quarta-feira, 24 de junho de 2009

Coisas da Sofia...

Teorias do seu próprio

By Sofia Yamin

São tantas teorias que tento criar, apenas algumas delas possuem fundamento.
Tento não racionalizar...
Mas me descubro examinando-as com tanto cuidado que acabo por imaginar um fundo de realidade em cada uma.
Claro, prefiro acreditar na aplicabilidade de algumas, mas tantas são tão tolas ou mesmo inimagináveis de serem construídas num plano real... Que acabo por me esvairir na minha plena harmonia de ser eu. E quem sou eu? Ah sim, eu tento definir... Mas tal definição é para poucos, não tente descobrir.
Aquelas teorias então... São aplicáveis ainda ao meu ser. Apenas eu. Podes usar alguma se quiseres, mas deves entendê-la no seu todo.
Tudo bem, cada uma é mutável a sua própria essência... No entanto, qual é a graça em desenvolver uma teoria própria, original, aplicável apenas a uma pessoa racional ou mesmo irracional nos sentidos de sentir, ser, existir?
Só posso dizer que nesse momento sou completa.
Planejo meu destino, nem sempre sou bem sucedida.
Sinto o que eu faço, vejo as vozes, leio as pessoas, examino a mim mesma com uma lupa.
E com essa mesma lupa olho a essência da pessoa mais perto de mim.
Assim verbalizo meu gosto de sentir o sabor das palavras, da inocência, da irracionalidade, da ação.
Afinal, para eu me sentir completa, eu preciso de identificação ou contrariedade?
Apenas prefiro sentir, tento sentir sem racionalizar.
Mundo repleto de teorias inimagináveis e imperceptíveis à alma comum.

A síndrome do manual


Escrito por Wladimir Pomar

www.correiocidadania.com.br

Se a militância com consciência adquirida, aproveitando-se do conhecimento de outras experiências de luta, for capaz de sugerir ações que ajudem as massas a superar suas dificuldades, teremos um caso concreto de influência da consciência sobre a mobilização espontânea.

No entanto, como em tudo o mais, foi a prática anterior que forjou aquela consciência. E será a prática da luta que comprovará se a influência consciente foi eficaz e contribuiu para a vitória. Ou se, ao contrário, não teve efeito, ou contribuiu para a derrota. Não é por acaso que alguns marxistas consideram a prática como o critério para definir a verdade, e sintetizam o método marxista como a análise concreta de uma situação concreta.

Em outras palavras, nenhum manual pode dar conta de todas as situações que a realidade oferece. No fundo, a dificuldade de uma parte da esquerda brasileira, diante da atual realidade e atitude das massas populares, consiste justamente no fato de que a situação política de nosso país, assim como de vários outros países do mundo, inclusive da América Latina, não consta de qualquer manual.

Vale a pena lembrar que, como uma das formas de resolver a questão agrária, Marx chegou a sugerir que os latifundiários fossem indenizados. O que, para alguns pensadores de esquerda, deve parecer uma espécie de traição. E que Engels, por sua vez, levantou a hipótese de que os social-democratas (quando os social-democratas eram revolucionários) poderiam chegar ao governo por via eleitoral, o que agora está se configurando como realidade.

Essas sugestões dos fundadores do materialismo histórico são, em geral, desconhecidas. E a possibilidade de sua concretização jamais fez parte de qualquer dos posteriores manuais doutrinários da esquerda. Assim, é natural que um sem-número de líderes e militantes populares estejam incomodados com a situação, inusitada, de partidos populares, partidos socialistas e partidos comunistas estarem vencendo eleições para governos. Isto, num continente que se notabilizou, até os anos 1980, algumas vezes, inclusive, com apoio social, por políticas ferozmente anti-populares, anti-socialistas e anticomunistas.

Também é natural que esses líderes e militantes, numa espécie de ação de autodefesa, abjurem tudo que cheire a espontaneísmo, mesmo que seja a espontaneidade de grandes massas populares. Ou que chancelem como traição tudo que se assemelhe à administração do capitalismo realmente existente, ou qualquer aliança com setores burgueses.

Um dos problemas reside em que, ao fazerem isso, quase sempre descambam para o voluntarismo, mesmo que apenas verbal. Ou, o que é pior, sob o argumento de que uma parte da esquerda traiu seus ideais, resvalem para posições conservadoras ou reacionárias, tomando-as como "mais progressistas". Exemplo evidente disso são as alianças políticas, especialmente nos parlamentos, entre setores da ultra-esquerda e o tucanato, sob o argumento de que o governo Lula é neoliberal e castrador da iniciativa popular.

