quarta-feira, 10 de outubro de 2007

LED ZEPPELIN - Discografia


1969 - Led Zeppelin
1969 - Led Zeppelin II
1970 - Led Zeppelin III
1971 - Led Zeppelin IV
1973 - Houses Of The Holy
1975 - PHysical Graffiti 1 / 2
1976 - Pressence
1976 Led Zeppelin The Song Remains The Same
1979 - In Through The Out Door
1982 - Coda


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Led Zeppelin
January 12, 1969
Remastered 1994
1. Good Times Bad Times (Page/Jones/Bonham)
2. Babe I'm Gonna Leave You (Page/Plant/Anne Bredon)
3. You Shook Me (Willie Dixon)
4. Dazed and Confused (Page)
5. Your Time Is Gonna Come (Page/Jones)
6. Black Mountain Side (Page)
7. Communication Breakdown (Page/Jones/Bonham)
8. I Can't Quit You Baby (Willie Dixon)
9. How Many More Times (Page/Jones/Bonham)

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Led Zeppelin II
October 22, 1969
Remastered 1994
1. Whole Lotta Love (Page/Plant/Jones/Bonham)
2. What Is and What Should Never Be (Page/Plant)
3. The Lemon Song (Page/Plant/Jones/Bonham)
4. Thank You (Page/Plant)
5. Heartbreaker (Page/Plant/Jones/Bonham)
6. Living Loving Maid (She's Just A Woman) (Page/Plant)
7. Ramble On (Page/Plant)
8. Moby Dick (Page/Jones/Bonham)
9. Bring It On Home (Page/Plant)

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Led Zeppelin III
October 5, 1970
Remastered 1994
1. Immigrant Song (Page/Plant)
2. Friends (Page/Plant)
3. Celebration Day (Page/Plant/Jones)
4. Since I've Been Loving You (Page/Plant/Jones)
5. Out On The Tiles (Page/Plant/Bonham)
6. Gallows Pole (Traditional)
7. Tangerine (Page)
8. That's The Way (Page)
9. Bron-Y-Aur Stomp (Page/Plant/Jones)
10. Hats Off To (Roy) Harper (Traditional)

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[untitled fourth album]
November 8, 1971
Remastered 1994
1. Black Dog (Page/Plant/Jones)
2. Rock and Roll (Page/Plant/Jones/Bonham)
3. The Battle of Evermore (Page/Plant)
4. Stairway To Heaven (Page/Plant)
5. Misty Mountain Hop (Page/Plant/Jones)
6. Four Sticks (Page/Plant)
7. Going To California (Page/Plant)
8. When The Levee Breaks (Page/Plant/Jones/Bonham/Memphis Minnie)

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Houses Of The Holy
March 28, 1973
Remastered 1994 (82639)
1. The Song Remains The Same (Page/Plant)
2. The Rain Song (Page/Plant)
3. Over The Hills and Far Away (Page/Plant)
4. The Crunge (Page/Plant/Jones/Bonham)
5. Dancing Days (Page/Plant)
6. D'yer Mak'er (Page/Plant/Jones/Bonham)
7. No Quarter (Page/Plant/Jones)
8. The Ocean (Page/Plant/Jones/Bonham)

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Physical Graffiti
February 24, 1975
Remastered 1994
Disc 1:
1. Custard Pie (Page/Plant)
2. The Rover (Page/Plant)
3. In My Time of Dying (Page/Plant/Jones/Bonham)
4. Houses of The Holy (Page/Plant)
5. Trampled Under Foot (Page/Plant/Jones)
6. Kashmir (Page/Plant/Bonham)
Disc 2:
1. In The Light (Page/Plant/Jones)
2. Bron-Yr-Aur (Page)
3. Down By The Seaside (Page/Plant)
4. Ten Years Gone (Page/Plant)
5. Night Flight (Page/Plant/Jones)
6. The Wanton Song (Page/Plant)
7. Boogie With Stu (Page/Plant/Jones/Bonham/Ian Stewart & Mrs. Valens)
8. Black Country Woman (Page/Plant)
9. Sick Again (Page/Plant)

