terça-feira, 30 de novembro de 2010

Índia e Israel, uma parceria confidencial


A cooperação armamentista entre os países é antiga e movimentou, em dez anos, US$ 10 bilhões. De maneira paradoxal, a aproximação com Israel deu à Índia uma alavanca em sua política no Oriente Médio: os Estados da região aprenderam a levar em consideração os interesses indianos
por Isabelle Saint-Mézard no Le Monde


Índia e Israel nasceram com um ano de intervalo, a primeira em 1947 e o segundo em 1948, sobre os escombros do Império Britânico, ao fim de um violento processo de divisão. Apesar de ambos experimentarem, desde o início, conflitos internos complexos, marcados por recorrentes enfrentamentos armados, isso não foi suficiente para criar afinidades entre os dois países. Muito pelo contrário.
A partir dos anos 1920, os chefes do movimento nacionalista indiano uniram-se aos árabes da Palestina contra o imperialismo britânico, opondo-se à vontade sionista de criar um Estado judeu. A Índia votou contra o plano de partilha da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, e só reconheceu Israel em 1950. Até os anos 1980, ela continuou compondo um bloco com os países árabes na defesa do direito dos palestinos a um Estado soberano.
Essa postura, claro, era cheia de segundas intenções. A Índia preocupava-se com um possível alinhamento do mundo muçulmano às reivindicações paquistanesas sobre a Caxemira. Havia também o imperativo da segurança energética: Nova Délhi dependia dos países do Oriente Médio para seu abastecimento de petróleo. Além disso, para atenuar o grave desequilíbrio de sua balança de pagamentos no fim dos anos 1980 e na virada da década de 19901, contava com o dinheiro enviado por seus numerosos cidadãos que trabalhavam nos países do Golfo.
No entanto, com o passar das décadas, o fosso entre Índia e Israel reduziu-se. Desde os anos 1960, os dois países estabeleceram contatos secretos no campo militar e de informação. Israel mostrou-se disposto a ajudar o exército indiano em seus conflitos com a China (em 1962) e depois com o Paquistão (em 1965 e 1971). Em 1978, o então ministro de Defesa do país, Moshe Dayan, chegou a fazer uma visita secreta ao governo indiano para evocar uma eventual cooperação. Finalmente, em 1992, Nova Délhi estabeleceu laços diplomáticos formais com Tel Aviv. Essa decisão foi facilitada por um contexto internacional marcado pelo fim da Guerra Fria e pela conferência de Madrid, em outubro de 1991, sobre o Oriente Médio, que deixava entrever perspectivas de paz. Mas decorria também de uma decepção da Índia diante dos ínfimos resultados de sua política externa: não apenas Nova Délhi não neutralizou a influência do Paquistão junto aos países árabes, mas viu inúmeras vezes a Organização da Conferência Islâmica (OCI) adotar resoluções que condenavam suas posições sobre a Caxemira.
Embora tenha sido o Partido do Congresso, de centro-esquerda, que primeiro estabeleceu relações diplomáticas com Israel, foram os extremistas hindus do Bharatiya Janata Party (BJP) que, no poder entre 1998 e 2004, levaram ao máximo a parceria e deram um novo significado a ela. Desconfiado e até mesmo hostil em relação ao mundo muçulmano, o BJP não teve pudores em declarar abertamente sua simpatia por Tel Aviv. O contexto do pós 11 de setembro reforçou ainda mais esse novo laço, pois o governo de coalizão do BJP começou a promover a ideia de um “front das democracias liberais” face à ameaça do terrorismo islâmico.
 
Antiterrorismo
Essa visão política desembocou no sonho de um triângulo estratégico entre Israel, Índia e Estados Unidos2, ideia enunciada pela primeira vez no dia 8 de maio de 2003 por Brajesh Mishra, então conselheiro nacional de segurança indiano, no jantar de gala anual do American Jewish Committee (Comitê Judaico Americano): “Nosso tema principal aqui é lembrar coletivamente o horror do terrorismo e celebrar a aliança das sociedades livres engajadas no combate contra essa calamidade. Estados Unidos, Índia e Israel foram os principais alvos do terrorismo. Eles devem enfrentar em conjunto essa mesma monstruosa aparição que é o terrorismo dos tempos modernos3.” Em seguida, ocorreram discussões entre representantes dos três governos, sobretudo a respeito das questões de defesa e antiterrorismo.
Em 2004, o retorno do Partido do Congresso à frente de um governo de coalizão atenuou essa dimensão ideológica. Mas, no fundo, a relação israelo-indiana não foi substancialmente afetada. Pelo contrário, os laços diversificaram-se e nasceram colaborações nos setores da agricultura, turismo, ciências e tecnologias. Embora continuem largamente tributárias da indústria do diamante (quase 50% do volume total das importações e exportações entre os dois países em 2008)4, as trocas comerciais passaram de US$ 200 milhões em 1992 para US$ 4 bilhões em 2008. Mas a defesa permanece o centro da cooperação.
A sobrevivência da indústria armamentícia israelense depende de suas exportações. Até o fim dos anos 1990, elas eram realizadas majoritariamente em direção à China. Mas o veto dos Estados Unidos à transferência de tecnologias sensíveis a Pequim forçou Tel Aviv a voltar-se para outros mercados, entre os quais a Índia. Essa reorientação mostrou-se lucrativa, pois se deu num momento em que o crescimento econômico finalmente permitia que Nova Délhi financiasse suas necessidades (consideráveis) em matéria de defesa. A Índia, por sua vez, procurava novos fornecedores, pois os russos só conseguiam suprir parcialmente o vazio deixado pelo desaparecimento da União Soviética. Por fim, os Estados Unidos também aproximaram-se da Índia, facilitando as transferências de tecnologia. Os radares israelenses Phalcon, desenvolvidos pela indústria de defesa de Israel para a força aérea indiana5, são um bom exemplo disso. Depois de ter proibido a venda à China em 2000, Washington autorizou que ela fosse realizada para a Índia. Nova Délhi tirou dessa experiência uma conclusão clara: a aproximação com Tel Aviv permitiria-lhe o acesso às tecnologias de ponta que os Estados Unidos recusavam-se tanto a exportar.
Assim, em uma década, Tel Aviv conseguiu impor-se entre os principais fornecedores de armamento à Índia, que se tornou seu primeiro mercado de exportação. O volume dos contratos assinados ao longo dos dez últimos anos é estimado em algo próximo a US$ 10 bilhões6. Flexibilidade e reatividade foram os grandes trunfos de Israel. Flexibilidade porque o país teve de se adaptar às particularidades das forças armadas indianas, cujos equipamentos são, em sua maioria, de origem russo-soviética – daí os polpudos contratos para a modernização de tanques, porta-aviões, helicópteros e aviões de combate russo – todos equipados com material eletrônico israelense. Reatividade, com o abastecimento de emergência do exército indiano em munição, durante o enfrentamento com o Paquistão na Caxemira, em 1999, a chamada “crise de Kargil7”.
 
Cooperação
A cooperação industrial concentrou-se em dois setores de ponta: de um lado, radares de vigilância e drones; de outro, sistemas de mísseis. No que concerne aos primeiros, um contrato no valor de US$ 1,1 bilhão foi fechado em 2004 para a venda de três Phalcon. Já em relação aos mísseis Barak, a cooperação teve início em 2001, com um contrato de US$ 270 milhões para a venda de um sistema de defesa antinavio. Os negócios deram um passo decisivo em janeiro de 2006, quando os dois países decidiram codesenvolver uma nova geração do míssil. Um ano depois, eles anunciaram um projeto de acordo no valor de US$ 2,5 bilhões para o codesenvolvimento de um sistema de combate antiaéreo baseado no Barak, mas dessa vez destinado à força aérea e ao exército em terra.
As imagens de satélite são outro ponto de troca entre as nações. Em janeiro de 2008, a Índia lançou, por conta de Israel, um satélite de espionagem de última geração, capaz de fornecer informações sobre as instalações estratégicas iranianas. E, por sua própria conta, em abril de 2009 lançou outro, adquirido emergencialmente após os atentados de Mumbai, que, em novembro de 2008, fizeram 170 mortos e revelaram graves lacunas em matéria de vigilância do território. O país também comprou radares israelenses, por um valor de US$ 600 milhões, com o objetivo de reforçar seu dispositivo de alerta ao longo da costa ocidental.
Não há dúvida de que Israel está em posição privilegiada para acompanhar a Índia em seu esforço de aperfeiçoamento do dispositivo de segurança do território e, de maneira mais geral, para aprofundar uma cooperação já estreita em matéria de contraterrorismo. Os israelenses ajudaram na construção de uma barreira ao longo da linha de controle com o Paquistão, forneceram diversos sistemas de vigilância para impedir a infiltração de militantes islâmicos. Mas, acima de tudo, os israelenses estão entre os raríssimos intervenientes externos a fazerem-se presentes no teatro de operações da Caxemira.
 
Hoje Nova Délhi, assim como o conjunto da comunidade internacional, apoia a criação de um Estado palestino independente. Mas, ao longo das sucessivas crises entre Israel e seus vizinhos, sua diplomacia aprendeu a navegar de acordo com a maré. A abordagem indiana consiste em dissociar a relação bilateral dos vaivéns da situação no Oriente Médio – em outras palavras, proteger prioritariamente a cooperação com Israel, evitando voltar as costas aos países árabes. Daí as declarações oficiais cheias de nuances, condenando primeiro uma, depois outra, ponderadamente, tanto a cegueira dos ataques terroristas contra Israel quanto a brutalidade das “represálias”. A diplomacia indiana, aliás, tomou gosto por adotar uma posicão dúbia já que, embora se aproximando de Israel, o país também estabeleceu laços com o Irã no início dos anos 2000. Assim, antes da visita de Ariel Sharon, em setembro de 2003, Nova Délhi recebera, em janeiro do mesmo ano, o presidente Mohammed Khatami. De maneira um pouco paradoxal, a aproximação com Israel deu à Índia uma nova alavanca em sua política no Oriente Médio: os Estados da região aprenderam a considerar melhor os interesses indianos.
As tensões da Índia no Oriente Médio trazem muitas lições. Em um nível diplomático, elas são resultado de uma polarização previsível entre os defensores da postura tradicional, pró-árabe, e os partidários da parceria com Israel. Mas, de modo mais sutil, revelam também uma tensão interior, entre a necessidade de lidar com uma minoria de 160 milhões de indivíduos, que faz da Índia o terceiro Estado muçulmano no mundo, e uma fascinação inconfessa pelos métodos expeditivos de Israel. Métodos que alguns em Délhi estariam bem tentados a experimentar contra as esferas de influência terroristas baseadas no Paquistão.
Isabelle Saint-Mézard
é especialista em questões estratégicas na Ásia Meridional e professora do Instituto de Estudos Políticos de Paris e do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco), coautora de Dictionnaire de l’Inde Contemporaine, Armand Collin, outubro 2010.

