segunda-feira, 9 de abril de 2007

O princípio intuitivo.

Quando falamos em evolução e em despertar da consciência logo me vem a mente o que refletia Yung sobre as funções psicógicas superiores do homem. Ele dizia que nas diversas fases evolutivas o Ser passa por quatro fases distintas e interligadas entre si: sensação, sentimento, intelecto e intuição. Ou seja, nos diversos períodos antropológicos da consciência, ou da essência, temos na primeira situação os vegetais com suas sensações, logo os animais irracionais com o sentimento, emoções, mais adiante o homem com a racionalidade cognitiva para desembocar, finalmente, no Ser, ainda hominal mas com seu potencial intuitivo despertando.
Vivemos hoje muito atrelados, ainda, a posses materiais, à vida biológica, de satisfação de prazeres que certamente , quando atingirmos o ápíce desta existência nos tornará vazios, lembrando do passado e não percebendo o que deixamos de fazer e de acontecer.
Urge despertar para a necessidade de desenvolver a consciência intuitiva, aquela que não se pode tocar, provar com racionalidade, mas nos faz sentir, como partícipes deste universo cósmico e energético onde nos inserimos para desempenhar papel, não mais de expectador ou observador e sim de protagonista, de artífices de nossa caminhada.
A intuição dentro desse novo paradigma passa a se constituir de um atributo essencial ao homem para seu desenvolvimento espiritual. Somente avançando consciencialmente é que poderemos retomar a caminhada por muitas vezes abandonada pela mania que temos de racionalizar tudo que temos, que fazemos, que almejamos.
E, enquanto persistirmos neste êrro demoraremos cada vez mais vendo o trem passar, os pássaros voarem e nos atolando mais e mais na mãe Terra de onde já deveríamos ter alçado vôo.

Pensando Filmes!!!

Gabriel Perissé

O bom filme hipnotiza para nos fazer despertar. Educadores precisam ver filmes, pensar filmes, divulgar filmes. Filmes novos ou antigos, tanto faz, contanto que nos façam refletir mais...

El ángel exterminador (1962), de Luis Buñuel, por exemplo. As pessoas presas na mansão, presas a si mesmas, presas ao comodismo, a “paradogmas”, ao inexplicável. Socialmente doentes. Pessoas presas a seitas, a convenções que há muito perderam sua razão de ser, presas a manias, a medos. No final, após grande sofrimento, o grupo vai a uma missa de ação de graças pela libertação... O grupo e os outros fiéis ali presentes voltam a prender-se, desta vez dentro da igreja. E, como desfecho, ovelhas caminhando “inocentemente”.

Somos nós também, ainda presos. Presos a conceitos apodrecidos, a uma imagem de Deus talvez apodrecida.

O filme 21 gramas, de 2003. Inesquecível. Alejandro González-Iñárritu é o diretor. A morte alimentando a vida. Um homem recebe o coração de outro, e se apaixona pela viúva do doador. O coração continua amando. Uma vida que pesa tão pouco — 21 gramas, dizem, é a diferença de peso entre uma pessoa viva e seu cadáver.

Um filme recentíssimo, O labirinto do Fauno (2006). Duas horas de hipnose benéfica, uma história que não decai em nenhum momento. Atores ótimos, elementos míticos que tocam o cerne de cada um de nós: a menina órfã, o labirinto, os testes existenciais, a lua cheia, as gotas de sangue.

Ao contrário do que diz a mãe de Ofelia (a protagonista), magia existe, sim, ou estaremos à mercê da maldade, da nossa maldade. A inocência vencerá, ou não valerá a pena viver, ou não valerá a pena cultivar a esperança.

Outro filme, Ser e ter, de 2002. Filme francês, algo de documentário. Ser paciente, ter responsabilidade; ser professor, ter uma vida; ser atento, ter emoções. Ser e ter, ter e ser. Não se opõem. Complementam-se. Educação é essa complementação.

Um dos alunos está com as mãos sujas, e o professor aproveita para conversar sobre os nomes dos dedos: polegar, anelar, indicador... O pai de outro aluno vai sofrer uma intervenção cirúrgica séria, e o professor conversa serenamente sobre a realidade da dor...O professor ajuda os alunos, os alunos se ajudam, todos conversam, em clima de exigência tranqüila. Há algumas regras, há alegria, há trabalho, há companheirismo, carinho.

Ter uma utopia é começar a ser...


Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor. Web Site: www.perisse.com.br

Elis Regina - Medley Milton Nascimento (Montreux Festival)

Ana Carolina - Hoje Eu Tô Sozinha

Como sair do labirinto neoliberal?

Emir Sader

O neoliberalismo é um labirinto. Uma vez que se aceite cruzar seus corredores, não se sai deles. As alternativas são dadas dentro do próprio labirinto. Taxas de juros menores? Superávit fiscal menor? Desvalorização do real? Todos são objetivos – por meritórios que sejam – internos ao modelo, ao labirinto.Como se sai de um labirinto? Por cima. Saindo de seus corredores, redefinindo o sentido das políticas de governo.No nosso caso, retomar o desenvolvimento econômico e social como norte fundamental do governo, em função do qual tem que redefinir seu papel as outras políticas de governo. Significa ter uma política monetária subordinada a esse objetivo estratégico e, portanto, terminar com a independência real que assumiu o Banco Central. Significa definir metas sociais, com acompanhamento regular de uma comissão com participação dos movimentos sociais, para controlar os passos do governo e contribuir para sua realização.Mas para sair do labirinto, é preciso retomar pelo menos dois temas, até aqui desconhecidos ou subestimados: o tema do Estado e o do imperialismo. Retomar o tema do Estado é redefinir sua função indutora das políticas de governo, explicitamente, não para fortalecer seu aparato em si mesmo, mas para fortalecer a dimensão pública do Estado. Provavelmente será necessária uma nova Assembléia Constituinte, que refunde o Estado brasileiro, desmercantilizando-o e refundando-o em torno da esfera pública e dos interesses da maioria da população, para o qual será indispensável introduzir na Constituição a questão do Orçamento Participativo.O outro tema é o da hegemonia imperial no mundo, com todas duas dimensões: dominação econômica, tecnológica, política, militar, cultural. Da mesma forma que temos que sair da dominação do reino do dinheiro, saindo do modelo neoliberal, temos que trabalhar ativamente – a começar por fortalecer os processos de integração regional -, mas também trabalhar, dentro e fora do Brasil, na luta contra a hegemonia imperial. Assumir que o imperialismo é o elemento mais determinante no mundo contemporâneo, que sem essa compreensão não se pode compreender os temas fundamentais do mundo, da América Latina e do Brasil e atuar nessa direção.É nessa direção que podemos dizer que estaremos rompendo com o neoliberalismo e sua lógica mercantil e imperial.