segunda-feira, 28 de junho de 2010

Reflexões de Fidel...

Eu bem que gostaria de estar enganado


Quando estas linhas sejam publicadas no jornal Granma amanhã sexta-feira, o dia 26 de julho, data em que sempre recordamos com orgulho a honra de ter resistido os embates do império, ficará distante, apesar de que faltam apenas 32 dias.

Os que determinam cada passo do pior inimigo da humanidade ­―o imperialismo dos Estados Unidos, uma mistura de mesquinhos interesses materiais, desprezo e subestimação às demais pessoas que habitam o planeta― calcularam tudo com precisão matemática.

Na reflexão do dia 16 de junho escrevi: “Entre jogo e jogo da Taça Mundial de Futebol, as diabólicas notícias vão sendo colocadas de pouco e pouco, de maneira que ninguém se ocupe delas”.

O famoso evento esportivo tem entrado em seus momentos mais emocionantes. Durante 14 dias, as equipes integradas pelos melhores futebolistas de 32 países têm estado competindo para avançar rumo à fase de oitavos de final; depois virão sucessivamente as fases de quartos de final, semifinais e o final do evento.

O fanatismo esportivo cresce incessantemente, cativando centenas e talvez milhares de milhões de pessoas em todo o planeta.

Contudo, haveria que se perguntar quantos sabem que desde o dia 20 de junho naves militares norte-americanas, incluído o porta-aviões Harry S. Truman, escoltado por um ou mais submarinos nucleares e outros navios de guerra com mísseis e canhões mais potentes do que os velhos couraçados utilizados na última guerra mundial entre 1939 e 1945, navegavam rumo ás costas iranianas através do canal de Suez.

Junto das forças navais ianques avançam barcos militares israelitas, com armamento igualmente sofisticado, para inspecionar toda a embarcação que parta para exportar e importar produtos comerciais que o funcionamento da economia iraniana precisa.

O Conselho de Segurança da ONU, a proposta dos Estados Unidos, com o apoio da Grã-bretanha, a França e Alemanha, aprovaram uma dura resolução que não foi vetada por nenhum dos cinco países que ostentam esse direito.

Outra resolução mais dura foi aprovada por acordo do Senado dos Estados Unidos.

Com posterioridade, uma terceira, ainda mais dura, foi aprovada pelos países da Comunidade Européia. Tudo aconteceu antes de 20 de junho, o que motivou uma viagem urgente do Presidente francês Nicolás Sarkozy à Rússia, segundo notícias, para entrevistar-se com o chefe de Estado desse poderoso país, Dmitri Medvédev, com a esperança de negociar com o Irã e evitar o pior.

Agora se trata de calcular quando as forças navais dos Estados Unidos e do Israel se desdobrarão frente às costas do Irão, para se juntar ali aos porta-aviões e demais navios militares norte-americanos que estão de plantão nessa região.

O pior é que, igual do que os Estados Unidos, Israel, o seu gendarme no Oriente Médio, possui moderníssimos aviões de ataque e sofisticadas armas nucleares fornecidas pelos Estados Unidos, que o tornou a sexta potência nuclear do planeta por seu poder de fogo, entre as oito reconhecidas como tais, que incluem a Índia e o Paquistão.

O Xá da Pérsia fora derrocado pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini em 1979 sem empregar uma arma. Os Estados Unidos depois lhe impuseram a guerra àquela nação com a utilização de armas químicas, cujos componentes forneceu ao Iraque junto da informação requerida por suas unidades de combate e que foram empregues por estas contra os Guardiães da Revolução. Cuba sabe disso porque na altura era, como temos explicado outras vezes, Presidente do Movimento de Países Não- Alinhados. Sabemos bem dos estragos que causou em sua população. Mahmud Ahmadineyad, hoje chefe de Estado no Irão, foi chefe do sexto exército dos Guardiães da Revolução e chefe dos Corpos dos Guardiães nas províncias ocidentais do país, que suportaram o peso principal daquela guerra.

Hoje, em 2010, tanto os Estados Unidos quanto Israel, após 31 anos, subestimam o milhão de homens das Forças Armadas do Irão e sua capacidade de combate por terra, e às forças de ar, mar, e terra dos Guardiães da Revolução.

A elas se acrescentam os 20 milhões de homens e mulheres, entre 12 e 60 anos, escolhidos e treinados sistematicamente por suas diversas instituições armadas entre os 70 milhões de pessoas que habitam o país.