1 Em junho de 1991, a crise da balança de pagamento indiana, devida principalmente ao fim das transferências de dinheiro dos trabalhadores emigrados para os países do Golfo, levou os dirigentes da Índia a lançar, em comum acordo com o FMI, um grande programa de ajuste estrutural da economia.
2 Louise Tillin, “US-Israel-India: Strategic Axis?”, BBC News, Londres, 9 de setembro de 2003.
3 Discurso disponível no site do AJC: www.ajc.org.
4 Ver a seção Comércio Bilateral do site da embaixada da Índia em Tel-Aviv: www.indembassy.co.il
5 O primeiro radar foi transferido na primavera de 2009 para ser adaptado a aviões Iliuchin renovados pela Rússia. Nova Délhi poderia, dentro em pouco, encomendar três novos AWACS por uma soma mirabolante.
6 Siddharth Srivastava, “Israel rushes to India’s defense”, AsiaTime Online, 2 de abril de 2009.
7 Ler Ignacio Ramonet, “La menace Pakistan”, Le Monde Diplomatique, novembro de 1999.

Rede de Twiteiros independentes e socialistas da Venezuela

Danio Torrealba, explica como o grupo de "Tuiteros Socialistas" nasce com a idéa de unificar a voz dos twiteros no que se chama a "Guerra de quarta geração", para dar uma resposta coordenada frente aos diferentes ataques que sofre a Revolução Bolivariana com o desconhecimento dos seus feitos.O vídeo é da teleSUR...


   
   
   
   
   
   
   
   
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"Fracasso da Convenção do Clima prejudicará humanidade"


Por Alfredo Acedo
Da Minga Informativa de Movimentos Sociais

A 16ª Conferência da Convenção Marco da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16) já é vista como um fracasso, que afetará o futuro da humanidade porque se está fortalecendo a idéia das transnacionais lucrarem com a crise climática, disse Alberto Gómez, da coordenação internacional da Via Campesina.
Nos últimos documentos de discussão, foram eliminadas as propostas do Acordo dos Povos assinado em Cochabamba (Bolívia) e a balança se inclinou em favor do mercado de carbono e do REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), mecanismo através do qual avança a privatização mundial de matas, selvas e territórios, explicou
“Já podemos dizer que no processo de negociações rumo a Cancún foram impostos os interesses das transnacionais e virá uma forte impulso para um esquema financeiro que obriga os países a entrar em um ajuste climático mercantilista”.
“Nós não concordamos com as falsas soluções, como o mercado de carbono, porque longe de contribuir com a redução das emissões de gases de efeito estufa, gerará cedo ou tarde um sistema especulativo que poderia provocar outra crise financeira global”.
Por isso, as mobilizações da Via Campesina pretendem denunciar a irresponsabilidade da maioria dos governos que optaram por favorecer o grande capital em detrimento do interesse de suas nações e da humanidade, disse Gómez.
“As caravanas internacionais que começaram no domingo 28 buscam desmascarar o governo mexicano, mostrando a devastação ambiental e social em todo o território nacional provocada por políticas públicas contrárias ao interesse da maioria do povo”.
“Nas atividades que desenvolveremos no acampamento que a Via Campesina instalará em Cancún a partir de 2 de dezembro, vamos denunciar estes atos e convocaremos todos a se manifestarem para obrigar que a Conferência adote medidas efetivas contra a crise do clima, como as defendidas pelo Acordo dos Povos”.
“Nós afirmamos que as camponesas e os camponeses são necessários e úteis para a humanidade. Nosso papel é produzir alimentos e o fazemos de maneira sustentável, esfriando o planeta. E se contássemos com um modelo de produção, distribuição e consumo diferente poderíamos acabar com a fome e contribuir com o combate ao aquecimento da atmosfera”.
“A soberania alimentar —concluiu Gómez— é a alternativa da Via Campesina frente ao capitalismo que agora quer privatizar até o ar que respiramos”.

Wikileaks: O maior vazamento da história, o embaraço de Hillary com o Cablegate e a cumplicidade da imprensa dos EUA



Idelber Avelar em seu blog

alg_julian_assange.jpgLiberais e conservadores brasileiros, chegou a hora. Depois do 11 de setembro diplomático desencadeado neste fim de semana pelo mais impactante vazamento da história moderna-- 250.000 comunicações, a maioria secretas, entre o Departamento de Estado e embaixadas estadunidenses ao redor do mundo--, e do completo sufocamento do tema na TV dos EUA, não resta fiapo de credibilidade à ideia da imprensa 'mais livre do mundo', com que tantos brasileiros à direita do espectro político se referem aos conglomerados de mídia norte-americanos. Para quem se lembra da extrema docilidade com que as mídias eletrônica e escrita dos EUA replicaram a patacoada das armas de destruição em massa do Iraque em 2003, esta foi a cereja do bolo. Não importa o partido que esteja no poder (Democratas ou Republicanos), quando se trata dos interesses imperiais estadunidenses, não sobrevive na mídia gringa um farrapo de compromisso com a verdade ou com a pluralidade de pontos de vista. Ponto final. Podemos passar para o próximo assunto? Grato. Continuemos.
Como já tratamos amplamente aqui, os poderosos usam dois pesos e duas medidas nos casos de “vazamento”, “grampo” ou qualquer obtenção de informação que ocorre naquela zona cinza entre o legal e o ilegal. Conforme a conveniência, enfocam-se na forma ou no conteúdo. Assim aconteceu com os dossiês dos aloprados petistas sobre a corrupção realmente existente no Ministério da Saúde de José Serra, do suposto, miraculoso e etéreo grampo sobre Gilmar Mendes e Demóstenes, e da quebra de sigilo da filha de Serra (cuja forma só importava até o momento em que apurou-se que foi tucano mesmo). Inacreditavelmente, aqui nos EUA, tanto o governo como o parlamento só reagiram à montanha de revelações do Wikileaks com ameaças pesadas contra Julian Assange e equipe. Sarah Palin, sem perder a chance de usar o episódio eleitoralmente contra Obama, sugeriu que os EUA "cacem Assange como a Bin Laden". Sobre o conteúdo dos documentos, nem um pio. Para isso, contaram com a sempre dócil imprensa norte-americana que, no pronunciamento de hoje de Hillary Clinton, não fez sequer uma única pergunta que tratasse do conteúdo das revelações.
E revelaram-se coisas para todos os gostos. Os EUA disseram à Eslovênia que lhe conseguiriam uma reunião com Obama caso os eslovenos aceitassem receber prisioneiros de Guantánamo, o que demonstra o tamanho da batata quente em que se transformou o campo de concentração paralegal [pdf] instalado por George W. Bush. Na Alemanha, os EUA ficaram em saia justa. Os vazamentos mostram tentativa de espionagem gringa sobre o Democratas Livres (liberais de centro-direita, uma espécie de DEM desagripinizado) e comentários feitos nos telegramas da embaixada se referem ao Chanceler alemão como “vaidoso e incompetente”. Hillary quis bisbilhotar o histórico de saúde mental da Presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner. Revelou-se que Israel fez lobby incessante, permanente por um (na certa irresponsável e catastrófico) ataque americano ao Irã, embora nem só de lobby sionista viva o interesse bélico anti-persa: também o rei saudita, confirmam os documentos do Wikileaks, fez pressão pelo ataque. Aliás, não são só os EUA que ficam mal na fita com esses cabos. Os governos árabes, com sua tradicional combinação de subserviência ante Israel e obscurantismo e truculência ante suas próprias populações, também receberam algumas boas lambadas com os vazamentos.
Até agora, as duas revelações sobre as quais valeria a pena um exame mais detido, pelo menos do ponto de vista brasileiro, são duas bombas: a primeira, a de que o estado espião e desrespeitoso da lei internacional, que se consolidou com Bush, foi mantido com o Departamento de Estado de Hillary sob Obama. A segunda é de que até os EUA sabiam que o golpe em Honduras, com o qual pelo menos setores de sua diplomacia colaboraram, era uma monstruosa ilegalidade.
Confirmando a primeira bomba, há um espantoso telegrama em que se detalham planos para espionar o Secretário-Geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, que de forma alguma pode ser descrito como alguém hostil aos interesses americanos. Os planos de espionagem incluíam até mesmo o cartão de crédito de Ki-Moon. A ordem veio diretamente do Departamento de Estado de Hillary que, obviamente, em seu pronunciamento de hoje, nada disse sobre o assunto. Nada lhe foi perguntado tampouco.
Sobre a segunda bomba, Cynara Menezes já disse tudo. Durante meses, bizantinos debates sobre a constituição hondurenha serviram para mascarar o fato cabal de que o golpe que depôs Zelaya não tinha um farrapo de apoio na lei internacional ou mesmo na bizarra legalidade estabelecida pela constituição hondurenha. Ancorados principalmente numa retórica da Guerra Fria herdada da mesma diplomacia estadunidense agora desmascarada, os direitecas brasileiros recorreram aos sofismas de sempre para justificar o golpe. Agora, ficou claro: alô, Revista Veja, nem os gringos acreditavam na mentirada.
Sobre o Brasil, até agora, há pouco, a não ser o já conhecido dado de que os EUA tentaram nos impor uma lei antiterrorismo, da qual o governo Lula-Dilma (o cabo faz explícita referência à atuação dela) conseguiu se safar. De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo.
As bombas vão se sucedendo com rapidez só comparável à desfaçatez com que a mídia dos EUA as ignora. O Wikileaks repassou seus vazamentos a cinco veículos de mídia: Le Monde, Der Spiegel, El País, Guardian e New York Times. Destes, a cobertura mais tímida e manipuladora, sem dúvida, é a deste último, totalmente focado na punição a Assange e na “legalidade” de seus atos, com pouca coisa sobre o conteúdo embaraçoso para os EUA. Uma manchete no lugar de destaque do site, na noite desta segunda-feira, dizia: “"Vazamentos mostram o mundo se perguntando sobre a Coreia do Norte". Haja óleo de peroba.

