quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Isso é na Bolivia...e por aqui????

Para enfrentar guerra da informação, Bolívia lança jornal estatal

No dia 22 de janeiro, começou a circular na Bolívia mais um jornal, "El Cambio. Não se trata de mais um jornal, mas sim de um diário estatal. Segundo o diretor do novo diário, Delfin Arias Vargas, a missão do novo jornal não é a de ser governamental. "Esse jornal não pode ser do governo, ele é estatal. Estamos manejando a informação como pensamos que se deve, como um bem social ao qual o povo boliviano tem direito", explica Vargas.

LA PAZ - Em 22 de janeiro, mesma data em que o presidente Evo Morales Ayma completou três anos à frente do governo boliviano e apenas três dias antes do referendo popular que consagrou a nova Constituição do país, começou a circular na Bolívia mais um jornal, El Cambio. A ver: nao se trata de mais um jornal, mas sim de um diário estatal. "A verdade nos faz livres" é o mote que acompanha o título do jornal em sua capa. E foi de liberdade jornalística que falou Evo na entrevista em que lançou a publicaçao: "[Aos jornalistas do novo diário] lhes pedimos não tergiversar nem mal-interpretar, como fazem alguns meios de comunicação". "Todos mentem e por isso precisamos ter nosso próprio diário. Pela primeira vez o Estado terá seu próprio jornal, o qual será distribuído todo dia com a verdade."

O diretor do novo diário, Delfin Arias Vargas, explica que foram dois os estopins para a decisão de lançar o jornal: primeiro, a forte campanha dos meios de comunicação contra a nova Constituição, ao longo dos últimos meses; segundo, uma reportagem do jornal La Prensa, em dezembro, que acusou Evo de estar vinculado aos donos de 33 caminhões de contrabando que foram liberados de forma irregular num posto aduaneiro da região de Cobija - fato ocorrido em agosto. A relação de Evo com os criminosos seria provada por um vídeo distribuído por um deputado da oposição - ao qual o governo acusou de ter forjado a suposta prova.

Mas a missão do novo jornal, que vem sendo publicado em formato tablóide, com 16 páginas, não é a de ser "pró-governamental", diz Delfin, que encontramos na última sexta-feira em seu escritório ainda improvisado, nas dependências do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR), no bairro de Sopocachi, em La Paz. "Esse jornal não pode ser do governo, ele é estatal. Estamos manejando a informação como pensamos que se deve, como um bem social ao qual o povo boliviano tem direito", vai explicando ele, em meio a interrupções de vários pedidos para assinar ordens de compra de materiais ou de gente que lhe avisa das providências que estão sendo tomadas para transformar o antigo depósito em uma redação jornalística. Pudera, entre a ordem de Evo para que fosse formado o diário, em 4 de janeiro, e ida de sua primeira edição às bancas, passaram-se meros 18 dias, segundo conta o jornalista.

A rapidez foi possível, conta ele, porque a base da equipe de El Cambio foi formada a partir dos profissionais da Agência Boliviana de Informação (ABI), a qual era comandada por Delfin até o inìcio do ano. Outra parte dos profissionais foi selecionada nas últimas semanas. "Aqui não há militantes, há jornalistas profissionais. Em nenhum momento se perguntou se eram filiados a algum partido ou movimento social, o que examinamos foi seu currículo profissional", conta ele, que, junto com parte dos demais jornalistas que chefiam a equipe de 30 pessoas, atuou nos anos 80 no jornal Presencia. Esse diário, conta ele, era ligado à Igreja Católica e foi referência de bom jornalismo no país até o início dos anos 90.

Depois da passagem pelo Presencia, Delfin conta que ainda atuou alguns anos na imprensa comercial do país, em jornais como La Razón e La Prensa: "Conheço de dentro como esses jornais manejam a informação. Antigamente ainda era possível atuar porque havia um respeito à notícia, não a manipulavam como agora, restringiam-se às páginas de opinião. Hoje estão lidando com a informação sem nenhum respeito, tratam-na como bem comercial, não social". A subida ao poder de Evo gerou efeitos poderosos na mídia comercial, segundo ele: "Esse respeito à informação ocorria quando não havia ameaca ao velho sistema político. Quando ele caiu, com o início do governo de Evo, os meios de comunicação viraram trincheiras, hoje eles fazem oposição política frontal".