Isso é o que se pode chamar de síndrome do manual. Com ela, esses setores abandonam qualquer possibilidade de elaborar políticas que respondam à realidade concreta com que nos defrontamos. E, como resultado, corremos o risco de vê-los apoiando o "progressista" Serra contra o candidato do PT e de Lula, nas eleições de 2010.

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

Irã: o fim da encenação de "revolução colorida"


Por M.K.Bhadrakumar*, Asia Times Online
Tradução: Caia Fittipaldi


Os israelenses são muito realistas. (...) Por isso, o primeiro sinal de alerta de que ninguém esperasse alguma "Twitter revolution" no Irã, porque o projeto estaria condenado ao fracasso, veio dos israelenses. Os israelenses foram os primeiros a observar que permanecia inalterada a capacidade política do Líder Supremo Ali Khamenei para manter a ordem, por mais explosiva que parecesse a situação e por mais que a mídia 'ocidental' repetisse incansavelmente que o regime iraniano estaria "por um fio".


Se alguém ainda duvidasse da "armação'', bastaria, para convencer-se, observar a fúria da mídia estatal da Arábia Saudita, em ataque violentíssimo, dirigido pessoalmente contra Khamenei e o presidente Mahmud Ahmadinejad -- ataque que contradiz as tradições da ta'arof (polidez) e, até, também, da taqiyah (dissimulação), tão importantes nessa parte do mundo. Acabaram-se as esperanças tão longamente cultivadas por Riad, de ver o enfraquecimento do regime iraniano que resultaria de alguma "longa crise". O principal interlocutor da Arábia Saudita, Akbar Hashemi Rafsanjani, foi varrido do tabuleiro. Riad que se prepare, agora, para enfrentar a ira de Teerã.


Israel: um correto prognóstico


Em extraordinário "vazamento" para a mídia do final da semana, imediatamente depois do histórico discurso de Khamenei nas orações da 6ª-feira, Meir Dagan, chefe do Mossad israelense, deixou "escapar" que a vitória do candidato de oposição, Mir Hossein Mousavi, nas eleições presidenciais de 12/6 no Irã significaria "grandes problemas" para Israel.


Os israelenses têm modo próprio de dizer as coisas. Meir Dagan não fez senão reconhecer, com sutileza, a realidade política em Teerã, que Israel não conseguirá alterar. Falando em audiência da Comissão de Defesa e Relações Internacionais do Parlamento israelense, em meados da semana passada, o espião-chefe de Israel já previa que os protestos em Teerã acabariam, por total falta de oxigênio. Segundo o jornal Ha'aretz, Dagan disse: "Não houve fraude nas eleições no Irã; se houve, é a fraude-padrão que sempre acontece em todos os Estados liberais em todas as eleições. A disputa no Irã é assunto interno e nada tem a ver com as aspirações estratégicas do país nem como programa nuclear -- que não se alterarão, seja quem for o próximo presidente."


Em seguida, explicou: "O mundo -- e nós -- já conhecemos Ahmadinejad. Se o candidato reformista Mousavi tivesse sido eleito, Israel estaria em situação mais difícil, porque seria preciso explicar ao mundo o perigo iraniano, porque o mundo imagina que Mousavi seja elemento moderado. É preciso lembrar que o programa nuclear iraniano foi iniciado por Mousavi, quando primeiro-ministro."


A análise é perfeitíssima. Israel rapidamente informou a Teerã, por canais diplomáticos discretíssimos, que Israel nada tinha a ver com nenhuma revolução "colorida". Foi informe muito oportuno. De fato, divisões que agora vieram à tona em Teerã existem há muito tempo e são divisões do regime iraniano, muito mais do que de alguma sociedade iraniana. É muito evidente para quem conheça a região, que não está em andamento qualquer tipo de revolução "colorida" no Irã. Todos sabem disso; até um incansável crítico do regime, como o veterano escritor Amir Taheri, já admitiu:


"O regime beneficiou-se da fanfarronice de Ahmadinejad; ninguém, na sociedade iraniana conhece alguém melhor que Ahmadinejad para fazer o que Ahmadinejad faz. O ponto fraco de Ahmadinejad é ainda não ter podido por na cadeia os mulás mais ricos e corruptos, como prometeu que faria. (...) Hoje, é a mais autêntica manifestação do movimento Khomeinista, de um modo tal que nem Mousavi nem [o ex-presidente Mohammad] Khatami, ou qualquer outro desses Khomeinistas jamais seriam."