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Presence
March 31, 1976
Remastered 1994
1. Achilles Last Stand (Page/Plant)
2. For Your Life (Page/Plant)
3. Royal Orleans (Page/Plant/Jones/Bonham)
4. Nobody's Fault But Mine (Page/Plant)
5. Candy Store Rock (Page/Plant)
6. Hots On For Nowhere (Page/Plant)
7. Tea For One (Page/Plant)

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(1976) Led Zeppelin The Song Remains The Same
CD1
01 - Led Zeppelin - Rock And Roll
02 - Led Zeppelin - Celebration Day
03 - Led Zeppelin - The Song Remains The Same
04 - Led Zeppelin - Rain Song
05 - Led Zeppelin - Dazed And Confused
CD2
01 - Led Zeppelin - No Quarter
02 - Led Zeppelin - Stairway To Heaven
03 - Led Zeppelin - Moby Dick
04 - Led Zeppelin - Whole Lotta Love

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In Through The Out Door
August 15, 1979
Remastered 1994
1. In The Evening (Page/Plant/Jones)
2. South Bound Saurez (Plant/Jones)
3. Fool In The Rain (Page/Plant/Jones)
4. Hot Dog (Page/Plant)
5. Carouselambra (Page/Plant/Jones)
6. All My Love (Plant/Jones)
7. I'm Gonna Crawl (Page/Plant/Jones)

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Coda
November 19, 1982
Remastered 1994
1. We're Gonna Groove (Ben E. King/James Bethea)
2. Poor Tom (Page/Plant)
3. I Can't Quit You Baby (Willie Dixon)
4. Walter's Walk (Page/Plant)
5. Ozone Baby (Page/Plant)
6. Darlene (Page/Plant/Jones/Bonham)
7. Bonzo's Montreux (Bonham)
8. Wearing and Tearing (Page/Plant)

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A gaiola se abre e a audiência voa: o caso da novela 2 Caras


Despenca a audiência da Globo, especialmente a da novela das oito. É prova de que "a era da massificação acabou", segundo o jornalista Nelson Hoineff. "O problema não está no 2 Caras, mas no que essa novela - e toda a programação que gira em sua volta - representa. Ontem, quem não via essa programação não fazia parte do mundo. Hoje, é justamente o contrário." Leia a íntegra de seu artigo.




Por Nelson Hoineff

A entrevista de Aguinaldo Silva para a Folha de S.Paulo de quinta-feira ("2 Caras desaba; autor culpa DVD e Orkut", 4/10/2007) sintetiza o que todos sabem, mas as emissoras de televisão fingem que não existe: a era da massificação acabou.

A novela das 8 está fazendo 35 pontos, o que não acontecia há dez anos. Mas não está sozinha. O Fantástico estacionou em pouco mais de 20 pontos. Nos bons tempos chegava a cravar 65. O Casseta e Planeta não passa dos 25. E o próprio Jornal Nacional está amargando a casa dos 30. A Record e o SBT disputam o segundo lugar com médias mensais entre os 6 e 7 pontos, como lembra a reportagem de capa da Veja com data de capa de 10 de outubro.

O público não está migrando para outras redes. Está caminhando na direção de outras mídias. "Agora até as criancinhas estão viciadas em Orkut", diz Aguinaldo. Não só em Orkut e não só as criancinhas. As pessoas estão desligando seus aparelhos de televisão e ligando seus computadores. Cerca de 36% dos televisores brasileiros estão desligados em pleno horário nobre. Isso nunca havia acontecido.

O índice vai cair muito na medida em que o brasileiro tenha acesso à internet em banda larga. E os televisores que estiverem ligados estarão cada vez menos construindo o imenso bloco dos cidadãos que precisam ser parte da audiência massiva para fazer parte da sociedade.