O jornalista conta que a direita recebeu com agressividade a criaçao de El Cambio: "Dizem que estamos violando a liberdade de expressão. Mas olhe como está o país, apesar de se terem cometido vários abusos, não há nenhum jornalista preso ou processado aqui. A liberdade de imprensa é plena na Bolívia e não vamos permitir que ela seja rompida. Só que não podemos também permitir que ela não seja usada para tratar a informação como bem social que é".

Na primeira edição de El Cambio, que imprimiu cerca de 5 mil exemplares distribuidos pelo país - a tiragem ainda está aumentando, conforme a capacidade de distribuição, e ainda não está estabilizada -, foi publicada uma entrevista exclusiva com Evo. Delfin foi um dos entrevistadores e conta que o próprio presidente lhe afirmou, logo após esse encontro: "Ele nos disse que está apoiando o jornal, mas não quer propaganda do governo, quero que dêem informacoes corretas sobre nossa gestão. 'Voces devem dar uma aula de jornalismo aos meios comerciais', ele completou".

Mesmo com o aval público de Evo, Delfin conta que foi procurado por diversos dirigentes partidários e de movimentos sociais na semana seguinte ao lançamento do jornal: "Cada um quer nos dar sua receita, eles nos dizem 'agora temos nosso jornal, vamos poder golpear a direita também', e eu até entendo, porque estão desesperados para que haja mais meios alternativos no país. Só que o que nós faremos será simplesmente tratar a informação como bem social, com um manejo plural, responsável e veraz da informação. Isso nos fará independentes".

Para ele, comunicação "estatal" é algo muito diferente de simplesmente "defender o governo": "Quem tem de fazer defesa do governo é o Soberania, que é o semanário do MAS [partido de Evo]. Nós somos outra coisa, não vamos virar governamentais". Ele tampouco pensa em concorrer com a mídia comercial: "Nós não queremos nos comparar com ninguém, só queremos ser uma alternativa para a população".

A receita da equipe de Delfin para o diário estatal inclui espaço inclusive para a oposição ao governo. "Eu tenho pedido à equipe mais presença da oposição, aliás. Se dizem algo que merece destaque, tem de estar no jornal", diz ele, quando pergunto se não houve reclamação de algum integrante do governo pelo destaque em capa dado na edição do dia da entrevista a declarações de Ruben Costa, prefeito de Santa Cruz que é um dos mais duros adversários do governo.

Na seção internacional, El Cambio vem publicando artigos de diversas fontes, inclusive desta Carta Maior. O futebol também é destaque. No dia em que conversamos, o Cambio tambem destacava na capa a derrota do Real Potosí para o Palmeiras, por 5 a 1. "Neste país, somos todos fanáticos por futebol, do motorista de ônibus ao presidente. Cobrir futebol aqui é um serviço social. No futebol, quando joga nossa seleção nacional, nao há 'media luna', estamos todos unidos". diz ele, em referência à região oriental do país, foco da oposição e de idéias separatistas.

Os próximos passos do diário incluem a instituição de mecanismos de controle social, agora consagrados pela nova Constituição: "O mecanismo não está definido. Vamos fazer, só que ainda não sabemos como. Por enquanto, estamos tratando de trazer pluralidade às páginas de opinião". Para Delfin, o maior desafio é a auto-sustentação: "É o mais importante para nós. Esse diário não pode ser um peso para o Estado". Por enquanto, o jornal tem publicado anúncios de empresas estatais e é vendido em banca a 2 bolivianos (o equivalente a R$ 0,70).

Um pouco da Itália...