PS: Como grande destaque desta segunda-feira, o Presidente equatoriano Rafael Correa ofereceu guarida a Julian Assange, “sem perguntar nada”, para que ele “apresente suas informações não só na internet mas em outros fóruns públicos”. Realmente a Sociedade Interamericana de Imprensa deve ter razão: a “liberdade de imprensa” está ameaçada nos regimes “populistas” latino-americanos. É nos EUA que ela vai bem.

Cuba, estrela cintilante

  Gilvander Moreira   no Correio da Cidadania
 
Tive a alegria e a responsabilidade de visitar Cuba durante nove dias, em dezembro de 2006. Ao voltar da Ilha, escrevi o texto "Cuba: os desafios de um grande povo ‘ilhado’" (cf. www.gilvander.org.br/C001.htm). Hoje, dia 15 de novembro de 2010, estou divulgando um novo artigo sobre Cuba, com informações que são fruto de estudo, do que vi e ouvi em Cuba e também do que ouvi de estudantes brasileiros, membros da Via Campesina, que estão estudando em território cubano.
 
Ouço com interesse pessoas que vão a Cuba e procuro me informar o que se passa com o povo cubano, ciente de que não podemos aceitar ingenuamente a criminalização do governo cubano e do socialismo em Cuba feita pela mídia: TV Globo e Cia. Mas a história absolverá os criminalizados injustamente. Fidel Castro será um deles. A mídia, geralmente, desfila um rosário de preconceitos acerca do regime político cubano e da história da Revolução cubana.
 
Falar de Cuba, do povo cubano, do socialismo e dos grandes líderes revolucionários, tais como Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos, exige muita responsabilidade de quem se arrisca, porque, para quem conhece Cuba, convive um pouco com o povo cubano e estuda a história da revolução cubana, é impossível não aprender e não reconhecer o histórico de indignação, a força e a luta por parte dos revolucionários e o grande sentimento de amor por Cuba e por seu povo por parte desses. E se torna impossível não respeitar e admirar o povo cubano e sua história.
 
Cuba é uma ilha de 110.000 km², 20% do estado de Minas Gerais, estreita e comprida, assemelhando-se a um jacaré. Com 11 milhões de habitantes é uma ilha encantada por sua beleza natural e encantadora pelo seu povo. Cristóvão Colombo, ao chegar a Cuba, em 1492, já afirmara: "Esta é a terra mais bela que olhos humanos viram".
 
Desde o início Cuba teve um histórico de luta do povo contra a opressão do imperialismo desde muitos tempos, com lutadores como o grande revolucionário José Marti na luta pela Independência. Cuba foi inicialmente uma colônia espanhola. Em 1898 foi invadida militarmente pelos Estados Unidos. A partir de então, cresceram os negócios dos norte-americanos na ilha.
 
Em dezembro de 1898 Cuba converte-se em uma nova colônia dos Estados Unidos através de um "tratado de paz" absurdo realizado pela Espanha e pelos Estados Unidos onde excluíam os cubanos. Em 1902 surge a "República" e junto dela um documento "Ementa plate" que dava total direito aos Estados Unidos de intervirem em Cuba politicamente e militarmente, de todas as formas.
 
O destino de Cuba foi profundamente marcado pela influência norte-americana tanto no plano político, mediante o apoio a partidos ou grupos, quanto no econômico. A beleza caribenha e a localização estratégica atraíram também para o local o lazer e a orgia dos ianques. Também uma chaga que gera um grande incômodo: uma base militar dos Estados Unidos em território cubano, a de Guantánamo. Essa base militar resultou das negociações para a retirada das tropas americanas na independência.
 
Anos e anos se passam e Cuba fica a mercê do poder dos EUA, mas o povo sempre se organizou e lutou contra o seu poder econômico. Em 1933 aconteceu o Golpe de Estado de Fulgêncio Batista, com seu governo ditador repressor do povo Cubano.
 
O revolucionário Fidel castro, diferente do que a mídia burguesa alardeia, surge em um momento histórico carregado de luta e de sonhos por uma pátria livre. E, principalmente, não sozinho, e sim junto com o povo que lutava com mínimas condições objetivas e subjetivas, o que era possível na época, e de forma popular. O processo revolucionário foi uma construção coletiva.
 
Só existiu o triunfo da Revolução porque o povo estava junto, participando. Fidel, com indignação, coerência e amor por seu país, junto com o povo cubano, nunca desistiu de Cuba e continuou o projeto de libertação iniciado por José Marti. Um grupo de revolucionários realizou no dia 26 de julho de 1953 um assalto ao Quartel Moncada, situado na Província de Santiago de Cuba - na época era a segunda maior força militar de Cuba - como estratégia para conseguir armas e iniciar a Revolução. Houve um erro tático e foram derrotados pelos soldados do ditador Fulgêncio Batista.
 
Neste contexto, muitos revolucionários foram assassinados, presos e torturados. Fidel Castro foi torturado e, quando estava preso, pronunciou a seguinte frase: "Condenar-me não importa. A história me absolverá". Fidel, ao ver companheiros e companheiras sendo assassinados e torturados injustamente, se humanizou ainda mais; a indignação palpitou mais em seu peito e o desejo pela Revolução cubana se fortaleceu muito mais como seu projeto de vida. No momento em que estava preso, Fidel estudou muito, inclusive ‘O Capital’, de Marx. Produziu o documento "A História me absolverá", documento esse que o mesmo usou para se defender em seu julgamento e que mais tarde, com o triunfo, virou plano de governo da Revolução Cubana. Fidel, ao ser solto, foi exilado para o México, mas não desistiu do seu povo. No México, começou a organizar pessoas que tinham a revolução como projeto de vida, e começaram a se preparar para regressarem a Cuba e começarem o processo da revolução.
 
Segundo a História, quando se reuniram para subir a Sierra Maestra, tinham somente quatro armas e disseram: "estamos prontos para iniciarmos a Revolução". Estavam encharcados de coragem, mas com pouca comida. Em um dos combates que durou vinte dias, o exército rebelde comeu somente nove vezes. Esta informação está escrita no livro de Che Guevara "Passagem da Guerra revolucionária". Com pouca estrutura, mas com muita vontade e muita convicção do que buscavam, o grupo de guerrilheiras e guerrilheiros do exército rebelde na Sierra Maestra iniciou um marco da história que culminou no triunfo da Revolução Cubana e na libertação do povo cubano. Fidel Castro é um dos comandantes que lutou junto com seus companheiros e venceu.
 
Em toda a história da Revolução cubana está presente o compromisso, a coerência, o amor e a força dos revolucionários. Não se pode negar essa história e o povo cubano sabe da sua história, respeita e a vive todos os dias. Não podemos aceitar ingenuamente a criminalização do governo cubano e do socialismo por parte da mídia de turistas da sociedade capitalista, que não aceitam a liberdade do povo cubano de viverem o socialismo. O povo cubano ama a Revolução, reconhece os limites materiais hoje existentes em Cuba, mas quer continuar a viver no socialismo. "Capitalismo, jamais!", dizem todos.
 
A Revolução pensa cada detalhe para as pessoas, que vai desde as questões mais complexas de como manter a produção de alimentos no país, como sobreviver com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, até o sagrado direito de tomar um sorvete gostoso por um preço acessível a todos na Sorveteria Popular Copélia, no centro de Havana. Essa Sorveteria Copélia foi um projeto da guerrilheira Haidee Santa Maria, que adorava sorvete. Na Sierra Maestra tinham pouca comida, mas Haidee almejava que com a Revolução todos os cubanos teriam o direito ao prazer de tomar sorvete. Hoje, em todos os municípios de Cuba existe uma sorveteria popular para os cidadãos.
 
A Revolução mudou a vida das pessoas, fez reforma agrária, erradicou o analfabetismo, distribuiu as riquezas etc. Após viver 15 anos no capitalismo antes da revolução, o camponês Sr. Vicente Guillen Granado disse: "Na época do capitalismo em Cuba, eu não era gente; eu era um miserável. Hoje, no socialismo, sou gente; tenho dignidade e um governo que zela por mim e por meu povo. Nunca mais quero ter a experiência de viver no capitalismo". Os cubanos sabem a diferença entre viver em uma sociedade socialista e viver numa sociedade capitalista. Como o próprio Sr. Vicente disse: "O socialismo em Cuba nunca vai acabar, porque o povo cubano não quer, porque aqui quem tem o poder é o povo e o que prevalece é a vontade do proletariado".
 
Então, diferentemente do que a mídia trombeteia, os cubanos são felizes com o socialismo e sabem da importância da Revolução. Sabem que o poder está nas mãos do povo. E o socialismo em Cuba ainda existe e está firme não porque uma pessoa governa, e sim porque o povo governa.
 