Limitações de Mousavi


Contra todas as evidências, Mousavi reacendeu muitas esperanças no "ocidente"-- sobretudo em Londres, Paris e Berlin --e em algumas das capitais árabes 'pró-ocidente'. Mas, isso, porque todos conhecem Mousavi, que foi Chanceler e primeiro-ministro entre 1981 e 1989. Ninguém jamais pensou que se tratasse de reformador ou que tendesse a alguma "modernidade". Nas palavras do mesmo Taheri, cronista bem-informado do Oriente Médio, Mousavi, enquanto esteve no poder, "construiu ampla rede de contatos nos EUA, Europa e países árabes".


Taheri lembra, por exemplo, que o homem que conduziu as demoradas negociações na Argélia, que resultaram na libertação dos reféns norte-americanos em 1981, Behzad Nabvi, ainda é, hoje, assessor de Mousavi. E também Abbas Kangarioo, que conduziu as negociações secretas com o governo de Ronald Reagan que se conhecem hoje como "Irãgate", ou "o negócio Irã-Contras". Kangarioo, amigo e assessor-chave de Mousavi, também é conhecido por ter "construído uma rede de contatos nos círculos diplomáticos e dos serviços secretos, na Europa e nos EUA".


Como seria de esperar, Taheri estima que, embora a fama de Mousavi tenha alcançado alguns dos círculos mais fechados da espionagem ocidental, ele, "em casa", só seduz alguns grupos das classes médias urbanas que desejam apagar do mundo a "revolução khomeinista" (...). Gente como Mousavi e os ex-presidentes Mohammad Khatami e Hashemi Rafsanjani já deixaram, há muito tempo, de serem vistos como revolucionários genuínos e confiáveis".


Pensando por outras vias, Taheri chega praticamente à mesma conclusão definitiva à que chegou o chefe dos espiões israelenses: um interlocutor fraco sem qualquer apoio da base khomeinista, como Mousavi, jamais teria poder para fazer todas as concessões que os EUA, os europeus e os árabes exigem; mas Ahmadinejad, sim, pode chegar a uma posição menos dura do que a que defende hoje; em todos os casos, qualquer concessão que Ahmadinejad venha a fazer, sempre poderá ser apresentada como "recurso pragmático de negociação". O ocidente parece acreditar que será mais fácil negociar com Ahmadinejad, que tem base de votos e representação legítimas.


Se se avaliam os quatro anos passados, é fato que Ahmadinejad restaurou a conexão entre o regime e o discurso populista radical. "Há quatro anos", escreveu Taheri, "o regime era visto como governo de uma claque de mulás sem expressão e seus sócios comerciais, que governavam o país como se fosse empresa da qual fossem os sócios majoritários. Os grupos mais oprimidos, os excluídos dessa ordem político-econômica viam-se a si mesmos como vítimas de uma espécie de grande traição histórica. Com Ahmadinejad, chegou ao poder uma nova geração de políticos desligados da imagem de corrupção dos governos anteriores, associados aos princípios islâmicos de probidade; assim os pobres e oprimidos voltaram a crer que nem tudo estivesse perdido."


O populismo de Ahmadinejad é faca de dois gumes; se for excessivamente explorado, acabará por minar a legitimidade do regime, que incluiu grupos ativos de corrupção também no establishment clerical. Mas Ahmadinejad é político inteligente. E amadureceu, é claro, nos quatro anos de presidência. Embora autodesdescreva-se como locomotiva sem freios, Ahmadinejad sabe onde e quando parar e olhar em volta para ver em que ponto do campo estão os demais jogadores. Por isso, denunciou inúmeras práticas de corrupção e ameaçou processar vários políticos de destaque, mas parou pouco antes de ter, mesmo, de processar alguém. A questão realmente importante (também para a oposição) é saber se Ahmadinejad, no segundo mandato, voltará a lançar sua rede de pescar corruptos.


Rafsanjani perdeu a guerra


E Khamenei continua a ser o árbitro, líder supremo de fato e de direito. Ahmadinejad não contestou a legitimidade de Khamenei, antes a reconheceu e reafirmou, ao manifestar, em carta formal, sua "gratidão" a Khamenei por suas "preciosas observações" nas orações da 6ª-feira. O último ato no palco do poder, na 6ª-feira, mostrou que Khamenei efetivamente conseguiu abortar a tentativa, por Rafsanjani, de criar alguma espécie de levante entre os clérigos, em Qom. O ponto definitivo, que demarcou o fracasso do golpe de Rafsanjani aconteceu na 5ª-feira, quando a maioria dos 86 membros do Conselho dos Guardiões (que fora chefiado por Rafsanjani) abertamente apoiaram Khamenei. (...) Armado com todo esse apoio, Khamenei pôde fazer seu sermão histórico, na 6ª-feira, 19/6, quando negou definitivamente qualquer possibilidade de modificar o resultado das eleições. Rafsanjani não foi visto na mesquita, para ouvir o sermão em que Khamenei apoiou Ahmadinejad, aberta e claramente, chamando atenção para o quanto coincidem os pontos de vista de ambos.