Por Astrid Lima


Estamos em pleno inverno europeu, mas um um forte vento, o Scirocco, proveniente da África, forma túneis de ar quente que rasgam o frio na cidade de Roma. Dentro deste corredor de calor, com cartazes que se movem ao ritmo do vento, centenas de médicos e enfermeiras estão reunidos na frente de Palazzo Montecitorio, a Câmara dos Deputados italiana, com velas nas mãos.

Nas camisetas brancas está escrito: “Médicos, não espiões”.

É a manifestação convocada pelos Médicos sem Fronteiras, pela Sociedade italiana dos Médicos das Migrações e pelo Observatório Italiano sobre a Saúde Global contra uma proposta de decreto do governo italiano, que obriga o médico a denunciar às autoridades todos os clandestinos que se apresentarem como pacientes.

Este decreto, claramente racista, está em contradição com o Texto Único sobre a Migração, que prevê que o acesso à estrutura sanitária por estrangeiros irregulares não deve comportar nenhum tipo de advertência às autoridades, com a mesma paridade de tratamento aplicada a todos os cidadãos italianos.

São poucas linhas, mas de grande demonstração de civilização. Na prática, afirma-se que o médico deve respeitar o paciente independente da sua nacionalidade, religião, cor, sexo, condição social, politica.

Está no próprio juramento de Hipócrates: Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

É um belo juramento, apesar de velho e superado em alguns trechos. Nele ainda é intrínseca a necessidade de qualificar a prática médica, a ciência desses modernos curandeiros, mesmo em uma sociedade muito mais complexa do que aquela de séculos atrás.

Se começa jurando por Apolo, por Esculápio, por Higia e Panacéia, deuses ligados à saúde, à cura, à luz e ao sol; e eu imagino, ali, naquele momento, o jovem médico, tão nervoso quanto um presidente eleito dos Estados Unidos, jurando, porém, por algo que vai além de um mandato, de sistemas eleitorais, de geopolíticas, de impérios. Nas suas mãos estão depositados vida, morte e ética:

estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito;

Se o exercício da medicina dependesse desse simples juramento, não existiria algo como a saúde privada, como os hospitais particulares, como as operações cirúrgicas onde tudo é contabilizado: sala operatória, enfermeiros, instrumentos, remédios, anestesistas, período de internação. Onde não há acesso sem antes a verificação do cartão de crédito.

A cada toque de caixa de um plano de saúde eu me pegunto quanto vale uma vida humana. Qual é a sua cotação, que preço vai curar uma ferida, sarar uma fratura, deter uma hemorragia, extirpar um tumor, fazer continuar a respirar.

Que rosto tem o gerente, o burocrata, o técnico, o promotor de vendas e todos aqueles que decidem quais são os percentuais de lucro sob os quais não é possível descer.

Que dinheiro é esse que tem sua origem na dor humana, nos seus medos e males? E que país é aquele em que o único sistema sanitário possível é o privado?

Na Itália a saúde pública ainda é de qualidade, acessível a todos, e é considerada, junto com a francesa, uma das melhores do mundo. Ainda não foi vencida pela barbárie dos camelôs sanitários, das clínicas sustentadas com carnês mensais e com manuais de subterfúgios que ensinam como obter o máximo do lucro com o mínimo dos custos.

Ainda é possível encontrar em um mesmo quarto de uma maternidade uma jovem italiana, uma cigana, uma africana, uma ex-jogadora da seleção nacional de Vôlei. Mulheres iguais diante da maternidade.

Neste pais é ainda possível que um simples cidadão – pobre ou clandestino — possa desfrutar do mesmo hospital, dos mesmos médicos do Papa, do presidente da República ou de um magnata, como Berlusconi.

Mas é noite em Roma. E ao frio se alterna um calor estranho, impossível, provocado pelo vento e pela areia do Saara, que me suscitam imagens de antigos rituais.

“Nós não denunciaremos ninguém”, declara, orgulhoso, um cirurgião ortopédico do Policlínico Gemelli, considerado um dos maiores hospitais italianos, o mesmo que acolheu tantas vezes João Paulo II.