Antes de emitir qualquer opinião sobre Cuba é importante entender a história do povo cubano e da Revolução, e acredito ser relevante ter em mente alguns aspectos fundamentais: o primeiro, a localização estratégica da Ilha, que fica a apenas 150 milhas do maior império da atualidade. Esta é a distância que separa Cuba do estado da Flórida nos Estados Unidos. O segundo aspecto é o fato de o país ter sofrido, e continuar sofrendo, ao longo de sua história, permanentes tentativas de invasão, exatamente em vista de sua posição estratégica na entrada do golfo do México. E terceiro, o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba é injusto e covarde, pois dificulta a vida de todos os cubanos. Mas o povo cubano sabe que não é o bloqueio que vai destruir o socialismo, e já mostraram isso para o mundo e para o imperialismo. Pelo contrário, viver com o bloqueio cada dia mais unifica as pessoas, fortalece a solidariedade entre o povo. Os cubanos sabem que mesmo com as dificuldades que o bloqueio proporciona, não existe nenhum cubano analfabeto, as pessoas têm acesso à comida, à educação, à medicina, à cultura, ao esporte etc.
 
Na chegada a Havana, capital de Cuba, já é possível sentir a diferença de se estar em um Estado socialista. Do aeroporto José Marti ao centro da capital há um percurso de aproximadamente 30 quilômetros. Neste trajeto somos presenteados com uma delicada e bem cuidada paisagem, onde não há sequer uma propaganda comercial. Nas ruas de Havana, ocorre o mesmo, nenhum outdoor que estimule o consumo. Só podem ser vistas, e poucas, as propagandas do regime socialista. Lembro-me de algumas: "Neste momento mais de 2 milhões de crianças estão passando fome nas ruas do mundo, nenhuma delas é cubana"; "Pela vida. Não ao bloqueio econômico dos Estados Unidos"; "Che Guevara, teu exemplo é uma luz na nossa marcha socialista"; "Em Cuba, 100% das crianças estão na escola". É obrigatório estudar. Se uma criança é pega na rua em horário de aula, a polícia leva a criança em casa e os pais têm que ir à delegacia dar satisfação. A Educação não é responsabilidade somente dos pais, mas também do Estado. Por lei todos têm que estudar. Não se vêem crianças nas ruas sozinhas, sem os pais, pedindo esmola, vendendo balas, se prostituindo.
 
Em Cuba, na Escola Latino-Americana de Ciências Médicas - ELAM –, criada em 1999, milhares de jovens latino-americanos já se formaram em Medicina. O Estado cubano custeia tudo: além dos professores e da manutenção da universidade, oferece hospedagem, alimentação, livros, cadernos e ainda dá uma ajuda de custo mensal. Os livros usados são devolvidos ao final de cada ano para que outros estudantes possam estudar neles. É interessante registrar: enquanto nos Estados Unidos gastam-se 350 mil dólares para formar um médico, em Cuba 120 mil dólares são suficientes.
 
Há milhares de estudantes estrangeiros em Cuba, na graduação e na pós-graduação. Só do Brasil são mais de mil jovens, mais de 200 dos quais enviados pelo MST para medicina e outros cursos. Dezenas, já formados.
 
Após a Revolução em 1959, muitos cubanos - latifundiários, banqueiros e empresários - migraram para os EUA por discordar do regime, e são, ainda nos dias atuais, manipulados e financiados pelo governo estadunidense com o intuito de derrubar o regime socialista de Cuba. Hoje, incluindo os descendentes, há mais de um milhão de cubanos que vivem naquele país. A grande maioria colabora efetivamente para a economia cubana enviando mensalmente dólares para os parentes que moram na ilha. Uma minoria, conhecida como a máfia cubana de Miami, que perdeu dinheiro e poder após a Revolução de 1959, conspira o tempo inteiro contra a política socialista. Essa pressão de uma minoria cubana interessa à política imperialista dos Estados Unidos, que usa de tais artifícios para isolar o último país de resistência socialista existente no planeta.
 
Basta ver que quando um estrangeiro chega clandestinamente aos Estados Unidos é imediatamente mandado de volta ao seu país. Os cubanos são a exceção. Para incentivar a saída de Cuba, o governo dos Estados Unidos acolhe como cidadãos os cubanos que chegam ao seu território. Ou seja, os únicos estrangeiros que têm visto de permanência incondicional nos Estados Unidos são os originários de Cuba.
 
O bloqueio dos Estados Unidos a Cuba consiste na proibição do comércio dos produtos cubanos nos Estados Unidos e a venda de qualquer produto norte-americano a Cuba. Além, é claro, da proibição do uso de tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos. Não existe relação diplomática e comercial entre os dois países. Isso gera enormes dificuldades à economia cubana devido ao custo do transporte, que é acrescido a todos os produtos que vêm de países bem mais distantes, como os países europeus, o Canadá ou China. Cuba tem de pagar sobretaxas para importar produtos norte-americanos de outros países.
 
Deste modo, a única forma de o governo cubano sobreviver ao bloqueio é usar de muita criatividade. Mas ocorre um verdadeiro milagre: Cuba conta irrestritamente com o apoio de um povo educado (mais de 34% dos cubanos têm, no mínimo, um curso universitário) e que conhece muito bem a sua história. O governo cubano é tão fiel ao seu povo e facilita em tudo a vida de todos. Eis um exemplo: muitos produtos vendidos em Cuba e no Brasil têm o mesmo preço em Cuba e no Brasil, porém Cuba compra os mesmos produtos muito mais caros do que o Brasil por causa do Bloqueio. Se empresas que atuam no Brasil compram por um preço muito mais barato, poderiam vender para os consumidores por um preço menor. Logo, o povo brasileiro é mais explorado. Em Cuba, o povo não é explorado. Outro exemplo muito importante é na alimentação. Um camponês vende um ovo de galinha a 2,00 pesos para o Estado e o Estado vende o mesmo ovo nas tendas estatais para as pessoas por 0,20 centavos. O camponês vende 1 litro de leite para o Estado a 2,5 pesos e o Estado vende nas tendas a 0,20 centavos. Isso é incrível. Um país que sofre com o bloqueio consegue garantir qualidade de vida para os camponeses que vivem no campo, valorizando o seu produto, com venda garantida dos alimentos para o Estado, incentivando a agricultura na produção de alimentos e repassando os alimentos a baixo custo para a população. Essa é uma estratégia para superar os malefícios do bloqueio.
 
Dessa forma os camponeses se motivam a continuar no campo e produzirem alimentos. E o mais importante: alimentos saudáveis sem uso de agrotóxicos. Cuba vem trabalhando e mostrando na prática que é possível produzir alimentos agroecológicos de forma sustentável. Diferentemente do Brasil, que a cada dia fortalece o agronegócio, a concentração da terra, a intensificação dos monocultivos transforma o país num grande lixão das transnacionais, com uso abusivo de agrotóxicos, poluindo os alimentos da população, o solo e as águas. Não é por acaso que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo: 713 milhões de litros por ano, 3,5 quilos para cada pessoa, em média.
 
Na conjuntura atual, Cuba tem como estratégia principal garantir a soberania alimentar, dependendo o mínimo de alimentos importados. Cuba hoje exporta café, açúcar, tabaco, cacau e outros produtos. E importa em grande quantidade, por exemplo, arroz e leite em pó. Em cima da frase dita pelo comandante Fidel de que "o dever patriótico número um do campesinato cubano é produzir para o povo", está sendo feita uma campanha nacional, traçando linhas políticas de incentivo à agricultura para a produção de alimentos. Com a elaboração da lei 259 - "Entrega de terras em usufruto", de 11 de julho de 2008, segundo a qual o Estado repassa terras que estão ociosas para as pessoas que querem trabalhar na agricultura com o compromisso de produzirem alimentos. Desde o surgimento desta lei, mais de 100 mil famílias já voltaram ao campo para a produção de alimentos. O que mostra que a produção só vem aumentando. E o governo supervaloriza o preço dos alimentos. O que garante a permanência dos agricultores no campo.
 
O Estado, através da ANAP (Associação Nacional de Agricultores Pequenos), presente em todas as Províncias de Cuba, garante a compra de 80% da produção dos camponeses, ficando 20% para consumo da família produtora. E o camponês que quiser vende seus 20% nas feiras, na beira das estradas ou em casa. Para se ter idéia, as pessoas que mais têm poder de ingresso de dinheiro em Cuba são os camponeses. Onde já se viu isso em um país capitalista! É lindo ver a alegria e a satisfação dos camponeses na lida com a terra. Eles têm convicção da sua importância para o país. Orgulham-se de ser camponeses. A meta do governo cubano é não precisar importar nenhum alimento. Há planejamento da produção de alimentos. A demanda é distribuída por região. São informados aos camponeses os alimentos de que o Estado precisa. Os agricultores plantam levando em consideração a demanda da região e do país. Por exemplo, se em uma determinada região há potencial para a produção de milho, arroz e feijão, com certeza essa região potencializa suas forças na produção de tais alimentos, e assim vai se fazendo o planejamento e garantindo uma agricultura diversificada, cumprindo as metas. Os camponeses têm a tarefa de produzir. O transporte e a comercialização são por conta do Estado. Os caminhões do Estado buscam a produção nas propriedades. Os camponeses têm assistência técnica garantida pelo Estado. Cuba, somente em 2009, formou mais de cinco mil agrônomos. Todos os meios de produção são garantidos, como ferramentas, sementes etc.
 
O presidente Raul Castro convocou toda a juventude para vir ao campo contribuir na produção de alimentos. É uma realidade bonita de se ver. Jovens que até trancam suas matrículas na Universidade para prestar ajuda ao Estado, ao seu país; professores universitários que prestam trabalho solidário no campo na produção de alimentos. Em Cuba existe uma solidariedade que contagia as pessoas, o que é um processo de humanização muito grande. Todos os cubanos, desde as crianças até os idosos, sabem do problema que é o bloqueio dos EUA, existe uma consciência fantástica por parte das pessoas. E todos contribuem como podem.
 