O governo dos Estados Unidos elaborou um plano para levar a cabo um movimento político que, apoiando-se no consumismo capitalista, dividisse os iranianos e derrocasse o regime.

Tal esperança já é inócua. Resulta risível pensar que com as naves de guerra estadunidenses, unidas às israelitas, despertem as simpatias de um só cidadão iraniano.

Por minha parte acreditava inicialmente, ao analisar a atual situação, que a contenda começaria pela península da Coréia, e ali estaria o detonante da segunda guerra coreana que, por sua vez, daria lugar de imediato à segunda guerra que os Estados Unidos lhe imporiam ao Irão.

Agora, a realidade muda as coisas em sentido inverso: a do Irão desatará de imediato à da Coréia.

A direção da Coréia do Norte, que foi acusada do afundamento do “Cheonan”, e sabe de sobra que foi afundado por una mina que os serviços de inteligência ianque conseguiram colocar no casco dessa nave, não esperará um segundo em agir logo que no Irão se inicie o ataque.

É muito justo que a torcida do futebol desfrute a seu bel-prazer das competições da Taça do Mundo. Cumpro apenas com o dever de fazer um apelo ao nosso povo, pensando sobretudo em nossa juventude, plena de vida e esperanças, e especialmente em nossas maravilhosas crianças, para que os fatos não nos apanhem por surpresa, absolutamente desprevenidos.

Doe-me pensar em tantos sonhos concebidos pelos seres humanos e as assombrosas criações das que têm sido capazes em apenas uns poucos milhares de anos.

Quando os sonhos mais revolucionários se estão cumprindo e a Pátria se recupera firmemente, eu bem gostaria estar enganado!




Fidel Castro Ruz

A esquerda sem alternativa??

A poesia do passado
Escrito por Emiliano Morais - Correio da Cidadania 
 
Os últimos dias na chamada imprensa alternativa - Brasil de fato, Correio da Cidadania, entre outros - foram marcados com uma questão um tanto insólita. Os teóricos da chamada esquerda em declínio (sim, em declínio por ser uma esquerda sem projeto) tomaram parte numa batalha épica.
 
Os setores desta esquerda atrelada à governabilidade, tendo no ápice das referências Lula e o PT, acreditam desgraçadamente que sendo seu projeto “democrático popular” uma espécie de política social-democrata atenderá aos anseios do povo numa fase de um capitalismo redimido. E através desta redenção do capital elevará do inferno aos céus uma sociedade mais igualitária. Observem o termo, igualitária. Notem que na gramática deste protótipo de esquerda a palavra socialismo não tem tradução.
 
Os Satãs, tomando a palavra no seu original grego que significa “os adversários”, se revestem de todo tipo de nuance para, de uma forma ou outra, se caracterizarem como o outro, numa posição de embate no grande coliseu das eleições. Mas de Satãs “os adversários” passam a diabos, “os acusadores”, e sem projetos que os caracterizam como alternativa no grande palco do “circo e pão” (eleições), lançam-se no pragmatismo das desqualificações todos os gladiadores.
 
Nesta luta titânica não foi reservado lugar para um exorcista, e Deus e Diabo, atraídos pelo mesmo engodo, sem apresentar uma alternativa para o país nos seus respectivos projetos, vagueiam entre afirmar o Estado burguês e negá-lo conservando-o, caracterizando assim alternativas “democráticas” que não mudam de conteúdo, apenas de forma. E mais uma vez na história a esquerda brasileira titubeia entre a necessidade de uma alternativa ao capitalismo e o “santo princípio liberal”.
 
Os gladiadores definem o princípio “Democrático” que norteia as suas elaborações programáticas com um gáudio: democracia, igualdade e liberdade. Tão pobre anseio robespieriano se a abstração tivesse ido um pouco mais além, pois está exposta no programa liberté, fraternité e egalité. Este sonho iluminista custou a cabeça de um dos maiores expoentes da revolução francesa e agora, como tragédia, retorna ao ideário da esquerda eleitoreira. Os mortos tolhem os vivos, como dizia Marx.
 
Primeiro tomemos o conceito “democracia” para análise. A democracia é um importante princípio da doutrina liberal, isso para não retomarmos seu original em grego, que nas palavras de Luiz Antônio Cunha consiste no igual direito de todos em participarem do governo através de representantes de sua própria escolha. Essa elaboração baseia-se nas formulações de Rousseau, ideólogo da moderna doutrina democrática.
 
É bom lembrar que o próprio Rousseau sabia das limitações da real aplicação deste princípio, das dificuldades práticas para a existência de um governo da maioria dos cidadãos.
 