Aquele pequeno grupo de médicos na frente do parlamento italiano, iluminados pelas luzes das velas, reivindicam a simples possibilidade de serem fiéis ao próprio juramento: curar sem mediocridades como denunciar o próximo, monetarizar a vida, medí-la em documentos, siglas ou carimbos.

Curar todos os homens, porque este é uma antiquíssima e mítica arte, que tem a cumplicidade dos deuses, mas que foi construída com o conhecimento da humanidade inteira.


Astrid Lima é brasileira e vive na Itália, e encontrou uma forma de matar saudades do Brasil: escrevendo coisas assim para O Malfazejo.

O Cloaca News ta ficando famoso...

Cloaca News: “Globo, Folha, Estadão, Veja, Bandeirantes e RBS fazem parte da mídia golpista”

No Blog do Bentes

Com apenas três meses de existência e muitos – muitos – textos que chamam a atenção pela agressividade e precisão no que diz respeito em “desmascarar” aquilo que julgam como sendo parte da “máfia midiática que infesta nosso país”, o blog Cloaca News, criado por um profissional anônimo que garante ter passagens pelas Organizações Globo e Editora Abril, ganhou notoriedade quando publicou, no dia 7 de janeiro deste ano, um artigo denunciando que a jornalista Renata Malkes – correspondente de O Globo e do Globo News em Israel e autora do blog O outro lado da Terra Santa (o Oriente Médio que você nunca viu) – manteve, no passado, um segundo blog – o Balagan – onde publicava textos de cunhos racistas e preconceituosos contra o povo palestino e os árabes em geral.

A divulgação, que repercutiu pela Internet a ponto de Renata Malkes publicar uma “Nota de esclarecimento” em seu blog atual, no site de O Globo, não foi e nem é a única que atrai a atenção dos muitos leitores que o blog parece acumular nesse curto intervalo de tempo. Artigos temperados por títulos como “Paulo Henrique Amorim: Sou um despirocado que publica manchetes mentirosas” (01/02/2009), “Senador imbecil ofende 93% dos brasileiros” (30/01/2009) e “A imprensa gangaceira de Aécio Neves” (20/01/2009) revelam a linha editorial adotada pelo até então anônimo blogueiro, ou, como prefere ser chamado, “cloaqueiro”, cuja única pista dada sobre si mesmo é sua cidade: Porto Alegre (RS).

Na entrevista transcrita a seguir, concedida ao Blog do Bentes por email* o “cloaqueiro” fala sobre esses e outros assuntos, como a situação da imprensa brasileira, concessões públicas de rádio e tevês, liberdade na Internet, Blogs e outros temas co-relacionados ao exercício do Jornalismo no Brasil.

*As respostas do Cloaca News foram transcritas exatamente como foram respondidas, incluindo termos usados entre aspas e letras escritas estrategicamente em maiúsculas.

Como, quando, onde e porquê foi criado o blog Cloaca News?

Cloaca News – O blog Cloaca News estreou no dia 31 de outubro de 2008, às 6 horas. Sua base geográfica está em Porto Alegre. Sua criação adveio da profunda indignação de seu criador com as práticas desonestas de manipulação por parte dos principais conglomerados da informação brasileiros – e que, mui apropriadamente, o jornalista Luis Nassif denominou "jornalismo de esgoto". O blog, nesse caso, surgiu com uma alternativa viável, sem custo, para denunciar e execrar esse comportamento da chamada imprensa corporativa, dentro de uma perspectiva muito particular, baseada na visão de mundo e na bagagem político-cultural de seu criador.

Quem integra sua equipe de redatores e colaboradores?

CN – A equipe do Cloaca News é composta de um pauteiro, um repórter, um pesquisador de imagens, um redator, um editor, um "advogado" e um Diretor de Redação, sendo que todas essas atribuições estão delegadas a uma única pessoa – ninguém menos que este que lhe escreve – que acaba agora de acumular, também, a função de assessor de imprensa. O nome desta multivalente criatura, por enquanto, é mantido em segredo, por motivos que serão aclarados mais adiante.

Qual a principal fonte de informação usada pela equipe para a redação de artigos de opinião?