Em Havana, vê-se um grande número de pessoas pegando carona e muitos motoristas oferecendo carona, especialmente nos horários de pico. Cerca de 80% dos automóveis são estatais e são orientados a dar carona. Os carros particulares, que são poucos, também cultivam a prática de dar carona. É muito difícil ver uma pessoa sozinha em um automóvel. Normalmente andam duas, três ou quatro pessoas no mesmo automóvel, inclusive nos táxis. Dar e receber carona é um valor socialista e faz parte da cultura, é o normal. Muita gente vai trabalhar e volta sem ter que pagar pelo transporte. Não existe o menor receio de violência como seria de se esperar no Brasil. Além de ser também uma forma bastante inteligente de economizar energia. O petróleo é muito oneroso para o governo cubano. Assim, o povo cubano vai driblando o bloqueio norte-americano.
 
Faz bem considerar o que nos diz Haroldo Brasil, no artigo "Flashes de Cuba" (Jornal Estado de Minas, 31/05/2010):
 
"Quem buscar conhecer por dentro como vive o povo cubano, sua geografia e sua cultura, ao ir a Cuba, deve se hospedar em casas de família. Lá existe, com a autorização do governo, uma rede de casas de família, divididas em pequenos apartamentos, que podem ser alugados a visitantes, preservando uma área para uso próprio. Há sempre a opção de café da manhã e jantar, que são cobrados à parte. É possível assim um melhor conhecimento da intimidade das famílias, através do papo agradável e aberto que foi possível manter com os moradores locais. A exceção acontece em Varadero, praia no norte da ilha, que só recebe turistas, em hotéis, com uso de mão-de-obra cubana.
 
Quem vai a Cuba vê com os próprios olhos um sistema educacional de ótima qualidade em todos os níveis, saúde pública para todos os cidadãos, nível de renda equalizado, segurança pública total, sem policiamento ostensivo, com criminalidade próxima de zero e sem o clássico problema das drogas de nossas sociedades capitalistas. Além disso, o cuidado com o meio ambiente transparece em todos os locais que visitamos. No que diz respeito à educação das crianças e adolescentes, há escolas em quase todos os quarteirões das cidades em tempo integral, com espaço para brincadeiras e esportes. A constituição de Cuba é enfática: ‘O único privilégio que admitimos nesse país é com relação ao tratamento que daremos às nossas crianças’.
 
O bloqueio norte-americano causa muitos danos ao povo cubano. Carência de matérias primas essenciais como papel, tintas, peças sobressalentes para veículos etc. Quem volta de Cuba para o Brasil, no avião, que faz conexão no Panamá, sente um grande contraste quando se observam os brasileiros vindos de Aruba, Cancun, Miami, Nova Iorque, carregando imensas malas com quinquilharias inúteis e despejando um papo furado sobre suas inúteis aventuras consumistas".
 
Conhecer Cuba e poder conviver com o povo cubano é um verdadeiro processo de humanização, é entender que precisamos de muito pouco para ser felizes. E que é possível viver em uma sociedade onde a competitividade e a acumulação de bens não são o mais importante; a vida das pessoas está acima de qualquer coisa. Em Cuba o ser das pessoas é mais importante do que o ter.
 
Os cubanos sabem o que é o socialismo, o quanto foi difícil conquistá-lo e que é este regime que querem que permaneça em Cuba. Também sabem o quanto o governo faz por eles e com eles. Cuba incomoda os capitalistas, pois, mesmo pequena como Davi, nos dá exemplo de que, ainda que sofrendo todo tipo de pressão, segue firme vencendo todos os obstáculos. Os imperialistas já sabem que não conseguirão destruir o socialismo de Cuba, porque Cuba, junto com Fidel, com seu povo, não é governada por uma ditadura, mas sim pelo poder popular. Se existe alguma ditadura em Cuba é a ditadura do proletariado, dos trabalhadores, da classe trabalhadora, do povo. Assim, Cuba, como uma estrela cintilante, resiste sendo exemplo de que uma sociedade livre é possível. Ser livre é difícil, mas possível, nos ensina o povo cubano.
 
Gilvander Moreira é frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica; professor de Teologia Bíblica; assessor da CPT – Comissão Pastoral da Terra, de CEBs – Comunidades Eclesiais de Base , do SAB – Serviço de Animação Bíblica e da Via Campesina; E-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email Página na Web e Twitter: http://www.gilvander.org.br/www.twitter.com/gilvanderluis
 

Regulando a mídia...

Os donos da mídia estão nervosos

por Laurindo Lalo Leal Filho, na Carta Maior *

O blogueiro Renato Rovai contou durante o curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado semana passada no Rio, que a Veja andou atrás dele querendo saber como foi feita a articulação para que o presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.
A essa informação somam-se as matérias dos jornalões e de algumas emissoras de TV sobre a coletiva, sempre distorcidas, tentando ridicularizar entrevistado e entrevistadores.
O SBT chegou a realizar uma edição cuidadosa daquele encontro destacando as questões menos relevantes da conversa para culminar com um encerramento digno de se tornar exemplo de mau jornalismo.
Ao ressaltar o problema da inexistência de leis no Brasil que garantam o direito de resposta, tratado na entrevista, o jornal do SBT fechou a matéria dizendo que qualquer um que se sinta prejudicado pela mídia tem amplos caminhos legais para contestação (em outras palavras). Com o que nem o ministro Ayres Brito, do Supremo, ídolo da grande mídia, concorda.
Jornalões e televisões ficaram nervosos ao perceberem que eles não são mais o único canal existente de contato entre os governantes e a sociedade.
Às conquistas do governo Lula soma-se mais essa, importante e pouco percebida. E é ela que permite entender melhor o apoio inédito dado ao atual governo e, também, a vitória da candidata Dilma Roussef.
Lula, como presidente da República, teve a percepção nítida de que se fosse contar apenas com a mídia tradicional para se dirigir à sociedade estaria perdido. A experiência de muitos anos de contato com esses meios, como líder sindical e depois político, deu a ele a possibilidade de entendê-los com muita clareza.
Essa percepção é que explica o contato pessoal, quase diário, do presidente com públicos das mais diferentes camadas sociais, dispensando intermediários.
Colunistas o criticavam dizendo que ele deveria viajar menos e dar mais expediente no palácio. Mas ele sabia muito bem o que estava fazendo. Se não fizesse dessa forma corria o risco de não chegar ao fim do mandato.
Mas uma coisa era o presidente ter consciência de sua alta capacidade de comunicador e outra, quase heróica, era não ter preguiça de colocá-la em prática a toda hora em qualquer canto do pais e mesmo do mundo.
Confesso que me preocupei com sua saúde em alguns momentos do mandato. Especialmente naquela semana em que ele saía do sul do país, participava de evento no Recife e de lá rumava para a Suíça. Não me surpreendi quando a pressão arterial subiu, afinal não era para menos. Mas foi essa disposição para o trabalho que virou o jogo.
Um trabalho que poderia ter sido mais ameno se houvesse uma mídia menos partidarizada e mais diversificada. Sem ela o presidente foi para o sacrifício.
Pesquisadores nas áreas de história e comunicação já tem um excelente campo de estudos daqui para frente. Comparar, por exemplo, a cobertura jornalística do governo Lula com suas realizações. O descompasso será enorme.
As inúmeras conquistas alcançadas ficariam escondidas se o presidente não fosse às ruas, às praças, às conferências setoriais de nível nacional, aos congressos e reuniões de trabalhadores para contar de viva voz e cara-a-cara o que o seu governo vinha fazendo. A NBR, televisão do governo federal, tem tudo gravado. É um excelente acervo para futuras pesquisas.
Curioso lembrar as várias teses publicadas sobre a sociedade mediatizada, onde se tenta demonstrar como os meios de comunicação estabelecem os limites do espaço público e fazem a intermediação entre governos e sociedade.
Pois não é que o governo Lula rompeu até mesmo com essas teorias. Passou por cima dos meios, transmitiu diretamente suas mensagens e deixou nervosos os empresários da comunicação e os seus fiéis funcionários, abalados com a perda do monopólio da transmissão de mensagens.
Está dada, ao final deste governo, mais uma lição. Governos populares não podem ficar sujeitos ao filtro ideológico da mídia para se relacionarem com a sociedade.
Mas também não pode depender apenas de comunicadores excepcionais como é caso do presidente Lula. Se outros surgirem ótimo. Mas uma sociedade democrática não pode ficar contando com o acaso.
Daí a importância dos blogueiros, dos jornais regionais, das emissoras comunitárias e de uma futura legislação da mídia que garanta espaços para vozes divergentes do pensamento único atual.

* Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).


campanha sobre racismo nas escolas será “puxão de orelha” na sociedade, diz secretária



Em um Mundo de Diferenças, Enxergue a Igualdade. Esse é o tema de campanha lançada hoje (29) pelo Ministério da Educação (MEC) e a Unicef para alertar sobre o impacto do racismo nas escolas e promover iniciativas para a redução das desigualdades.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que das 530 mil crianças entre 7 e 14 anos fora da escola, 330 mil são negras. O índice representa 62% do total. Para a subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, a iniciativa é um “puxão de orelha na sociedade em geral e nos responsáveis pelas políticas públicas para o setor”, porque chama a atenção para a criminalização da adolescência negra no país.
A campanha tem como fundamento as dez maneiras de contribuir para uma infância sem racismo. Entre elas, o incentivo ao comportamento respeitoso e à denúncia, além da lembrança de que racismo é crime inafiançável. “Educação é mais do que aprender a ler, escrever e contar. É aprender a viver junto, a não se intimidar diante da opressão e encontrar na vida forças para enfrentar resistências”, afirmou o secretário de Educação Continuada do MEC, André Lázaro.
A campanha terá dois filmes, de 27 segundos e de 30 segundos, veiculados na televisão e na internet. Foi criado também um blog, no endereço www.infanciasemracismo.org.br. Na página, o internauta vai poder contar também histórias de sucesso ou de discriminações que tenha sofrido ou presenciado. O blog ficará no ar durante um ano, tempo de duração da campanha.