Rousseau afirmou que, “tomando o termo em rigorosa acepção, nunca existiu, e nunca existirá, verdadeira democracia. É contra a ordem natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado. Não se pode imaginar que o povo permaneça incessantemente reunido para dar despacho aos negócios, e com facilidade se vê que, para esse efeito, não poderia estabelecer comissões sem mudar a forma de administração”. Por esse motivo a representatividade vem como a forma mais eficaz para aplicação de tal princípio.
 
O conceito poderia ser digestivo caso houvesse possibilidade de aplicação apenas de um dos princípios liberais, coisa extremamente inaplicável, pois, ao se aplicar um, todos vem à tona, não conseguem caminhar soltos, estão extremamente interligados.
 
Ao aplicar o princípio democracia, vossos programas se viram obrigados a considerar de importância ímpar aplicar outro princípio liberal: igualdade.
 
A igualdade, como pretendem os senhores, tenta transparecer uma nova forma de igualdade, uma igualdade de valores e paridade que não seja desigualdade entre os indivíduos. A igualdade é somente aplicada no modo de produção capitalista e este presume somente a igualdade perante a lei. Como na natureza os homens não são iguais em talento e capacidades, também não podem ser iguais na posse. E, para resolver tal problema, condiciona a igualdade somente junto à lei, igualdade de direitos entre os homens, igualdade de direitos civis.
 
Com diz Cunha, “todos têm, por lei, iguais direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à proteção das leis”. Marx, em a “Crítica ao programa de Gotha”, afirmou que este igual direito é direito desigual para trabalho desigual. Não reconhece nenhuma diferença de classes, porque cada um é apenas tão trabalhador como o outro. Mas reconhece tacitamente o desigual dom individual — e, portanto, (a desigual) capacidade de rendimento dos trabalhadores — como privilégio natural que uma nova sociedade precisa estabelecer na desigualdade entre indivíduos desiguais.
 
Ao transcender a igualdade logo se é conduzido à “liberdade”, outro princípio que juram ser de uma necessidade popular, porém apenas transfigurada em outro princípio liberal.
 
Na liberdade se exalta a livre organização da sociedade civil, conclamam os defensores da livre expressão, da movimentação (e aqui não conseguem ir além de explicar o nada), convocam os deuses em nome da livre atividade política e de organização dos(as) cidadãos(ãs). Esse princípio liberal que a ele empresta o próprio nome pleiteia antes de tudo a liberdade individual, e a partir daí todas as outras: econômica, intelectual, religiosa e política. A liberdade na priori liberal é a liberdade que os indivíduos têm na defesa da ação e das potencialidades, por isso está tão ligada ao princípio do individualismo. Por tal, não é de se admirar o fato de não ter aparecido na base do enfrentamento dos projetos.
 
Na luta pela transformação da sociedade capitalista em uma sociedade socialista, os proletários precisam munir-se de instrumentos que os botem em força superior aos burgueses, seu projeto não pode confundir-se com anseios liberais (burgueses) e nem com anseios social-democratas (aliança do trabalhador com a pequena burguesia). Seu projeto precisa trazer conteúdo novo e de caráter transformador, revolucionário. Um projeto de classe, da classe proletária, caráter que em momento algum foi planificado pela esquerda na disputa eleitoral.
 
Florestan Fernandes sabiamente afirmou que “na periferia do mundo capitalista e de nossa época não existem ‘simples palavras’. Se a massa dos trabalhadores quiser desempenhar tarefas práticas, específicas e criadoras, ela tem de se apossar primeiro de certas palavras chaves – que não podem ser compartilhadas com outras classes que não estão empenhadas ou não podem realizar aquelas tarefas sem se destruir ou se prejudicar irremediavelmente”.
 
Apegada a conteúdos burgueses, mais uma vez a esquerda brasileira perde a oportunidade de unificar-se na elaboração de uma plataforma única para a disputa política, aguardando somente as ações das movimentações de massas para a composição de um projeto de transformação socialista, já que é só na ação “prático-teórica” que é possível tal elaboração. Dividem-se no casulo que a história os reservou e garganteiam como feirantes o que de bom têm em vossas barracas programáticas.
 
Emiliano Morais é membro da direção do MST-MG.
Contato: emilianomorais@gmail.com

Artigo de Tarik Ali...