CN – As fontes de informação do Cloaca News são de diversas naturezas. A mais corriqueira é a própria imprensa corporativa, por meio de seus jornais, revistas, rádios, tevês e portais de Internet. Também recorremos às agências internacionais de notícias (Reuters, UPI, BBC etc.), portais de ONGs, blogs de terceiros, almanaques, enciclopédias... Isso quando não vamos, nós mesmos, cobrir determinado evento pessoalmente.

Cloaca é o nome científico de certa parte do corpo dos animais. Porque fizeram tal escolha?

CN – Na Roma Antiga, lá pelas priscas do século VI a.C., Tarquínio Prisco, também conhecido como Tarquínio, o Soberbo, construiu a Cloaca Maxima, uma portentosa rede de esgotos que virou referência para o resto do mundo civilizado. Quando o Império Romano caiu, ela ainda funcionava bem. O termo atravessou os séculos e foi parar no dicionário Aurélio, designando:

1. Fossa ou cano que recebe dejeções e imundícies.
2. Coletor de esgoto.
3. V. latrina (3).
4. P. ext. Lugar imundo.
5. Aquilo que cheira mal, que é imundo.

A alusão que você faz em sua pergunta é a zoológica, que define a cloaca como a "câmara na extremidade do canal intestinal das aves e dos répteis, na qual se abrem os ureteres e os ovidutos". Considerando que nosso blog lida com o "jornalismo de esgoto", julgamos ter espancado sua dúvida onomástica.

Boa parte dos artigos publicados usa termos comumente usados em jornais tidos como populares. O Cloaca News representa essa tendência?

CN – Teremos o maior prazer em responder a essa pergunta com mais propriedade se você puder nos apontar um ou mais exemplos daquilo que a questão sugere. Podemos adiantar, no entanto, que temos um certo hábito de salpicar algumas de nossas postagens com palavras pouco usuais no dia-a-dia. Faz parte de nosso modo de construir uma ironia. Vez ou outra, o sangue se nos ferve e vai à cabeça, ocasião em que pegamos mais pesado e partimos para adjetivos mais contundentes, tais como: pulha, sicofanta, mequetrefe, patife, velhaco... Mas, como você poderá constatar, JAMAIS empregamos o baixo calão. A propósito: conhece a história da freirinha no convento? Em sua clausura, a freirinha costurava um velho manto. De repente, a agulha escapa do dedal e lhe perfura o dedo indicador. “Ai, caralho! Furei meu dedo, porra! Puta merda, falei ‘caralho’! Ah! Foda-se! Eu não queria mesmo ser freira!!!”

Entre a chamada “grande imprensa”, existe algum veículo “preferido” para os artigos e comentários do blog?

CN – Não. Todos são “preferidos”. Não discriminamos ninguém.

Quem, na visão da equipe, integra o grupo que faz parte da “imprensa golpista” – termo usado no cabeçalho do blog?

CN – Por ordem aleatória, destacamos: todos os veículos das Organizações Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, revista Veja (representando o grupo Abril), a Rede Bandeirantes, e, pela importância regional e pelo estrago que é capaz de fazer, o Grupo RBS, da famiglia Sirotsky. São eles que pautam os demais golpistinhas espalhados pelo país.

Alguns dos membros do Cloaca têm experiência em alguns dos veículos citados nos artigos? Em grandes grupos de comunicação?

CN – Sim. Na Globo e na Abril. Agora, talvez você entenda o motivo pelo qual o nome do "cloaqueiro" deve permanecer em segredo.

O Cloaca News já enfrentou algum tipo de retaliação (política, econômica) por conta de suas opiniões?

CN – Ainda não.

Já houve algum processo judicial contra o Cloaca News?

CN – Não. Nem estamos com essa bola toda. Ainda assim, nosso Departamento Jurídico sempre cuida para que nossas palavras não incorram em crime de opinião.

Por usar um espaço teoricamente “livre”, a Internet, o Cloaca News sente-se plena e completamente independente?

CN – Sim, plena e completamente independente.

Como o blog é mantido? Há algum apoio?