Televisão pelo celular

A Telefônica, a BrT, a Oi, todas as teles, enfim, estão lançando suas grades de IPTV, ainda timidamente, mas que em pouco tempo darão acesso à programação de TV a todos que tiverem uma linha telefônica. O tempo em que 80% da sociedade brasileira estava consumindo a mesma informação ao mesmo tempo é parte da história. Não voltará jamais. As crianças que estão nascendo agora demorarão para acreditar que isso um dia aconteceu.

A personalização do consumo midiático é um fato extraordinário num país que tem a televisão aberta mais abrangente do mundo. (Nos Estados Unidos, as três grandes redes abertas navegam hoje em torno dos 7% para cada uma.) As transmissões digitais vão potencializar esse quadro. Por isso as emissoras temem tanto qualquer passo que possa impactar o modelo de negócios estabelecido há mais de 50 anos.

Mas o impacto é inevitável. A grande batalha será travada nas transmissões para receptores móveis e portáteis. As transmissões começam oficialmente em 2 de dezembro, mas desde maio a Globo e a Band vêm colocando o sinal digital no ar. Ele pode ser captado hoje por qualquer um que disponha de um receptor digital portátil. Ele é do tamanho de um celular. Não pode ser encontrado ainda nas Casas Bahia, mas está disponível em qualquer esquina do Japão.

A partir de 2008 será, sim, o celular. A partir de então, o horário nobre (que concentra mais de 80% da receita das emissoras) não será mais o período em que o cidadão está em casa, mas todos os períodos em que ele estiver ocioso, seja no trânsito ou no intervalo para o lanche. No Japão, 40% da audiência televisiva já se dá pelo celular ou por qualquer outro tipo de receptor portátil. O japonês, em grande medida, já prefere ver televisão pelo seu aparelho de bolso, mesmo quando está em casa.

Procurando sua turma

Não é simplesmente uma tendência local. Ganha um doce quem encontrar um garoto de 15 anos que veja hoje televisão seqüencialmente. Que se sente com a família diante de um aparelho, como induziam os anúncios de revistas dos anos 50.

O consumo se individualizou e vai se individualizar mais e mais, fazendo com que a curva assintótica, conhecida como cauda longa, se estenda ao infinito. Mas as emissoras não perceberam isso - ou não querem acreditar no que estão vendo. Ficam espantadas quando o garoto não está vendo Paraíso Tropical. Acham que 2 Caras vai resolver o problema. Mas esse problema não mais será resolvido.

Até porque a fuga da audiência não é o problema, mas a solução, como erroneamente dizia Darcy Ribeiro sobre as favelas. A exacerbação da televisão generalista foi lida no Brasil como a necessidade de se tratar o espectador como débil mental. De tanto fazer isso, as emissoras passaram a acreditar que o espectador era mesmo um idiota. Compuseram para ele um cardápio oligofrênico que expressa muito mais o que os realizadores são capazes de fazer do que aquilo que o povo é capaz de entender.

A expansão da oferta do produto audiovisual está simplesmente fazendo com que a verdade venha à tona. O jovem, que tem acesso a inúmeras fontes de informação, sobretudo mas não apenas pela web, olha para a sua televisão e tudo aquilo lhe parece uma idiotice. Bota o seu fone de ouvido e vai procurar a sua turma.

Virando as costas

Não há um único argumento no mundo para sugerir que ele esteja errado. Durante muito tempo a sociedade brasileira via a sua televisão e não sabia o que poderia existir do lado de fora da gaiola. O que as novas mídias fizeram foi abrir a porta da gaiola. Levará menos de uma geração para que o modelo de programação desenvolvido pelas emissoras vá parar num museu antropológico.

Disso não escapa, é claro, a qualidade da informação jornalística. Antes mesmo que a informação objetiva apareça, o tratamento dado a quem vai consumi-la é bizarro. Que credibilidade pode ter quem se dirige a nós como idiotas?