Priscilla Mazenotti, da Agência Brasil

O discurso de Evo



Por Fidel Castro Ruz

Há momentos na história que precisam de um discurso, embora seja tão breve como o "Alia jacta est" de Julio César quando atravessou o Rubicão. Era necessário atravessá-lo nesse dia, justamente quando os ministros da Defesa dos Estados soberanos do hemisfério ocidental estavam reunidos na cidade de Santa Cruz, onde os ianques têm estimulado o separatismo e a desintegração da Bolívia.
Era segunda-feira 21, e as agências de notícias dedicavam-se a divulgar e fazer comentários sobre a reunião da OTAN em Lisboa, onde essa instituição belicosa, em linguagem arrogante e grosseira, proclamou seu direito de intervir em qualquer país do mundo onde seus interesses se sentissem ameaçados.
Ignorava-se por completo a sorte de milhares de milhões de pessoas, e as verdadeiras causas da pobreza e do sofrimento da maioria dos habitantes do planeta.
O cinismo da OTAN merecia uma resposta, e ela veio na voz de um indígena aimara da Bolívia, no coração da América do Sul, onde uma civilização mais humana floresceu antes que a conquista, o colonialismo, o desenvolvimento capitalista e o imperialismo impusessem o domínio da força bruta, baseada no poder das armas e das tecnologias mais desenvolvidas.
Evo Morales, presidente desse país, eleito pela imensa maioria de seu povo, com argumentos, dados e fatos incontestáveis, talvez sem conhecer ainda o infame documento da OTAN, deu resposta à política que o governo dos Estados Unidos pratica historicamente com os povos da América Latina e do Caribe. 
A política da força expressa através de guerras, crimes, violações da constituição e das leis; treinamentos de oficiais dos institutos armados para participar em conspirações, golpes de Estado, crimes políticos que foram usados para derrubar governos progressistas e instalar regimes de força aos quais oferecem sistematicamente apoio político, militar e da mídia. 
Jamais um discurso foi tão oportuno. 
Usando muitas vezes as formas expressivas de sua língua aimara, disse verdades que passarão à história. 
Tentarei fazer uma apertada síntese, usando suas próprias frases e palavras, 
Muito obrigado.
 "Apraz-me imenso receber em Santa Cruz de la Sierra os ministros e ministras da Defesa da América, Santa Cruz, terra de Ignácio Warnes, de Juan José Manuel Vaca, homens rebeldes de 1810 que lutaram e morreram a favor da independência da nossa querida Bolívia". 
"Homens como Andrés Ibáñez, Atahualipa Tumpa, irmãos indígenas que durante a república lutaram por sua autonomia e pela igualdade dos povos em nossa terra". 
"Bem-vindos a Bolívia, terra de Túpac Katarí, terra de Bartolina Sisa, de Simón Bolívar e de tantos homens que lutaram durante 200 anos pela independência da Bolívia e de muitos países na América". 
"A América Latina [...] vive nos últimos anos profundas transformações democráticas buscando a igualdade e a dignidade dos povos..." 
"... seguindo os passos de Antonio José de Sucre, de Simón Bolívar, de vários líderes indígenas, mestiços, crioulos que viveram há 200 anos." 
"Há exatamente uma semana, celebramos o bicentenário do Exército da Bolívia, que em 14 de novembro de 1810 indígenas, mestiços, crioulos se organizaram militarmente para combater contra a dominação espanhola..." 
"Nos últimos tempos a América Latina retoma essa decisão de se libertar, como uma segunda libertação não só social nem cultural, mas também econômica e financeira, dos povos da América Latina". 
"... esta 9ª Conferência de ministros da Defesa visa o debate sobre gênero e multiculturalidade nas Forças Armadas, democracia, paz e segurança das Américas, desastres naturais, ajuda humanitária e o papel das Forças Armadas, temário acertado, temário bem colocado para debater a esperança dos povos, não só da América Latina, mas também do mundo." 
"Em 1985 [...] só tinham direito a serem eleitos ou eleger autoridades, aqueles que tinham dinheiro, que tinham profissão e os que falavam espanhol ou o castelhano". 
"Menos de 10% da população boliviana podia, por conseguinte, participar das eleições ou ser eleita como autoridade, e mais de 90% não tinha direito [...] tiveram lugar diferentes processos [...] algumas reformas, mas no ano 2009, com a participação pela primeira vez do povo boliviano, uma nova Constituição do Estado Plurinacional foi aprovada pelo povo boliviano." 
"... nesta nova Constituição, logicamente os setores mais marginalizados [...] não tinham direito a serem eleitos nem a eleger às autoridades do Estado, da República da Bolívia. 
"Tiveram que passar mais de 180 anos para fazer profundas transformações e incorporar estes setores marginalizados historicamente na Bolívia, e confio em não estar errado, mas acho que é o único país, não só na América, mas também no mundo com 50% de mulheres ministras e 50% de homens. 
"É lógico que, com respeito às normas da Constituição [...] sinto que é mais importante a decisão política que deve ser tomada para incorporar os setores mais abandonados; é depois da aprovação da Constituição pelo povo boliviano em 2009, que os mais marginalizados, os mais desprezados, os considerados animais, que era o movimento indígena, têm sua representação na Assembléia Legislativa Plurinacional e também nas assembléias departamentais". 
"Algo importante, para os movimentos indígenas que não têm muita população foram criadas circunscrições especiais para que estejam presentes os irmãos indígenas do planalto, do vale, do leste da Bolívia". 
"As circunstâncias uninominais também permitem que os irmãos indígenas estejam representados na Assembléia Legislativa Plurinacional..." 
"Desta forma, permitimos a presença desses irmãos indígenas que estavam abandonados, condenados ao extermínio." 
"... isso não existia antes..." 
"... quando eu era muito jovem, como líder sindical, às vezes me opus às Forças Armadas e depois, quando assumo a presidência percebo que uma boa parte das Forças Armadas provêm das comunidades camponesas, principalmente do vale ..." 
"Quero dizer-lhes queridos ministros, ministras, que nunca houve participação como agora, anteriormente apenas a cor da pele determinava o nível hierárquico da sociedade, agora um indígena, um líder sindical, um intelectual, um profissional, um líder empresarial, um militar, um general, qualquer pessoa pode ser eleita presidente, democraticamente, antes não existia essa possibilidade, de mudar a Bolívia e nossa Constituição. 
"Quando esta Conferência enfoca apenas a democracia, a segurança e a paz, rever a história, revisar as normas para mim é muito interessante, é bom revisar, não só revisar por revisar, mas fazer qualquer coisa a favor da democracia na América Latina, da segurança, da paz na América ou no mundo. 
"Se falamos da democracia no passado, na Bolívia apenas existia uma democracia pactuada, não existia um partido que pudesse ganhar com mais de 50% dos votos como expressa a Constituição Política do Estado Plurinacional..." 
" ... na Bolívia, até 2005, desde 1952, na década dos anos 50, só existiam democracias pactuadas, os partidos ganhavam com 20%, 30% ..." 
"Um Partido que ocupasse o terceiro lugar podia ser presidente, dependia dos pactos e da distribuição dos ministérios, este tipo de pactos era justamente organizado pelo embaixador dos Estados Unidos; nossos compatriotas, irmãs, irmãos, bolivianas e bolivianos, devem lembrar, por exemplo, o ano 2002, quando ninguém ganhava com mais de 50%, o partido com mais votos conseguiu 21% dos votos, e aí estava o embaixador dos Estados Unidos, Manuel Rocha, juntando, unindo os partidos neoliberais para que pudessem governar, e esses governos não duraram, não agüentaram. 
"Felizmente, graças à consciência do povo boliviano vamos vencendo esta classe de democracias, agora não temos uma democracia pactuada, e sim uma democracia legítima a partir do sentimento do povo boliviano que acompanha um pensamento, um sentimento que vem do sofrimento dos povos sob um programa de governo." 
"... um programa de dignificação dos bolivianos, um programa que busca a igualdade dos bolivianos, das bolivianas, um programa que recupera seus recursos naturais, um programa que permite que os serviços básicos sejam um direito humano .." 
"... quando alguns de nossos adversários, como vocês em cada país têm sua oposição, nos dizem, um governo totalitário, governo autoritário, governo ditador, que culpa eu tenho, se este programa de governo proposto por um partido tem mais de dois terços nas diferentes estruturas do Estado Plurinacional?, só não consegui ganhar na prefeitura da cidade de Santa Cruz. 
"Respeitamos nosso prefeito, nos ganharam, mas cumprimento o senhor prefeito pelas ações que realizou na semana passada para combater o ágio, a especulação [...] parabéns, meu respeito, senhor prefeito..." 
"E alguns nos dizem que temos pensamento único, não há pensamento único algum, apenas um programa elaborado pelos diferentes setores sociais à frente dos movimentos sociais originários e operários consegue esse apoio para mudar a Bolívia. 
"Mas que enfrentamos no caminho se falamos de democracia, conspiração, golpe de Estado, tentativas de golpes de Estado em 2008  [...]  quem era o organizador de este golpe de Estado, o ex-embaixador dos Estados Unidos. 
"Estava revendo sobre história [...] sobre o golpe de Estado de 1964 quando o presidente era o tenente-coronel Gualberto Villarroel, que disse como presidente: ‘não sou inimigo dos ricos, mas sou mais amigo dos pobres’, este militar patriota foi o primeiro presidente que convocou um congresso indígena". 
"Outro presidente, Germán Bush, que disse: ‘não cheguei à presidência para servir aos capitalistas’, um militar. 
"O primeiro presidente que nacionalizou os recursos naturais, também foi um militar, David Toro, refiro-me ao ano 1937 ou 38 [...] porém este militar foi assassinado no Palácio, em 1946." 
" ... nesse então a ofensiva concentrou-se no Palácio Quemado que foi atacado pela rua Illimani, pela esquina Bolívar, pela rua Comércio, pela polícia e pela parte de atrás do edifício de La Salle e do edifício Kersul onde fica o consulado dos Estados Unidos." 