CN – Como a maioria dos blogs independentes, somos mantidos pela determinação pessoal, pelo desprendimento e pelo prazer de dizer o que pensamos da forma que nos der na telha. O único apoio, no caso, é o moral, que nos chega pelos nossos poucos mas devotados leitores.

Existe uma corrente que quer “profissionalizar” os blogs, tornando-os veículos de fato alternativos e economicamente auto-sustentáveis. O Cloaca News concorda com essa tendência? Existe essa intenção por parte da equipe?

CN – Há vários blogs “profissionais”, a maioria deles abrigados nos portais das grandes corporações. De nossa parte, não entramos nisso para ganhar dinheiro. De todo modo, se surgir um patrocinador disposto a bancar as despesas aqui de casa, tais como água, luz, telefone, Internet, escola do filho, supermercado, gasolina, lazer, IPTU, IPVA e mais a manutenção de nosso iate e o aluguel da marina, pode apostar que topamos, desde que, é claro, ele não tente nos pautar. Por enquanto, sequer cogitamos essa hipótese.

O que o blog tem a dizer a respeito da imprensa brasileira? Ela exerce bem o seu papel?

CN – Vamos separar os conceitos. Uma coisa é a instituição “Imprensa”, pela qual temos o maior respeito e até paixão. Outra coisa é o jornalismo a serviço de interesses escusos, principalmente partidários. É desse último caso que nos ocupamos, tentando, na medida de nossas limitações (físicas e intelectuais), desnudá-lo. Considerando que a oligarquia midiática politizou até a previsão do tempo, nossa opinião é: não, a “imprensa brasileira” não exerce bem o seu papel, visto que desviou-se do interesse público para os interesses de um pequeno grupo de compadres.

E o que dizer do uso de concessões públicas? A Rede Globo teve sua concessão renovada pelo Congresso sem amplo debate. O que pensam disso?

CN – De verdade? Mesmo com “amplo debate” a Globo renovaria todas as suas concessões, já que a maioria dos parlamentares é proprietária de meios de comunicação concessionários. Ademais, por que meio a população tomaria conhecimento do “amplo debate”? Se dependesse de nossa caneta, declararíamos a perempção de todas as concessões da Globo, por todos os abusos e falcatruas que o grupo já cometeu e continua cometendo.

Na Venezuela, Hugo Chávez não renovou a concessão da RCTV, o que provocou grande repercussão mundial, sobretudo nos meios de comunicação brasileiros. Vocês concordam com a medida adotada por Chávez?

CN – Concordamos, sim. Eram golpistas assumidos.

O Observatório da Imprensa, criado por Alberto Dines, é dedicado à crítica da imprensa. O que pensam deste site?

CN – Felizmente, nesse caso, a criatura é maior que seu criador. O Observatório tem a vantagem de ser democrático e pluralista. É alimentado por uma infinidade de colaboradores qualificados (alguns, nem tanto). É um fórum que frequentamos desde sua criação. No caso de Dines, a despeito de sua bela biografia, já não temos por ele o respeito de outrora. Dines passou a usar seu espaço para destilar seu ressentimento contra o Presidente Lula, abdicando da missão de "observar" a imprensa. Pior que isso, passou a agir como defensor da mídia corporativa, como se as críticas pontuais aos veículos da máfia midiática estivessem sendo feitas à instituição “imprensa”.

Hoje, no Brasil, existe, na opinião de vocês, algum veículo (rádio, jornal, revista, emissora de TV) que seja uma fonte confiável de informação? Até que ponto, na visão da equipe, a informação é manipulada no Brasil em favor de grupos políticos?

CN – Em tese, praticamente todas seriam confiáveis, não fossem seus comprometimentos políticos não manifestos.

Há esperança para a imprensa brasileira?

CN – Bem que gostaríamos de ser mais otimistas. Na verdade, nossa esperança está na tecnologia, que nos “libertará” do jugo do cartel da informação. Estão aí os blogs, que não nos deixam à mercê dos Al Capones da notícia.

O que a sociedade civil pode fazer para ajudar?