O entorpecimento promovido pela própria televisão - que faz com que o espectador, devidamente lobotomizado, pareça não perceber como está sendo tratado, pretenda não saber qual é o passado da fonte da informação "isenta" que lhe está sendo passada - está tendo a sua resposta no comportamento das novas audiências, para as quais a gaiola está aberta e que se espantam, sim, vendo no televisor dos seus pais uma dramaturgia incrivelmente primária, um cardápio de atrações que parecem saídas de um circo de horrores, uma informação com sabor de hipocrisia que parece saída de um mundo construído sabe-se lá por quem.

Esse novo espectador está virando as costas a tudo isso. A informação que está procurando fala da sua tribo, dos seus anseios, da sua atitude, da sua visão do mundo, que certamente não é a visão filtrada pelos que estão comprometidos com a possibilidade de emburrecê-lo.

O problema não está no 2 Caras, mas no que essa novela - e toda a programação que gira em sua volta - representa. Ontem, quem não via essa programação não fazia parte do mundo. Hoje, é justamente o contrário.



Che (1): homem e exemplo



Escrito por Pietro Alarcón

Lembro que nos setenta a imagem do Che, estampada no muro de algum lugar da avenida e algo desgastada pelo sol e a chuva, me aguardava todos os dias quando me dirigia à Escola. Anos depois, ao final dos oitenta, observei a mesma imagem, quando no meio da praça que leva seu nome – Praça Che – na Universidade Nacional de Bogotá, discutíamos em um encontro estudantil sobre a necessidade de lutar pela redução do valor das matrículas, nossa oposição à guerra contra a União Patriótica e a solidariedade mais efetiva com o movimento agredido pelo paramilitarismo.

De volta a nossa Universidade, surgiu a idéia de desenhar um imenso Che em um dos muros centrais da Faculdade. Com um modelo pré-desenhado o trabalho foi mais simples do que pensávamos. Demoramos cerca de três horas – entre as 22 de segunda e a primeira hora da terça-feira.

À manhã seguinte o Che estava lá, eterno. Os cabelos ao vento. O olhar no futuro. E não foram poucos os que vieram a dar os parabéns para a gente. Época de lutas na rua, "Livros Sim... Armas Não!", de música e sonhos, os que não se vão ainda que amadureçam e mudemos de cenário.

Quarta feira, cedo chegamos à Faculdade. Para nossa surpresa: cadê o Che? Em seu lugar, a parede, agora pintada de branco, um branco intenso, para apagar qualquer sombra. Não pensamos muito, essa noite estava tudo pronto de novo. Na quinta, o Che estava lá. Montamos guarda a noite toda. Os porteiros não deixaram que ingressássemos na Universidade. Mesmo assim vigiávamos em sistema de rodízio. Descobrimos o que já sabíamos, a direção da faculdade contratou pintores para executar o serviço. Os pintores – três – foram convencidos de que não existiam condições objetivas para retirar a imagem, que passou a ser o símbolo da luta ideológica. Era questão de princípios: a pintura do Che era muito mais do que um capricho, pois representava o espírito de resistência organizada de um movimento estudantil que teimava em prosseguir, apesar das ameaças constantes à vida. E nada era mais vivo que o nosso Che. Aquele que, como todo que amamos, o consideramos nossa propriedade. Ao dia seguinte, festa na Faculdade, um grupo de alunos coletou mais de 1000 assinaturas para manter o Che. O resto foram reuniões, discursos, a Universidade sitiada, enfim, histórias a contar em outra oportunidade.

A “luta ideológica”

Sempre acho que, desde esse episódio, das clássicas formas de luta que se registram tradicionalmente na sociedade entre aqueles que impulsionam a transformação em prol do progresso e a justiça contra os que teimam em perenizar seus privilégios, a luta ideológica me pareceu a mais complexa. Isso porque a idéia é gerar uma consciência tal que motive ou bem seja uma atuação pela modificação ou uma pela conservação do status quo.