Khamenei referiu-se a Rafsanjani pelo primeiro nome, não estando ele presente. A mensagem foi ouvida, alta e clara: a supremacia de Khamenei continua intacta e não deve ser contestada. Ainda mais significativo: Khamenei absolveu Rafsanjani nas acusações de corrupção pessoal; mas deixou aberta a possibilidade de que vários membros de sua família sejam processados por corrupção. Daqui em diante, Rafsanjani terá de pesar cuidadosamente cada um de seus passos; e tem de temer a espada de Dâmocles que foi pendurada sobre a cabeça de seus parentes, os quais -- segundo dizem muitos, em Teerã -- acumularam fortunas imensas, nem sempre por vias legais.


Khamenei, além disso, tampouco fez qualquer esforço para contradizer as acusações que Ahmadinejad introduziu na campanha eleitoral, de que Rafsanjani conspirara com o regime saudita para derrubar o governo Khamenei. É ideia que só pode ter chegado ao presidente por informes dos serviços de inteligência do Irã; e os serviços de inteligência trabalham sob supervisão direta e atentíssima de Khamenei.


No sábado, a Assembléia dos Especialistas deu um passo adiante e manifestou "integral apoio" às palavras de Khamenei. Conclamou a nação a seguir a orientação de Khamenei. Também no sábado, as forças armadas; a Associação de Professores do Seminário de Qom; e inúmeras outras vozes sociais influentes no regime declararam apoio a Khamenei. Os clérigos ditos "reformistas" alinhados com Khatami mudaram de ideia e já cancelaram as manifestações marcadas para o sábado.


A dura realidade, portanto, é que os imensíssimos poderes de Khamenei permanecem intactos. Pode deixar que prossigam as manifestações dos seguidores de classe média rica a favor de Mousavi, deixando que se autoconsumam no próprio alarido; tem autoridade e poder para fazê-lo. Isso implica dizer que é possível que os "protestos" continuem por mais algum tempo -- o que parece improvável , porque o próprio Mousavi já sabe que está num beco sem saída --, sem que qualquer manifestação urbana cenográfica implique qualquer ameaça ao poder de Khamenei.


Nas palavras de Taheri, "Autoproclamados 'especialistas' em Iran parecem não perceber que Mousavi foi uma espécie de balão-de-ensaio lançado por alguns setores da classe média, para expor sua ira contra não só o presidente eleito e reeleito, mas, também, contra todo o regime Khomeinista. De fato, não há sequer uma linha no currículo de Mousavi (...) que o torne mais atraente para aquela classe média ocidentalizante que Ahmadinejad."


No final de todo o espetáculo, a comunidade internacional só pode suspirar aliviada por, no momento em que se encenava esse drama complexo e extremamente difícil de decifrar, já não haver qualquer George W Bush na Casa Branca, em Washington. Parece pelo menos possível que o novo presidente dos EUA, Barack Obama, consiga entender ou pressentir as sutilezas da situação; é crível que tenha, sim, decidido adotar posição de distanciamento e equilíbrio e manter-se nela, apesar da pressão que parecem estar fazendo os mais conservadores.


Os comentários de Obama nem de longe contestaram a legitimidade de Ahmadinejad (nem de Khamenei) para governarem o país. Obama tampouco se identificou com a "exigência" (de Mousavi) de novas eleições. De fato, Obama deixou-se ficar ostensivamente separado de Mousavi. Mais que isso, nada fez que sugerisse a possibilidade de "retirar" a oferta de "mãos estendidas" em direção ao Irã.


(...) Os iranianos viram bem claramente que as palavras de Obama foram e continuam muito atentamente moduladas, embora, diz Teerã, a "Voz da América" tenha feito comentários contraditórios em relação ao que disse o presidente Obama. O ministro das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki, em fala divulgada por rádio e TV em Teerã, criticou Inglaterra, França e Alemanha; mas não fez qualquer referência aos EUA (nem a Israel). Parece que Teerã está afinando a mira, primeiro, contra a Inglaterra.


Mottaki disse que os ingleses treinam sabotadores no Iraque e os infiltram em território iraniano. Sinal de que a autoconfiança de Teerã está em alta, é terem escolhido a Inglaterra como alvo, até, de ironias. Mottaki disse que o mundo mudou e é mais que hora de a Inglaterra aposentar velhas fantasias de que "o sol jamais se põe no Império Britânico".


*M. K. Bhadrakumar é diplomata de carreira do MRE indiano. Serviu na União Soviética, na Coreia do Sul, no Sri Lanka, na Alemanha, no Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.