CN – Cobrar. Exigir respeito à sua inteligência. E, na pior das hipóteses, não consumir.

Como o Cloaca News chegou à informação de que a jornalista Renata Malkes, correspondente de O Globo e da Globo News em Israel, mantinha o blog “Balagan” (já deletado) em que fazia alusões preconceituosas ao povo palestino?

CN – Também temos o nosso Garganta Profunda, que nos deu uma pista. Uma vez encontrado o Balagan, seu próprio conteúdo fez a caveira da moça. Os que leram atentamente o que postamos, viram que não lhe fizemos qualquer acusação. E, muito menos, lhe insultamos.

Como souberam de sua prisão (posteriormente negada por ela) no Líbano?

CN – Depois que a “bomba” estourou, remexemos os arquivos do blog “O outro lado Terra Santa”, que a jornalista mantém no portal de O Globo. Ali, encontramos um relato que ela fez de uma confusão em que se metera, sem entrar em detalhes. Fizemos uma busca com palavras-chave e datas próximas. Acabamos encontrando a notícia publicada por um jornal canadense sobre o episódio. Até prova em contrário, não temos motivos para duvidar do Corriere Canadese.

Em seu blog, a jornalista deixou uma nota de esclarecimento, onde se dizia vítima de “boatos espalhados pela Internet”. Ela não citou as fontes dos supostos boatos. O que vocês pensam disso? São de fato boatos as informações que circulam? Os “boatos” a que se refere a jornalista são postagens do Cloaca News?

CN – Publicamos DUAS postagens sobre essa jornalista. Em nenhuma delas há qualquer coisa que possa ser chamada de “boato”. Publicamos fatos consumados. O primeiro: ela manteve um blog em que manifestava suas opiniões sobre várias coisas, inclusive sobre os árabes em geral e os palestinos em particular. Demos os links. Só isso. Portanto, os “boatos” foram escritos por ela mesma. Outro fato: a notícia de sua prisão no Líbano, dada pelo Corriere Canadese. Deixamos bem claro que a informação era desse jornal. De todo modo, nosso alvo não era a jornalista em si, mas seus empregadores, que sonegaram ao público o currículo de militante sionista de sua correspondente. A pergunta que fizemos aos leitores do Cloaca News foi: você consegue imaginar pessoa mais isenta para mostrar “o Oriente Médio como você nunca viu”?

Vocês podem citar alguns blogueiros corporativos cujo trabalho corresponderia ao “jornalismo de esgoto”, termo usado por Luis Nassif em relação à Veja?

CN – Vamos pinçar apenas alguns mais graúdos: a dupla Mainardi/Azevedo, de Veja; Josias de Souza, da Folha; Miriam Leitão, SarDEMberg e Noblat, da Globo (este último, por sinal, um grande barrigueiro)...

A midia de esgoto e sua mediocridade....

Folha debocha do Fórum Social de Belém


Não chega a ser novidade, mas é sempre irritante quando isso acontece: a imprensa corporativa brasileira (com raríssimas exceções) não consegue cobrir o ''Fórum Social Mundial'' de outra forma que não seja ''folclorizando'' o que se passa por lá.

Por Rodrigo Vianna, em seu blog*


Na primeira página desta sexta-feira, a Folha traz a fotografia de Hugo Chávez cantando ao lado da filha de Che Guevara, sob o título: Karaokê no Fórum Mundial. Não há nenhuma informação sobre o que se discutiu no histórico encontro dos presidentes, que reuniu Chávez, Morales, Lugo Correa e Lula.

Na página interna, entre os milhares de participantes do Fórum, a Folha escolheu (para ilustrar a ''reportagem'') um rapaz deitado na grama, de frente pro rio.

Claro que nada disso é mentira. Chávez cantou e o rapaz deitou na grama (aliás, a vista para o rio - a partir da Universidade Federal do Pará - é belíssima; o rapaz tem toda razão em aproveitar a rica paisagem paraense).