Nesse campo ideológico, a reconstrução do passado de conquistas e experiências dos movimentos sociais e das constantes práticas políticas dos trabalhadores, camponeses, intelectuais, ou seja, do acervo de lutas dos povos, constitui um dever. Até porque as constantes pressões dos meios de comunicação – aqueles em mãos de transnacionais midiáticas e com laços indissolúveis com a esquematização e mantença do poder por minorias sociais - criam caos, semeiam confusões, distorcem realidades, acomodam fatos. Enfim, tentam sempre impedir o reconhecimento justo aos seres humanos que, para além da própria vida, permitem inspirar a atuação presente e, ainda, oferecer um caminho em perspectiva vitoriosa, com reflexões e ações que, embora desde outra época, ainda podem encontrar validez, quando interpretadas com criatividade, diante do flagrante desrespeito à dignidade humana.

Não em vão divulgam valores a partir da promoção de certos heróis e falsos messias, proclamam símbolos que supostamente encarnam os desejos de todos Ainda que finjam de profetas, sabe-se do seu compromisso com poderosos esquemas. Tratam, assim, de moldar pensamentos de muitos, para sustentar ou dar estabilidade à situação que favorece apenas a uns quantos.

O fenômeno não é novo. É mais uma constante histórica. O Império Romano mostrava Espartacus, o pastor trácio que lutava contra a escravidão desde o Monte Vesúvio, de maneira sistemática como um assassino, visando criar uma imagem profundamente negativa entre as chamadas personas livres. Em que pese a máquina de propaganda da minoria romana no poder, a força do exemplo de Espartacus tem sido permanente no desenvolvimento de outros episódios em que se pretende o reconhecimento ou ampliação dos direitos.

Claro está que, no terreno da luta social, há os referentes legítimos, aqueles que os povos reconhecem, pessoas de carne e osso, que nascem e desenvolvem seu pensamento e ação nas mais difíceis circunstâncias. Como homens, seu diagnóstico sobre assuntos como a correlação de forças em determinado momento e espaço, sobre a conjuntura e a capacidade para agir em favor das mudanças, pode ser sempre discutido, – ao final, são homens, isso não desmerece sua atuação, pelo contrário, a dignifica ainda mais. Contudo, seu compromisso com a mudança histórica necessária, sua legitimidade ética, sua honestidade e transparência como atores históricos não admitem dúvidas. Esses aceleram o curso da história e fazem trânsito a ela e nela.

Como o vitupério não faz efeito – insensível, brutal -, então um setor dos formadores de opinião a serviço de interesses bem conhecidos usa uma outra fórmula: pretende convertê-lo em ícone inofensivo, um mito ideológico do qual se retira seu profundo potencial transformador. Assim, aventureiro irracional ou romântico ou até inatingível para o comum dos mortais são adjetivos nesse sentido, como se a aventura e o romance não fossem inerentes ao ser humano ou como se sua vida tivesse transcorrido fora da história.

Não, nada há fora da história e, nela, Che, assim como naquele tempo de estudante, continua vivo. Na verdade, não sem certa alegria constatamos que, se há quem tem necessidade de falar tão mal de alguém cuja morte faz 40 anos neste 09 de outubro, então, não há melhor reconhecimento de que seu pensamento, ação, sonhos, imagem e representação persistem ao tempo. No caso, não somente isso acontece, mas Che é ainda escandalosamente ameaçador para aqueles assentados nas galerias atuais do mais selvagem dos modelos econômicos.

Assim, a lembrança na nossa época não é melancólica, mas profundamente alegre. Como tampouco a reflexão sobre o vigor do pensamento de Che é uma retrospectiva dogmática ou uma leitura mecânica, mas apenas a constatação de que a apropriação criativa das experiências é uma virtude para todos os que pretendem contribuir a novos tempos.

Do nascimento à medicina

O caso é que, como se sabe, Che nasce no inverno austral de 1928 na Mesopotâmia Argentina, na antiga região Guarani, de sangre irlandesa e espanhola. Aos dois anos, após uma pneumonia, descobre-se a asma que, aliada ao mate, serão seus companheiros por toda a sua existência.