" ... ao observar o fogo que provinha do edifício Kersul, do consulado norte-americano, contra este militar patriota que garantiu o primeiro congresso indígena, do consulado dos Estados Unidos, metralhando, disparando para acabar com a vida de um militar, aí estão os documentos que revisamos. 
"... a história se repete, eu tive que enfrentar que um embaixador organizara, planificara acabar antidemocraticamente com meu mandato, e eu sinto que isso se repete em todo o mundo". 
"Mas um companheiro, um compatriota nosso, vítima de tantos golpes militares, me disse, ‘Evo, temos que cuidar-nos da embaixada dos Estados Unidos, sempre houve golpes de Estado em toda a América Latina’ e me disse, ‘só não há golpes de Estado nos Estados Unidos porque não existe uma embaixada dos Estados Unidos, realmente compreendi que na história não escutei a respeito de golpes de Estado. 
"... os países que suportamos tentativas de golpes de Estado, em 2002 na Venezuela; em 2008 na Bolívia; em 2009 em Honduras, em 2010 no Equador, temos que reconhecer compatriotas latino-americanos ou da América, que os Estados Unidos venceram em Honduras, conseguiram consolidar o golpe de Estado, o império norte-americano ganhou, mas também os povos da América na Venezuela, na Bolívia, no Equador, vencemos  [...] o que será no futuro, veremos o futuro." 
"... esta avaliação interna deve ser um debate profundo dos ministros da Defesa para garantir democracias  [...] meus antepassados, meu povo têm sido permanentemente vítima de golpes de Estado, golpes sangrentos, não porque assim o queriam os militares, as Forças Armadas, mas sim por decisões políticas internas e externas para acabar com os governos revolucionários, com os governos que surgem do povo, essa é a história da América Latina." 
"... temos direito a decidir quais a formas para garantir a democracia em cada país, mas sem golpes, nem tentativas de golpes". 
"Gostaríamos que esta conferência de ministras e ministros de Defesa possa garantir uma democracia verdadeira dos povos, respeitando as nossas diferenças em cada região, em cada setor". 
"Mas também quando falamos de paz, eu pergunto, como pode existir a paz com a presença de bases militares, e também posso falar com certo conhecimento porque eu fui vítima dessas bases militares dos Estados Unidos, sob o pretexto da luta contra o narcotráfico". 
"Quando eu era soldado, soldado sem patente, das Forças Armadas em 1978, os oficiais, suboficiais me ensinaram a defender a Pátria, as Forças Armadas têm que defender a Pátria, as Forças Armadas não podem permitir que outro militar estrangeiro uniformizado e armado permaneça na Bolívia". 
" ... como dirigente tenho sido testemunha de que não somente a DEA uniformizada e armada conduzia as Forças Armadas, nem conduzia a Polícia Nacional, mas também com sua metralhadora, sob pretexto de lutar contra o tráfico de narcóticos, combatia os movimentos sociais, perseguia com seus teco-tecos as marchas de Santa Cruz, de Cochabamba, de Oruro, e não nos podiam encontrar nem com seus teco-tecos, e diziam que eram marchas fantasmas, nada disso, eram milhares os companheiros procurando a reivindicação, a dignidade e a soberania de nossos povos." 
"... convencido de que se os povos lutamos por nossa dignidade, por nossa soberania, isso não pode ser feito nem com bases militares nem com intervenções militares; todos nós, por pequenos que sejamos, países chamados subdesenvolvidos, em vias de desenvolvimento, temos dignidade, temos soberania; além disso quando era membro do Parlamento, tentaram que aprovasse a imunidade para os funcionários da embaixada dos Estados Unidos. 
"O que é a imunidade?, que os funcionários da embaixada dos Estados Unidos, incluída a DEA norte-americana, se cometem algum delito não sejam julgados com as leis bolivianas, isso era uma carta aberta para matar, para ferir, mesmo como fizeram em minha região." 
"... a paz é a filha legítima da igualdade, da dignidade que é a justiça social, sem dignidade, sem igualdade, sem justiça social será impossível garantir a paz, porque há povos que se rebelam porque existe a injustiça." 
"... escutando falar nosso secretário geral das Nações Unidas sobre as doutrinas, as doutrinas que conhecemos na Bolívia, doutrinas anticomunistas com golpes de Estado para intervir militarmente os centros mineiros, porque os movimentos sociais, os centros mineiros eram grandes revolucionários para transformar a Bolívia". 
"Na década de 50 e 60, acusavam-nos de comunistas, de vermelhos, aos dirigentes sindicais do setor mineiro, para nos encerrar nos cárceres, para nos condenar ao exílio, para nos processar até sermos massacrados, essa época passou, agora não nos podem acusar de vermelhos nem de comunistas, todos temos direito a pensar diferente. 
Se para um país, se para uma região a solução é o comunismo, muito bem; se para outro é o socialismo, muito bem; se para outro é o capitalismo, muito bem; isso é decisão democrática de qualquer país. 
"Mas quando ganhamos essa luta, que já não podem justificar com uma doutrina anticomunista para fazer calar os povos, para mudar de presidentes, para mudar governos, então aparece a outra doutrina, a guerra contra a droga". 
"Logicamente é nossa obrigação combater as drogas [...] a Bolívia não é a cultura das drogas, a Bolívia não é a cultura da cocaína, mas de onde vem a cocaína?, do mercado dos países desenvolvidos, isso não é responsabilidade do governo nacional, mas é obrigado combatê-la" .
"... por trás da luta contra o tráfico de drogas não podem existir interesses geopolíticos, que sob pretexto de lutar contra o narcotráfico demonizam os movimentos sociais, criminalizam os movimentos sociais, confundem a folha de coca com a cocaína, confundem o produtor da folha de coca com o narcotraficante, ou o consumo legal da folha de coca com o narco dependente". 
"Por que não combateram a coca antes, no século passado, se a coca provocava dano, os europeus foram os primeiros proprietários de terras que exploraram a folha de coca, com certeza não se desviava a cocaína. 
"Os governos dos Estados Unidos entregava uma certidão de reconhecimento aos melhores produtores de folha de coca, para que?, para que esse produtor de folha de coca pudesse manter, atender a folha de coca, e aos mineiros que exploravam o estanho também fazia um reconhecimento, e dessa forma puder levar o estanho para os Estados Unidos". 
"... o mundo sabe, vocês sabem, a chamada guerra contra a droga fracassou, essas políticas têm que mudar, logicamente, qual seria a nova política? como por exemplo, acabar com o segredo bancário, esse grande narcotraficante, o peixe grande do narcotráfico, anda com sua mochila carregada de dinheiro, também sua mala, viajando de avião, não circula nos bancos; por que não acabar com o segredo bancário para dessa forma acabar também com o narcotráfico, para controlar esse traficante de narcóticos". 
"Por que não cada país defende a entrada de qualquer droga a seu território?, com essa tecnologia, fazendo uso de radares, eu sinto que existe capacidade para controlar, e não podemos controlar, e só sob pretexto da luta contra o narcotráfico impor políticas de controle e sobretudo, encaminhados a como recuperar os recursos naturais para as transnacionais." 
"... o ex-embaixador dos Estados Unidos, Manuel Rocha disse: Não votem em Evo Morales, Evo Morales é o Bin Laden andino e os cocaleiros os talibanes".
"Quer dizer, caros ministros, ministras da Defesa, segundo este tipo de doutrinas, vocês estão neste momento reunidos como o Bin Laden andino e meus companheiros, os movimentos sociais, são os talibanes, semehantes acusações, às vezes tergiversações." 
"... agora quando tampouco podem sustentar essas teses e doutrinas anticomunistas, anti-terroristas, existe outra nova doutrina que há dias ouvimos, e quero aproveitar esta oportunidade para informar a povo através dos meios de comunicação". 
"No dia 17 deste mês, uma reunião da qual participaram alguns latino-americanos e alguns congressistas norte-americanos, realizada nos Estados Unidos, tinha como lema: perigo dos Andes, ameaças à democracia, aos direitos humanos e à segurança interamericana". 
"... a congressista Ileana Ros-Lehtinen disse: nos últimos anos temos observado com preocupação os esforços de vários presidentes na região, como Hugo Chávez, na Venezuela, Evo Morales, na Bolívia, Daniel Ortega, na Nicarágua, Rafael Correa, no Equador, para consolidar seu poder custe o que custar. Os membros da aliança ALBA com Chávez como líder, um após o outro, manipulam o sistema democrático de seus países para servir a seus próprios objetivos autocráticos. 
"É a oportunidade para dizer a essa congressista que não ganhamos como nos Estados Unidos com uma diferença de 1%, 2%; aqui ganhamos com mais de 50, ou mais de 60%, e em algumas regiões com mais de 80%, essa é a verdadeira democracia". 
"O que diz a agenda sobre Daniel Ortega, mas a agenda cocaleira impulsada por Evo Morales, é uma nascente aliança com o Irã e a Rússia, a respeito do caso de Rafael Correia, as duvidosas reformas constitucionais com postulados anti-americanos. 
"... a Bolívia sob minha direção terá acordos, alianças com todo o mundo, ninguém pode me proibir, temos direito, somos a cultura do diálogo." 
"... sem sócios democráticos estáveis não pode haver segurança regional, também procuram segurança regional para os Estados Unidos, tal como agora mais do que nunca é o momento em que os Estados Unidos apóiem seus inimigos ou debilitem seus inimigos, agora é o momento em que a Organização dos Estados Americanos absolva seu legado de dupla moral e que finalmente faça com que todos os estados membros cumpram os princípios e obrigações fundamentais da carta democrática interamericana, bom, haverá que revisar a carta interamericana". 
"O segundo congressista (fala de Connie Mack, e explica suas idéias com as palavras seguintes), tenho sua intervenção, mas para ganhar tempo vou tentar resumir, quero falar sobre algumas observações dos últimos seis anos como membro deste Congresso, eu vi francamente as duas administrações: o governo republicano e o governo democrata. 