As escolhas são sintomáticas. Passam a imagem de que tudo, em Belém, não passa de deboche e descompromisso. É o oposto do que vi por lá. Passei por Belém no início da semana. Vi centenas de pessoas reunidas em escolas, ginásios, auditórios, debatendo formas de superar a barbárie neoliberal. Ou, simplesmente, se articulando para batalhas futuras.

Nada disso está nos jornais.

Ao fazer esse tipo de cobertura, a Folha talvez imagine que esteja ajudando a esvaziar o Fórum. A ''grande imprensa'' não percebeu que ocorre justamente o contrário: é a imprensa que se esvazia, ao tratar de forma canhestra um evento que reúne no Brasil quase cem mil pessoas de todas as partes do mundo.

Para ler sobre o Fórum, e sobre o encontro dos presidentes em Belém, já sei que é preciso buscar em outro lugar. Não nos nosso jornais.
Sugiro o bom artigo de Gilberto Maringoni, na Carta Maior.

Abaixo, alguns trechos do Maringoni:

''O que leva chefes de executivo a abrirem espaço em suas agendas para comparecerem a um encontro dessa natureza? Certamente votos é o que não vêm buscar. Mas procuram solidificar ou recompor vínculos objetivos e simbólicos com setores da sociedade que alicerçaram suas trajetórias e, em última análise, sustentam suas administrações. O caminho não é de mão única. O encontro ganha peso e densidade política internacional com isso.
(...)
Nem tudo é tranquilo, no entanto. As duas atividades desta quinta com os chefes de Estado envolveram uma disputa, estabelecida entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o governo Lula. Descontentes com o que avaliam serem os poucos avanços da reforma agrária, os dirigentes do movimento decidiram não convidar o presidente brasileiro para a atividade do período da tarde.
(...)
Em um diálogo inédito, os quatro mandatários ouviram previamente demandas de representantes dos movimentos, o que levou Morales a lembrar que ''somos presidentes originários das lutas sociais continentais''. O líder boliviano era o mais entusiasmado de todos. Acabara de vencer o plebiscito que aprovou por larga maioria a nova constituição do país, reduzindo o espaço institucional da oposição de direita.
(...)
Nos tórridos dias de Belém, muitos se queixam de falhas na organização. É natural, mas tudo acaba se articulando. Davos, por sua vez, aparenta funcionar com a precisão dos outrora famosos relógios suíços. Mas a desorganização que suas diretrizes provocaram no mundo tem poucos paralelos na história recente...''

(Clique aqui para ver o texto completo)


Agora, volto eu.

Não é só a Folha. Ouvia , há pouco, a rádio Bandeirantes de São Paulo. No ar, mais uma vez, a tentativa de ''folclorizar'' o encontro de Belém. Um jovem jornalista reproduziu trecho do discurso de Chávez , em que o venezuelano dizia que milhares de empregos se perderão graças à crise mundial, e que a Venezuela sofreria menos porque lá se constrói o socialismo.

O jovem jornalista, em tom irônico, debochou.
''Esse foi o Chávez, que estava acompanhado de uma tropa em Belém, hem! Sabe quem estava ao lado dele? O ''companheiro'' Evo...''

Não era o ''presidente'' Evo Morales. O jornalista queria deixar claro que se tratava de um ''companheiro'', como a demarcar o campo: é da turma dos petistas, índios, chavistas. Não é da nossa laia.

Joelmir Betting, que estava no estúdio, pareceu encampar o deboche, lembrando: ''... e o presidente da Colômbia não estava lá em Belém.''

O jovem jornalista adorou: ''ah, não, Uribe deve ter mais o que fazer, está preocupado com as Farc''.

Aí, Joelmir completou: ''não, não, é que o Uribe preferiu ir a Davos, na Suiça''

O jovem jornalista caiu do cavalo: ''ah, então não é preocupação com as Farc''.

E eu fiquei a rir sozinho no carro... Joelmir pode ser o que for. Mas não briga com os fatos.

Os novos-ricos do jornalismo - esses garotos criados lendo só a Folha e O Globo - não conseguem nem fazer ironia. Eles, sim, são folclóricos.

Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/