) Da saída às ruas (e do armário) da direita – com tonalidades protofascistas – proveniente das classes médias superiores, incomodada com a ampliação dos direitos sociais;

4) Do terror apocalíptico promovido pelo Partido da Imprensa Golpista (o conhecido PIG), jamais enfrentado por qualquer governo;

5) Das contradições econômicas do próprio Governo Dilma, notadamente o antissocial e o antidesenvolvimento “ajuste fiscal” levado a cabo por um neoliberal de carteirinha, e, em termos políticos, da tentativa de manutenção da esgarçada “aliança de classes” expressa na lógica da coalizão;

6) Da histórica “lógica privatizante” do Sistema Político brasileiro: financiamento legal e ilegal de campanhas e partidos, igualmente jamais reformado;

7) Da obtusa “Operação Lava Jato” quanto às ilegalidades constitucionais (notadamente prisões sem motivações legais); ao “mercado das delações premiadas”; à ilegalidade de grampos no cárcere de Curitiba com o consequente “mercado” das gravações; à seletividade de julgamentos (e de vazamentos ao PIG); e ao fato de delegar a um juiz de primeira instância tamanho poder; entre outras.

Esse conjunto de fatores torna a conjuntura altamente complexa e fluida, com movimentos e contramovimentos de lado a lado: esquerda, legalistas, progressistas e desenvolvimentista versus direita, golpistas, neoliberais e rentistas. Isso tudo com o apoio ingênuo de um sem-número de “inocentes úteis”, muitos dos quais foram às “manifestações conservadoras” promovidas e apoiadas por imorais em nome da moralidade!

Nesse contexto, o ambiente político brasileiro – institucional e social – vem sendo tumultuado e polarizado por forças conservadoras e reacionárias, tal como na Venezuela. Um sem-número de “Capriles” parece povoar nosso ambiente! Isso tudo sem Chaves, chavismo, bolivarianismo e reformas radicais!

Pois bem, a admissibilidade do processo de impeachment – deve-se considerar que o processo tem um longo caminho entre Câmara e Senado e STF – cada vez mais se assemelha com o que se deu no Paraguai com a derrubada do presidente Lugo. A “peça” produzida pelos “juristas” Reali e Bicudo, encomendada pelo PSDB com a “consultoria” de Gilmar Mendes, lida em plenário pelo “pré-cassado” (quiçá preso) Eduardo Cunha é um “faz-me-rir” jurídico. Os “argumentos” elencados – sem estofo – seriam suficientes para enforcar qualquer um num regime de exceção que nos remete a Kafka.

Diferentemente da opinião majoritária, não se tratou de “chantagem” de Cunha, pois independentemente da posição do PT o presidente da Câmara levaria o processo de impeachment a cabo, uma vez que sintetiza a reação não apenas à presidente Dilma e ao PT, e sim aos direitos sociais, trabalhistas e civis, que implicam varrer a esquerda e a agenda progressista e civilizatória: não foram esses os objetivos do PDS, depois PFL, depois DEM...e agora PSDB?

Trata-se, pois, de forças econômicas e sociais catalisadas por Cunha, isto é, da luta de classes com todas as modulações aí implicadas. Mais ainda, trata-se de redefinição – tal como está ocorrendo na Argentina neste exato momento e de longa data na Venezuela – política, econômica, social e internacional.

Derrotar os golpistas é impedir a “paraguaização política” da sociedade brasileira, consolidar o Estado de Direito Democrático e a democracia política e SOCIAL brasileira, numa perspectiva de inclusão social e internacional. Especificamente quanto à América Latina, o que ocorrer no Brasil terá enorme impacto no subcontinente.

Por tudo isso, nunca a ação de “ir às ruas” e “ocupar democraticamente os espaços públicos” foi tão importante como agora. Trata-se, com a derrota do golpismo – impedindo o impeachment –, do estabelecimento de nova correlação de forças que permitirá ao Governo Dilma de fato governar, e “virar à esquerda” com políticas econômicas progressistas e com reformas político/institucionais que sejam radicalizadoras da democracia, movimento que constrangerá o Congresso conservador a novas pautas. Poderá ser um “novo governo”, tal como o foi, guardadas as realidades distintas, o Governo Lula pós Dirceu/Palocci.

O mote da “crise como parteira da história” nunca foi vigente como nos dias de hoje. A chance de derrotar a direita – social e institucional –, reformar as instituições no sentido de aprofundar sua democratização e combater os poderes tradicionais (agronegócio, rentismo, mídia, entre inúmeros outros), renovando as políticas públicas, nunca esteve, paradoxalmente, possibilitado de maneira tão vigorosa como agora.

Depende, para tanto, dos embates e da articulação dos movimentos sociais, da defesa da legalidade pelas instituições democráticas e do amplo campo democrático. Ao PT e ao Governo Dilma caberão, como não poderia deixar de ser, papeis cruciais nesse processo, superando suas erráticas trajetórias recentes, o que implicará “virar à esquerda” se quiserem continuar relevantes na história brasileira.

A ver!