terça-feira, 25 de agosto de 2009

PSOL - seminario Internacional

Seminário Internacional do PSol declara solidariedade ao povo hondurenho e às lutas sociais na América Latina

A solidariedade com o povo hondurenho, que sofreu recente golpe militar, e o combate à presença de forças militares norte-americanas na Colômbia foram alguns dos temas mais citados na abertura do Seminário Internacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSol) na manhã da terça-feira, 18 de agosto, em São Paulo. Com o tema "Crise: Alternativas na América Latina e para o Mundo", o evento contou com a presença de representantes de movimentos e partidos de esquerda da Bolívia, Peru, Colômbia e do presidente da Fundação Lauro Campos, Milton Temer.

O primeiro integrante da mesa a falar foi o dirigente do partido Movimento para o Socialismo (MAS), Sérgio Loyaza, representante da Bolívia. Ele deu um depoimento sobre a luta do povo indígena, que representa a origem social do presidente Evo Morales, e o temor sobre a organização das forças conservadoras que querem voltar ao poder no país. "Há uma direita que está conspirando contra o nosso Governo. Temos derrotado as oligarquias na Bolívia, mas queremos que as forças indígenas e movimentos sociais se relacionem cada vez mais".

Segundo Loayza, o povo boliviano está consciente da mudança em curso. "Não marginalizamos e excluímos ninguém. Nossa filosofia é manter o clima e o equilíbrio, não existe o conceito de exploração"

Milton Temer, presidente da Fundação Lauro Campos e fundador do PSol, destacou que os temas tratados no seminário não são de interesse da grande imprensa brasileira, que está aliada ao grande capital. Completou que o partido apóia a reeleição de Evo Morales e posiciona radicalmente contra a presença das forças militares na Colômbia. "A importância deste seminário é demonstrar solidariedade com os processos revolucionários da América Latina. A esquerda existe, a utopia existe, a força dos povos tem como se impor a força do capital".

Sobre a Venezuela, de acordo com Temer, se há simpatia do governo Lula com Hugo Chávez, a motivação é mais econômica do que ideológica. "Há um superávit de US$ 5 bilhões de dólares em jogo". Ele apontou que Seminário deve elaborar um documento de desdobramentos sobre essas questões.

A resistência Colombiana e Peruana

Wilson Borja, que faz parte do Pólo Alternativo Democrático da Colômbia, também falou na abertura, acredita que a América Latina está vivendo um momento difícil por conta da crise internacional, considerada por especialistas como uma quebra do modelo neoliberal, e que as táticas e soluções devem ser renovadas.

Sobre a presença das tropas norte-americanas no país, ele explicou que o presidente Álvaro Uribe é um representante dos latifundiários, além de ser responsável pelo assassinato de civis inocentes. "Pesam no nosso país algumas propostas que são difíceis de estudá-las para avançar na revolução na América do Sul".

No Peru, a situação é semelhante. Quem falou a respeito do tema na mesa foi a deputada do Partido Nacionalista Peruano, Janet Cajahuanca. "Temos combatido um sistema que realmente chegou com mentiras para governar. O presidente Alan Garcia tomou a bandeira nacionalista, anunciou mudanças e quando chegou ao governo, se colocou de joelhos diante do poder econômico".

Ela lamentou a diminuição do grupo de oposição do Congresso Peruano de 43 parlamentares para 23, mas acredita que, apesar da redução, a luta pelas terras indígenas e contra o sistema neoliberal continua forte. Explicou que o povo se organizou a partir da conscientização sobre leis que prejudicavam o meio ambiente que foram derrubadas. "Isso se conseguiu a com uma grande luta dos povos da Amazônia. Foi um grande exemplo para o modelo econômico neoliberal, algo muito grande que devolveu confiança ao povo".

Ela concluiu dizendo que há políticos no Peru que estão exilados ou respondem processo, além de perseguição a dirigentes de sindicatos e grêmios. "Isso não nos tirou a vontade de modificar nossa pátria. Temos uma grande oportunidade em nossas mãos".

Liberdade para Honduras

A resistência ao golpe militar em Honduras foi destaque nas palavras de ordem dos militantes e monopolizou parte dos discursos de todos os integrantes da mesa. O representante da Frente Resistência Honduras, Gilberto Rios, contou na abertura que há mais de 50 dias, mais de cem mil pessoas estão marchando nas ruas diariamente. "Há dias em que chegamos a há quase meio milhão de pessoas em todo o território nacional. Essa mobilização nunca aconteceu em toda a história de Honduras".