Sua primeira infância em Alta Gracia, na Serra de Córdoba, transcorre em um cenário no qual se misturam a austera elegância pós-colonial e o surgimento de uma classe operária, que prontamente é marginalizada. Ainda que alguns, dentre eles o próprio pai - Ernesto Guevara Lynch –, reconheçam a preocupação do Che com a questão social desde os tempos de juventude, é sabido que ele rejeitava essa idéia:

“No tuve nunca preocupaciones sociales durante la adolescencia ni participé mínimamente en la lucha política y estudiantil en Argentina”, diz em carta ao escritor Lisandro Otero, em 1963.

Como atesta seu amigo de sempre, Alberto Granado, o que nunca poderia ter rejeitado, ainda que quisesse - e nem sequer por excesso de modéstia -, era sua vocação pela leitura. Pré-adolescente asmático, sem poder realizar grandes esforços físicos, a doença o obrigava a permanecer tranqüilo, o tempo que aproveitava para ler obras de aventuras e personagens míticos. Desfilaram ante seus olhos Julio Verne, Alexandre Dumas e Emilio Salgari. Leu, também, o "Pequeno Príncipe" de Saint-Exupery ao tempo que mostrava notável interesse pela arqueologia e a antropologia.

Depois, as leituras de Paul Verlaine, de Baudelaire e Sartre, diretamente do francês e acompanhadas dos comentários da sua mãe – Célia de la Serna –, marcariam um aprimoramento da sua sensibilidade.

Caminhou, andou de bicicleta, praticou rúgbi, natação e alpinismo, estudou grafologia e decidiu-se primeiro a estudar engenharia, até que, em 1947, se inscreve na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires. Paciente de um famoso alergista da época – o Dr. Salvador Pisani –, passou, pouco depois, a ser seu colaborador.

Quando em dezembro de 1951 inicia sua viagem com Granado pela América Latina na motocicleta batizada como "A Poderosa", é indubitável que as motivações da leitura o acompanham, ainda que a desculpa oficial seja a visita a alguns leprosários com o objetivo de desenvolver pesquisas sobre alergias e vacinas. O desejo de conhecer o continente, de procurar o sentido da sua própria liberdade, será determinante no futuro e, nesse processo, suas leituras mudam, ligadas agora mais a conhecer a literatura hispano-americana.

Conhece a América desde o Chile até a Venezuela e, de volta a Buenos Aires, forma-se em medicina para, em julho de 1953, partir novamente, agora com preocupações que conjugam a ciência e o desenvolvimento do social.

De fato, a visão da difícil realidade econômica dos povos da América o impacta desde a sua primeira viagem e inspiram novos horizontes temáticos. Tudo o que é humano interessa, os ritos, as tradições, as lendas. Daí suas visitas a Machu Picchu, mas também às ruínas do antigo Império Maia na Guatemala em 1954 e às do Império Asteca em 1955.

Na Guatemala, no início de 1954, começa a trabalhar no projeto de escrever uma obra sobre a função do médico na América Latina. É a época de Jacobo Arbenz, o presidente que nesse país centro-americano promove um processo de reformas democráticas. Che prontamente se dispõe a trabalhar com o governo, até que a intervenção da CIA dará lugar ao golpe de Estado que conduzirá o Coronel Castillo Armas ao poder. Refugiado na embaixada Argentina, obtém uma bolsa para realizar estágio no Hospital Geral de México.

Em carta a sua mãe, em abril de 1954, declara: “De dos cosas estoy seguro: la primera es que si llego a la fase auténticamente creativa, entre los 30 y 35 años, mi ocupación exclusiva o al menos la principal será la física nuclear, la genética o una materia de este tipo, que reagrupe muchas de las cosas más interesantes del conocimiento; la segunda es que América Latina será el teatro de mi aventura con un peso mucho más grande de lo que había creído” .

No México, em 1955, Che começa a colaborar com um grupo de exilados cubanos que preparam a expedição à ilha, no intuito de lutar contra a ditadura de Fulgêncio Batista.

Ali, nesse instante, define-se muito de seu futuro, mas também do futuro de outros muitos.

Essa é uma história que também merece ser lembrada.

Pietro Alarcón, advogado, colombiano, é professor da PUC-SP.