O que faz correr o General McChrsytal

Tariq Ali

Tariq 
Ali 
Na explosiva entrevista à revista Rolling Stones o general McCrhystal dispara em todas as direcções, não poupando sequer Barack Obama, a quem sempre apoiou. Será apenas o desespero pelo desenrolar da guerra no Afeganistão?

A entrevista kamikaze do general Stanley McChrystal produziu o efeito desejado. O general foi demitido e substituído pelo seu superior, general David Petraeus. Mas por trás do drama em Washington há uma guerra que vai de mal a pior e não há conversa fiada jornalística que oculte isso.
O empertigamento de Holbrooke (que é uma criação de Clinton) é significativo, não por seus defeitos pessoais, que são muitíssimos, mas porque a tentativa de Holbrooke de derrubar Karzai sem ter alguém confiável para por em seu lugar enfureceu os generais. Convencidos de que não há meio pelo qual vencer aquela guerra, os generais ficarão absolutamente órfãos e perdidos, sem Karzai: sem um ponto de apoio pashun no país, o colapso da OTAN-EUA pode alcançar proporções de Saigão.
Todos os generais sabem que o beco sem saída é sem saída, mas todos anseiam por construir reputações e carreiras e esperam fazê-lo testando novas armas e novas estratégias (jogos de guerra sempre atraem os generais, desde que não haja riscos reais para os generais, pessoalmente considerados); por isso obedeceram ordens apesar de praticamente não haver nenhum tipo de acordo nem entre os generais, nem entre eles e os políticos.
Obama sempre foi apoiado por Stan [McChrystal] e Dave [Petraeus], mas não pelo general Eikenberry, ex-patrão dos dois supracitados e atual embaixador dos EUA em Cabul. Eikenberry já está bem vingado, pelo beco sem saída e pelo quanto custou e ainda custará. Todos os «avanços» e «conquistas» de que os jornais vivem cheios e que são aumentados até a loucura são ilusórios. As baixas, de soldados dos EUA e da OTAN, só fazem crescer, semana após semana; multidões de cidadãos europeus e norte-americanos já fazem aberta oposição à guerra e pregam a retirada; diferentes facções dos Talibãs preparam-se para assumir o poder do Afeganistão; o Iran foi definitivamente afastado pelas sanções e não colaborará; a Aliança do Norte está ativa, os líderes trabalham como nunca, como os irmãos de Karzai, fazendo dinheiro. E, com reservas de lítio e tudo, é cada dia mais difícil sustentar as forças da OTAN no país.
Os militares paquistaneses mantêm contato permanente e estável com as lideranças Talibã e um Karzai já desesperado pediu que os EUA retirassem o nome de Mullah Omar e outros anciãos Talibã da lista de «terroristas», de modo a que possam viajar e participar na vida política do país. Resposta de Eikenberry: estamos preparados para considerar cada nome da lista, caso a caso, mas não haverá anistia geral. Com o tempo, ah, sim, também isso virá.
As eleições de meio de mandato nos EUA aproximam-se e Netanyahu é esperado como convidado especial da Casa Branca para ajudar a empurrar para cima a maré de apoio do lobby pró-Israel/AIPAC, a favor dos depauperados Democratas.
O que se ouve pelos salões de Washington é que Obama será obrigado a livrar-se de Gates no Pentágono e de Rahm na Casa Branca. O que ninguém parece estar percebendo é que McChrystal anda exibindo cara de muita fome.
Estará interessado em disputar a indicação pelo partido Republicano?
*Tariq Ali é editor da New Left Review, director da Editorial Verso e membro do Conselho editorial de Sin Permiso
Este texto foi publicado em www.lrb.co.uk/
Tradução de Caia Fittipaldi

Irã a bola da vez....

EUA e Israel e caminho do Irã
 
Barcos de guerra americanos e israelenses, incluindo porta aviões, atravessaram na sexta feira o Canal de Suez a caminho do Irã.


O governo egípcio teve a gentileza de proibir a navegação civil para não causar transtornos à frota da morte.


Por sua vez, a Arábia Saudita, em nome de Allah, convidou americanos e israelenses a utilizarem o seu espaço aéreo para atacar o Irã, um país muçulmano.


Tudo isso acontece sem qualquer repercussão na mídia que tem sua atenção voltada exclusivamente para a Copa do Mundo.


Quem conhece História sabe que nessas ocasiões é que os ratos saem do esgoto em busca de vitimas.


E quem imagina que a próxima vitima é o Irã engana-se redondamente.


A próxima vítima somos nós, que sempre pagamos a conta.


Sempre foi assim e assim continuará enquanto esse sistema putrefato permanecer respirando.