Ele explicou que o golpe de estado tem dois componentes importantes: as oligarquias e a atuação direta da CIA, o que ajuda a entender o medo do capitalismo em relação às forças da esquerda revolucionária no continente. "A oligarquia hondurenha concentra 90% da economia e viu com muito temor a consulta popular proposta pelo presidente Manoel Zelaya. Mas o tamanho da oligarquia não é suficiente para impor um golpe de Estado".

Por isso, ele afirmou que o planejamento, execução e direção do golpe tem a participação dos Estados Unidos. Relatou que Agentes da ultra-direita do Partido Republicano nos EUA falam abertamente que quem está controlando o golpe de Estado em Honduras é a CIA. "Nós sabemos dessa presença em toda a América Latina, mas são eles que estão se encarregando diretamente do golpe, apesar de Honduras não ser tão representativa para a economia norte-americana".

Uma proposta (in)decente?

Um convite ao PCB, PSOL e PSTU: uma jogada ousada


Escrito por Wladimir Pomar - Correio da Cidadania


Esperava, nesta edição, iniciar um depoimento sobre a luta armada dos anos 1960-1970. Porém, apareceu um convite interessante ao PCB, PSOL e PSTU, para examinarem "uma aliança eleitoral, em torno da senadora Marina Silva", já que todos compartilham "uma posição de independência e de crítica diante do governo Lula".

Segundo o convite, uma frente eleitoral que tenha por base uma plataforma de "reformas democratizadoras" poderia contemplar objetivos comuns "dos partidos de centro e de esquerda" e "ganhar o apoio do MST e de setores de base das igrejas cristãs".

Acreditam que tal frente seria uma "iniciativa política ousada", que mexeria na "disposição atual das forças políticas e sociais", ventilaria "as propostas econômicas e sociais das forças populares", e aproximaria "a oposição de esquerda ao governo Lula de setores de centro".

Alertam que, sem tal iniciativa, a "oposição popular e de esquerda" não aglutinará "forças majoritárias" capazes de "arrebatar vitórias". E concluem que, para constituir uma "alternativa política real nas atuais condições", a "oposição popular e de esquerda" terá que combinar "o programa socialista com uma tática democratizadora".

O convite não explicita em que consiste essa combinação entre o programa socialista e a tática democratizadora. Mas não deixa de fazer uma crítica ao PCB, PSOL e PSTU, por seu emparedamento "entre o economicismo corporativista e o doutrinarismo socialista". Com razão, reclama que eles não podem "atacar mais as forças de centro do que as forças de direita". E lembra, também com razão, que "aliança implica diferença", "unidade de ação em torno de objetivos imediatos e comuns". Desde que, é lógico, subordinem "seu discurso e sua atuação à convergência tática".

A proposta, porém, esquece que o conteúdo principal da "posição de crítica" do PCB, PSOL e PSTU ao governo Lula reside justamente no fato de o PT ter adotado a tática democratizadora de aliança com o centro. Esses partidos podem, então, se perguntar: se é para unir-se ao centro, formar uma frente de centro-esquerda e aplicar reformas democratizadoras, por que não se unirem em torno de Lula e de Dilma? Qual a diferença entre a frente eleitoral, que o PT chama de "centro-esquerda", e a frente de "centro-esquerda" da proposta de unificação em torno da senadora Marina Silva?

Talvez prevendo isso, o convite tenha tido o cuidado de colocar o PT e o PSDB como principais "líderes dos blocos de centro-direita". Com isso, tentou responder, de antemão, àquela inevitável pergunta. No entanto, como não são ignorantes, os militantes e dirigentes daqueles partidos também poderão perguntar: quem são os partidos de "centro"?

Ora, se os partidos de centro forem o PMDB, PDT, PSB etc. etc., a questão retorna. Qual a diferença entre a frente eleitoral que está sendo montada pelo PT, contra a qual PCB, PSOL e PSTU se batem há tempos, e a frente eleitoral proposta pelos que pretendem "aglutinar as forças majoritárias"? A não ser, podem concluir, que esta proposta de apoio à senadora Marina Silva esconda uma jogada mais "ousada".

Isto é, embora o convite parta do pressuposto de que o PT e o PSDB são líderes da centro-direita, a mexida na "disposição atual das forças políticas e sociais" na prática só faria uma vítima: a candidatura Dilma. Isto ficando claro, talvez PCB, PSOL e PSTU se animem a participar da frente proposta, mesmo sabendo que PSDB e DEM levarão vantagem.