"Nessa linha acho que está a idéia de ambas as administrações a respeito de Hugo Chávez, que não intervenhamos, que nos sentemos e o deixemos explodir em si próprio, e o outro pensamento é que talvez Hugo Chávez esteja doido, e ele disse, eu não acredito em nenhuma dessas noções, não acho que Hugo Chávez esteja doido, e não acho que deixá-lo explodir em si próprio funcionará. Hugo Chávez é uma ameaça para a liberdade e para a democracia na América Latina e ao redor do mundo." 
"isto é o que mais me preocupa, confio em que quando viremos maioria no próximo Congresso, como presidente do subcomitê, façamos justamente isso, nos encarregaremos de Chávez, derrotá-lo politicamente ou fisicamente." 
A seguir Evo expressa: 
"Eu diria que este congressista Connie Mack já é um assassino confesso ou um conspirador confesso do irmão presidente da Venezuela, Hugo Chávez" . 
"Se acontecer alguma coisa com a vida de Hugo Chávez, o único responsável será este congressista norte-americano, ele o diz publicamente e aparece escrito nos meios de comunicação e em sua intervenção." 
"Companheiro, irmão, secretário-geral da OEA, você tem que expulsar a Venezuela, o Equador e a Bolívia e também a Nicarágua, e aplicar sanções, o que significa isso?, seguramente um bloqueio econômico como a Cuba." 
"Acho que a isso se referem as sanções, então como podemos alguns países da América garantir a segurança, a paz, quando estas são as expressões  de alguns congressistas, de alguns latino-americanos". 
"Estava revisando qual o motivo, por que Cuba foi expulsa em 1962, por ser leninista, marxista, e comunista. Agora a nova doutrina é uma doutrina anti-ALBA, como esses países organizamos, cumprimentamos Fidel, cumprimentamos Chávez, e outros presidentes, por construírem um instrumento como a ALBA, um instrumento de integração, de solidariedade, solidariedade sem condicionamentos, como compartilhar em vez de competir, como praticar políticas de complementaridade e não de competitividade. 
"... dentro dessa competitividade somente grupos pequenos beneficiar-se-ão e não as maiorias que esperam de seus presidentes". 
"Dentro de estas políticas de competitividade e não de complementaridade nem o capitalismo já é uma solução para o capitalismo, essa é a crise financeira. 
"... a nova doutrina como antes vinham as doutrinas da escola de Panamá, o comando sul treinava nossos militares, fecharam isso graças às lutas dos povos e agora já não existe a escola das Américas, o que é que há?, operações conjuntas mediante forças especiais." 
"...admiro alguns oficiais das Forças Armadas da Bolívia que informaram em detalhe sobre esses treinamentos que realizam todos os anos de maneira rotativa nos diferentes países da América, para que?, para ensinar-lhes como acabar com esses países revolucionários, países que fazem profundas transformações democráticas, treinamentos inclusive para ensaiar ou ensinar os franco-atiradores como matar os líderes. 
"... com muita indignação vi algumas imagens dessas operações conjuntas mediante forças especiais que vão passando de um povo para o outro. É lógico que a Bolívia já não participa e jamais participará enquanto eu continue na presidência neste tipo de operações conjuntas para continuar atentando contra a democracia". 
"... para o movimento indígena [...] este planeta ou a Pachamama pode existir sem o ser humano, mas o ser humano não pode viver sem o planeta, sem a Pachamama." 
"... o capitalismo não é a propriedade privada, porque às vezes tentam confundir e nos dizem que o presidente Evo questiona o capitalismo, que vai tirar nossas casas, nossos carros; não, a propriedade privada está garantida." 
"... a nova Constituição garante uma economia plural, e essa economia plural garante a propriedade privada, é garantida a propriedade comunal, estatal, de todos os setores sociais, mas quando falamos de capitalismo estamos falando deste desenvolvimento irracional, irresponsável, ilimitado." 
"Nossos companheiros já não encontram água na Amazônia, quando começamos a perfurar em alguma região encontramos a água cada vez mais profunda e em poucas quantidades, e quando não garantimos água por causa da seca, justamente produto do aquecimento global, essa família fica abandonada a sua sorte, são milhares, milhões no mundo, são imigrantes climáticos". 
"Isso não vamos resolver com a participação das Forças Armadas, não o poderemos resolver com a participação dos ministros da
Defesa, nem com a cooperação, esse é um tema estrutural de caráter mundial." 
"... gostaríamos de resolver aqui a médio e longo prazo; a melhor solução para acabar com os desastres, ou acabar com os desastres naturais é acabando com o capitalismo, modificando essas políticas de exagerada industrialização". 
"Logicamente, todos os países queremos industrializarmos, industrializarmos para a vida, para o ser humano e não uma industrialização para acabar com a vida, com os seres humanos, existem doutrinas que proclamam e promovem a guerra, existem povos ou Estados que vivem da guerra, isso tem que acabar, e para acabar com isso temos que eliminar as grandes indústrias de armamentos que acabam com a vida." 
"... eu sei que muitos ministros trazem a mensagem de seus presidentes, de seus governos, de seus povos, mas sejamos responsáveis pela vida, e ser responsável pela vida significa ser responsável pelo planeta ou pela Pachamama, pela Mãe Terra, e ser responsável pela Mãe Terra, pelo planeta ou pela Pachamama é respeitar os direitos da Mãe Terra." 
"... tomara que a América possa encabeçar através de vocês ministras e ministros da Defesa a garantia do direito da Mãe Terra para garantir os direitos humanos, a vida, a humanidade, não somente para a América, mas também para todo o mundo, sinto que temos uma enorme responsabilidade nesta conjuntura". 
"Quero saudar a participação de nossas Forças Armadas, e também ser sincero com vocês, eu tinha muito medo, temor, nos anos 2005 e 2006 quando assumi a presidência, de se as Forças Armadas me acompanhariam ou não neste processo." 
"... as Forças Armadas participando de trabalhos sociais, das mudanças estruturais, recuperando as minas, apoiando as políticas de recuperação dos recursos naturais, essas Forças Armadas agora são queridas pelo povo boliviano." 
"... o povo sente que tem umas Forças Armadas para o povo, agora felizmente temos duas estruturas importantes no Estado Plurinacional, os movimentos sociais que defendem seus recursos naturais e as Forças Armadas que também defendem seus recursos naturais, e se voltamos ao ano 1810, claro as Forças Armadas nasceram defendendo seus recursos naturais, a identidade, a soberania de nossos povos, só em alguns tempos fizeram mal uso de nossas Forças Armadas, não por culpa dos comandantes, mas sim por interesses oligárquicos ou alheios aos povos, que evidentemente nos fizeram muito dano." 
"... com as imposições de políticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, privatizações, desnacionalização das empresas públicas." 
"... dos lucros só  [...] ficava 18% para os bolivianos e 82% para as empresas multinacionais.
"Em1o de maio de 2006 mediante decreto supremo, primeiro decidimos o controle do Estado de nossos recursos naturais, segundo, se convencidos de que aquele que investe tem direito a recuperar seu investimento e tem direito a ter lucros, dizemos que agora com 18% eles podem obter lucros e recuperar seu investimento, assim os técnicos mo demonstraram, e a partir de 1º de maio de 2006, 82% passou para os bolivianos e 18% para as empresas que investem, essa é a nacionalização, respeitando seu investimento." 
Evo conclui seu discurso aportando dados incontestáveis sobre os resultados econômicos atingidos pela revolução. 
"Antes o produto interno bruto era de US$9 bilhões, em 2005; agora em 2010, é de US$18,5 bilhões". 
"... com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional a receita média por pessoa era de mil dólatres ao ano  [...] em nosso governo 1. 9000 dólares." 
"... em 2005, a Bolívia era o penúltimo país em reservas internacionais, agora conseguimos melhorar, em  reservas internacionais tinha US$1,7 bilhão, neste ano temos US$ 9,3 bilhões..." 
"... quando os governos dependiam dos Estados Unidos nem sequer podíamos erradicar o analfabetismo, graças à cooperação incondicional de Cuba especialmente, bem como da Venezuela, há dois anos atrás declaramos a Bolívia território livre de analfabetismo, depois de quase 200 anos".  
"Em troca dessa cooperação Cuba não pede nada, isso é solidariedade, isso é compartilhar o pouco que temos e não compartilhar o que nos sobra, isso aprendi com o companheiro Fidel a quem admiro muitíssimo." 
Por pura modéstia Evo não falou dos avanços obtidos pelo povo boliviano no setor da saúde. Somente na oftalmologia, por volta de 500 mil bolivianos foram operados da visão, os serviços da saúde chegam a todos os bolivianos e por volta de 5 000 especialistas em Medicina Geral Integral se estão formando e em breve receberão seu título. Esse irmão país latino-americano tem razões demais para se sentir orgulhoso. 
Evo conclui:  
"... sem o Fundo Monetário Internacional, isto é, que não imponham políticas econômicas de privatizações, de leilões, podemos melhorar ainda no democrático, se não dependemos dos Estados Unidos podemos melhorar nossa democracia na América Latina, este é o resultado de cinco anos de meu desempenho como presidente." 
"Logicamente, com isso não digo que a Bolívia não precisa de cooperação, Bolívia ainda precisa de créditos internacionais, de cooperação internacional, agradeço aos países da Europa que cooperam, aos da América Latina, que oferecem facilidade de créditos porque estamos em um processo de profundas transformações..." 
"... que os povos tenham direito a decidir por si próprios sobre sua democracia, sobre sua segurança, mas enquanto tenhamos atitudes de intervencionistas com qualquer pretexto [...] certamente vai demorar a libertação dos povos, porém mais cedo ou mais tarde, como estamos vendo, os povos vão continuar rebelando-se". 
"É por isso que estou convencido da rebelião à revolução, da revolução à descolonização..." 
Após o discurso de Evo, apenas 48 horas depois, caiu como um relâmpago o discurso de Chávez. As luzes da rebelião iluminavam os céus da Nossa América.
Fidel Castro Ruz