O convite, porém, não pode ser claro a esse respeito. Deixaria boa parte das "forças majoritárias", que pretende conquistar, numa situação desconfortável. Por isso, do mesmo modo que Sun Zi teria feito há 2500 anos atrás, finge atacar o amigo Serra, para destruir a inimiga Dilma.

Seu problema, com o qual Sun Zi também se confrontou várias vezes: nem todos foram ignorantes, a ponto de deixarem que a disposição das forças fosse mexida e permitisse a vitória a seu verdadeiro inimigo.

Wladimir Pomar e analista político e escritor.

como será???



Qual será o futuro de nossos netos?


Leonardo Boff * -Adital -

Olhando meus netos brincando no jardim, saltitando como cabritos, rolando no chão e subindo e descendo árvores surgem-me dois sentimentos. Um de inveja: já não posso fazer nada disso com as quatro próteses que tenho nos membros inferiores. E outra de preocupação: que mundo irão enfrentar dentro de alguns anos?

Os prognósticos dos especialistas mais sérios são ameaçadores. Há uma data fatídica ou mágica sempre aventada por eles: o ano 2025. Quase todos afirmam: se nada fizermos ou não fizermos o suficiente já agora, a catástrofe ecológico-humanitária será inevitável.

A recuperação lenta que se nota em muitos países da atual crise econômico-financeira, não significa ainda uma saída dela. Apenas que a queda livre se encerrou. Volta o desenvolvimento/crescimento mas com outra crise: a do desemprego. Milhões estão sendo condenados a serem desempregados estruturais. Quer dizer, não irão mais ingressar no mercado de trabalho, sequer ficarão como exército de reserva do processo produtivo. Serão simplesmente dispensáveis. Que significa ficar desempregado permanentemente senão uma lenta morte e uma desintegração profunda do sentido da vida? Acresce ainda que estão prognosticados até àquela data fatídica cerca de 150 a 200 milhões de refugiados climáticos.

O relatório feito por 2.700 cientistas "State of the Future 2009" (O Globo de 14.07/09) diz enfaticamente que devido principalmente ao aquecimento global, por volta de 2025, cerca de três bilhões de pessoas não terão acesso à água potável. Que significa dizer isso? Simplesmente que esses bilhões, se não forem socorridos, poderão morrer por sede, desidratação e outras doenças. O relatório diz mais: metade da população mundial estará envolvida em convulsões sociais em razão da crise sócio-ecológica global.

Paul Krugman, prêmio Nobel de economia de 2008, sempre ponderado e crítico quanto à insuficiência das medidas para enfrentar a crise sócio-ambiental, escreveu recentemente: "Se o consenso dos especialistas econômicos é péssimo, o consenso dos especialistas das mudanças climáticas é terrível"(JB 14/07/09). E comenta: "se agirmos da mesma forma como agimos, não o pior cenário, mas o mais provável, será a elevação de temperaturas que vão destruir a vida como a conhecemos".

Se provavelmente assim será, minha preocupação pelos netos se transforma em angústia: que mundo herdarão de nós? Que decisões serão obrigados a tomar que poderão significar para eles vida ou morte?

Comportamo-nos como se a Terra fosse só nossa e de nossa geração. Esquecemos que ela pertence principalmente aos que ainda virão, nossos filhos e netos. Eles têm direito de poder entrar neste mundo, minimamente habitável e com as condições necessárias para uma vida decente que não só lhes permita sobreviver mas florescer e irradiar.

Os cenários referidos acima nos obrigam a soluções que mudam o quadro global de nossa vida na Terra. Não dá para continuar ganhando dinheiro com a venda do direito de poluir (créditos de carbono) e com a economia verde. Se o gênio do capitalismo é saber adaptar-se a cada circunstância, desde que se preservem as leis do mercado e as chances de ganho, agora devemos reconhecer que esta estratégia não é mais possível. Ela precipitaria a catástrofe previsível.

Para termos futuro devemos partir de outras premissas: ao invés da exploração, a sinergia homem-natureza, pois Terra e humanidade foram um único todo; no lugar da concorrência, a cooperação, base da construção da sociedade com rosto humano.

Dão-me alguma esperança os teóricos da complexidade, da incerteza e do caos (Prigogine, Heisenberg, Morin) que dizem: em toda a realidade funciona a seguinte dinâmica: a desordem leva à auto-organização e à uma nova ordem e assim à continuidade da vida num nível mais alto. Porque amamos as estrelas não temos medos da escuridão.

[Co-autor com Mark Hathaway de The Tao of Liberation. En Exploration of Ecology of Transformation, N. York, a sair em breve].


* Teólogo, filósofo e escritor